sábado, 4 de outubro de 2008

Relato de um candidato

Já escolhi o meu candidato a vereador, foi difícil, pois tem vários candidatos sem chuteiras querendo conseguir influência para os interesses pessoais, e um empreguinho que no Brasil tem muito status que é o de político. Votarei nele, pois o considero um cidadão honesto, com vontade, bom de bola ou pelo menos arrecada de maneira incorruptível as nossas contribuições mensais da pelada. E que estará, caso outras centenas vejam da mesma maneira que eu, de olho no orçamento do município, nos tributos cobrados aos munícipes, entre outras questões. Além disto, como moro em cidade do interior e o conheço pessoalmente, facilita o diálogo democrático. Portanto se eleito levará a minha procuração para me representar na câmara de vereadores, mas ao conversar com o mesmo hoje, me contou a seguinte estória, que repasso para vocês.

Este candidato subiu um morro de Castelo (Creio que seja ainda o único morro geograficamente habitado da cidade) atrás de mais eleitores, nada de errado, afinal de contas é uma das várias provações que um vereador tem que passar – se expor.

Na subida estava junto com um líder comunitário. E ia de casa em casa se apresentando e deixando o seu santinho e o seu santo. Para quem sabe conseguir mais um importante e talvez decisivo voto. Durante a empreitada, ficou a observar um outro candidato que também estava fazendo a sua campanha nesta comunidade e ficou a “filmar” a sua abordagem a uma casa humilde, onde ouviu o seguinte diálogo:

- Olá, como é o nome da senhora?
- Dona Maria.
- Olá Dona Maria a senhora já tem candidato? (pergunta logo para não perder tempo)
- Não, estou ainda pensando (quer dar de esperta já falou a mesma coisa para uns 10)
- È! E o que falta para a senhora escolher um? (dando de bobo)
- De uma ajuda né, por aqui as coisas são bem difíceis! (já ensaiou a fala)
- É mesmo né! (mentira nem sabe como é a vida ali)
- Mas o que a senhora está precisando? (perguntinha boba novamente)
- De cinco sacos de cimento! (respondeu na lata)
- Mais isso eu posso conseguir para a senhora! (corrupto em ação)
- Á que bom! Iria ajudar muito aqui na construção nos fundos de casa (aceitando a propina)
- É só a senhora deixar a sua seção de votação que eu consigo pra senhora (cara de pau)
- Tá bom eu vou pegar o título. (malandra)

Dona Maria traz o seu documento eleitoral carcomido pelo desmazelo e pela ignorância e os assessores do cara de pau tomam nota, enquanto isto, seu filho, um jovem a cutuca pela barriga. Meu futuro vereador a olhar aquilo pensa, é mudo! Enquanto o procedimento segue, ele insiste novamente cutucando com mais força. O meu honesto candidato pensa, é surdo! A cena segue e o menino não para de cutucar a Mãe. O integro pretendente a câmara pensa, ele a está cutucando por não concordar com a atitude dela de vender o seu voto. Dona Maria já está marcando onde pegar os sacos de cimento e o menino mais uma vez já quase empurrando a Mãe insiste. O nobre cidadão de bem pensa, é o futuro do País. Este menino quer a todo custo convencer a sua genitora a não vender o seu voto.

É quando o meu escolhido e ético candidato ouve as palavras do pequeno queixando-se em voz baixa nos ouvidos da Mãe:

Mãe, não esquece de pedir a minha chuteira também!

Até daqui a dois anos!



Gilberto Granato

Um comentário:

Unknown disse...

Isso aí gil,
apesar deste tipo de atitude estar proibido ainda vemos muito disto. Imagina como é no interior do MT. Ouvi até um cadidato mais esperto dizer que vc tem que pegar com a mão esquerda e fazer a mudança com a mão direita, ou seja, votar em outro que não aquele que lhe deu propina.
fui..............