quarta-feira, 30 de julho de 2008

O canário e a rolinha


Compartes, Hoje irei falar da vida em que já sonhamos pelo menos uma vez na vida. Da vida no ar! Claro voar, quem nunca sonhou em voar? Por que o Super-homem se tornou tão famoso pelo mundo? Porque voava, oras bolas! Mas não falarei destes seres sem alma, mas sim de pequenos seres, que foram munidos deste dom e o homem ainda insiste em privá-lo, talvez por inveja ou por egoísmo por não ter asas (dizem que alguns têm). Tem até um ditado que diz que “Deus inventou o pássaro e o Homem inventou a gaiola”. Vou me ater ao comportamento de dois integrantes deste mundo: A rolinha e o canário.

Faz parte da minha rotina, duas vezes ao dia, colocar canjiquinha e água para os pássaros em uma casca de árvore, presa em uma casa de pássaro, feita de galhos de café. Pássaros, quer dizer, a visita das rolinhas e dos canários. Nem os pardais se aproximam, as cambaxirras vêm apenas cantar e as andorinhas, bem-te-vis e anus brancos, observam este banquete só de longe. Se um passarinheiro (que nome horrível) souber que falei banquete, ficará extremamente contrariado pela minha ignorância, pois em um site destes criadores diz, por exemplo, que a alimentação certa para os pássaros em processo de reprodução é a seguinte: Alpiste 50%, painço amarelo 30%, senha 10% e niger 10%. Além disso, ministrar ração de codorna pura adicionando "proprionato de cálcio" à base de 1 grama por kilo de ração. Que realmente deve ser uma delícia! Muito melhor que os insetos, sementes e frutas.

Os dois protagonistas deste texto são bem diferentes, começando pela sua classificação. Os canários são classificados como pássaros, já as rolas são pombos e os representantes desta ordem não são pássaros, porém aves, como as galinhas. O canário, bípede canoro mais popular do Brasil, uma verdadeira paixão nacional, tem a coloração amarela, sendo a fêmea um pouco mais acinzentada, já a columbina (gênero) pra mim é tudo igual! O canarinho, apesar de extinto em algumas cidades, ainda é comum em cidades do interior, já a rola (que nome) está em qualquer pracinha do mundo, que tenha um bom velinho, para alimentá-la. Os amarelinhos por terem muitos de seus parentes vindos do exterior (ilhas canárias) na hora de se alimentarem são discretos, chegam geralmente sozinhos, em dupla (não necessariamente o casal) ou em trio comem o que precisam, piam (para agradar), bebem sua água e seguem o seu dia podendo voltar mais tarde. As rolas (nativas da América) chegam em bando, não piam, são mudas? Ou tímidas para falarem? Devem ter um estômago elástico ou um problema compulsivo alimentar estimulado pelo homem. Não param de comer! O espaço que têm para se alimentarem é pequeno, portanto brigam entre si e tentam afugentar os canários, que sabiamente dão uns dribles e conseguem comer. Quando a rolinha (desculpe as repetições) se empapuça entra em um estágio de transe e não sai mais do lugar, o que a leva a fazer suas necessidades no próprio local, que descompostura! (os canários entre eles devem comentar e repudiar tal ato), afinal: “Não reclames do cocô das pombas. Agradeça à mãe natureza não ter dado asas às vacas...”

Os canários parecem que sentem mais sede, pois os vejo bebendo mais água (talvez pela sua vida mais atlética, perante o sedentarismo das rolas). A obesidade e o comodismo das rolas, acaba levando-as a serem presas fáceis para ximbico (predador nato), na maioria das vezes em que pega um pássaro, ou melhor, uma ave.

Todas estas diferenças na verdade são meras observações, já que trato igualmente dos dois e sou muito grato a eles, por virem todos os dias a minha casa e tornarem este ambiente mais alegre e imaginário com suas presenças.

E você já olhou os pássaros hoje?

domingo, 27 de julho de 2008

Sábado nublado


Você trabalhou a semana inteira, se esforçou para manter a vida em ordem e agora no início do fim de semana, você olha, com apenas um olho pela janela e está nublado, frio e garoando. Então sabiamente se volta ao cobertor aquecido pelo seu corpo e começa a acordar por etapas. Obedecendo seus músculos com a idéia de levantar, tomando o café da manhã fleumaticamente e lendo todos os cadernos do jornal com calma. Não, Não Amigos! Este sábado não foi assim...

O neófito pai que está por vir, já começa a cometer suas loucuras (isto inclui e mãe é lógico). Acordar cinco e meia da manhã, fagocitar um café e seguir pela litosfera novamente rumo à capital, junto com sogra (com bursite!) e a cunhada (que não perde uma!). Agora para comprar matéria prima, para o quarto de Otto, que continua tranqüilo dando seus chutes e no quentinho ventre da Mãe.

Aproveitando a missão, fomos visitar a tradicional feira de Jardim da Penha, por sinal, feira faz muito bem, principalmente para os mais reclusos (que não é meu caso), pois trabalha a comunicação: O feirante (Olha o aipim boi, tá filet!, laranja lima, laranja pêra abaixou o preço! Olha o biscoito caseiro gente!, morango agora é um e cinqüenta!) E o cidadão: (não tá bonito não moço!, meu Deus tá muito caro! Não tem mexirica caipira não?, me vê um pastel de palmito e um caldo de cana! (do japonês é claro).

A feira mesmo em uma cidade maior é como se todos se conhecessem. É bate-papo por todos os cantos, principalmente entre os de fio branco nos cabelos, que são a maioria. Tem os meninos que carregam remuneradamente a feira, com seus carrinhos de mão se divertindo entre si, sendo um risco para as canelas desavisadas dos outros. Tem os candidatos a alguma coisa, com suas caras de ressaca de ontem, distribuindo seus santinhos e sorrisos cheios de tártaro. Em suma, o dito-cujo que entra em uma feira, dificilmente sairá dali com as mãos, a barriga ou os ouvidos vazios, para o fim de semana.

Na volta, fomos conhecer Domingos Martins, cidade colonizada por alemães vindo da Prússia Renana e que recebe o nome deste herói capixaba, que participou da revolução pernambucana. Cidade de clima e estilo europeu e que se encontrava em um Festival de inverno de música erudita e popular. A novidade foi comer Wurschten (lingüiças de porco, salada de batata com maça e repolho) em uma centenária casinha típica.

À noite, já em casa. Fomos a um aniversário contemporâneo de criança, de uma pequena fã de Hello Kitty. Teve a clássica brincadeira do vivo e morto, brigadeiro na colher, animador animado e muitos guris brincando e satisfazendo o orgulho de seus pais.

De um sábado nublado, deu para minha esposa conhecer o caro acrílico transparente laranja, minha sogra conhecer os efeitos benéficos dos analgésicos e antiinflamatórios, minha cunhada conhecer que chucrute é repolho e eu descobri que a coisa que mais quero no mundo é brincar com meu filho em uma próxima festa de aniversário de criança. Coisas da vida!...

Gilberto Granato

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Histórias de macaco


Hoje vi no noticiário da TV, uma reportagem sobre os macacos prego, que estão invadindo casas e apartamentos atrás de alimentos na cidade do Rio de Janeiro, já que o inverno torna escassa a quantidade de frutos na mata Atlântica. E o prego sendo um dos mais inteligentes da América do sul, aproveita para tomar o café da manhã dos cariocas, que são muito bonzinhos, mas acabam prejudicando o animal, que se habitua com o fácil e deixa de buscar outras fontes de nutrientes em folhas e sementes.

Isto me fez lembrar do condomínio Jurucê e do Alto rio negro. O Jurucê é um conjunto de casas de madeira, no bairro dabarú, feitas para aluguel a bandeirantes, que se arriscam por aquelas regiões remotas. Ali junto com minha esposa passei grandes momentos de minha vida. Foi idealizado por Jerônimo e Janice, um paulista e uma paraense, ele trabalhava na secretaria da fazenda do Estado do Amazonas e ela na Receita federal do município de São Gabriel da Cachoeira, eram pessoas de caráter e humanas, não tinham filhos, mas tinham macacos! Uns quatros, todos da espécie barrigudo, típico da floresta amazônica; um em especial se chamava Beto, tinha o tamanho avantajado, brigava com as fêmeas, por isso não reproduzia e adorava uvas, que chegavam aquela região à preços inflacionários comparáveis ao do Zimbábue atual, comia do melhor, inclusive meus pés de alface, que insistia em plantar sob o clima tórrido da Amazônia. Todos ficavam em um complexo de jaulas, ligadas por corredores por entre as árvores, levavam uma boa vida e deixavam “seus pais” preocupados quando contraiam alguma gripe.

Nas minhas andanças pelas aldeias do Alto rio negro, conheci alguns macacos como o próprio barrigudo, o guariba, os berrantes e pequenos zog zog, caiarara e outros que não recordo o nome. Um barrigudo travesso uma vez teve a audácia de fazer suas necessidades em minha rede, que prejudicou meu sono, devido à dificuldade em secá-la em um dia chuvoso na floresta. Os povos Werekena e Baré do Rio xié, afluente do rio negro, tem o costume de comer a carne de macaco, experimentei por várias vezes, o cheiro não é agradável, o paladar também não, ainda mais feito cozido, para render o caldo para todos da tribo, pelo menos não eram os povos Yanomami, que comem com as vísceras e tudo. Mas alimenta e é presa fácil diante de uma zarabatana enriquecida com curare.

Certo dia de sol, na pitoresca casa de número quatorze, acordamos com um desses prego do rio de janeiro, creio que de uma família diferente é claro! Acorrentado nas estruturas de madeira, que erguiam a casa e ficamos encucados! Será que erraram de casa? Acharam-no perdido? Um churrasco surpresa? Tentamos fazer amizade, fornecemos algumas guloseimas, até uma aproximação acanhada, mas definitivamente: cuidar de um primata exige cautela semelhante aos de nossa espécie!

Talvez por achar que seríamos um casal com perfil paternal para cuidar de tal “animalzinho doméstico” o nosso querido casal de empreendedores da floresta achou que seríamos bons pais, mas o pequeno prego teve que buscar um outro lar para ser feliz.

Gilberto Granato.

As palavras


Fui influenciado e convencido de que as palavras podem ser o que você quiser. Por que não? Afinal de contas, elas sofrem alterações há muito tempo e se acomodam como se fossem “pés em botinas novas” todos os dias; Com novas expressões, enxugamentos de sílabas (Ocê, Bora, Trabaiá, Quatrora...) e adaptações que passam por séculos e gerações. Por exemplo, palavras do Latim como Mágoa - já significou mancha proveniente de uma contusão, hoje só se emprega no sentido de desgosto. O próprio português sofre alterações. Tratante, no português antigo, era apenas o que trata (de negócios, de papéis); mas a falta de honestidade de certos tratadores e negociantes, foi responsável pela deterioração do sentido para canalha, patife, velhaco. E as palavras de origem Tupi Guarani! Estas estão em todos os lugares, nas frutas: Jabuticaba – que significa Jabuti (animal silvestre) mais caba (lugar onde), por ser comum a presença de tal animal próximo às jabuticabeiras. Pitanga vem de piranga que era a cor dada pelos Índios a esta tradicional fruta da mata atlântica, cidades: Guaçuí (uassú [veado] + y [água] ), Guajará mirim ( guajará [árvore da amazônia] + miri [pequeno], Tocantins (nome de tribo indígena, que significa bico de tucano), Paraty ( parat [espécie de peixe] + y [água]).... Rios: Itapemirim (i [água] + tape [caminho] + miri [pequeno]), Iconha (iconnya – morada entre duas montanhas), Içana (nome do rio onde moram as etnias baniwa e kuripaco), Tietê (nome de uma ave de cor amarela)... Sem falar nas expressões americanizadas: Córner, Happy hour, City tour, match point, Ok!....

Agora. Você que é do ramo dos alimentos e deseja conseguir um alvará sanitário para seu estabelecimento funcionar, aí vão algumas dicas: Primeiro, solicite junto à prefeitura de sua cidade o boleto de um imposto chamado BIDÊ, que é a taxa que recolhe fundos, para que seu negócio siga em frente. Como todo estabelecimento novo, vá se acostumando, pois receberá muitos Descalços dos seus freqüentadores, que nada mais são que cheques sem fundo. Para atrair mais clientes e criar visibilidade, terá que investir em Filme, que é a nova nomenclatura do antigo e desgastado Marketing. A comida terá que ser gostosa e prática, então não poderá faltar Azias (salgados) e Más digestões (refrigerantes). A Loira (cerveja) agradará à todos! Como sugestão para o prato principal sirva o tradicional Mario Prata (macarrão em forma de letras com molho de tomate). Como forma de pagamento, utilize o Puto (dinheiro) e o Tijolo (cartão de crédito). E antes que eu me esqueça, não deixe faltar um Tchau (banana assada com duas bolas de sorvete de caramelo) como sobremesa.


Arawãkanto’i (quer dizer homem do amanhecer, homem da luz)

sábado, 19 de julho de 2008

Os ditadores


Um episódio esta semana me fez lembrar a ditadura. Tanto a política, quanto a imposta por alguns indivíduos ainda em progresso tardio na cadeia evolutiva social. A ditadura se classifica como uma forma de governo em que o poder legislativo e o judiciário se concentram no poder executivo. Este conceito ainda reina em alguns “Brasis” de nosso território só que de maneira uma pouco mais conciliatória e corrupta, portanto creio que ainda exista a “ditadura” na sua forma atualizada, contemporânea e ainda nociva a sociedade, afinal ela não tortura mais, mas deixa pessoas sem estudo, comida, ponte, casa, saúde ou insatisfeitas como eu.

Sou sócio de um clube que tem setenta e oito anos e sua história se confunde com a da cidade de Castelo, que tem oitenta anos. Freqüento o clube principalmente por causa da sua habitual pelada de terça, quinta e domingo e por achar que a prática esportiva melhora a qualidade de vida das pessoas. Planifico minhas tarefas para estar pontualmente antes do por sol para o habitual “pingue e pongue de futebol” (outra hora explico esta modalidade), que é realizado no centro do campo, serve como um pré-aquecimento aeróbico e antecede a primeira partida que é o clássico, pois reúne os mais assíduos freqüentadores e é imperativo chegar cedo para jogá-la.

Num dia destes um indivíduo baixo, pós-gordo, meio careca e que antes de assumir o cargo de Rei (presidente) era simpático, tomou a decisão de subsidiar o clube, que é patrimônio dos camponeses (sócios) sem consultá-los. O motivo era arrecadar mais fundos para o reinado (clube) e promover melhorias na corte (bebedouros chulos e piscinas faraônicas). A medida cedia o espaço para a escolinha de futebol do município, até aí tudo bem, sou a favor da inclusão social, das parcerias e por que não de um mundo melhor! Mas este ato afetou o pré-aquecimento dos soldados (jogadores), que não puderam mais executar tal atividade. E quem joga futebol, ainda mais se tratando de um clássico, sabe da importância de uma preparação prévia.

Poderíamos ter engolido tal medida da monarquia, sem mais delongas, só que o tom de voz e o poder ínfimo de comunicação do Rei ultrapassaram os oitenta decibéis permitidos pelo ouvido humano e não deu direito de voz aos súditos. Fiz um pergaminho (documento) reivindicando nossos direitos enquanto povo, mas o irascível monarca disse que tal papel não teria valor nenhum.

Isto prova companheiros, como é difícil escolher nossos representantes, onde alguns desfilam de cordeiros,mas estão prestes a virarem lobos selvagens, quando estão no topo da pirâmide, seja ela política ou social. Mão Tsé Tung, Joseph Stalin, Genghis Khan, Saddam Hussein, Augusto Pinochet, Jorge Videla, Getúlio Vargas, Arthur da Costa e Silva, Médici, Geisel e Cia e outros, tiveram a mesma vontade de centralizar seus poderes e ideais em detrimento da vontade e dos direitos da maioria. Uns fizeram mais ferimentos à carne da democracia que outros, mas as forcas, fuzilamentos, prisões ou mesmo o esquecimento e o medo os levaram as esquinas escuras da vida. Neste caso acredito que o nosso pequeno ditador se tornará o mesmo protótipo de atacante ruim, lento e sem pontaria de sempre.

Gilberto Granato

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Dia Mundial do Rock


A música em minha vida embarcou e nunca mais quis descer em nenhum porto ou cais. Faz parte do meu dia: ouço, leio e tento tocar de vez em quando. A canção não envelhece, tem os discos e músicas que não nos deixam esquecer acontecimentos ou episódios de nossas vidas, sejam eles bons ou ruins, têm aquelas que nos empolgam para um dia festivo, que cantamos do começo ao fim, outras que só entoamos a melodia, repetimos a percussão, prestamos atenção no baixo, assoviamos no banheiro, repetimos o refrão sem parar e outras que mesmo sem gostar entram em nosso inconsciente e são proferidas sem percebermos ao vento.

Minhas lembranças musicais começam naqueles “disquinhos coloridos”, com histórias infantis como: o patinho feio, a cigarra e a formiga, Cinderela,chapeuzinho vermelho, três porquinhos.... Alguns também foram bem marcantes como: “A arca de noé” de Vinícius de Morais, com aquela capa colorida e cheia de animais e os discos de jairzinho e cia do Balão mágico, que inclusive cheguei a ir a um show lotado de crianças. Mas como qualquer pessoa, depois da fase "ciranda, cirandinha", vai busca algo mais perene para se confortar. Em casa lembro-me de minha mãe ouvindo Simon e Garfankel e a inesquecível “the sound of silence”, Pink Floyd e “time”, com aqueles relógios e sinos na introdução que me deixavam intrigado. Tinha Chico Buarque, Simone, Milton Nascimento, MPB 4, Trilhas de novelas nacionais e internacionais (minha mãe adorava!) e é claro Roberto Carlos.

Vivi a fase do Vinil o popular “bolachão”, tive alguns Lp’s, mas o que realmente eu gostava eram das fitas cassetes, gravadas preferencialmente, por causa da qualidade, em uma fita alemã Basf de última geração. A minha primeira aquisição sonora foi reproduzida em uma destas fitas. A tia de um amigo meu do primeiro andar do prédio em que minha mãe morava em jardim da penha, mais precisamente na Anísio Fernandes Coelho, que hoje antes de ter Shoping e sinal, tinha rua de paralelepípedo e muitos matagais, me convidou para gravar uma fita, isto por volta de 1988 (lembro da Assembléia Constituinte). Era bem mais velha que eu e recordo-me que tinha um fusca branco que ás vezes batia. Morava com seus pais. Por gostar de música me apresentou “Cabeça Dinossauro” do Titãs, “Dois” da Legião Urbana (Eduardo e Mônica era o hit), plebe rude, Zero, Biquíni Cavadão, Capital Inicial, ou seja algumas bandas da geração de oitenta, que gostei, mas foi na minha segunda fita reproduzida de um amigo de rua (esta era a expressão!), que tinha de um lado Sex Pistols “Never mind the bollocks” e do outro Metallica “Garage day” e Anthrax (nesta época andava de skate e pegava umas ondas), que então entrei fundo no Heavy Metal e Megadeth, Slayer, Metallica, Sepultura não paravam de tocar no meu “sonzinho de dois tapes”.

Minha trilha Sonora passava ainda por Billy Idol, Ramones, Bad Relgion, Toy Dolls, Guns’n Roses, Skid Row, Faith no more, mas foi no início dos anos noventa e com o surgimento do CD, foi que a música me atingiu em cheio. O grunge de Seatle de bandas como: Mudhoney (meu primeiro CD “piece of cake”), Screaming trees, Pearl Jam, Alice in Chains, Soundgarden e os acordes iniciais de “Smell like teen spirit”, me entorpeceram, coincidindo com os primeiros vídeo clips da MTV Brasil, que ainda tinha seu sinal aberto e portanto passava noites em claro das minhas férias escolares, gravando fitas VHS na casa de meu tio em Tocantins, que era onde tinha parabólica.

Outro momento importante, pois até então a gurizada ouvia pouca música nacional, foi a chegada do movimento e manifesto Manguebeat com o seu logotipo de uma parabólica enfiada na lama e a mistura de regionalismo com rock e psicodelia ,de Chico Science e Nação Zumbi e Mundo Livre S/A, que fizera muitos, assim como eu voltarem a ouvir e a resgatar a música nacional.

Hoje já se discute qual será o meio mais propício para a substituição do CD e no momento estou na contramão desta avenida, atrás de um aparelho que toque vinil, para ouvir uma coleção de discos da década de 50,60 e 70 no Brasil, que ganhei, pois acredito também que a música precisa de outros sentidos como o tato e a visão, que só é permitido através da estrutura física, dos encartes e letras e da arte gráfica.

Atualmente de cada dez discos que compro, oito serão nacionais, pois acredito que a melhor música feita no mundo hoje é a nossa. Ela não está tocando na rádio e tem que ser garimpada nos bons programas de televisão fechada, sites e revistas de música. Escuto desde Paulinho da viola a Yamandu Costa, de Secos e Molhados a Ultramen, de Belchior a Lenine, de Bob Marley (não poderia ficar de fora) a Tom Jobim, vou atrás de tudo que me atrai e que não foi me apresentado e de tudo o que ainda está por vir, pois como diria Jim Morrison: “A música é seu amigo até o fim...”

Gilberto Granato

segunda-feira, 14 de julho de 2008

O Shoping


A Ilha de Nossa Senhora da Vitória é uma das capitais mais antigas do Brasil, bela de estasiar. Toda vez que ali chego, meu coração bombeia sangue riquíssimo em oxigênio para meu corpo e os porões escondidos da minha cabeça são abertos trazendo lembranças por todos os cantos que eu passe, pois foi nesta cidade que cresci e vivi minha infância e adolescência. Mas Vitória será nosso assunto em uma outra história, nesta precisamente falarei das estruturas de concreto, aço, vidro e néons, que servem de refúgio para o cidadão de bem e sua família, nas grandes cidades Brasileiras: O Shoping Center.

Sou um cidadão que a cada dia gosta mais da vida pacata, simples e vivida com qualidade e paz, prefiro viajar sempre fora de temporada por terem menos pessoas circulando, festa boa é festa que tenha lugar para sentar e de preferência de dia, com a luz do Sol. Qualquer visita a um local que tenha verde, me atrai como um animal em busca de refúgio e água, mas confesso que graças a São Francisco e minha esposa, moro no interior. Em uma jornada a cidade grande, pode estar incluído no roteiro uma “nunca curta visita” a este centro do consumo, já que lá está otimizada várias ações como: compras, comida e entretenimento.

Já conheci alguns shopings e confesso que achei todos bem iguais, uma cascata ali, uma arquitetura diferente aqui, mas todos têm a capacidade de minar a sua resistência física, seu poder de raciocínio e o seu bolso. Nesta última visita pude perceber o choque cultural de uma pessoa vinda do cerne da região sul do Estado ao se deparar com o homem capixaba urbano da capital, logo de cara tem uma diferença gritante. As pessoas não se cumprimentam, buscam seus espaços como em um jogo de dama e se preocupam apenas com seus cartões de crédito estourados. Um olá, um obrigado, um sorriso, só se for de algum funcionário de loja motivado pela comissão. O calor humano está em outros locais que não ali.

A quantidade que se anda nestes centros é impressionante. Se combinarmos de andar a praia de Camburi, semi-revitalizada que tem uns cinco quilômetros, talvez o convite mereça muitas reflexões, mas ali dentro entretido pelas vitrines você praticamente faz o mesmo e sem suar. O pior não é o esforço e sim aquela loja, que tem duas das três primeiras letras do alfabeto. Ela foi feita parra acabar com a harmonia entre os casais. Todas as mulheres adoram, por isso caminham para frente e voltam para trás repetidamente, trocam de peças várias vezes, pedem para nós segurarmos e nós não temos um mísero local para sentar!. Ali analisando, sempre vejo semblantes masculinos desanimados e fadigados, o que me faz cada vez mais crer na diferença comportamental entre homens e mulheres. No final tem a fila para pagar a sortuda peça escolhida entre as milhares existentes e este sub-item merece um pouco mais de ênfase: A fila

Com o aumento da população e lentamente do poder aquisitivo das classes sociais C e D, tudo tem fila: para o elevador, para os postos de sobremesa, para comer, para pagar o extorsivo estacionamento, para o extorsivo cinema, para mijar (pois é assim que se fala) e até se tivermos um pouco de imaginação, veremos pessoas andando em fila indiana por todos os lados! Sem falar na disputa entre os carcarás por uma mesa na praça (que não tem árvores) de alimentação.

Confesso que cansei só de lembrar. Na volta desta maratona, antes de chegarmos ao apartamento em Jardim da Penha, passamos em uma boa padaria, compramos pães maravilhosos, fui ao supermercado e na varanda de casa, lendo antecipadamente o jornal de domingo no sábado, tomando uma cerveja Belga e beliscando uma pizza de borda recheada, fiquei a ver os carros circulando sem parar pela praça, enquanto caia uma bonita chuva. Coisas da cidade grande!

Gilberto Granato

domingo, 13 de julho de 2008

Ximbinha e Ximbico


Pelo título e se você tem por volta de trinta anos, deve estar pensando que se trata de algum texto saudosista da época em que éramos pequenos e a Xuxa falava tudo com xsss.... E estes seriam dois indivíduos despercebidos da turma de dengue, praga e outros mamíferos fantasiados (que besteira!). Pois bem, vou lhes apresentar duas figuras do reino animal. Por ordem cronológica, comecemos por Ximbinha:

Ximbinha é filha de mãe vira lata e pai desconhecido. Sempre tive vontade de ter um cachorro e sempre soube que os vira latas eram os que menos adoeciam, mais eram fiéis aos donos e tinham uma boa resistência genética para encarar a vida quadrúpede. Quando soubemos, que em um sítio próximo haviam cachorros sendo doados, escolhemos uma cadela entre todos os filhotes, por ser a menor e mais raquítica. Suas qualidades, provavelmente devido a dificuldade em se amamentar e as investidas urbanas de sua mãe.

Em casa Ximbinha cresceu comendo de tudo, recordo-me até hoje da expressão “cão chupando manga”, pois vi este fato ocorrer ao vivo e ainda com direito ao caroço!. E não ficou só nisto. Deve ter devorado uns cinqüenta tipos de plantas, sendo que dentre todas, as preferidas eram as bromélias, talvez pelo seu gosto doce, não sei por que, também criou gosto por gafanhotos, que na época de migração atraídos pela luz, lotam o jardim e são presas fáceis. Criou uma afeição muito grande por crianças, principalmente pelo que elas carregam de gostoso nas mãos. Para não negar a vocação fértil familiar, em apenas uma fugida no cio, foi mãe de cinco filhotes, que hoje seguem suas vidas em outros lares. Seu brinquedo principal, são os chinelos havaianas velhos, jogue cem vezes e ela buscará cento e uma. Não houve também um só dia chuvoso ou tarde da noite em que tenhamos chegado em casa sem a recepção calorosa e chorosa desta motivada companheira, que também adora latir para os cavalos, os pedreiros e os fogos de artifício. Já presenciou momentos importantes, como o assalto da casa (provavelmente sem dar um latido), visitas de queridos familiares e amigos, chuva de granizo, a grande queimada do lote da frente, que afugentou os pássaros e a chegada de seu grande amigo Ximbico.

Ximbico também surgiu de forma gratuita “compre um kilo de ração e ganhe um gato”, seus pais não foram identificados e seu aspecto físico lembrava os “gremilins” do antigo filme de monstrinhos. As visitas tinham receio em pegá-lo por realmente estarem preocupadas com a sua saúde. A veleidade pelos gatos vem desde o período em que moramos no noroeste do Amazonas, aonde chegamos a ter uns seis felinos (Diroá, Ipadu, os irmãos Toxi e Plasmose e outro que não lembro o nome), todos falecidos, exceto Neranha que demos na nossa partida para uma manauara chamada Olívia, que cuidava de nossa casa de tábuas e em um último contato por telefone, disse que o desbravador Neranha (Dente em português) ainda se encontrava andando pelos muros.

Ximbico sempre teve gosto pela ração seguindo uma dieta balanceada de hora em hora, isto quando não está dormindo. Outros animais que se movem, sobretudo os pássaros, também estão no cardápio. As rolinhas são as presas mais fáceis e mais carnudas. Durante o dia dorme respeitosamente no canil de Ximbinha e a noite gosta de andar pelo matagal e dorme no sofá de entrada da casa. Em uma destas investidas permaneceu ausente uns quinze dias, achamos que assim como todo gato, já havia consumido suas sete vidas; Quando em uma noite apareceu miando e um pouco escabreado, ficamos felizes por seu retorno e começamos a notar que só se alimentava e dormia, quando em uma brincadeira notamos que ele não continha mais seus acanhados bagos, sabe-se lá como: foi castrado! Já suportou outras dificuldades: um dia ao abrir o porão, ouvi um miado ao fundo, por onde ficou singelamente por dois dias sem beber e comer, saiu de letra: se lambendo! Já matou duas cobras uma cipó e outra toda negra não identificada. Miar é outra coisa que gosta bastante seja por vontade de comer ou em resposta a um estímulo vocal humano.

No início da relação entre os dois, prevalecia o sentimento de estranheza e descoberta Ximbinha mordia o dorso de Ximbico fazendo-o dar voltas e mais voltas forçadas pelo jardim como se fosse um brinquedo. À medida que os dois cresceram deram demonstrações claras de que as diferenças poderiam ser apaziguadas, por outras emoções como o respeito, companheirismo e carinho, pois tirando as demonstrações de ciúme, nunca vi os dois brigarem ou trocarem uma farpa sequer.

Ximbinha e Ximbico mostram para qualquer Homo Sapiens (homem sábio) pertencente à família Homonidae de cérebro desenvolvido, que lhe proporciona raciocínio. Que é possível viver com diferenças, bastando para isso apenas boa vontade de ambas as partes.

Gilberto Granato

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Os ventos de Sergipe


Os dias vão nos enganando, mas o mês de Santo Antônio, São João e São pedro não passou em branco. O despercebido Estado do Sergipe, isto porque, quando falamos de nordeste é um dos destinos menos lembrado, agora nunca mais será esquecido, sua bandeira é parecida com a de Goiás, seu sotaque é próximo do pernambucano, mas a sua dinâmica de vida é única!

Antes de tudo é bom o viajante já preparar seu estômago, portanto ao chegar já coma carne de sol, pirão de leite, farinha d’água e é claro com muita manteiga de garrafa assim o viageiro juntará as forças necessárias para entender o sergipano.

Ao acordar no sábado de manhã vá à praia principal de atalaia, pois fica praticamente deserta, poucos carros, caminhe, caminhe, apenas caminhe se possível de traje de banho, respire fundo, sente em um dos banquinhos da bela e estruturadíssima orla e agradeça por estar ali, depois de descansar leia o jornal da cidade que é pequeno e vale por dois dias, o vento tentará te deter, então relaxe e tente outras investidas mais tarde sentado a beira de um quiosque comendo um belo caranguejo. Não dispense as castanhas de caju que lhe serão oferecidas, afinal ela chega a você sem intermediários. À noite a movimentação é maior afinal de contas é o mês do triangulo, sanfona e zabumba o verdadeiro e autêntico forró e o sergipano vem se preparando à tempo para estes dias, já comprou seus foguetes, já conseguiu lenha para acender sua fogueira na porta de casa, espigas de milho, amendoim, tapioca doce... tudo como se fosse um dia de natal, e é com o fim da luz do dia, que toda esta química começa a reagir, ao estopim do primeiro toque do triangulo, onde todos dançam sem olhar para os lados e só param quando o trio para, isto quando para! Também tem espaço para a ciranda, o samba de roda, as bandas de pífano e os escritores de cordel; durma cedo, mas antes não deixe de comer uma tapioca recheada com o que você quiser.

Escolha um dia para visitar o sertão, por entre vilarejos, pequenas cidades e muitos buracos, você verá a caatinga verde, muito diferente das caatingas retorcidas dos filmes sertanejos, verá o mandacaru reinando e se sentirá um cangaceiro, pois passará de onde lampião bateu as botas e lá estará escrito: “Me chamo virgulino Ferreira Lampeão, manso como um cordeiro, bravo como um leão, trago o mundo em reboliço, tenho a cabeça de trovão”; com o aparecimento do xique xique saiba que a proximidade com o rio São Francisco é eminente; Ah o velho Chico! Suas águas claras e belas, navegue por entres seus canyos e seus mistérios, aproveite a paisagem e já no retorno você entedera um pouco melhor Guimarães Rosa e Euclides da Cunha.

Não vá embora sem antes ir ao mercado municipal, vá de ônibus é o meio perfeito para ver a mistura de semblantes sergipanos e lá andar entre as mangabas, a puba, o coco sergipano, as castanhas, os tradicionais artesanatos de cerâmica e as ervas que curam tudo e é claro não deixe de voltar de táxi, pois o taxista é sempre uma das maiores fontes de informação política e social de uma cidade.

Já estive em alguns lugares que ventam: os da Amazônia são um sinal de grande chuva a vista, os da patagônia tentam te expulsar de qualquer jeito, os de Castelo é um sinal que o mês de agosto está chegando e os de Sergipe são um convite para uma caminhada á beira da praia.

Gilberto Granato

Terra do café


As lendas dizem que a descoberta do café surgiu através das observações de um pastor chamado Kaldi, que notava que suas cabras ao comerem certo fruto de uma planta, tornavam-se mais bem dispostas, isto aconteceu na Etiópia central de onde o café é endêmico e de onde nasceu para o mundo. O Pará foi o estado que trouxe a planta para o Brasil através da missão de um sargento que em viagem à Guiana Francesa trouxe a planta e assim se difundiu pelo o País, hoje tomando conta de todas as casas faça chuva ou faça sol, tornando o Brasil o maior produtor mundial deste aromatizado fruto.

Histórias a parte, no mês de maio, no dia nacional do café, ao ler o jornal achei muito conveniente ir visitar uma cidade no sul do estado chamada Brejetuba, onde seria realizada a 1ª Festa do Café, veja bem a primeira!, hoje em dia é difícil conseguir participar de alguma coisa pela primeira vez, então me enchi de desbravadorismo e fui a Festa com minha esposa e sua mãe ciente que seria um feito histórico!

Brejetuba tem seus 13.000 habitantes e é o segundo maior produtor de café arábica do Brasil, vai saber como? ao chegar me deparei com um bucolismo que me fez lembrar Tocantins quando era criança, em plena festa mau se ouvia o barulho de conversa das pessoas, nenhum carro de som atormentando e uma razoável dificuldade em se conseguir uma cerveja, gelada então nem pensar!, apesar do clima bem ameno. Quem realmente não teve do que reclamar, foi o senhor que vendia pipoca eu e xibé ficávamos calculando quanto aquele bom brejetubense lucraria com a respeitosa festa, pois a coação era tanta para um milho estourado, que o nosso amigo já perdia a conta do troco. Deu pra dar uma volta a pé pela cidade sem perder a festa de ouvido, visitar a praça, observar as casas sem grades, os cachorros vira latas e o orgulho no semblante das pessoas que talvez se sentissem recompensadas pelos esforços de um ano na lavoura.

Mas amigos o melhor ainda está por vir, a maior xícara de café já feita neste mundo tinha sido no panamá em 2007 e tinha 2840 litros de café e Brejetuba resolveu quebrar a banca e fazer uma com 3500 litros, sendo que para isto foram necessários 300 kilos de pó de café, que eram despejados em um imenso coador, que devia ter uns 2 metros de diâmetro. A cada saco aberto a população contava entusiasmada, até que depois de alguns bons minutos e emocionados discursos de políticos e figuras locais a água caliente despejada através de um caminhão pipa (destes de armazenamento de leite) que mantinha a água quente, começou a jorrar e levou mais um bom tempo até que ela começasse a cair na xícara, já estava preparado todo um sistema complexo de torneiras para servir a “todos” que aguardavam ( “todos” quer dizer: habitantes de brejetuba, + nós de fora) e eu apesar de raramente tomar um café iria saborear o maior café do mundo, quando veio a notícia de que iria demorar mais de uma hora para o café ser coado, quer saber, o frio e a noite que se aproximavam falaram mais alto e fomos satisfeitos para casa com o sentimento de termos participado de uma bela história!


Gilberto Granato

sábado, 5 de julho de 2008

lembranças do carnaval


No mês de fevereiro deixei o litoral de minas, ou melhor, o Estado do Espírito Santo com destino inverso ao de milhares de carros que vinham no sentido “praia e folia”, para reviver o carnaval de Tocantins e como é de praxe, toda vez em que se cita a palavra Tocantins a um leigo capixaba, tenho que dizer que se trata de uma cidade da zona da mata mineira e não o Estado nortista, isto às vezes gera estranheza desde aos mais assíduos estudantes de geografia aos geógrafos de boteco, mas se ficar um pouco difícil de entender que fica entre Ubá e Rio Pomba, nas margens do rio Paraopeba aí é só expor que é a terra do fumo sabiá, pois qualquer cidadão do interior do Espírito Santo com mais de 30 anos se convencerá de sua existência.

A chegada à cidade é surpreendente, pois a cidade antes só existente em um lado da rodovia, hoje se multiplica nos dois sentidos e não apresenta mais aquele caráter bucólico tradicional a não ser pelas clássicas charretes que andam a galopes mais rápidos que os de antigamente pelas ruas estreitas ao redor da praça; e emociona devido as lembranças de crescimento e desenvolvimento em que vivi em todas as férias passadas junto à minha família na cidade, e o carnaval é uma delas; As lembranças são muitas desde os carnavais e matinês de clube, aos blocos diurnos e ao tradicional desfile das Escolas Índios do ritmo e Santa Cruz que concorriam harmonicamente pelo título de campeã; Lembro-me que durante o desfile todos posicionavam suas cadeiras em frente as suas casas, com o devido lugar para os mais velhos reservados, as crianças se fantasiavam e confetes e línguas de sogra eram o que não faltava, dando trabalho aos catadores de lixo no dia seguinte, as pessoas cantavam os sambas em redo com entusiasmo e a ala das baianas era sempre a mais aplaudida, sem falar na tradicional e vibrante bateria da índios do ritmo, ao fim do desfile todos se divertiam ao sons de marchinhas de carnaval e até mesmo a recém chegada axé music.

Desta vez foi emocionante vez a turma do projeto toque na lata, mostrar música, arte e inclusão social em um desfile que merece todos incentivos, para estar cada vez maior em cada evento, ver a índios do ritmo se unir ao bloco do Itararé e nos fazer arrepiar com sua afinada bateria e a merecida homenagem a um dos fundadores da Escola Índios do ritmo Itamar Souto, foi divertido ver as passagens dos blocos guiados por “carros elétricos” e ver que o “michael Jackson tocantinense” Zé Polícia continua empolgando os desavisados de plantão e ao final, foliar ou quem sabe descansar ao som das bandas, por sinal algumas capixabas, que animavam o palco durante os dias de evento. Fiquei decepcionado ao ver que o tradicional bloco das piranhas, antes embalado por músicas de folia, hoje vive ao som em altíssimos decibéis, de músicas de funk, que acabam por afastar os mais velhos da folia e como presenciei gera tumultos, nada contra o funk, pois adoro James Brown e alguns de seus desdobramentos, mas o carnaval segundo o dicionário é um “festejo” e um festejo no dicionário é um “bom acolhimento”, bem diferente do que vi ou melhor ouvi.

Espero que Tocantins não perca suas raízes e é claro incorpore de maneira saudável as novas tendências, seguindo a linha dos carnavais tradicionais de cidades históricas mineiras, que fazem bem este sincretismo, pois tenho certeza outros tocantinenses ausentes assim como eu largarão a praia para se divertir nas ruas da inesquecível cidade e os creu, creu, creu ...... entoados serão apenas substantivos do passado.

Arawãkanto'i é nome tupi guarani da tribo tapirapé.

O conceito indígena


Já estamos no século 21, desfrutando de tecnologias de ponta em várias áreas da ciência, com meios de comunicação potentes que permitem o diálogo em diferentes longitudes neste mundo, sabemos através dos meios de comunicação de notícias que acontecem ao redor do planeta em tempo real e passamos a conhecer o mundo pela Tv, internet, revistas e jornais e eis que surge uma indagação; Será que eles são suficientes para tecermos opiniões sobre algum povo?

Hoje, neste momento em nosso país existem cerca de 460.000 pessoas, compondo 215 povos tradicionais, falantes mais de 170 línguas diferentes além do nosso querido português, formando várias comunidades, alguns já viveram em Castelo e foram extintos como os puris coroados, outros estão bem próximos de nós como os tupiniquins e guaranis no município de Aracruz, norte do Estado, outros recém contatados e pouco conhecidos como os korubus e Flechadas do Vale do javari, sul do Amazonas, estamos falando sobre os povos indígenas. Se sairmos à rua e perguntarmos a qualquer pessoa sobre “O ÍNDIO”, todos, desde uma pequena criança em idade escolar, ao mais sábio senhor de barbas brancas terá um conceito formado, e se analisarmos suas falas estarão embutidos valores como a caça, pesca, artesanato,nudez e talvez a preguiça, isto porque os nosso livros escolares a TV e os jornais nos transmitam apenas conceitos antigos e mais recentemente apenas mostrando celebrações teatrais e conflitos de terra, é talvez neste instante que cometamos o nosso maior equívoco, classificarmos os índios, como uma cultura única e que tem os mesmos costumes. Em todo país exceto nos estados do Rio grande do norte e Piauí há populações indígenas com diferentes culturas, que englobam diferentes formas de organização social e política, distintas técnicas e conhecimentos de agricultura rudimentar, diversificados graus de conhecimentos de plantas tradicionais, diferentes mitologias e desiguais estágios de incorporação e adaptação de nossa cultura, que é avalassadora desde os tempos das gripes trazidas pelos portugueses.

Se voltarmos a pergunta anterior sobre o índio, como seria interessante se obtivéssemos respostas como, Qual índio (tribo) você está perguntando? Pois só conhecendo uma cultura é que podemos analisar a sua relação com a vida e o meio ambiente ao seu redor, assim como não podemos julgar uma pessoa só porque mora em uma das várias periferias do Brasil é preciso buscar conhecimentos e informações de qualidade, de nossos meios de comunicação ou se possível a olho nu, pois só assim um dia quebraremos essa arrogância que nos faz ver o mundo como imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver, como diria o viajado Amyr Klink

Por falar em conceitos e para não terminarmos esta leitura sem um, Orlando Villas Bôas um dos maiores Indigenistas deste país resumiu sabiamente a relação indígena da seguinte forma: Entre os índios, o velho é o dono da história, o homem é o dono da aldeia e a criança é a dona do mundo! Pois da maneira com que o homem não índio vive com seus semelhantes nos dias atuais, veremos que “OS ÍNDIOS” têm ainda muito a nos ensinar.

Gilberto Granato