domingo, 30 de janeiro de 2011

Conversa de escritores 2

                         - Fala Osvald!


- (silêncio)

- Osvald?


- Oi.

- O que é isto meu amigo, ainda está chateado com aquele negócio de texto curto?

- (20 segundos se passam) Não, estou em outra.

- Mas como abandonou a escrita?

- é... acho que sim.

- Osvald, estava lendo uma matéria de uma “college” inglesa, que diz que uma pessoa que tem amigos na mesma profissão tem mais chances de obter sucesso na vida, você não leu?

- Não.

- E qual é o novo projeto?

- Ainda não quero contar.

- Sem falar, naquele estudo que duas grandes universidades americanas fizeram, se leu?

- Não.


- Pois é, diz que quem escreve pelo menos um texto por semana tem menos chances de problemas do coração.

- Gutemberg, o seu problema é que você lê demais. Não tem nenhum estudo sobre quem fala demais?

- Não é que tem. Uma universidade canadense mostrou um estudo, que diz que as pessoas que são mais comunicativas liberam uma série de hormônios no organismo que fazem com que o corpo funcione melhor.

- É? E não tem nenhum estudo para quem coloca muito “que” nas frases?

- Poxa Osvald fala aê?


- Tá bom Gutemberg. Meu novo projeto vai dar uma guinada na minha vida, de uma vez só tudo vai mudar meu caro, to fazendo uns cálculos e os números estão todos na minha cabeça.

- Números?

- É, vou pegar o resto do dinheiro dos livros que vendi e vou jogar na loteria, to sentindo que vai ser desta vez. Cê vai ver, vou lançar um Best Seller sem precisar implorar em editora nenhuma!

- (silêncio)

- Osvald, eu não queria dizer não, mas uma universidade de Campinas mostrou um estudo, que diz que uma pessoa tem mais chances de morrer atropelado indo jogar na loteria, do que ganhar o prêmio. Você poderi...

- Caramba Gutemberg! Vê se me erra caceta, só quer me foder orras!





Arawãkanto’i Tapirapé

sábado, 15 de janeiro de 2011

Conversa de escritores

                                                   - Como vai Osvald!
- E aí Gutemberg.

- E as escritas?

- Tô as pampas!

- Tá o quê?

- As pampas meu amigo, é gíria, é rápido.

- Como assim?

- To escrevendo pequenos textos, rápidos, curtos.

- Mas por quê?
- Tô sem tempo, foi o único jeito.

- Mas como é que fica o leitor?

- Fica bem meu caro, eles até aumentaram.

- Mas e a introdução, o clímax, a conclusão?

- Agora é tudo uma coisa só Gutemberg, não posso explicar muito, fica comprido.

- Mas pagam bem por isso?

- Tô até pensando em comprar um sofá novo.

- E onde é que eu posso ler um destes textos?

- Relaxa Gutemberg, ler é perda de tempo, demora.

- Mas eu tenho tempo!

- Então não pode ser meu leitor oras!

- Que é isso Osvald só estou perguntando.

- Não tá não! Tá encompridando o diálogo, já foram vinte e duas linhas não tá vendo? Ou melhor “22” pra não ficar por extenso e encompridar demais. IH! Já era, já pulou de linha meu deus do céu! Arruinei meu estilo, muitas linhas tá fora de moda, você fala demais Gutemberg, se me fodeu cara, me fodeu.


Arawãkanto'i Tapirapé.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Dia destes



Ou “dia desses” se preferir. Cê tinha que ver. Bateu-me uma inspiração daquelas... que só veio na verdade, porque o barril de chope da festinha do meu filho acabou e todo mundo já tinha ido embora, então resolvi correr, claro tropeçando até o meu empoeirado computador para uma escrita. Eu iria falar segundo minhas próprias palavras do maldito ou bendito porta-chuva, assim mesmo com hífen. É aquele negócio que fica no carro, como se fosse a sobrancelha da janela. O do meu carro tá quebrado, segundo minha avaliação tentaram roubar, iria escrever algo prosopopéico: “a visão da minha vida segundo a visão do porta-chuva quebrado-roubado”, tinha tudo pra ficar bom, só que no meio do texto a cabeça abancou a ir pra Bolívia, a falar do presidente, guanacos... começou a ficar muito estranho e sonolento, que terminou no primeiro parágrafo e o título virou “La paz”. Sai a procura de alguns textos pela metade, coisa muito comum nesta fase que passo, é a chamada “começancismo”, que começa no século vinte e um e ainda perdura. Onde começo os textos e não consigo terminar devido ao mundo ao meu redor, ou porque acho que tá ruim e termina ali igual música póstuma. Cheguei ao ponto de escrever títulos e não ter nenhuma mísera linha escrita sequer, deve ser pois segundo a mim mesmo (coisas do começancismo), qualquer hora destas eu só de olhar o título iria lembra da infalível e divertida história, pois é, lembrei de nadicas. O que um título escrito “Comuna” te lembraria? A mulher do comum? Ainda não estou no fundo do poço, calma aê! O comunismo? Já não tem mais graça depois que virou camiseta, Uma comunista gostosona? Ficaria melhor para os pornô-crônistas, uma nova forma de escrever, onde o escritor apenas faz o título e o leitor imagina uma história? Cômodo demais para os escritores semanais, que já são vistos como tunantes volúveis, que acordam tarde e vivem de chinelos fumando cigarros.

 
Mais hoje foi diferente. Tive uma bela idéia lá no trabalho, tive uma folguinha e comecei a escrever, foi uma linha apenas, mas a essência do que viria estava guardada a seis chaves, afinal porque sete? Na minha cabeça, terminei o expediente (palavra de trabalhador) e fui com muita calma, devargarzinho com a moto pra não chocalhar muito até aqui, para colocá-la dentro deste computador. A consorte ligou e falou que um dos meus filhos está na casa da dindinha e o outro foi no pediatra ver umas daquelas perebinhas de criança, e pediatra sabe como é, não tem hora pra atender. Terei minutos preciosos para sair de uma vez por todas desta ociosidade lingüística e poder dormir em paz e não em “La paz” como já falei... Só tem um problema. Um carro com o porta-chuva quebrado chegou na garagem. È a minha turma, tô salvando tudo no computador, liga não, o título vai ser “Dia destes”, ou “Dia desses” se preferir.






Gilberto Granato