sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

memórias (de)inflacionárias

Estava refletindo sobre a história econômica Brasileira. Lendo o jornal lembrei do excelentíssimo senhor José Sarney e sua voz inconfundível. Agora é presidente do senado da república não sei por quê? Pois um homem na sua idade e que já foi presidente do Brasil, devia estar pintando, tomando umas em um dos seus sítios, educando os netos, se candidatando no máximo a representante da igreja, sei lá?... Mas um dia ele já foi o chefe do País e eu me lembro como eram as coisas...

Eu com meus dez, onze anos ia todo fim de semana com minha mãe á praia de camburi em vitória, não era muito limpa não na época, mas ninguém avisava fazer o que? No calor pedia um picolé como toda criança, picolé da Kiabai e matava minha sede. No outro fim de semana pedia outro e o número de notas que a minha mãe me dava sempre aumentava e o troco diminuía, foi aí que percebi pela primeira vez na minha vida a inflação. Éh! Esta mesma que se caracteriza pela queda no poder de compra do dinheiro. E a cada fim de semana minha mãe ia levando um cruzado baixo no bolso, isto mesmo, o nosso dinheiro se chamava cruzado, nome bem apropriado para uma inflação anual de quatro dígitos. Realmente não sei como sobrevivemos ao Seu José Sarney.

Anos mais tarde, por volta dos meus dezoito, dezenove anos, meu negócio era menos praia e mais saidinhas (palavra inofensiva) noturnas sem a mãe, mas com o dinheiro dela é claro. No calor da noite ia tomar as minhas primeiras cervejas para matar a sede da juventude lá no triângulo das bermudas na praia do canto em vitória, ia à pé, tinha ladrão, mas ninguém avisava fazer o que? Neste dia o excelentíssimo senhor Fernando Henrique Cardoso e suas olheiras inconfundíveis tinha mirabolado o plano real (moeda de mesmo nome) e no seu primeiro dia de ação tinha que fazer uma conversão para a URV (Unidade real de valor) e tínhamos que utilizar a UFIR (Unidade Fiscal de transferência) como conversão, era uma loucura só. Todos donos de boteco tinham uma calculadora na mão. Fui comprar a minha cerveja aguardando o mísero troco. Qual foi minha surpresa ao ver as notas sendo multiplicadas e a partir daí vivenciar o fenômeno da deflação levando a baixa dos preços dos produtos nos mercados. Dia inesquecível aquele.

O seu FHC, popularmente assim chamado. Hoje vive por aí sem suas olheiras escrevendo em um jornal aqui, palestrando ali, opinando acolá, problematizando a cá. Vivendo como um grande homem que já foi presidente do Brasil.

Isto é pra gente ver.

Como é que tem gente que não se toca e não muda de voz.

Hein?



Gilberto Granato

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Quesitos de carnaval

Conheço um lugar que preenche todos os quesitos necessários para uma escola de samba chegar ao título sem dar chances para as adversárias. E neste Domingão de sol após alguns atrasos e contratempos, reunimos alguns integrantes e convidamos o Johnnie (Walker) e o Feijão (tropeiro) para ficar no nosso camarote.

O quesito comissão de frente é sempre nota dez. Saúda o público com uma trilha de terra que vai se estreitando virando em muitos momentos uma mão única, com buracos simétricos, alagadiços coordenados e focos surpreendentes sobejantes de mata atlântica. O samba-enredo é o mesmo de todo ano, mas mesmo assim não enjoa os ouvidos, é poético. O refrão é um chuá constante, facilitando o canto, que entra pelos ouvidos removendo todos os ruídos remanescentes da obra daqui de frente de casa. Está sempre em harmonia com o enredo.

No quesito harmonia não tem pra ninguém. As diferentes culturas procuram a melhor sombra e por ali ficam cada um na sua. A “sua” tão exigida, agradece. Todos cantam juntos com o puxador. A evolução é um bloco coeso, sem falhas entre as alegorias, o verde e o homem de forma maciça, que vai crescendo à medida que as horas passam sem tumulto entre as alas. O conjunto é contíguo, adjacente, uniforme. Cada um bate um papo na figura carnavalesca do outro promovendo uma bonita interseção.

A criatividade e a qualidade do material utilizado é singular no quesito Alegoria e adereços. Tem os sem chinelos, os que esquecem o chinelo, os que tomam banho de short, de blusa, de calça, que não tomam banho (alegoria mais difícil) e os que abusam dos convidados, como Johnnie, por exemplo. A bateria e sua cadência em harmonia com o samba-enredo são nítidas. O conjunto de sons emitidos pode variar de acordo com a empolgação dos integrantes, não tem recuo não, é direto, sem paradinha até o final. O mestre-sala e a porta bandeira ficam atrás das águas da queda, é possível no máximo observar o mastro da bandeira da agremiação se você for bem atento.

E o enredo? é campeão. É o melhor roteiro de viagem para quem anda gostando do carnaval mais na teoria do que na prática. O tema é a cachoeira alta (foto), vai lá pra você ver vai.

E não esquece o tamborim.


Gilberto Granato
(Cachoeira alta – Estrada Castelo/Cachoeiro ES, estrada para São Vicente).

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Bloco de carnaval

Jarbas, Milton, Pessoa e Clovis eram amigos de longa data. Trabalhavam juntos em uma empresa de planos de saúde há 16 anos. Clovis era padrinho de casamento de Pessoa, que por sua vez era Padrinho do filho de Jarbas, que por sua vez era padrinho da filha de Milton, que por sua vez... E assim as afinidades, os encontros de finais de semana, os natais, as viagens de fim de ano tinham sempre seus familiares envolvidos. Era uma grande família unida sem laços sanguineos ratificados e heranças para dividir. Mas um tipo de encontro era restrito apenas aos quatro; As rodadas de chope no boteco do Seu careca toda sexta na esquina da rua onde trabalhavam.

Era lá que acontecia a alforria das gravatas, a emancipação dos abdomens e a libertinagem do intelecto futpolitico acumulado da semana. Sentavam sempre na mesma mesa e tomavam rodadas e mais rodadas de um chope de fundo de quintal sem hora para terminar. Bem, tinha hora sim e nestes dezesseis anos nunca tinham chego ao limite, a embriaguez não deixava. A cada encontro saia uma nova pescaria, um novo churrasco de uma maneira diferente de assar a picanha e uma nova história já contada mais de cem vezes. Em uma sexta de pré-carnaval, talvez movidos pelo calor excessivo a coisa saiu do habitual. E depois de muitos anos enfastiosos de chopes com colarinho, se deixaram levar por um bloco de carnaval que passava pela rua só para sair da rotina. E lá se balbuciaram com o repilique das mulatas (Milton dançou com elas), com a graça da menina loira que ficava à frente da bateria (inclusive Clovis tocou tamborim), com a doçura das jovens da comissão de frente (Jarbas ajudou na evolução), com a diretora do bloco (com quem Pessoa trocou e-mails). Tomaram todas e se esqueceram da hora, do fuso horário, de que dia da semana estavam, na verdade não queriam nem saber, já era tarde. Foi quando um telefone tocou.

Era o de Jarbas. Com muita dificuldade para achá-lo, apenas olhou no visor e viu que o dia já tinha virado há muito tempo e o a luz do dia começava a dar o ar da graça. Era sua mulher, como bom homem depois da meia noite, não atendeu. Minutos depois o de Milton também tocou era sua esposa, ameaçou atender, mas o olhar intimidador de seus companheiros o fez mudar de idéia e a virar mais um copo. Logo em seguida de maneira impressionante o de Pessoa tocou, também era a mulher com que tinha casado e como grande camarada de anos de amizade levantou a caneca às margens da carraspana e pediu aos berros mais um brinde. Na meia hora seguinte, foram mais de vinte chamadas perdidas no celular de cada um. Clovis voltava do banheiro (insistiram para que ele mijasse na rua, mas ele não quis) uns quarenta e cinco minutos depois com o celular na mão (depois disse que tinha encontrado com uma amiga de infância). Todos foram unânimes na pergunta:

- Quem te ligou?
(E ele calmamente respondeu)
- Minha mulher.
- E o que ela queria?
- Saber onde nós estávamos.
- E o que você respondeu?
- Que estávamos no meio de um bloco de carnaval, pois suas esposas estão lá em casa de pijamas chorando preocupadas querendo saber de vocês.

Depois deste episódio eles nunca mais beberam juntos.

Clovis parou de beber.

Pense nisso!

Bom carnaval!


Gilberto Granato

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Dieta balanceada

Não ligo muito para esse negócio de maneirar na comida e também não aprecio estes alimentos tipo light, diet, in english com gosto de dipirona sódica. Como seguindo a filosofia indígena, “como hoje sem me preocupar com amanhã”. E daqui uns dias quando o médico me chamar a atenção sobre o assunto, paro pra refletir melhor.

Ontem na hora do almoço, já estava lá a minha cuidadosa empregada (para alguns etiquetados secretária) fritando um ovo para mim espontaneamente, ato que vem se tornando rotina em minha alimentação, influência mineresca pura. Só pedi que acrescentasse um queijo por cima, e ela não titubeou, pôs sem miséria, como a minha mãe sempre fez. À noite eu e minha consorte rachamos um popular “mexidão”. Acrescentei para dar um toque mais colorido e protéico três ovos sem as cascas é claro meu famigerado leitor. Aí você come e relembra das advertências proféticas dos avós dizendo que comer ovo demais fazia mal a saúde ou da ala conservadora moderna ponderando o consumo por no máximo três por semana. Beleza, já disse que pratico a patuscada alimentar indígena. Mas aí a noite, ligo a TV na hora do telejornal só para variar e ta lá a matéria sobre um grupo de cientistas britânicos, que através de estudos descobriram que o colesterol do ovo é insignificante do ponto de vista clínico, portanto tornado-o inocente, puro, livre, quase um virgem, passando todo o mal para os sempre mal vistos: fumo, sedentarismo, obesidade etc... Veja só! Pensei instantaneamente nas milhares de pessoas deste planeta que já dispensaram aquele ovinho frito em cima do arroz só por causa de várias destas crenças populares.

Hoje amanheci com mais saúde! Cheio de albumina, aquela gema toda me trouxe bons sonhos e a clara... Ah a clara! Nem te conto, também estava nos meus sonhos, mas outra hora te conto essa omelete. Na hora do almoço fui incumbido de trazer as reservas protéicas, passei no supermercado e comprei um “galetinho” assado na hora, quentinho, com rodelas de cebola por cima. Se sou o dono do supermercado colocava do lado, talheres de prata a preços exorbitantes, tenho certeza que seriam vendidos, besteira! Galeto com fome se come com a mão mesmo segundo a entusiasmada menina do caixa. Já na mesa abocanhei praticamente um hemi-galeto, isto mesmo metade dele e a pele, sabe aquela pelinha dourada e crocante que fica por cima da carne, já ela eu passei do meio de campo e só deixei as da coxa do outro lado encobertas para não ficar muito indecente. Muito bem, me senti um índio xavante.

Agora estou escrevendo este texto só para passar o tempo, pois na verdade estou mesmo é esperando a hora do telejornal novamente, para ver se os cientistas britânicos descobriram mais alguma coisa. Agora sobre os benefícios da pele douradinha e crocante do galetinho de supermercado.

Rrrrrrrrrrrrrr!!!...

Opa! Desculpa.



Gilberto Granato

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Marimbondo no quintal

Éh meu leitor. Pode chamar também de caba, vespa, artrópode, tanto faz. A cultura de medo que eles provocam é a mesma. Quem é que tem uma casa de marimbondo no quintal? Ali bem bonita para as visitas verem? Para todo dia de manhã ficar admirando comendo seu pão com manteiga? Para bater no peito e dizer eu tenho? Ninguém quer ter não é? Pois agora eu tenho e se você é um desses que vive com medo borrifando inseticida doméstico por aí, pode continuar a ver o mundo animal pela TV, oras bolas.

Eu vi as primeiras chegando. Fizeram a fundação seguindo a geometria analítica de seus hexágonos de barro uns sobre os outros, depois vieram mais e a coisa foi se transformando em um verdadeiro mutirão, tomando forma, virando uma espécie de casa de cupim. Isto dias antes da histórica enchente, elas já sabiam que ela chegaria, nós ignaros não. Todos são unânimes em dizer que é Tatu. Isto mesmo, da espécie Tatu. azulados bonitos. Todos são unânimes em dizer para eu tirar elas de lá. Um disse que já foi picado e foi para o hospital, outro falou que é coisa do diabo, um ficou afônico quando viu e saiu em retirada. Agora estão fazendo o segundo andar, a família está aumentando! Encontraram local seguro. Será que elas investigaram minha vida antes? Sabiam do meu perfil: “pode chegar a casa é sua”. Estou intrigado com a inteligência dos marimbondos. Medo? Não, não... Ultimamente tenho achado que toda experiência é valida, contribui, amadurece. Quando passo em baixo de sua casona acelero o passo só um pouquinho. Medo? Não, não é só precaução, conheço pouco esta tribo...

Amanhã mesmo vou providenciar uma prometazina injetável (anti-alérgico) só por via das dúvidas sabe se lá entende.

Medo?

Não, não é só uma pontinha de receio.



Gilberto Granato

A origem das espécies

A esposa há um tempo atrás não agüentava mais ouvir falar disto, mas confesso que nunca tinha visto tantas evidencias explícitas das teorias do senhor Charles Darwin. O cidadão era tão formidável que logo que digitei o seu nome, o computador prontamente me corrigiu para eu me retratar e colocá-lo devidamente em maiúsculas. Toda esta minha profunda análise partiu de uma de suas frases celebres: “O homem ainda traz em sua estrutura física a marca indelével de sua origem primitiva”.

Tenho marcas evidentes de involução, veja bem; Minha barba tem falhas, falo demais em rodas sociais, vejo muita televisão, não sabia trocar uma tomada até poucos dias, domingo não saio de casa (evolucionismo social), ainda compro CD’s originais, como mais do que preciso e gosto de dormir no chão. Mas a evolução das coisas ficaram mais claras, após o nascimento de meu filho, ali vi tudo explicadinho; Na genética, nos genes, na hereditariedade, nas barbas do profeta...

Os outros mamíferos em menor grau de evolução, seus filhos nascem e suas rotinas paternas modificam-se pouco pelas gerações, agora nós não. O meu filho nasceu e minha cônjuge automaticamente me colocou uma pressão externa forte, para tentar modificar rapidamente os meu genes, e conseguiu. Para você ter uma idéia, neste momento ela saiu em busca de caça (hortifruti) e eu fiquei aqui. Já dei mamadeira e fiz o pequeno dormir. O homem modifica seus hábitos e comportamentos, ao longo da história, a fim de sobressair (olha a reforma ortográfica aí!) na seleção natural. E não é preciso ir longe para confrontar esta evolução, é só analisar uma ou duas gerações acima de nós, que só pegavam os filhos após os seis meses de idade e atos hoje “banais” como: trocar fraldas, mamadeiras, fazer dormir, eram inimagináveis! Eles desconversavam na hora, mas não era culpa deles. Era a herança genética de seus Tatatataravós barbudos.

Veja bem a minha cunhada. Por sinal bela cunhada. Estamos sempre dando uma força quando ela precisa, mas quando precisamos de ajuda, ela ajuda, mas quem tem que insistir bastante é a sua irmã, minha esposa, geneticamente parecida com ela. E ela (cunhada) para proteger o seu clã, seu partido, sua descendência a fim de favorecer a permanência deles na terra, ajuda. Agora se sou eu sozinho que peço, nem pensar, afinal não temos parentesco genético, não dependemos um do outro para os futuros descendentes, mas é inconsciente eu sei é a luta pela vida!

Minha cadela. Está em franca evolução. Antes seus antepassados caninos, passavam dias atrás de caça, abrigo e fugindo de seus predadores. Uma vida dura cheia de pêlos. Mas minha cachorra agora vem sofrendo mutações genéticas céleres para pegar comida das mãos das crianças que veem (olha aí a reforma) a minha casa, não se contenta com o canil, prefere de madrugada sorrateiramente subir no sofá da varanda e quando chegamos enfurecidos em vez de correr e se refugiar, deita de barriga para cima e abana o rabo, é mole? Não é mole não, é cromossomial é a seleção natural.

Minha empregada também está nessa. Antes ela vinha todo dia cedo, mas agora que abriu um botequinho que serve bebidas e tira gostos na beira da estrada, anda chegando mais tarde e sempre tem argumentos evolucionistas e da moda do tipo: rio cheio, ponte que caiu, escola do fulano, doença do ciclano, loucura da beltrana, mas não é culpa dela é darwinismo puro. Desta forma ela gera mais renda para seus familiares e assim eles teem (olha a reforma de novo, também existe a evolução lingüística) mais chances de deixarem mais semelhantes na terra. Tá no DNA meu biólogo leitor, não fui eu que inventei.

Este texto, por exemplo, ficou muito grande. Para um cidadão ainda em evolução fica chato de ler, pois ler está em involução. Preciso evoluir nisto também parágrafos menos evolucionários, menos pronomes, transmutar as pontuações e me atentar para a publicação de idéias, pois assim como Darwin a publicação delas podem significar a demolição de minha reputação e consequentemente a minha ruína.

Acho que vou procurar um Parapsicólogo especialista em genética.

Quando estiver curado escrevo de novo.


Gilberto Granato.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Homem de oitenta LTDA.

Pois é. Já pensou em algo com oitenta anos trabalhando, falando, rindo, resmungando e dizem por aí, ainda xavecando? Eu presenciei neste fim de semana o octogésimo ano de vida do Avô de minha esposa, bisavô de meu filho, bilionésimo neto do big bang e segundo meus cálculos a vida trinta e quatro mil cento e cinqueta e três gerações após o nascimento Jesus.

Homem de oitenta é bem diferente dos de hoje. Teve só uma mulher, já passou as décadas achando que sabia das coisas, assim como nós e agora que chegou aos oitenta e sabe tudo, ninguém pergunta nada. È filosofia pura, não fica por aí destribulhando frases e mais frases em busca de respeito e impacto, ele fala uma e tá falado. É religiosíssimo! Com ele não se discute, no mínimo chegasse a um entendimento, por isso que a terceira idade vive em paz, são unidos, vão ao bingo e todos conversam, dançam (os que podem) e se há uma desavença não dura mais que um dia, não vale a pena. Possuem aqueles cabelos brancos honestos, aquelas unhas amareladas gastas, hiperqueratinizadas, a pele fina, cicatrizes de uma vida dura. Estão sempre bem vestidos. Plantou árvores ou derrubou muitas, comeu de tudo na vida e agora só quer comer o que gosta (exceto os remédios).

O homem de oitenta não para a não ser quando o corpo ou os médicos pedem, mas na verdade nunca obedece aos médicos, só nos primeiros dias. Já passou por inúmeros presidentes, crises, moedas, fenômenos da natureza, só se espanta mesmo agora é com os brinquedos e as tecnologias dos mais jovens. Dorme cedo, desconhece a menopausa, nunca lavou um prato na vida, mas ajudou a fabricar muitos, não sabe quem é o atacante do seu time, mas não esquece os do passado. Não acerta a água dentro da privada na hora do xixi, mas isto não faz mais diferença, sabe quando vai chover, ou melhor, sabia agora com aquecimento global erra as previsões. Gosta de novelas, não fica sem um café ou cachaça (dependendo dos remédios) e é claro usa dentadura.

Durante a festa o bom velinho de verdade, dançou, falou ao microfone, guardou os cascos de cerveja, serviu carne aos convidados, fez pose para fotos, foi gentil e elegante...

Agora aquele sanfoneiro que deve ter bem menos da metade da sua idade, que ficou nervoso só por causa de um cabo de microfone cortado por uma trupe de genros, filhos e netos enlouquecidos...

Este meu leitor, acho que não chega aos oitenta não!



Gilberto Granato.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

O Pacotão

Que o Brasil vai ser sede da copa de 2014 de futebol isto todo mundo já sabe. Pera aí? Todo mundo não, uma boa parte do sexo frágil só vai ter conhecimento do assunto quando 2014 chegar, se ele chegar né? Mas o negócio é o seguinte como bom telespectador de telejornal, sempre assisto com atenção e “sentido oculto” apurado (sentido paralelo que está por trás das notícias) todas as matérias jornalísticas, das políticas as mais “inofensivas” possíveis e acabei de desvendar mais uma. E vocês meus unitários leitores saberão em primeira mão do esquema que abençoei de “Pacotão”. Éh! Um primogênito de outros esquemas aí terminados em “ão”. Totalmente legal e usufruído por uma classe social até então pouco visível na sociedade...

Veja só a dura rotina de trabalho destes caras em vistorias por cidades brasileiras. No primeiro dia, café da manhã e moda de viola com muito pão de queijo em Belo Horizonte, Feijoada com direito a laranja e tudo mais servida por belas mulatas em seus generosos fios dentais, ao som de chorinho e samba na hora do almoço no Rio de Janeiro. À noite você decide a melhor pizza ou a melhor comida japonesa de São Paulo com direito à acompanhante. Dia dois, Chimarrão festivo matinal em Porto Alegre servido por chinocas, almoço típico italiano com bastante mortadela em curitiba e desfile de ragazzas. Peixada (moqueca só capixaba) ao anoitecer em uma bela praia Catarinense com direito a lual vip e coquetéis tropicais calhientes é claro!. Terceiro ato, sopa paraguaia matinal em Campo Grande para reforçar o estomago, curar a ressaca do dia anterior e aguentar a manhã penosa de atividades, almoço dançante (Arroz com pequi acompanhado de guariroba) embalado por muito rasqueado em Cuiabá e a Noite aquele “Whiskysiquisinho” com a patota candanga de Brasília lá na beira do Paranoá. Quarto dia, Pão com tucumã “x-cabloquinho” em um resort de selva de Manaus e danças típicas de boi manauara, maniçoba arretada no almoço ao som das guitarradas paraenses. Noite em Rio Branco é facultativa, cada um faz o que quiser, não vai ter ninguém para incomodar a “egotrip” (viagem de egos). Quinto dia, uma loucura! É sempre assim, final de viagem é tudo corrido, café no pelourinho ouvindo olodum trocando uma idéia com o Brown, cajuína nas dunas de Natal, galinha a cabidela em fortaleza que beleza! Um pulo rápido e fora de rota para Goiânia (tem dinheiro para tudo!) para assistir a um acústico do último disco do fulano e ciclano e a noite baile de despedida com cachaça da melhor qualidade e tapioca com queijo embalado pelas nações de maracatu de Recife.

OBS: O cidadão que ingressa neste árduo ganha-pão tem direito inteiramente gratuito a: Hotel cinco estrelas, passagens aéreas de primeira classe, encontro com "celebridades",“city tour” de helicóptero em todas as regiões, além de uma ajuda de custo não declarada em suas contas correntes para o sufoco é lógico, Ah! Garrafas de Jack Daniels “avontê” também estão inclusas.

Gostou?

Então porque não pensou em ser comissário de inspeção da FIFA (Fédération Internationale de Football Association) antes?

Onde foi que eu coloquei o meu currículo?



Arawãkanto’i Tapirapé

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Mamadeira

Tava pensando em escrever sobre a mamadeira. Èh! Alguns objetos me fascinam, mas achei o tema um pouco esdrúxulo, porisso abandonei a idéia e continuei a vida. Foi aí que aconteceu o pior, ou o melhor dependendo da visão do leitor.

Tava lendo que ela foi inventada por um Russo que queria diminuir os choros de suas crias e a partir daí foi aperfeiçoando até virar o título aí de cima. Não patenteou. Na época URSS não permitia. O negoção foi se espalhando pelo mundo ajudando principalmente a salvar casamentos. Já usei, mas não me lembro, mas quando pensei em falar no assunto, era sobre a habilidade dos homens com este utensílio. Bem, quero dizer, homens modernos como eu, que trocam fraldas, dão banho, cantam músicas, fazem dormir (sem quantificar, por favor!) e mais uma centena de coisas que não cabem serem citadas agora.

Eu queria explanar a emoção da evolução na confecção de uma aí do título cheinha de leite. A primeira é aquela dificuldade, aquele desanimo, depois a evolução, a rapidez, tem hora que ela fica pronta até antes do choro, a mistura perfeita do soluto com o solvente, o encaixe preciso dos conectores, a proteção do bico, a temperatura ideal, o escaldamento ou esterilização como preferir e foi aí que o jovem pai pecou nesta tarde, mas antes um pouco mais de história...

Eu e minha consorte tínhamos comprado um esterilizador de mamadeiras de microondas. Uma inovação (na minha precoce visão). Prática, rápida, evitaria acidentes tava tudo uma beleza, até que ela foi ao pediatra. E esta tribo é muito complicada. São eles (principalmente os homens não modernos) os responsáveis por boa parte destas crianças cheias de mimos do século vinte e um, não podem fazer nada? E os filhos dos pescadores, dos índios, das tribos na Papua-Nova Guiné, dos esquimós, dos nômades do Himalaia? Como sobreviveriam a um pediatra? Bem, só sei que ele disse (sem explicar) para não usar o moderno esterilizador. Tudo bem, nós confiando na medicina moderna, aceitamos, escalda daqui, escalda acolá, opa cuidado! E a do título do meu filho, uma importada, anti-cólicas, anti-URSS, dada com carinho pela avó, vivia flutuando na água quente, até que nesta tarde fui repetir o rotineiro processo e me desliguei do mundo estava chegando a estratosfera de Vênus, quando senti o cheiro de queimado. Já era tarde! Já estava torrada, desintegrada, mas alguns minutos e a casa tinha ido embora, este computador também, ainda tentei salvar a panela à muito custo mas sem grandes resultados.

Meu filho gostava desta mamadeira (ou era eu?) e agora terá que se acostumar com outra, ele vai conseguir é jovem! Eu terei que me acostumar a fazer em outra, eu vou conseguir! Sou jovem, um homem moderno oras bolas!

Agora que a minha esposa vai descascar um abacaxi bem azedo em cima de um pobre homem moderno em evolução... Ah isto vai!!!

Acho que ouvi o barulho de alguém chegando...

vou me esconder....


Gilberto Granato

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Soneto de fim de semana

Lá vem o sol e em meus braços amanheces
Avermelhado, alaranjado digno de preces.
Bem na hora do jogo, um belo duelo
E a mamadeira nos conforta, um elo.

Torço pelo nadal, as vezes pro Federer
Contorces pro federer, as vezes pelo nadal
Entre um game e outro um choro matinal
Mas as lágrimas vieram no final, Federer.

Fiquei gamado com as novas sílabas
Fascinado por conquistar o seu sorriso
Apalermado com as minhas mímicas...

Apesar do ventre preso, se balança
È forte, não é de pedir socorro à toa
E quando chega o frescor da noite, bonança!


Gilberto Granato