domingo, 28 de março de 2010

Coragem

Poderia estar escrevendo sobre alguma notícia da semana. E se escrevesse, seria sobre a coragem do ser humano. Que às vezes transcende a razão da vida; Vide a eleição para primeiro ministro do Iraque. Fico pensando se eles não têm filhos, netos, coleção de selos, amantes ou algo ainda de bom e prazeroso a fazer nesta biografia terrena. Pode ser até uma nova receita de esfirra, quem sabe. O que me dá prazer atualmente é me comunicar com o meu filho. Sei que não deve existir nada menos interessante, do que proeza de filho contada por pai, principalmente para quem nunca foi, mas como diz o Veríssimo: A momentos em que o desinteressante e o sem nenhuma importância servem como refúgio.

Meu filho, no alto dos seus um ano e algumas cabeçadas, começa a se comunicar. Fala um dialeto próprio. Que educadamente concordamos ou discordamos dependendo da intenção quando diagnosticada. Quando não se faz entender usa dos métodos mais óbvios e eficazes da falta de comunicação: A gesticulação. Que usa de forma simples e eficaz, nos carrega pelas mãos até o lugar desejado e lá só pra reforçar o seu desejo, empurra a nossa mão como se dissesse: “E faça agora!” Resolvemos estimulá-lo a pedir pelas suas necessidades conforme manda os programas do gênero, mas estímulo tem limite. E limite de criança todos sabem o que vem depois: o choro. E choro de criança não é fácil não, principalmente quando se é difícil de reverter, a gente apela pra tudo, até pra pirulito. A primeira coisa que aprendeu a falar foi pedir água, que carinhosamente à chama de “á”. Que para simplificar mais ainda, a utilizou para os outros líquidos. Acabou, virou “abo”, abre, virou “ab” e cair no chão virou “bá”, tudo assim, bem abreviado, mas o que mais me espantou foi o “Papai!”, que é dito assim mesmo, com exclamação, ao contrário de “mamã” que surpreendentemente ainda gera dúvidas. Papai! Virou sua palavra favorita, é dita aos gritos, e proferida até mesmo sem a minha presença. Creio que ele gostou da palavra, se sentiu confortável, seguro, percebe que é bem atendido. E dá uma coragem danada na gente, excita, eletriza, mas nada que faça querer virar primeiro ministro do Iraque.

Pensando bem se fosse escrever sobre alguma notícia da semana. Não me valeria da coragem humana não meu leitor. Dissertaria sobre a razão. Razão da vida! Mas como não sei falar sobre o assunto e ninguém iria ler, por se tratar de algo inexplicável e bem chato para os objetivos atuais. Nada melhor do que abreviação de criança, ou melhor, exclamação!


Gilberto Granato.

domingo, 21 de março de 2010

Novela

Brás e Gilda iam comer churrasquinho. Na verdade quem queria comer era Brás. Tinha visto em uma matéria na TV um local que fazia de todos os tipos possíveis. Era algo ainda inédito no relacionamento do casal, mesmo depois de vinte e seis anos juntos. Gilda não queria ir. Coincidia com o antepenúltimo capítulo da novela, não podia perder. Mas Brás foi convincente, durante a semana que antecedeu o evento, fez questão de acompanhar pontualmente os capítulos da novela ao lado da esposa no sofá. Deixava de ler primeiramente o caderno de esportes do jornal, só para saber no segundo caderno dos acontecimentos que iriam ao ar mais tarde na trama das oito. Onde meticulosamente ia palpitando o que já sabia, e desta forma, ia conquistando a confiança da consorte, para uma bela noite de churrasquinho no sábado. Até que o dia chegou:

- Então amor, você vai querer de quê?
- Nada não, pode comer eu já comi em casa.
- Gilda! Viemos até aqui para comermos juntos, por favor!
(Gilda pega o cardápio e olha em silêncio)
(...)
- Querida enquanto você escolhe, vou pedir um de camarão com provolone tá?
(silêncio)
(...)
- Acho que não vou querer nada não, garçom me vê um picolé desses de maracujá!
- Que é isto Gilda! Nem pensar. Garçom pode deixar, me faz um de coelho que ela já vai pedir.
- Não vou Brás, eu te disse que não queria vir.
- Mas meu amor, deixamos tudo certo em casa para poder vir, coma um só, não custa nada.
- Custa sim! E não me chame de meu amor, coma o seu e me deixe em paz.
(neste momento Gilda sai bruscamente em direção ao banheiro)
(...)
- Gilda você demorou?
- É, o banheiro estava cheio.
(Brás notou que estranhamente Gilda parecia mais conformada e levantara a mão chamando o garçom)
- Ué? Você não queria nada e agora vai comer?
- Sim. Garçom me vê um vegetariano sem farofa, por favor, que eu já volto.
- Pera aí, Aonde você vai novamente?
- Vou ver como se faz o churrasquinho.
(...)
- Gilda! Faz meia hora que estou aqui te esperando!
- É, eu me entreti com a briga do Antônio com a lar..., ou melhor... com a dona do estabelecimento.
- Gilda! Você estava vendo a novela?
- Não, quer dizer eu...
- Estava vendo a novela sim! E eu aqui com cara de bobo, traído, enganado, sem ter mais o que escolher no cardápio, com todos me olhando com cara de pena Gilda, e você vendo a carambola da novela?
- É que eu...
- É que nada Gilda! A partir de hoje não programo mais nada para os fins de semana, você pode ver esta maldita novela o quanto quiser. Eu vou é beber no bar do Geraldão. E garçom! Me vê a conta o mais rápido possível, por favor!

(os dois entraram no carro e permaneceram em um silêncio desconfortável até chegarem em casa, lá tomaram banho e foram deitar. Brás inconformado, disse que dormiria na sala, mas antes fez questão de tirar uma única dúvida que o consumia por dentro.)
- Gilda! Só me explique uma coisa:
- Porque o Antônio brigou com a Lara?


Gilberto Granato

quarta-feira, 10 de março de 2010

Science

A ciência cada dia mais me surpreende. Lá em Atlanta, na “Yankee land”, saiu mais um novo estudo de uma nova Universidade procurando achar os verdadeiros culpados pelos males do mundo e desta forma nos manter vivos por mais tempo. Desta vez, a culpada é uma bactéria encontrada no estômago, que pode ser a principal causa de aumento de peso em humanos. Eu, apesar de ter um corpo subdesenvolvido, mas aparentemente em bom estado, achei a notícia bombástica, pois apesar de conhecer bactéria só pelo nome, conheço pessoalmente um monte de humano volumoso por aí.

Quem sou eu pra contestar uma universidade da terra dos Sioux, Navajos e Apaches. Mas alguma coisa em mim diz que eles estão errados, pois segundo os meus estudos, baseados em observações “in vitro” e sem nenhuma verba federal, detectou que o aumento abdominal da raça humana, está diretamente relacionado a escolha do seu alimento e a preguiça. Pois é, você meu leitor com abdômen não definido, deve ter se preocupado e chegado a mesma conclusão, mas sabe como é, não vamos duvidar dos ameríndios comedores de hot-dog não, pois eles podem ficar bravos e jogarem um monte desta bactéria lá em Copacabana, em frente ao Copacabana Palace e dizerem que ela é um ser tupi, e com isto, montarem uma invasão abarrotada de mísseis pacificadores em mais uma luta contra o terror. Aí já viu, não saem daqui nunca mais. Acaba os problemas técnicos nas alegorias do carnaval, os montinhos artilheiros dos campos de futebol e a broca do feijão, vira uma chatice só.

Segundo os cientistas cheyenes, o desenvolvimento desses micróbios unicelulares pode estar associado ao consumo de água imprópria. O que me leva com todo respeito a pensar que eles também estão errados. Pois segundo um estudo que fiz comigo mesmo de Cobaia, em cantões do terceiro mundo verde amarelo, tomando água de rio por alguns anos, não obteve resultado roliço nenhum, a não ser o positivo para helmintos tupiniquins. E logo eles que tomam água bem tratada e mesmo assim exibem aqueles corpinhos de boneco de neve em qualquer ‘talk show’. I don’t no, mas se eles metessem mais a cara nos books e menos nos estudos “in frito” descobririam sem muito alarde, que o problema da obesidade mora ao lado, e não é no Canadá não, é nas prateleiras do supermercado, Oh shit!

Pois como diria um sábio tio, que não é cientista, nem índio, mas que tem um barrigão. E que estudou bastante a vida: “O que mata não é cachaça, comida gordurosa, nem ficar á toa. O que mata é raiva!”

I agree completely!



Gilberto Granato, don’t speak English, but try.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Fulano, ciclano e beltrano

Há muito tempo não ia ao banco. Fui umas veizinhas a muito contragosto, e não passava da roleta e do olhar desconfiado do segurança, ficava ali cara a cara com a máquina de dinheiro, tentando superá-la bravamente, para poder dispensar os atendentes que estranhamente não duram uma semana no serviço. Banco está bem vivo na minha cabeça: dos caixas fumando, dos vários tamanhos de clips, das borrachinhas de dinheiro, das tomadas no chão, do tira grampo (que evoluiu e virou afastador bucal), das máquinas de datilografar, do cofre, do gerente gente boa, do cafézinho a rolê, da minha Mãe chegando tarde da noite e cansada em casa, todas as vezes que faltava uns centavos no bolso do banqueiro no final do dia. Minha infância também se passou dentro do banco.

Nesta semana não teve jeito, tive que ir. Precisavam da minha assinatura. Não podia assinar antes, nem mandar por ninguém, fotografar e filmar o ato também não valia, tinha que ser eu. O descontento foi inevitável. Um dia antes, dor de cabeça, irritabilidade, estômago embrulhado por pouca coisa e reclamação aos quatro ventos. Facilitaram tudo para mim, disseram que não pegaria fila, que era só procurar o fulano, sem senha, bem rapidinho, não acreditei, mas tive que ir. Normalmente nestas situações quando tá tudo certo é quando tem mais chance de dar errado: O fulano vai almoçar, quem resolve agora é o ciclano, que é o mais antigo, que só aceita senha e adora atender idosos e conversar fiado, tá tudo lotado, não tem aonde sentar e tem sempre alguém reclamando e querendo que você concorde com a sua revolta. Era óbvio que ia dar nisto. Fui, subi diretamente ao local combinado, o segurança logo me advertiu: “tem que pegar a senha”, respondi que ia falar com o fulano e ele se conformou prontamente, opa! O negócio é quente, perguntei pelo fulano e de modo óbvio tinha dado uma saída, me encaminharam para o ciclano, comecei a ficar tonto, pensei em voltar, ciclano me recepcionou mal, tipo: “o que este jovem quer comigo?” sorte minha, que o beltrano do lado dele, era conhecido, melhorou as coisas e para surpresa minha, fiz duas assinaturas e fui embora rapidinho, fiz questão de cumprimentar os dois como velhos amigos. Fiquei bem-disposto, tinha acabado o trauma, estava livre para tentar de novo, afinal de contas as coisas mudam meu leitor. Tanto que me animei. Resolvi que hoje a tarde retornaria para fazer uma simulação da previdência, alterar os beneficiários, ver como andam as coisas pro futuro. Quando se vai fazer este tipo de coisa é evidente o resultado: mandam-te fazer pela internet, preencher uns formulários no site, dizem que on-line é tudo mais fácil etc... Mas notei que as coisas tinham mudado, já era hora de recomeçar, a confiança tinha voltado. Tomei um banho, coloquei os sapatos, ajeitei o cabelo, enchi o peito de coragem, peguei a chave da moto e inteligentemente deixei tudo pra lá e fui jogar na zaga da minha pelada!


Gilberto Granato, não é bobo não.

Agora vai!

Caro leitor. Ando sem inspiração para o negócio de escrever. Essa tal de inspiração, que vem de não sei de onde. Que os amigos chamam de “falta de tempo”, que Itamar Assumpção diria vir da transpiração, que os pulmões insistiriam em chamar de seu. Anda em falta. Poderia colocar toda a culpa neste ávido e insalubre calor de verão que nos flagelou, na falta de graça dos cidadãos, ou na família que anda aumentando de tamanho, mas não. Acabei de crer que o culpado de tal comiseração é o semáforo.

Já morei na cidade, no mato e no deserto. Mas resolvi fazer meu ninho no interior. Pois aqui tenho o equilíbrio de tudo que já vivi. É tudo pertinho, se pega e paga depois (ou vice-versa), anda-se de bermuda e chinelo com elegância e a diversão é jogar bola. O único problema é quando a cidade pequena tem complexo de inferioridade: Inferioridade da cidade grande. A pacata cidade tinha apenas um antigo sinal de trânsito, bem no epicentro, só pra dizer que não era bagunça (e não era). Mesmo assim, muita gente ainda não sabia a função daqueles três círculos de luzes coloridas. Apesar disto, recentemente foram instalados dezenas deles por todos os cantos da cidade. E daqueles que você não sabe a hora que vai abrir, uma aflição só, um corre-corre, uma loucura dantesca, uma malvadeza ferrenha com o pobre cidadão do interior. Virou o assunto da cidade. Não se fala em outra coisa, tá difícil de entender o troço, foi como jogarem uma calculadora de última geração em plena idade média. Sento aqui nesta cadeira e não consigo pensar em mais nada. E Tenho certeza que é algo que vem do sinal, se é do funesto vermelho, do aceitável laranja ou da gostosona de verde, eu não sei. Alguma coisa tem ali, que me aflige profundamente e me desdenha por inteiro, não sobrando nada para o amigo leitor, nadinha. Tenho procurado caminhos alternativos, desabafar com os transeuntes atrás de complacência, me concentrar nos vazamentos de água da casa, mas não dá. Meu objetivo diário é furar o maldito vermelho, correr desesperadamente atrás do laranja e agradecer aos céus pela belezura do verde que me dá forças. Sou um anarquista solitário em pleno interior.


Saudades do deserto.


Arawãkanto’i tapirapé, também mija na piscina quando o atendimento do hotel é ruim.