segunda-feira, 30 de março de 2009

Bonsai

O bonsai é uma arvorezinha intrigante. É a réplica artística de um grande exemplar da natureza, que fica ali em miniatura em um vasinho de barro de bandeja para qualquer criança. Tem os que cultivam bonsai e tem os outros que “acham bonito”, deste grupo todos que já tiveram um exemplar, já não tem mais. foi inventado pelos chineses. Isto mesmo, você pensava que eram os japoneses? Mas mais uma vez me surpreendo com a antecedência chinesa. Já li até uma teoria de que foram eles que descobriram o Brasil antes do Pedro de Portugal. Tenho a impressão de que os chineses estão por trás de tudo neste mundo (menos de mim é claro).

Tenho um Bonsai desde 1997. Chama-se Pithecolobium Tortun, popular Tataré, jacaré, angico, jurema ou para os gringos apenas “Brazilian rain tree”. Eu até segundos atrás achava se chamar também “São Paulo”, mas aí fui ao “pai dos bobos” (que é o site de busca na internet e não o dos burros que é o dicionário) e ele não deixa pedra sobre pedra, ou melhor, nome sobre nome. Ganhei este exemplar de uma antiga namorada em um estacionamento de supermercado, imagino que o vendedor que honesto e bem intencionado, mas querendo dar mais um incentivo a sua venda, disse a ela que também se chamava “São Paulo” por saber através do papo de vendedor que se tratava da minha cidade natal, pois sou um capixaba paulistano, mas “aba” do que “ano”, por favor, e não Amazonense, Rondoniense, Mato-Grossense, como acham os traunsentes das esquinas Castelenses. E esta fiel árvore anã ao contrário de outras delicadas e sensíveis de sua espécie que existem por aí. É sinônimo de resistência meu botânico leitor.

Já enfrentou fuligem de cana, pó de minério de ferro, calor insuportável, mijada bêbada da madrugada dos companheiros latifundiários de república estudantil, a falta de podas, as podas erradas, as podas (sem trocadinhos por favor)... a falta de água, a água, águas de composições duvidosas, cochonilhas, pulgões, formigas, inseticidas, invejosos... Amarelou e perdeu as folhas por centenas de vezes, achei que ia morrer, virar história, pó, ia entrar pro grupo comum dos que “acham bonito”, mas sempre me surpreendeu e renasceu das piores situações e agora me inspira e inspirará os meus descendentes, que por sinal ainda anda sem dente.

Minha pithecolobium me faz lembrar Chiapas, Antônio Conselheiro, Tiradentes, Mather Luther King, Betinho, Zumbi dos palmares, Sandino, Lampião, Mahatma Ghandi, Nelson Mandela, Marcos terena, Jesus, Garibaldi, Simón Bolívar...

Me faz lembrar também que já faz muito tempo que não jogo um adubinho em suas raízes.

Vou ver se acho o dito cujo.


Gilberto Granato.

segunda-feira, 23 de março de 2009

60 minutos sem luz

Tem uma ONG internacional que está promovendo o “apagão mundial contra o aquecimento global”. Incentivando os cidadãos comuns e os não como eu, a apagarem as luzes de suas casas por uma hora na noite do próximo domingo. É a chamada a “hora do planeta” e tem um monte de artistas bonitos de telenovela propalando esta escuridão.

Não estou digerindo bem a idéia e te explico iluminado leitor. Ando meio desconfiado de ONG (e olha que já trabalhei em algumas) e para não ser injusto com elas, das OG (organização governamentais) também. Acho que só para começar deveriam tirar a palavra “organização” que já está démodé e tem lembrando mais o terrorismo do que a sua constituição física propriamente dita. Também ando desconfiado de artistas bonitos de televisão e de suas reais intenções de apagarem as luzes no domingo. Mas não vem ao caso explicar mais sobre minhas suspeitas e assim alongar demais este texto, gastando muita luz e correndo o risco de ser processado por uma ONG de artistas.

Aqui no morro da formiga é um exemplo de ecologia. Não tem esse negócio de escovar os dentes de torneira aberta (eu escovo é debaixo do chuveiro bem quente e no máximo mesmo), tinha lixo seco e orgânico (acabou pois a organização dos roubadores de sucata levaram o cesto e a organização dos catadores de lixo seco não anda mais animada de escalar e enfrentar os perigos até aqui), separamos o óleo de cozinha (terceirizamos para os quiosques de praia fazerem suas frituras no verão) e ainda utilizo a energia nuclear para esquentar meu pão com manteiga todas as manhãs e outras boas ações que contribuem para a querida “pachamama”. Mas este negócio de apagar a luz durante uma hora, no domingo à noite bem na hora da minha depressão pré-segunda? Não tá me contagiando não!

Porque sem luz já fiquei muito no pouco que vivi. Quando morava em regiões remotas do país. Passei bons períodos no escuro em que a cidade só tinha energia a cada três horas, por três horas isso durante todo ano, soma-se a falta de luz habitual de cidades do Brasil adentro que já vivem contribuindo com o apagão e evitando o aquecimento global há muito tempo, sem falar no período em que ficava por trinta dias no meio das samaúmas ou dos pequizais a base de vela ou algum candeeiro encantado. Se somar o tempo que fiquei sem luz, já tenho superávit primário de contribuição e talvez já possa ser reembolsado pelo infortúnio dos breus por que já passei. E quem sabe receber desta carismática ONG um checão no valor correspondente a minha cegueira e se possível das mãos de alguma artista bonita destas de telenovela, pode ser da novelinha dos adolescentes da tarde mesmo, sem preconceito, aí a idéia ia colar, ou melhor, decolar. È só inventar a fórmula de conversão, estou esperando, aguardando, contanto os minutos. Quem sabe eu não seja o piloto deste novo projeto.

Agora, apagar meu domingão à noite?

Neca de pitibiriba!

Viva a luz!


Arawãkanto’i Tapirapé.
(o último que ler apague a luz, por favor)

sexta-feira, 20 de março de 2009

P7

O grupo dos seis pronomes mais ricos do mundo e mais um artigo se encontraram novamente neste mês de março na morfológica cidade de Montijo - Portugal. Este grupo categoremático e convencido, que ainda mantém a tradição de reunir seus líderes todos os anos de acordo com suas funções na frase. Finalmente conseguiram conciliar as agendas lotadas de orações subordinadas, a fim de promoverem as novas mudanças gramaticais tão aguardadas.

Antes dos debates todos participaram de um momento ímpar de meditação a fim de deliberarem quem iria substituir ou determinar o nome da frase durante o evento. Logo em seguida o grupo dos pronomes pessoais pediram a voz e encaminharam a proposta de inclusão de mais uma pessoa além da terceira pessoa do plural. Pois Segundo eles, que por sinal é depois de “eles” que seria a tal proposta. A atual classificação é muito reta e antiga e segundo eles (olha ele denovo!) já estão cansados deste negócio de sempre estarem substituindo o coitado do sujeito e queriam na verdade participar mais do restante da frase. Mas o parecer acabou em pizza, ou melhor, sopa de letrinhas, pois não souberam explicitar bem qual seria o novo sujeito.

Os pronomes possessivos mais uma vez deram poucas demonstrações de cooperação, deixando de lado os cordiais pronomes de tratamento (vossa magnificência, vossa senhoria etc...) Para utilizarem de suas principais manobras centralizadoras: a de que tudo é meu, minha, nosso, nossa. O que gerou grande insatisfação por parte dos pronomes pobres do final da gramática. Os pronomes demonstrativos tentaram a todo custo incluir alguns pronomes emergentes da terceira edição da gramática subdesenvolvida no seleto grupo, tentando cutucar este, esse ou aquele líder mais revolvido para este grande avanço. Mas o grupo dos pronomes infefinidos emperraram a sugestão alegando não ser o momento apropriado para o debate devido a atual crise mundial ortográfica.

Os pronomes interrogativos e os pronomes relativos estavam ansiosos a procura de exclamações no final da frase durante todo o evento. Tudo isto por causa da assinatura pelos países participantes do “protocolo do qual”. Que demarca definitivamente a disputa do território na península variável pelos dois países. Ficou decidido que o “qual” sozinho tem seus limites geográficos em território interrogativo e “o qual” fica do lado dos relativos agora junto com o artigo, grande aliado que desde os primeiros fonemas já anda se misturando com os pronomes.

Desta forma foi encerrado mais um capítulo, ou melhor, mais um substantivo deste histórico, ou melhor, adjetivo encontro.



Gilberto Granato

sexta-feira, 13 de março de 2009

Dança da solidão

Eu fico pensando em quem tem que escrever todo dia como obrigação, vive disso, tem que pagar a pensão dos filhos, prestações atrasadas, empregada, quadra da pelada de meio de semana, chuveiro queimado. Não deve ser fácil (sem falar que todo mundo acha escritor vagabundo, pois só fica em casa). Tem dia que não tem assunto, você está cansado, sem inspiração, ocupado com o mundo, nenhum animal exótico cruzou seu caminho, caso nenhum aconteceu, é só tragédia no jornal...

Pois bem, aqui estou eu só e sem idéias, sem nada para escrever, sem cama arrumada, sem comidinha quentinha, sem obrigações familiares. Veja bem meu acompanhado leitor: “só” entre aspas mesmo, de absolutamente só, de abandonado, de único morador desta casa provido de polegar opositor e cérebro melhor desenvolvido (ganho da minha cadela), um mamífero sem leite gozando de minutos de silêncio. A família foi a capitar em busca do que não temos aqui no interior e eu fiquei tipo shampoo esquecido de última hora. Mas graças a Deus o companheiro microondas está aqui me dando uma força, o gentil abridor de garrafas também, sem falar do amigo de todas as horas controle remoto.

Na minha atual condição de solitário. Acho que agora sim teria chances meio que remotas é bem verdade de ser o zelador daquela ilha australiana paradisíaca, que segundo a autoridade do estado de Queensland, está oferecendo um bom salário para alimentar os peixes no mar? Coletar correspondências que chegam de avião? Limpar piscinas? E mais um bando de interrogações???... Para se fazer no meio do nada. Mas estou avisando desde já que só, isto mesmo, só estarei disponível até amanhã, que é quando a família volta trazendo novidades da capitar, isto mesmo, até amanhã, pois amanhã eu viro abóbora.

A minha hodierna condição, talvez também seja um bom motivo para eu entrar definitivamente para o grupo seleto do “nadismo” éh! Aquele grupo criado por pessoas criativas (com redundância por favor) para fazer uma revolução sem fazer nada. Me dedicar novamente ao ócio, para segundo eles sair da mesmice. Acho que vou até comprar o livro cheio de páginas brancas vendido por este simpático grupo e ficar por 45 minutos sem fazer nada, mas isto só até amanhã, pois amanhã eu viro jerimum.

Não, não, não! Vou é procurar a minha rede, cordas, lanterna e repelente e vou me refugiar em uma, isto mesmo, qualquer uma das mais de trezentas aldeias indígenas lá da cabeça do cachorro na floresta amazônica. E vou tomar bastante água, ou melhor, xibé (água com farinha) antes de dormir, só para acordar de noite (olha o “só’ minha gente!) e ficar vendo aquele céu lotado de estrelas cadentes. Mas é só até amanhã, pois amanhã eu viro uma cucurbita.

Pobre desilusão!

Danço eu, dança você na dança da solidão.


Gilberto Granato.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Big Fish

Juliano e Paula. Há muito tempo planejavam esta viagem. Já não aguentavam (sem trema) mais o caos metropolitano, os apitos dos guardas de trânsito e o neoliberalismo fútil moderno. Queriam tirar suas férias no interior. Ficar mais próximos da natureza, dormir melhor, comer a comidinha feita no fogão à lenha e tirar os cravos do nariz debaixo de uma jabuticabeira. E realmente foram. De avião, depois de carro, depois de charrete, levando consigo placidez, bonança, as reservas financeiras de um ano de trabalho árduo e é claro seu pequeno filho Biel.

Passado quinze dias no regime bucolista, sem ruídos, clima ameno. Estavam todos satisfeitos já com uma pontinha de responsabilidade querendo bater a consciência, até que no penúltimo dia da viagem, Juliano o patriarca programou uma ida a um tradicional pesque e pague destes de roça adentro. Era uma diversão e tanto que mantinha a linha de sossego planejada. Logo na entrada do local uma placa bem grande advertia em letras garrafais “Todo peixe pescado deverá ser retirado da lagoa pesado e pago” e ainda tinha um “a diretoria” no final. Afinal de contas era um pesque e pague não é? Isto já deveria estar subentendido, disse Juliano? Paula chegou a fazer um comentário sobre a placa com um casal que passava na hora, por achar que descaracterizava a paragem verde.

Lá brincaram com o casal de papagaios, tiraram fotos das orquídeas, andaram pela grama verde até a hora do almoço onde se fartaram. Juliano pai coruja já ia esboçando uma saída de volta a pousada, quando seu filho Biel lançou a frase; “Biel qué peca!” Juliano subitamente levantou, respirou fundo, pegou as varas de bambu e disse: “vamos meu filho, vamos pegar uns lambaris” Paula sorria, contente com a atividade pouco habitual da família.

Na beira do lago tava difícil da linha beliscar, até que Paula, veja só! Pegou o primeiro peixe uma alegria só, fotos ao lado do pequeno cará, que não passava de 10 centímetros. A partir daí só deu lambari, Juliano o mentor da família estava certo na sua profecia. É bem verdade que teve uma tilápia, mas ela mais esperta pulou de volta para a água, antes que Biel pulasse de contentamento. “La ciesta” começou a afligir a família e como já tinham enchido uma sacolinha destas de supermercado de alevinos, que mais tarde seriam fritos na pousada. Foi de comum acordo a vontade de partir. Juliano o pai exemplar apenas fitou: “deixa eu tentar pegar mais um só!”. A família concordou e foi neste sim para a natureza que a natureza se fez presente, ou melhor, onipotente. Repentinamente uma fisgada com força incomunal, atingiu o anzol de Juliano. Ele berrou, caiu na água, mas manteve firme as mãos na vara. Logo todos na lagoa correram para o local, uns torciam, outros estavam amedontrados, outros tentando ajudar e Juliano só dizia: “deixa comigo porra!” (o “porra” não era palavreado comum de Juliano). Trinta minutos se passaram. O dono do local tinha recebido um telefonema e já estava ao lado da vara intrigado. Foi quando exausto, mas ainda firme, um Tambaqui gigante emergiu do fundo, precisaram de cinco pessoas para carregá-lo até a balança, que honestamente marcou 45 quilos. Na mesma hora o dono do local começou a sorrir. Juliano também, virou celebridade, tirou fotos, deu autógrafo, marcou encontros, ganhou refrigerante grátis do dono (que só sorria) um alvoroço só. Mas que depressa os funcionários limparam o peixe e o cortaram em mega-postas que foram colocadas em dois isopores gigantes com o logotipo do pesque e pague.

Depois da euforia Juliano o grande pai pescador foi até o caixa cheio de orgulho para fechar sua conta e olhar a tabela de preços dos peixes e lá em último estava “tambaqui ou pacu vermelho raro – 35 reais o quilo” (o que daria 1.800 reais com os isopores). O grande pai começou a suar, a soluçar, a se avermelhar, berrava a toda hora “o quê? é um absurdo!”. Logo sua esposa ofegante e com o lápis do olho borrado pegou o celular, ligou para Mãe, amigos, procon, Mãe dina, peixarias da capital para saber do preço do quilo do peixe, ameaçou até chamar a polícia, mas de nada adiantava, seus destinos já estavam traçados, ou melhor, fisgados por aquela imensa boca brutamontica. Biel se divertia com as barbatanas no chão ainda sem entender de economia.

Depois de muita revolta e várias tentativas frustradas de vender o peixe para o dono (que sorria), fretaram um veículo para levar o exemplar para pousada, lá o dono cobrou uma pequena taxa extra para acomodar o alevinão. No retorno já no aeroporto pagaram os 50 quilos de excesso de bagagem [é tinha o gelo! (Paula queria doar o peixe, mas Juliano só de birra falou que comeria cada escama daquele animal vertebrado)] Mais frete para o apartamento, gorjeta para carregadores (O pai de Juliano comprou um freezer novo especialmente para a ocasião) e assim a família passou um bom tempo pagando o cartão de crédito e comendo peixe toda semana.

Nas próximas férias eles não vão mais viajar. Não largam a cidade grande por nada.

Juliano diz que o peixe é delicioso, mas sempre pede ovo frito, agora “porra” faz parte de seu vocabulário.

Paula diz que tem gosto de barro. Recentemente doou 10 quilos sem Juliano saber para a creche da rua.

Biel come e repete.


Fim.


Gilberto Granato

quinta-feira, 5 de março de 2009

Picolé de abacaxi

Como muitas descobertas que mudaram o rumo da ciência o picolé não fica atrás. Chegou ao Brasil em 1834 vindo de uma carga de Boston – Estados Unidos em um navio de carregamento de gelo natural e agora anos depois na hora do almoço, veja só, estava sendo oferecido pela minha consorte bem aqui pertinho de mim, oriundo do freezer da minha geladeira, que acho não ter sido fabricada em Boston. Ela indagou-me como uma boa vendedora de picolé:

- Que sabor você quer?
- Qualquer um tanto faz.
( me trouxe um de abacaxi)
(pensei: podia ser todos menos de abacaxi)

Lembrei daqueles picolés de abacaxi aguados sem graça, que já chupei por aí. Você conhece alguém que vai a uma sorveteria só para chupar um de abacaxi? Pois é, ele não figura entre os mais cotados. Não iria retirar o que disse, então comecei a abrir o envelope. Qual foi minha surpresa ao me deparar com um picolé de aspecto leitoso, cremoso, lácteo, de um amarelo natural sem profusão na escala dos amarelos. E na primeira mordida aquela consistência nem dura nem mole, sabe? meio assim meio nem dura e nem mole mesmo. E o sabor? Um gosto cítrico adocicado marcante, lembrando aqueles abacaxis doces que nem mel lá da Amazônia brasileira. Saboroso, deleitoso, soberbo, esplêndido, suntuoso. Creio nunca ter me esbaldado com um picolé insuperavelmente inesquecível de ananás como aquele. Tive a petulância de ler os componentes para saber quais eram os ingredientes mágicos.

E eis o que li. Açúcar cristal, xarope de glucose, água filtrada (até aí tudo bem). Contém; aroma artificial de abacaxi, estabilizante mono e diglicerídeos de ácidos, espessantes carboximetilcelulose sódica, estabilizante goma guar. (aí eles colocam um ponto final para você parar de ler e voltar a chupá-lo mas a minha arrogância não deixou). Colorido artificialmente (minha nossa!). NÃO CONTÉM GLÚTEN (É! assim mesmo em maiúsculas e em negrito tipo querendo colocar o pobre coitado do glúten como vilão desta alquimia toda). O bonito envelope ainda advertiu-me para consumi-lo por no máximo 180 dias após a fabricação e não tinha data de fabricação. O que me deu uma leve sensação de já poder estar comendo algo ainda bem diferente do especificado na embalagem.

(...)

Tô uma meia hora pensando em um final para este “picolé de abacaxi”. Mas não sei por que meu raciocínio ficou meio estabilizado, espessado, colorido artificialmente pelos os ingredientes. Além de estar com uma sensação vaga de não ter comido nada do abacaxi.

Então fica assim mesmo meu leitor sem final, sem abacaxi.

Pois nem só de abacaxi vive um picolé!


Gilberto Granato