quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Elefante

Vocês viram no noticiário? Aquele elefante assustado, que disparou em direção a uma multidão que participava de um festival religioso na Índia? O seu treinador disse que o motivo, foi um forte stresse causado pelo badalar de uns sinos que indicavam o início de uma procissão. Mas para mim foi muito mais que isto meu leitor. Na verdade este pequeno elefante (a reportagem disse que só tinha três anos) foi o mártir literal da semana.

Procuro escrever textos e tento manter certa regularidade, para não me acomodar demais e acabar arrumando outro hobby menos trabalhoso, mas ultimamente do meio pro fim dos meus registros a coisa não vai, não tem ido, emperra, acaba a luz! Não encontro um final para as baboseiras que escrevo, ou melhor, até encontro, mas acabo achando uma porcaria e arquivo o treco. Não tenho treinador, para me dar uma força, ou quem sabe umas chicotadas na paquiderme, comecei este negócio de escrever, sozinho, ninguém me obrigou, porisso ao ver o amigo elefante tentando terminar, acabar, colocar um fim aos dias de trabalhos forçados alheios à sua natureza. Achei que aí estava a inspiração que me faltava para concluir uma crônica de uma vez por todas e sair desta maré de falta de entusiasmo criador, de maus resultados, de simba safári fracassado. Que me deixaria mais uma vez parado neste parágrafo.

E assim como o amigo herbívoro, que se atirou no meio do povo, eu resolvi me atirar mais adiante vencendo definitivamente o maldito segundo parágrafo e utilizar minhas presas para escavar uma conclusão, sem pensar, sem voltar atrás, sem backspace, ou arquivamento, sem encolher a tromba. Apenas mentalizando a persistência do pequeno revolucionário de orelhas grandes, em tentar colocar um ponto final à sua inquietação. Tenho certeza de que o povo indiano verá sua revolta com bons olhos, já que lá ele é um animal sagrado, e talvez daqui pra frente tenha um pouco mais de compreensão, de água fresca, sombra, quem sabe até algumas melancias a mais de alguma ONG protetora dos animais. E uma savana! isto mesmo, bem fresca, cheia de gramíneas verdes, para encontrar uma fêmea, ou macho (a reportagem desprezou o seu sexo), acasalar, ter filhotes, andar em manadas e continuar devorando alguns arbustos até que seus molares caiam daqui uns sessenta anos decretando o fim de sua história heróica, sublime e que serviu de inspiração para toda a humanidade, ou pelo menos para a minha... falta de habilidade.

Namastê, meu amigo.

E finalmente...

Fim



Gilberto Granato, lembrou do “Jotalhão” da turma da mônica, que tinha uma forimga apaixonada no seu pé e era o protagonista de uma marca de extrato de tomate.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Claudinha

Archimino estava irradiante, soberbo, com o olhar confiante daqueles que sabem que fizeram a coisa certa. Tinha tirado a sorte grande dentre muitos apostadores. Investiu muito para conseguir o seu prêmio milionário, é bem verdade, e agora só lhe faltava o lucro, a benesse, o pé-de-altar que só viria mais tarde no Churrasco dos “peladeiros de domingo”. Seria lá que contaria o seu grande triunfo. O de que finalmente tinha comido Claudinha, a mais cobiçada dentre as frágeis, a miss universo das redondezas, a supra-sumo dos sonhos masculinos. E para isto deveria esperar o momento certo para a grande revelação. Não quis contar logo de inicio, pois não seria nobre de sua parte. Apenas aguardava o desenrolar das conversas para narrar o melhor roteiro do regozijo em detalhes. Era só o assunto dar uma brechinha...

- Pega o ventilador pra acender a churrasqueira lá!
- È só jogar álcool rapá!
- Tem pouco carvão, quem foi que comprou?
- Esta carne não tem gordura não?
- Cadê o fósforo? Que zuragem, o pré-sal é nosso caramba!
(...)
- E o trabalho como é que tá?
- E a família?
- E o...
- E a....
- Como é mesmo o nome dela?
(...)
- Que golaço foi aquele na quarta meu amigo!
- Se viu meu passe pro Nazareno?
- Porra o cara não joga nada, fica em casa!
- Quanto se deu nessa chuteira?
- E o Rubinho Barrichello hein, agora vai!?!!...
(...)
- Sei não, o Brasil tá se metendo a besta em Honduras!
- A minha encomenda não chega mais!
- O correio tá de greve, não lê jornal não?
- Bicho tô desanimado, vão aumentar o número de vereadores de novo virge maria!
- Que explosão foi aquela no ABC de São Paulo meu?
- Quem manda agora é o G-20, aumenta o som aí!
- E o disco novo do Black Crowes, tu ouviu?
- Cadê o Toninho? não veio não?
- Que cerveja quente é essa meu Deus?
- Quem foi que comprou a cerveja jesus do ceú?

(não houve brecha)



Gilberto Granato

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Nû-kaganha

Você já viu esta palavra? Não? Pois os seus antepassados tupi-guaranis já. Era um instrumento de pesca, que não levava anzol, nem chumbada, nem conversa fiada. Apenas uma armadilha feita por mãos hábeis, através do trançado de uma fibra muito comum nas matas dos leitos dos rios. Onde a colocavam no fundo dos rios, preso a uma pedra e pronto. Dez minutos depois lá estava um saboroso peixe das profundezas. Acreditou? Claro que não né. Então deixa eu te explicar melhor.

Na verdade esta palavra se trata de um animal. Isto mesmo, e do cerrado. Seu nome científico é “Tapira Ciscus” é um mamífero que pesa entre 30 e 45 quilos, encontra-se com maior freqüência em subsistema de veredas, ambientes alagadiços e matas ciliares. Apresenta três dedos nas patas, orelhas compridas e rabo grande. Alimenta-se de pequenos roedores e tem o habito noturno. A fêmea se difere do macho apenas por ter o rabo mais comprido e pelo maior número de pintas no corpo. São solitários, só são vistos juntos durante o acasalamento. Não é isto meu leitor? Resolvida a dúvida? Que nada né. Só estou tomando o seu precioso tempo. Então deixa eu desvendar este mistério logo.

Você deve se lembrar da Birmânia não lembra? Hoje Nyanmar entre a índia e a China? Pois é. Este é o nome da sexta maior cidade que fica no sudoeste do País. Capital da divisão de Tenassarim, situada ao sul de Yagon ex-capital, com população de 319.063 habitantes, vive de indústrias madeireiras e da lembrança de cronistas sem terem nada melhor pra escrever. Tá explicado? Convenci? Bulufas né! Então vamos encerrar de uma vez por todas esta falta de respeito com o atribulado leitor.

Sabe aquele trabalhador (ou cronista) metido a jogar bola, que toda semana insiste em calçar as chuteiras e maltratar o gramado? Pois é. Ele se esforça, grita com os companheiros, chama a atenção do juiz, perde o fôlego, acaba com a elasticidade dos meiões e no final daquela confusão toda, o resultado no placar é sempre negativo? Pois bem. Aí vem o adversário e diz pra ele que: “Ele nû-kaganha uma pelada”. Pronto, Tá explicado meu leitor. Nû-kaganha!


Com neologismo, por favor.



Gilberto Granato

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O poema do ano

Quatorze dias se passaram
E novamente os gametas se encontraram
Folículo maduro sabe o que faz
Expele o óvulo sem voltar atrás

Quatorze dias se agüentaram
E novamente os gametas se encontraram
Espermatozóide maduro sabe o que faz
Sai em retirada sem olhar pra trás.

O ponto de encontro o de sempre
A noitinha, à surdina,
Na trompa uterina.
Um zigoto!
Que Feliz, rindo á toa.
Não pestaneja a procura de um porto

E Fica lá vai,
Fica lá quietinho.
Até o dia da gente poder brincar juntinho
Quatorze dias se passaram...



Gilberto Granato será Pai pela segunda vez.

domingo, 13 de setembro de 2009

Santo

Não entendo muito de santo não. Confesso que nem deveria entrar neste assunto, mas depois de uma semana cheia de sintomas esquisitos de uma “gripeviróticabronquiatiticastrética”, pois é este o neologismo que encontrei para estas enfermidades que médicos também desconhecem. Que desta vez começaram em forma de uma força centrífuga atacando meus pulmões em direção ao centro da terra, depois indo pros rins e que subiram até a nuca, de onde resolveram ir mais adiante pra cabeça deixando-a totalmente febril e oca de idéias. Não meu leitor, não usarei este trocadilho barato para falar da história do “santo do pau oco”, ou este ensejo patológico, para dizer que fui salvo pelo intermédio de algum santo e que se fui, fico muito agradecido pela intervenção. Mas prefiro continuar leigo no assunto, que é sinônimo de “laico”, o contrário de “clérigo” (cristão que não pertencia a hierarquia da igreja) coincidentemente a ver com o que li na coluna do Veríssimo hoje. Mas vamos direto aos fatos.

Para o cristianismo, são santos todos aqueles que foram convertidos e salvos por Jesus Cristo. Em Igrejas como a Católica, a Ortodoxa e a Anglicana, pessoas reconhecidas por virtudes especiais podem receber oficialmente o título de Santo. Esse título é uma espécie de "certificado de garantia" de que a pessoa está na graça de Deus (no céu), mas a falta desse reconhecimento formal não significa necessariamente que o indivíduo não seja um santo. Prestou bem atenção neste parágrafo meu leitor? Se não releia, pois ele é fundamental para o seguimento.

Domingo de manhã é dia de pegar a motoca, comprar o jornal e seguir para o clube. Onde tem a pelada mais disputada da cidade. No caminho é de praxe passar pelas faixas de segurança, onde é de obrigação e boa vontade do condutor parar para a passagem de pedestres. Até aí tudo bem, só que quando passo em frente a Igreja bem na hora do fim da missa, todos cidadões e cidadãs que daquele antro de fé saem, atravessam as ruas por todos os lados possíveis, de preferência fora da faixa e de forma lenta meu leitor, bem lenta, como se ainda comungassem, não chegam se quer a olhar para os dois lados para ver se vem algum veículo. Alguns ficam a esperar seus cumpadres bem no meio da rua e você que não para não pra ver a cara feia!

Eles acham que são santos!



Gilberto Granato é ateu não praticante.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Sharapova

Fiquei alguns minutos a ver uma partida de tênis feminino. O jogo em si é bem ruim (com eufemismo, por favor). Mas o que mais me prendeu àquela perraria, foi a russa siberiana jogando. De vestidinho rosa-lilás com detalhes em verde, combinando com o chapeuzinho, dá pra ver que a produção ia além daquela gritaria toda pra lá e pra cá. Cara de menina, semblante de mulher, corpo transcontinental, olhar menchevique, cabelos loiros bem amarrados. Se fosse uma mais desprovida da beleza não dava o mesmo ibope, não tinha revolução. Não consegui ver o seu sorriso um só instante, o jogo estava difícil, suado, torcida contra, estádio lotado, apesar de ser adepto do “fair play” impossível não olhar para o levantar de sua sainha cor de rosa a procura do estreito de bering a cada saque, porisso abusou dos segundos serviços, sabe que tem audiência, só não contava com alguém vendo e escrevendo sobre isto daqui do interior do Brazil, onde não há quadra de tênis, não se toma vodka e as ruas são de terra.

Do outro lado uma americanazinha cara de barbie. Não sabe aonde fica a Rússia, menor de idade não liga pra audiência ainda. Devido a este fator, dispensarei meus comentários esdrúxulos, deixa ela entrar no ranking primeiro (sem duplo sentido por favor), aí eu analiso melhor. Fez questão de dificultar o jogo, torci pra ela, como é normal do ser de bem torcer pelo mais fraco. Mas a minha atenção era toda Prussa, ou melhor, Russa, apesar do grande território. Mas depois de vinte duplas faltas (coisa que nunca vi em uma partida), um monte de erro não forçado, passadas (de todo o tipo), winners de devolução a vontê e aquela cabeça baixa da derrota no final, a coisa muda meu leitor. O negócio fica bizantino, ou melhor, bizonho. Confesso que todo aquele meu entusiasmo russo do início de jogo, se esvaiu rapidamente com o seu fim, minhas costas quentes no sofá de tanto ver desacertos, dariam até pra derreter uma geleira siberiana.

Quer saber?

Aquele anônimo desprovido da beleza que inventou o termo “Beleza não é tudo”.


Tem razão.




Gilberto Granato é comunista, de vez em quando...

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Ei, você do futuro!

Olá meu leitor do futuro (se é que terei algum). Espero que você ainda leia e que José Saramago não tenha razão sobre o seu ensaio, pois tenho um argumento para esta crônica, mas só saberei se ele terá fundamento, se pudesse palpar a mecânica clássica para saber o que está por vir a uns dez anos adiante, que talvez não seja tanto tempo assim pra nós aqui do passado, mas pra você aí, lendo isto do seu minicomputador que sai do porta luvas do seu carro voador, já deve ta fazendo falta, basta se olhar no retrovisor se for mulher e para a barriga se não.

Você já deve estar sabendo quem ganhou três copas do mundo (vai que a argentina é penta!), das evoluções do aquecimento global, se Irã e Coréia do norte continuam planejando algo pitoresco para o planeta, de mais algum conflito tribal na África, se Chávez não larga o osso na Venezuela, se temos a primeira mulher imposta na presidência da república, se realmente choveu e melou o próximo feriado, se Michael Jackson foi realmente enterrado, se já inventaram um shampoo realmente bom pro cabelo, um carro mais inteligente, se o primeiro mundo continua mandando lixo em containeres pra nós, se Roger Federer ainda é o melhor, se a minha dor nas costas aumentou, isto é claro, caso você me conheça leitor do futuro. Ah! E por sinal o compact disc acabou?

A minha indagação é porque nesta semana o nosso atual presidente, parente dos cefalópodes, que você “meu amigo, minha amiga” de memória longa deve se lembrar, voltou ao passado e montou um palanque eleitoral em pleno planalto central, para eleger a sua candidata sucessora ao trono e avisar a todo o Brasilzão, que vão colocar a mão na herança dos dinossauros. Que dizem que acharam no fundo do oceano, e é um montão! È o tal do pré-sal, que deve estar nos livros aí do futuro como o “ciclo do petróleo brasileiro”. Que nesta semana do passado, para o cidadão desprovido que viu na TV e que não prestou bem a atenção nas coisas, pareceu que amanhã já vai ter petróleo jorrando das torneiras e que só será preciso adquirir uma canequinha de plástico (se o governo não der) para ter a sua parte. E que agora sim, vamos abandonar este negócio de sub,3º, “em desenvolvimento” e finalmente calçar as chuteiras e ir para a primeira divisão da economia mundial. Diz que vão fazer fundo social, investir em educação, saúde, moradia, no futuro veja só! Só esqueceram de avisar que é uma dinherama das boas pra furar o tal do pré-ludio salino (que deve ser aquele duro do churrasco), que esquenta demais pra furá, meche todo e tá bem longe da cloaca, se é que podemos comparar com um ovo no fiofó da galinha, como nosso presidente gosta. Além disto, ele quer rapidez na aprovação do legislativo, sendo que ninguém nunca viu o sujeito, só sabe que ele é preto?

Não sei não leitor do futuro.

Nosso passado ainda nos condena!



Arawãkanto’i Tapirapé