sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Um estranho no ninho

Não é sobre Jack Nicholson. Mais sobre a mania que tenho de me arriscar em eventos culturais, que encontro nos rodapés do carderno 2. Desta vez fui ver a uma amostra de curtas-metragens feitos por adolescentes do interior, do interior do Estado. Eles e eu. Provavelmente o único sem boné e espinhas no rosto naquele recinto. A meninada gritando pelo título de seus filmes e o restante vaiando, quem estava de pé é porque já tinha sentado por um minuto e vice-versa. É impressionante a vitalidade do jovem, diferente da minha que já não se acomoda bem em cadeiras de plástico. Não vai dar pra mim não, vou embora. Mas como? Enxotar-me dos gritos estéricos dos jovens clamando por vitória, por prudência, para que sejam atendidos, vistos e ouvidos. Permanecerei firme sentado do lado desta menina de “Maria Chiquinha” no cabelo, visivelmente desconfortada por estar ao lado de alguém menos jovial. Esperarei pela revolução, assim como na década de sessenta, onde os jovens em Paris, Nova York, Praga, no Brasil clamavam por liberdade, preocupados com a política, com os ditadores, com os cacetetes, indignados com as imposições, vaiando e gritando nos festivais, fazendo a revolução sexual, igualzinho ao que eu estava presenciando ali, a mesma euforia, os primeiros acordes dos Beatles, o cheiro de tinta fresca. O tempo passa. A sala vai ficando vazia, me encho de coragem, já posso abrir as pernas, o banco do meu lado já está vazio, vejo até o último. A juventude já se foi. Ficaram todos na década de sessenta. Restaram os chicletes embaixo das cadeiras.






Gilberto Granato

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Céus

Estive de folga por uns dias. Isto mesmo meu leitor, descanso. Interrupção do trabalho, recreio, desafogo da alma. A medida provisória dos que querem sossego, ou agito, dependendo da intenção do folgado. Escolhi como destino o nordeste do Brasil, pois definitivamente não há lugar mais propício para um folgado e para as obras do PAC do governo Federal do que o nordeste. E é lá que se encontra uma das maiores invenções dos seres humanos: a tapioca. Esta iguaria típica Brasileira, de origem tupi-guarani feita da fécula da mandioca, que só não será o tema desta crônica, pois me convenci de que o avião foi uma invenção muito mais intrigante e de extrema importância para os folgados e para a humanidade em geral.


O que seria do mundo sem o avião? Tragédias teriam sido evitadas como os atentados do 11 de setembro nos Estados Unidos, teríamos nossos deputados e senadores residindo permanentemente em Brasília e pedindo salários mais altos pelo infortúnio, um desaquecimento considerável das finanças das empresas produtoras de barras de cereais e cia. Não se saberia também que o céu almejado por todos, não é nas nuvens e que continua uma incógnita, que dia sem sol é apenas uma mera questão de posicionamento na atmosfera. Sem o avião ficaria difícil para os grandes eventos do planeta acontecerem, ou melhor, todos aconteceriam em Greenwich no Reino Unido, no meridiano zero, pra não ter confusão. A não ser os EUA que alegariam através de cálculos, que o meridiano zero na verdade passaria em Miami, Não teríamos notícias do Acre (se é que temos) e o Amapá ainda não teria sido descoberto. As divas da música e de Hollywood dificilmente desembarcariam por aqui no porto de Santos para o carnaval. Não existiria o aeroporto Santos Dumont no Rio de janeiro e não teriam criançinhas deslumbradas dando tchau para os aviões. A tapioca ainda seria coisa apenas dos índios, que nus ainda poderiam se refugiar no meio das florestas. Sem o perigo de serem descobertos mesmo que sem querer pelos céus.

Sem o avião não teria a tapioca.




Gilberto Granato