terça-feira, 27 de abril de 2010

O misterioso homem que entendia de pênaltis

- Se viu aquele pênalti?
- A paradinha do Neymar dos santos?
- Não. a cavadinha do loco Abreu do botafogo na final do carioca?
- Que sangue frio! Bateu sem peso nas costas. É o pênalti mais longo que existe dura 3 segundos.
- O Zidane da França fez um desse na copa de 2006 contra a Itália não fez?
- Fez. Aquele demorou 4. Raspou mais ainda no travessão e mandou um monte de Francês pro Pére-Lachaise.
- O que é isto?
- É o maior cemitério de Paris.
- Mas você prefere a paradinha?
- Claro! É muito mais técnico, é made in Brazil, foi Pelé que inventou.
- Sei não. Eu fico com pena dos goleiros.
- Ué! O goleiro pula porque quer. Alguém o empurra oras bolas?
- Também tem aquele negócio que a FIFA não permite em jogos internacionais e não sei o que...
- É porque não sabem improvisar, tão estudando ainda pra fazer bem feito, daqui um pouco liberam se vai ver.
- Nada como um pênalti bem batido não é meu amigo?
- É verdade.
- Opa! Do que os companheiros estão conversando?
- Sobre penalidades máximas.
- Eu também acho o máximo.
- É? Que tipo de pênalti o cidadão gosta?
- Eu gosto daquele batido forte no canto.
- Daqueles tipo que o zagueiro pode bater?
- É. Esse mesmo, sem chance para o goleiro.
- Gerson! Me vê a conta!
- È! Anota a minha também!
- Pera aí... Deixa eu me explicar melhor. Pera aí...

(Era o Dunga)



Gilberto Granato
(Dunga "técnico" da seleção Brasileira na copa de 2010 na África)

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O esquecimento

Saiu de manhã cedinho para o trabalho. Alcides era motoboy. Despediu-se da mãe que já cortava batatas e foi encarar as vielas e viadutos da cidade grande. Hoje diferentemente dos outros dias iria almoçar em casa. Isto porque, tinha uma moto veloz, a pujança de um garoto e a fome do seu prato favorito: Carne ensopada com batatas. Gostava mais das batatas do que a carne propriamente dita, mas não sabia explicar por que. Era o dia mais aguardado do mês, mais que o salário e a sexta-feira: O dia da Carne com batatas!

Alcides assim como todo Alcides tinha defeitos e qualidades. Deixemos os defeitos de lado, pois ninguém a não ser o psicanalista gosta de ouvir os defeitos dos outros. Mas exaltemos sua qualidade: A memória. E que memória. Conseguia lembrar desde os ínfimos brinquedos da infância, aos nomes de todas as ruas e praças da cidade. Não precisava de agenda, não fazia anotações, guardava tudo certinho em algum lugar da cabeça e era infalível. Nem um só lapso, esquecimento, um descuido sequer. Os seus amigos e familiares o chamavam de Mozine, não sabiam o por que, mas tinha herdado este apelido de uma tia distante, que o chamava assim devido a Mnemosine, Deusa da memória da mitologia grega. Todos eram unânimes em dizer que Alcides, ou melhor, Mozine era um cara Inesquecível, nos dois sentidos da palavra.

Voltava do trabalho para o almoço. Concentrado no trânsito e nas tarefas vespertinas, mas em sua mente já podia prever a quantidade de batatas que iriam compor o seu nada modesto prato de daqui um pouco. Ao parar em um maldito semáforo, distraiu-se com uma bela moça que conversava com uma mais velha na calçada. Era alta, tinha cabelos pretos longos, sua tia certamente a apelidaria de Afrodite, deusa da beleza. Mas ele não estava nem aí para os detalhes e para a Grécia, pois o que ficaria eternamente gravado na sua memória eram aqueles seios alegóricos. Um par perfeito! Um igualzinho ao outro, nem Michelangelo seria capaz de reproduzir tanta simetria. E estavam bem ali, a poucos metros, acalorados por debaixo de um colã cinza, que não disfarçava em nada tanta sinuosidade. Até que... Bumm! Sua moto acabara de colidir com o meio fio. Levantou-se rápido, não havia se machucado, era só religar a moto esquecer as batatas, ou melhor, se concentrar nas batatas, pois a moça assustada já se esvaia pela esquina. Plá, plá, plá!... Plá, plá, plá e nada. A moto não ligava mais. Uma equipe do trabalho iria buscá-lo, teria que se contentar com um fast food.

Pois pela primeira vez na vida Alcides havia se esquecido.

Esquecido da preferência nacional!



Gilberto Granato.

domingo, 11 de abril de 2010

Conversando com o sol 2

- Olá sol?
- Opa! Quem é?
- Sou eu lembra? nos falamos uns anos atrás.
- Perdoi-me meu filho, é da terra não é?
- É, ainda é meu amigo. Este ano chegaste mais cedo a minha face?
- Pois é, estou perdendo o controle das coisas, tá uma bagunça aqui em cima, mas já não é a primavera?
- Não. Estamos no outono.
- É, filho da terra, às vezes sinto a cabeça quente demais...
- É, tenho percebido.
- Opa! Tens um filho?
- Sim. Como sabes?
- Estes dias vocês não estavam lhe mostrando a lua?
- É mesmo. Mas é que...
- Eu sei, é que a lua é mais bonita, brilha, não faz calor, tem um monte de figura que só vocês observam dentro dela. Ninguém reclama de lua, é lua pra cá, lua pra lá... E quanto a mim? É só reclamação, me tiram o equilíbrio hidrostático.
- É que ultimamente tá ficando muito quente e...
- Tá sim! E vai ficar muito mais!
- Calma senhor sol.
- Senhor uma ova! Eu sou um astro e não vem com essa conversa fiada não. Pois você só se lembra de conversar comigo, quando bato na sua cara antes das seis da manhã, aí você vem com esta conversinha descabelada, vai limpar este olho remelento menino!
- Pera aí grande astro! Eu o respeito.
- Pera aí nada. Vou chegar quando quiser: no inverno, verão, no meio da noite, no meio do seu banho, no meio do seu chopp, quando achar que devo e pronto! Pois agora, vocês vão ver quem manda. Vocês ainda não conhecem a ditadura celestial. Lembra do Big Bang?
- Sim, mas...
- Pois é. Fui eu. Vou acelerar minhas partículas de hidrogênio, condensar as de hélio, mexer em uns cantos aqui que estão meio enguiçados, vai ser gás e plasma pra tudo quanto é lado e vocês v...
- Vou fechar a cortina.
- O quê? O que é isto?
- É um pano na janela que não permite a passagem de luz.
- A é?
- É! Esfrie a cabeça, ou melhor o núcleo meu amigo. Tchau!
- Pera aí! Era só brincadeira... Explica melhor esse negócio de cortina. Ei! Volta aqui....

( o sol anda mudado)



Gilberto Granato

segunda-feira, 5 de abril de 2010

O homem e a máquina

Relação ainda discutível esta aí do título. Afinal de contas, foi um divisor de águas entre o capitalismo e socialismo. Hoje somos um sincretismo disto. Socialistas algumas vezes, capitalistas em outras, depende da ocasião e da bebida. Da revolução industrial adiante o negócio não parou. E hoje, apenas os jogadores de xadrez têm capacidade intelectual para entendê-las completamente. Nós seres humanos normais, somos reféns das suas vontades e de seus temperamentos bizarros. A única semelhança conosco é a durabilidade. Não foram feitas para durar e têm assistência técnica duvidável assim como nós. Mas no fim das contas, são boas, nos ajudam no dia a dia no desempenho de tarefas, dependendo apenas do presidente da república e da sua política energética para um bom funcionamento.

Conheci a máquina das máquinas. O top de linha do liberalismo econômico. Uma beleza só! Não sei bem como funciona, não sei jogar xadrez, mas deixe-me tentar te explicar meu leitor. Pelo que vi, é um conjunto de peças que quando se encaixam fornecem um produto, e que produto! Automática e prática. Depende um pouco das instruções dadas pelo operador, assim como toda máquina não programável, é bem verdade. Mas tem uma alavanca que faz a engrenagem com o tonel que é um sucesso! Tem uns tradicionais parafusos pra apertar, uns rebites na lataria e uma corrente talhada que faz o treco funcionar através do eixo. Aciona-se a chaveta para a polia transformar força em movimento, desinclina a cunha, aperta o pino que fica pra fora, gira o mancal que aciona o motor (o treme-treme nesta hora é amenizado pelas molas), puxa a repimboca, roda a rodeta de gás carbônico; E aí é só acionar a alavanca mestre, que vai fazer com que saia um líquido amarelo cheio de espuma, gelado, bem gelado! Que faz a gente pensar em um monte de besteira, inclusive neste tipo de crônica sem engrenagem alguma.



Gilberto Granato, andou estudando uma máquina de chopp, mas não se lembra muito bem do final.