terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Artificial Christmas Tree

Nada foi mais importante neste natal, do que a minha árvore de natal, ou melhor, minha não do Otto. Rodei a cidade a procurar uma que satisfizesse o meu ego, meu não, quer dizer o superego do Otto, mas nenhuma me encantou me encheu os olhos, me fez criança. Tive que apelar para a internet. Ela resolve. Resolve tudo, desde a vida de solteiro à receita de macarrão a carbonara de ultima hora no domingo.

Queria uma grande, maior do que eu, que me fizesse parecer pequeno, criança eu já disse. Quando curumim o dia de montar a árvore era especial, marcante. Minha mãe abria aquela caixa cuidadosamente guardada do ano anterior e lentamente ia colocando os galhos, montando as lâmpadas, dispondo os enfeites de maneira tática e enchendo os seus pés de presentes, alguns eram caixas vazias bem embrulhadas, era bem verdade, mas não fazia diferença. Ao anoitecer, ficava em transe admirando o reflexo do piscar das luzes, os detalhes dos arranjos (não podia pegá-los) e há contar os dias para a festa de aniversário do Seu Jesus, grande inspirador do processo. Apesar de ser uma data associada ao consumo capitalista, os rituais de natais são importantes para o desenvolvimento dos pequenos mamíferos. Quem quando pequeno seguiu os rituais de colocar a meia na janela, de aguardar o dia de abertura dos presentes, de ver aquela mesa bonita e enfeitada e se possível presenciar o tio bêbado vestido de Papai Noel chegando com presentes, não esquece jamais. As lições de generosidade, celebração e união sobrevivem pelos anos até chegarem, por exemplo, neste texto démodé de natal.

Bem, mas enfim a minha árvore chegou. Procurei a maior como já disse (não é coisa de fidalgo Sigmund Freud deve explicar isto). Logo na caixa me inquietei com o seu tamanho, era pequena é calote! E tava nela grifado e explicado o porquê das taxas de crescimento de 10% ao ano: “Made in China”, fiquei preocupado é porcaria! Ao ler o vasto manual de instrução que tinha 5 figuras e 5 frases em inglês comecei a esperar o pior, lembrei com arrependimento do “inmetro”, mas na última frase deu para entender mais ou menos o que estava escrito. Que se uma lâmpada queimasse as outras permaneceriam acesas, opa! Já tá mais profissional o negócio, me animei novamente. Jantei antes, para ficar com a barriga cheia, pois imaginava ficar horas para montar aquele protótipo de gimnosperma.

Para meu espanto ao retirar da caixa a base e logo em seguida a primeira parte da folhagem e do tronco, tudo se abriu como um bote inflável de emergência e o sorriso pulou de meu rosto apaziguando as rugas da testa, Pronto! Em seguida, deve ter levado uns cinco minutos para montar a árvore que de uma pequena caixa sem vida, agora já era um pinus frondoso, exuberante, imponente, cheguei até a sentir um cheiro cítrico de suas folhas, dava gritos de júbilo: uh rru! Era uma criança novamente e agora estava calmo, relaxado, sereno, ordeiro agradecido aos chineses, a minha educação natalina e ao Seu Jesus, que todo ano promove este evento.

Ela agora tá lá, altiva. É a coisa mais importante da minha casa, ou melhor, depois do pequeno tomador de leite é claro. Agora não sei se quero um pula-pula, um balancinho ou um escorregador que não esquente a bunda. Não, não! Eu quero é mesmo é comer rabanadas....


Kung His Hsin Nien bing Chu Shen Tan!
(É feliz Natal em Chinês/mandarim)


Gilberto Granato

sábado, 20 de dezembro de 2008

Os inventores

Em uma fração de segundos, e pronto! Temos mais uma invenção neste mundo cheio de inventores, algumas ralas é bem verdade. Porém outras emblemáticas e marcantes desta concorrência desigual de Qi’s e falta do que fazer.

Vejam bem meus ocupados leitores. A lingüiça. Sim, esta arquitetônica figura, cópia de nosso interior. Um dia um cidadão qualquer, cansado de comer o lombo, a costela, as coxas, resolveu pegar as tripas de um animal (provavelmente um brunodonte). E com as próprias mãos embriagadas de mesmice, resolveu agrupar os restos que os mais frescos não comiam. E pronto. Encheu e colocou na fogueira (na época não existia fogo) e tava lá o patrimônio imaterial da culinária cultural brasileira. O abre-alas do churrasco. A lingüiça.

Depois vieram os “desproteicos”. Que cansados de lutar em vão, ou seja, de lançar suas armas e colocar os corpinhos “nus” para brigar, inventaram o bumerangue. Isto mesmo, hoje patrimônio histórico dos aborígenes australianos. Uma arma que virou brinquedo e que não pegou nas praias da América do sul. Vira e mexe é relembrado sem o estrelismo de um sabichão, mas com a categoria de um sabe-tudo.

E a cesárea? Minha nossa, imagina a primeira. A mulher lá, gritando, berrando, uivando esperando abrolhar suas sementes e derrepente, depois de doze horas de muita gritaria, aperto de barrigas e rezas não catalogadas. O cirurgião em questão pega uma navalha ali do lado da pia, bem perto do sabonete velho e corta a barriga da mãe, para ver se a criança sai por outro lugar. Pois é, deve ter sido assim o inventor da cesárea, um sábio, um verdadeiro concordato da humanidade.

Mas agora o tal do jornalista “Muntazer al-Zaidi” que em plena derradeira entrevista no Iraque. Resolveu tirar os sapatos e lançá-los sem precedentes na história mundial em direção ao carnívoro e imperialista Jorge “W” Bush (presidente reeleito dos EUA. Ato extremamente ultrajante na cultura árabe) em uma coletiva de achaque, no Iraque, merece o Nobel, o Oscar, o Latin Grammy Awards, o prêmio do bairro. É gênio, tem Qi fora do comum. É um dos maiores inventores de 2008. Fez a retrospectiva como manda a história.

Ali ba ba!.... Meu querido sapateiro de araque!



Gilberto Granato.
(Depois de historicamente ficar uma semana sem escrever).

sábado, 13 de dezembro de 2008

Cartório Antropofágico

Esta semana fui a esta instituição secular introduzida aqui pelos portugueses, colonizadores, para dar lucros vitalícios e sucessórios aos protegidos da coroa, que com o passar dos tempos, ampliaram seus tentáculos e hoje servem para várias coisas, como por exemplo, para registrar um filho.

E sem culpa no cartório foi o que fiz. Processo ainda meio patriarcal, livre de tributos e vamos assim dizer... distinto. O circo quando se é pequeno assusta: palhaços maquiados, fantasias, som alto, animais exóticos... E não é a toa que encontrei similaridades no tabelião. Ao chegar tava lá a mulher barbada, o anão “homem bala” e a mulher foca, todos com traços característicos dos antigos Tupinambás. Até ai tudo bem, dava para comer uma pipoca e rir um pouco, mas comecei a perceber que as coisas não estavam em perfeita harmonia no picadeiro.

Tinham duas meninas ainda moças, de aparências saudáveis, tônus musculares firmes e sangue quente nas veias, carne fresca mesmo melhor dizendo, fazendo sabe-se lá o que num cartório daqueles. Uma já estava visivelmente em estado de choque esperando o anão dar carimbadas e a colocar intermináveis selos em papéis e a outra ao tentar sentar na cadeira ainda da época dos portugueses, quase caiu, fazendo a mulher barbada se manifestar: “tem que ter jeitinho menina” “depois que se acostuma é uma beleza” disse lambendo os beiços. O anão logo em seguida falou alguma coisa em seus ouvidos e o tempo fechou, ela deu um grito: Quer sair daqui!!! (que se não me engano o ouvi sussurrar “as canelas estão magras!”) A menina dos selos não se movia ainda entorpecida (provavelmente algum paralisante usado antes da minha chegada) a outra da cadeira arregalou os olhos e olhou para mim como se dissesse “não saia daqui sem mim”, e eu confesso comecei a ficar receoso prestes a me enodoar, já que seria ela que me atenderia, torci para não levantar os braços e mostrar os sovacos temendo encontrar algum animal peçonhento e aguardei. Enquanto isto observava as pilhas de caixas de papelão cheias de registros, de prováveis fitas de VHS de filmes de terror, de baratas da península ibérica e se não me engano vi um dedo saindo de dentro de uma das caixas, rapidamente desviei meu olhar para o anão e os infindáveis selos (devia ser ele que certificava se a carne era boa).

A mulher foca subiu, deve ter ido esquentar a água para cozinhar a menina dos selos. A mulher barbada provavelmente vendo que eu iria atrapalhar a refeição (era hora do almoço) veio me atender. Não quis concordar muito com o nome, queria “Otton”, insistiu em argumentar se o nome da minha esposa terminava com “m” ou “n” (eterno problema) alterado emocionalmente e temeroso, nem lembrava mais, “bota do jeito que você quiser” disse. Ao ver que o nome da minha esposa não tinha o meu sobrenome, olhou para mim e deu um sorrisinho sarcástico do tipo: “Há esta hora ela está na casa do vizinho” foi neste ensejo que acho que vi um pedaço de orelha nos seus molares, desviei minha atenção agora para o capacete em minhas mãos, feliz por ter cabeça. A menina dos selos já fazia as últimas orações e a da cadeira ainda aguardava a inspeção sanitária.

Depois de minutos de aflição, pavor e agonia assinei a minha alforria e rapidamente sai daquele covil lusitano com três certezas. Era um homem vivo graças a união do cromossomo "x" com o "y". Agora o Brasil tem 189.985.137 habitantes e está explicado porque a proporção ente homens e mulheres está caindo ano a ano.

O cartório antropofágico gosta de carne feminina!

Tupi or not Tupi. This is the question.



Gilberto Granato

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Bigorna

Escritor meia boca de “O crotidiano” se infiltra em conversas de magistrados sobre um esquema de venda de sentenças e ajuda a desmascarar esquema de corrupção conhecido como "operação navalha". Nos diálogos, gravados com autorização judicial, de acordo com os investigadores, os envolvidos demonstravam que estavam desconfiados e tentavam disfarçar, usando conversas cifradas e codinomes.

(desembargador1) – Fala cardeal?
(desembargador2)- Fala “carde” meu brother!
(d1) – Como é que vão as coisas?
(d2) – Tudo na espuminha da onda!
(d1) – E Como é que estão as forças lá no TJ (tribunal de justiça)?
(d2) - Ele dobrou as forças no Tribunal, porque ele é atacado pelo papa (presidente do tribunal). Mas o padre (filho do presidente) está negociando com o outro cardeal.
(d1) – Eu já recebi um pedaço da hóstia!
(d2) – é mesmo! De quanto?
(d1) - Recebi R$ 20 mil hoje. Eles iam me dar sabe quanto? Os 43 que estavam faltando, aí me entregaram R$ 20 mil hoje e disseram que os 23 a semana que vem me entregam. Então tudo bem.
(d2) – Ah moleque! Abaixo de Deus nós é que botamos pra quebrar...
(escritor do O crotidiano entra na conversa)
(crot) – Fala aê purpurados?
(d1) – quem está falando?
(crot) – Aqui é o santo do pau oco.
(d2) – Que porra é essa?
(crot) – Isto mesmo. Estou ouvindo esta cúpula eclesiástica a mais de meia hora e gravei tudo. Agora eu quero a minha bigorna!
(d1) – Que porra é esta de bigorna?
(crot) – Sem manobras. Estorvadores divinos do dinheiro público. Eu quero a minha bigorna!
(d2) – Tudo bem, mais o que é bigorna?
(crot) – Já disse, sem mareação. Eu sou o coroinha deste esquema e quero sair fora rapidinho da igreja. Onde eu pego a minha bigorna?
(d2) – Meu irmão você já está absolvido, mas o que você quer com esta bigorna?
(crot) – Não se façam de desentendidos. Se vocês não derem um jeito de me descolarem uma “bigorninha” que seja, nos próximos segundos eu entrego a fita da gravação para o jornal “A Gazeta” agora mesmo. Como é que é?
(d1) – Putz grila!
(d2) – Meu Deus do céu!
(crot) – Querem me fazer de pascácio não é? Eu trabalhando duro, com filho pequeno pra criar, com a grama do jardim para cortar, com um natal para desenrolar e vocês me fazendo de pacóvio? Vocês vão é amargar a fúria dos capixabas. Em nome do Espírito Santo seus canalhas corruptos!
- pi, pi, pi, pi, pi, pi, pi, pi, pi, piiiiiiiiiiiiiii...


Arawãkanto'i Tapirapé (Livre de mais um tumor, o Espirito Santo pode continuar avançando. E só depende de nós, capixabas, para que isso ocorra de fato)

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Bicho estranho

É noite. Chego cansado do primeiro trabalho. Minha esposa esta cansada do trabalho de Mãe. Tomamos banho e sentamos em frente à TV para conversarmos sobre o dia e admirarmos o nosso pequeno mamar. Hoje entendo bem a expressão “Quem não chora não mama”. Está tudo perfeito, um ventinho fresco, os pés para o alto, de pijamas, do jeito que o corpo gosta. É quando entra um bicho estranho pela varanda, parecido com o barbeiro, só que anatomicamente mais maquiavélico, com pernas longas, corpo com pintas laranjadas, antenas compridas, corpo delgado e com uma força incomum aos voltívolos insetos, começou a dar cabeçadas hostis no teto. Olho minha esposa de rabo de olho e sua expressão de apreensão é evidente:

- Esse bicho pica!
- Não, é só bicho de luz.
- Ele pica!
- Não, não faz nada não.
- Uma vez eu tava no banheiro e ele me picou, e doeu!

(pausa para reflexão)

Após muitos sobrevôos kamikazes ele finalmente aterrizou entre as persianas e ficou quieto. (Alguns minutos se passam) Minha consorte não para de olhar para a cortina, acho que não vai ter jeito. Capturar um animal daquele pedigree àquela hora da noite e nas alturas! Não estava no cronograma de repouso de um dia de batente. Levanto, pego o tapete da varanda que estava no chão e planejo um golpe preciso, não poderia errar sob o risco de ele investir novos rasantes suicidas mais próximos da minha família. Concentrei, mirei, respirei fundo e com um golpe decisivo ele veio ao chão, peguei-o pelas antenas e o coloquei no fundo do vaso de planta. Agora este desavisado invasor vai virar adubo.

Quer saber?

Ecologia também tem limites!



Gilberto Granato.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Vanellus Chilensis

Mais uma pelada;

Não aquela sem roupas, que você meu dominical leitor do gênero masculino já viu por aí, mas aquela cheia de homens recitando palavrões intrínsecos para outros machos da mesma espécie. Pois depois de muitos dias de índice pluviométrico alto e campo alagado. Hoje deu terra firme com bosquejos de sol. E com muita dificuldade dezoito homens bem aventurados se propuseram a correr atrás de uma bola já um pouco maltratada é bem verdade por eles próprios e compartilhar de horas de terapia coletiva.

Mas antes, ali na cabeça da área, na meia direita, bem próximo da entrada da meia lua, tinha um ovo de quero-quero. Com casca pintada com manchas escuras para favorecer a sua camuflagem em meio à grama alta. Desta ave típica da América do sul, que tem seu nome da onomatopéia de seu canto, também conhecida como: tétéu, téu-téu, terém-terém ou espanta boiada. Ave do tamanho de uma perdiz que caracteriza-se pelo colorido geral cinza-claro e por não ter dimorfismo sexual, ou seja, todos são iguais anatomicamente falando é claro. O macho é agressivo e ataca qualquer criatura que ofereça perigo, incluindo seres humanos, ou melhor incluindo um intruso com adiposidades acumuladas de mais de um mês sem correr como eu.

Dias de campo vazio, calmo para a família de quero-quero. E agora eu estava lá para atrapalhar o seu fim de semana, o seu lazer, a sua boa relação com a esposa. É lógico, se não ela não tinha colocado um ovo. Mas se o ovo for de outro? Bem deixa pra lá, era uma família unida e o macho deixou o dimorfismo de lado e veio logo em minha direção, querendo briga, me nocautear, defender a sua reforma agrária. E eu um homem de paz tentei acalmá-lo, mas ele não quis conversa. Então para fugir do confronto peguei o seu único ovo (as famílias de quero-quero também estão fazendo planejamento familiar) e o coloquei lá no fim do campo embaixo dos desconhecidos pés de açai pelos homens daqui.

Bola vai e bola vem. E o nosso camarada insistia em ficar nas remediações da nossa defesa, mas nem com a sua valorosa ajuda conseguimos vencer, perdemos de goleada. E foi no apito final do desanimado juiz, que me sensibizei com a persistência de nosso companheiro e respeitosamente coloquei de volta o seu filho único no lugar, bem naquela covinha da grama. Ao ir embora ele ou ela (coisas do dimorfismo sexual) já estava lá em cima, deitadinha, tranquila, provavelmente pedindo por mais chuva, por mais atenção humana ou por mais campos de futebol.

Simpatizei pelos quero-quero. Se por acaso você ver algum, manda lembranças minhas. Fala para ele que tem lugar na meia direita aqui no meu time tá!




Gilberto Granato

sábado, 6 de dezembro de 2008

Os verbos

Se eu canto no presente. É porque estou movido pela alegria.
Agora se eu vendia no pretérito imperfeito. É porque de nada mais me valia.
Parti nesta escrita do pretérito perfeito simples. Sem rumo pra ver até aonde eu ia.

Pois tenho cantado no pretérito perfeito composto. Sempre que o vejo.
E não vendera no pretérito mais que perfeito. É apenas um lampejo para minha dissonante escrita.
Ao perceber já era tarde e havia partido no pretérito mais que perfeito composto. Neste sentimento de alacridade e português mal resolvido.

Cantarei no futuro do presente simples. Pois só consigo pensar em um dia venturoso.
Haverei vendido no futuro do presente composto. Todo o meu desgosto.
E assim partiria no futuro do pretérito simples. Deixando para trás um lindo colosso.

Teria cantado mais no futuro do pretérito composto. Se no modo subjuntivo tentasse um esboço.
Mas a sensatez do presente. Faz com que eu me toque e pare de te incomodar meu nobre leitor generoso.
Que você tenha um futuro simples. Cheio de alegrias assim como eu.
E não se deixe levar pelo modo imperativo. Afirmativo!
E saibas que particípio do seu passado
E espero te encontrar num gerúndio próximo.


Boa conjugação!



Gilberto Granato
(inspirado no livro de verbos da minha esposa de 1987)

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Biquíni branco

“Ela entrou de biquíni branco, soltou a blusinha na areia, jogou um sorriso pra trás, me deixou com a cabeça cheia (de idéia)” (Zero quatro)

Fred e Larissa moravam no mesmo bairro a uma quadra da praia. Só ficavam separados por ruas. Ele como de costume freqüentava a sua. Ela como imposição dos pais a dela. Ou seja, não compartilhavam da mesma turma de amigos. Eram adolescentes entrando na fase adulta. Estudavam na mesma escola do bairro, mas ele era da turma “A” e ela da “B” que segundo os colegas da escola “era a mais legal!”.Só que de um tempo para cá as coisas começaram a mudar.

Nos fins de semanas de sol. A diversão dos dois era ir à praia. E era lá que as ruas se encontravam, os algarismos das turmas formavam uma sílaba e alguns púberes procuravam seus géns . As meninas a tomar sol e a exibir o último lançamento em protetor solar e os rapazes a jogar bola na maré baixa ou a dar piruetas no ar, assim como os pavões querendo atrair as fêmeas exibindo suas penas coloridas da cauda.

Fred já a uns dois verões, fitava Larissa e seu biquíni branco. Depois de exibir suas habilidades circenses ficava sentado durante horas olhando os cabelos, analisando a maneira de falar, de escolher o picolé, de mergulhar por debaixo das ondas, de arrumar a canga para uma caminhada, até mesmo o seu jeito de abrir a bolsa de praia. O biquíni? Era um biquíni destes... destes... Sem coloração mesmo meu caro leitor, com lacinhos na cintura e com triângulos isósceles tapando as pomas aturadas de seu auge hormonal. Qualquer outro biquíni branco que surgisse na praia, ficava ofuscado perante o de Larissa, tanto que as meninas nem ousavam cogitar a possibilidade de valer-se de outro, mesmo que de modelo diferente, no máximo, um com detalhes em branco. Parecia que tinha sido feito sob medida, por estes estilistas que usam sua clientela como laboratório. Tinha estilo, sensualidade e um raro frescor! Foi demais, Fred já estava apaixonado por Larissa há muito tempo.

Em uma destas festas que reuniam os dois lados da fração, realizada no prédio que dava para ambas as ruas. Fred foi decidido a abrir o seu coração, de gaguejar os seus pontos de vista e de quem sabe, conseguir arrancar um beijo da sua musa de areia e sal. Para sua surpresa, durante sua chegada a festa, aquelas amigas que ficam doidas para ver o circo pegar fogo, já davam deixas e demonstrações claras de que Larissa simpatizava com sua maneira tímida de ser (na verdade um amigo de Fred já tinha colocado lenha na fogueira, ou melhor, vento na poeira, ao contar para uma das amigas dela que desde a conclusão do primeiro grau se inclinava por ela). Ele não acreditou, quis dar meia volta, sua boca secou, as sobrancelhas empinaram, mas foi corajoso, permaneceu na festa e decidiu que dali pra frente seria tudo ou nada, de preferência tudo.

Lá pro final da festança, regada a muita batidinha de maracujá. Foram chegando perto um do outro e sem dizerem uma palavra se beijaram sob os gritos afoitos dos incentivadores. Andaram de mãos dadas, fizeram cafunés, Larissa chegou a deitar no seu colo enquanto trocavam juras de amor, foram os últimos a sair da festa. Marcaram de se encontrarem no outro dia na praia, só que agora ficariam juntos, no mesmo grupo. Ela passaria protetor solar nele e vice versa, tomariam água de coco e ficariam na mesma canga, tudo o que Fred sempre sonhou.

No outro dia pela manhã. Fred já estava a postos a beira-mar ainda sem ventos e nada de Larissa chegar, chegou a pensar bobagens, mas desviou sua atenção para uma partida de vôlei de praia. Quarenta e quatro minutos depois contados no relógio ela chegou e junto o seu novo companheiro, um biquíni azul de cortininha e alça dupla, antecipando a tendência do verão, com nem se quer um detalhe em branco. Fred ainda surpreso com a novidade engoliu a seco a maresia e não demonstrou qualquer desconforto. Permaneceram o dia todo juntos e felizes sem que ele desgrudasse os olhos do novo biquíni azul.

No outro fim de semana. Fred não foi visto mais na praia. Seus amigos disseram que iria frequentar aulas de Karatê durante todo o verão.



Gilberto Granato

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Plantão (O meu anjo nasceu)

“Logo de início ele deixou tudo claro. No primeiro ultra-som a primeira imagem que vi foi um sinal de positivo com os dedos e desde àquela hora tive certeza que seria tudo normal”.

No domingo passado lá pela hora da virada para a segunda Fui atingido por três sentimentos. Primeiro entrei na armadilha de ler uma crônica de jornal (poucas são boas) e as linhas avermelhadas de ênfase da enlourada e sorridente cronista entraram no meu consciente a ferro e fogo: “Ser refém dos pensamentos no escuro e refugiado embaixo do edredom é bem pior que assombração”. A partir daí não teve uma só noite que eu não ficasse dominado pelo pensamento.

O segundo ato. Foi a intermite chuva que atingiu o solo capixaba e que não deu trégua, pois trégua é uma palavra que as forças da natureza não entendem muito bem. O rio castelo, passa a vinte metros de meu primeiro trabalho e pelas notícias insalivadas de tensão dos jornalistas, tinha certeza que desta vez o rio iria fazer uma visita ao meu consultório. Não teve um só dia que não media os centímetros no muro do leito do rio, pedia a Deus e me preparava para ser refém de um seqüestro longo.

O fim da trilogia, foi movido pelo sentimento especial de estar prestes ao nascimento da sua extensão, da coisa mais importante da vida: a vida! Depois de 9e90 (a gestação dura nove meses e noventa dias no último mês). Eu olhava a barriga da xibé, olhava o rio subindo e descendo e a noite era fagocitado pelas lembranças (facção terrorista especializada em indivíduos preocupados). Quem iria me libertar primeiro?

Pois hoje de manhã, minha corajosa esposa mostrou como se deve levantar um homem na segunda-feira: Gil, a bolsa estourou!!! Nunca foi tão rápido chegar ao banheiro para o banho. Avisa a família, passa na banca para comprar o jornal que lhe será entregue daqui quinze anos, dilata 1 cm, depois 3, você conversa com os médicos estórias de esquinas, 5 cm, 7 cm, até que todos se concentram na força final. A Mãe se empenha um pouco mais e pronto, lá está ele: De parto normal, humanizado, as11: 59 da manhã, pesando 4 kilos e 15 gramas e com 53 centímetros, chora, depois fica na incubadora tranqüilo pensando igual ao pai, toma seu banho e já começa a mamar nos peitos da aguerrida Mãe.

Meu filho, daqui pra frente é tudo mais fácil. É só dar setas para mudar de direção, ser educado, gentil, ler, deixar a música te pegar, praticar esportes, viajar, namorar quando chegar a hora, proteger a natureza e fazer por onde, honrar os seus compromissos, ter amigos fiéis (serão poucos), respeitar os mais velhos e os familiares, pois eles é que estarão do seu lado sempre, levantar a tampa da privada ao fazer xixi e ter cuidado com os demagogos. E se for preciso meu filho, não fique com vergonha de levantar a mão e perguntar quando não entender e de dar as suas opiniões...

Otto: Do alemão. Significa riqueza, propriedade. Poucos nomes carregam tanta energia positiva como esse. Predestinado ao sucesso, quem assim se chama, só precisa de determinação para alcançar a vitória.

O mundo é todo seu meu filho!!!

E saiba desde já que Papai e Mamãe te amam muito.....

Ah! E a chuva? Acabou meu caro leitor. Depois de muitas nuvens, hoje é o dia mais ensolarado da minha vida!!!

Com amor,

Papai.



Gilberto Granato, agora é Pai.