domingo, 7 de dezembro de 2008

Vanellus Chilensis

Mais uma pelada;

Não aquela sem roupas, que você meu dominical leitor do gênero masculino já viu por aí, mas aquela cheia de homens recitando palavrões intrínsecos para outros machos da mesma espécie. Pois depois de muitos dias de índice pluviométrico alto e campo alagado. Hoje deu terra firme com bosquejos de sol. E com muita dificuldade dezoito homens bem aventurados se propuseram a correr atrás de uma bola já um pouco maltratada é bem verdade por eles próprios e compartilhar de horas de terapia coletiva.

Mas antes, ali na cabeça da área, na meia direita, bem próximo da entrada da meia lua, tinha um ovo de quero-quero. Com casca pintada com manchas escuras para favorecer a sua camuflagem em meio à grama alta. Desta ave típica da América do sul, que tem seu nome da onomatopéia de seu canto, também conhecida como: tétéu, téu-téu, terém-terém ou espanta boiada. Ave do tamanho de uma perdiz que caracteriza-se pelo colorido geral cinza-claro e por não ter dimorfismo sexual, ou seja, todos são iguais anatomicamente falando é claro. O macho é agressivo e ataca qualquer criatura que ofereça perigo, incluindo seres humanos, ou melhor incluindo um intruso com adiposidades acumuladas de mais de um mês sem correr como eu.

Dias de campo vazio, calmo para a família de quero-quero. E agora eu estava lá para atrapalhar o seu fim de semana, o seu lazer, a sua boa relação com a esposa. É lógico, se não ela não tinha colocado um ovo. Mas se o ovo for de outro? Bem deixa pra lá, era uma família unida e o macho deixou o dimorfismo de lado e veio logo em minha direção, querendo briga, me nocautear, defender a sua reforma agrária. E eu um homem de paz tentei acalmá-lo, mas ele não quis conversa. Então para fugir do confronto peguei o seu único ovo (as famílias de quero-quero também estão fazendo planejamento familiar) e o coloquei lá no fim do campo embaixo dos desconhecidos pés de açai pelos homens daqui.

Bola vai e bola vem. E o nosso camarada insistia em ficar nas remediações da nossa defesa, mas nem com a sua valorosa ajuda conseguimos vencer, perdemos de goleada. E foi no apito final do desanimado juiz, que me sensibizei com a persistência de nosso companheiro e respeitosamente coloquei de volta o seu filho único no lugar, bem naquela covinha da grama. Ao ir embora ele ou ela (coisas do dimorfismo sexual) já estava lá em cima, deitadinha, tranquila, provavelmente pedindo por mais chuva, por mais atenção humana ou por mais campos de futebol.

Simpatizei pelos quero-quero. Se por acaso você ver algum, manda lembranças minhas. Fala para ele que tem lugar na meia direita aqui no meu time tá!




Gilberto Granato

Um comentário:

Unknown disse...

Grande Gil protetor dos quero-quero.
Aí tem pé de Açaí??? Que surpresa! Manda semente para eu plantar aqui no MT.
Em um curso aqui na chapada que fiz uma grande amiga sua e da Mitian mandou lembranças, a Cida Guerra. Ela ainda lembra e sente falta da presença de vcs na saúde indígena.
Vc sabe o e-mail do Wagner?? Eu não tenho mais...