terça-feira, 7 de outubro de 2008

1 voto

Como disse em minha última crônica, achei que só voltaria a falar em eleições apenas daqui a dois anos, mas na segunda de manhã ao ler o jornal e ver a relação de números de votos dos candidatos capixabas não resisti.

Ao ver os top 9, ou seja os nove cidadãos eleitos para a câmara do ano que vem (inclusive o meu penetrou na lista). Fui descendo o meu olhar pelos oitenta e poucos candidatos que também se arriscaram e fui bater lá nos dois últimos colocados. E ali tinha um tal de Romário (nome de artilheiro) e Saulo (nome de dono de lanchonete) que só haviam recebido um voto. O quê? Um voto! Não me conformei. Minha vontade inicial era de conhecê-los, ver seus rostos, apertar suas mãos, ouvir o português falado, o tipo de penteado (se é que têm cabelos), altura, peso e profissão de verdade, mas talvez a minha curiosidade trouxesse constrangimento ou irrelevância por parte destes heróis e esta história teria um final sem graça. Então fiquei a imaginar como seria a vida destes dois aventureiros da política e por que não dizer Mártires dos vereadores não eleitos.

O candidato Romário com certeza não deve ser casado, deve ter uns trinta e poucos anos, é magro até demais, cabelo preto lavado com sabão, barba sempre por fazer e tem uma cicatriz no queixo, só anda de chinelos similares as havaianas para cima e para baixo, tem nome de jogador, mas não se apoiou neste estratégia para sua campanha. Deve trabalhar em oficina mecânica, que é um ambiente propício para fazer boas coligações e arrecadar bons votos, mas insiste em ficar embaixo dos carros, é especializado em consertar os canos de descarga e a apertar os parafusos ali debaixo, só saí dali para tomar água e toma pouco. No fim do dia vai ao boteco (como bom Castelense) cheio de graxa, mas não os botecos tradicionais, mas sim os escondidos em ruas secundárias da cidade, onde ninguém poderá vê-lo ou incomodá-lo. Se o botequim começa a dar muita gente, ele parti para um mais abstruso. Mora em uma Quitinet, com quarto e banheiro, come das vitrines dos bares e fast foods da cidade e a muito tempo não lava a toalha de banho. Reunião com a família, nem pensar, a família fala que ele tem problema de relacionamento e ficaram surpresos com a sua decisão de se candidatar, ficaram até preocupados, pensaram em marcar consulta no médico, mas deixaram rolar para ver até onde ia. Romário não fez campanha, não comprou votos, não distribuiu santinhos, não assistiu a contagem de votos, não sonhou como seria ser um vereador, talvez ninguém soubesse de sua existência exceto os familiares distantes, mas mesmo assim, caminhou com seus chinelos gastos até a urna e depositou um voto de confiança em si mesmo. Um voto de ânimo para continuar acreditando que existe.

Já Saulo foi um pouco diferente. Foi casado e teve um filho (que ainda é de menor) Cabelos castanhos lisos, bem lavados, mas nunca passou creme, magro, olhos azuis herança de seus ancestrais de Trento na Itália, está sempre bem arrumado e é hiperativo. Não consegue ouvir uma conversa, que já interrompe o assunto com seus comentários nada muito bem informados e fundamentados, ou seja, nunca tem credibilidade. Hoje deve trabalhar fazendo entregas, tem uma moto, que a utiliza para o serviço, mas nunca fica muito tempo no mesmo emprego. Todos na cidade o conhecem, o acham engraçado as vezes, mas não prestam muita atenção no que fala. Adora festas do interior. Dia de domingo é dia de pegar sua moto e ir atrás do melhor festejo na roça, tomar sua cerveja, jogar bola de massa, dançar forró e até da umas bicadas na cachaça quando está bem animado. Já vinha anunciando a todos que se candidataria a vereador, seria o seu grande trunfo para receber mais a atenção de todos. E foi na festa de sua cunhada (tem três irmãos) que iria anunciar a família a sua pretensão a câmara, foi todo arrumado como de costume, neste dia até passou perfume, colocou os santinhos no bolso, mas durante a festa cheia de convidados bebeu demais, derrubou dois copos, foi brincar com o sobrinho ele chorou e interrompia todas as rodas de conversa, tinha até um primo dele que estava no mesmo grau, que deu força no momento em que quis discursar antes do parabéns, mas perdeu sua grande chance de conquistar mais eleitores.

No dia da votação, marcou de ir com seu primo, que furou, no final das contas absteve o seu voto. Então foi sozinho, confiante de que não iria ganhar, mas que iria ter a atenção e o voto de alguém. Qual foi a sua decepção no fim do domingo ao saber que só teve o seu, ficou triste no dia, mas hoje fala na campanha como coisa do passado, como um político que já passou pela batalha de um eleição, está de peito aberto e se candidatará novamente daqui a 4 anos com certeza.

E não é que a Priscila, atenta companheira de trabalho lendo no mesmo jornal a classificação em outros municípios, não achou o Roberto Doceiro (deve ser muito doce) com zero voto em Cachoeiro do Itapemirim. A Ângela do Hospital (coitado dos pacientes) com zero voto em Alegre. A Penha do Garrafão (o que ela faz com ele?) de Itapemirim com zero voto e o Carlinho Bracinho (várias interpretações) com também zero voto em Aracruz? Mas isto, meus amigos é uma outra história e bem mais complexa! Agora sim, para daqui dois anos!



Gilberto Granato.

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