sábado, 25 de abril de 2009

manobras radicais

Olha só como é que são as coisas. Minha consorte tava normal, tudo estático, de repente sua barriga começou a crescer do nada. E cresce, cresce, meu deus vai estourar! Rola pra lá, rola pra cá e quando ela já não agüenta (o computador insiste no trema) mais, nasce um menino, veja só que loucura! Sei que é menino, pois tem um elemento para fora parecido com o meu, que por sinal também rola pra lá e pra cá durante o dia. Aí ele vai crescendo (é o menino não se preocupe), crescendo, crescendo e parece que não agüenta mais ficar na mesma posição, então começa a rolar para lá e para cá, igual à mãe fazia, igual o pinto faz.

Tem um cidadão chamado Newton, que falou que qualquer corpo em repouso tende a manter-se em repouso. É a tal da inércia, só que aqui em casa esta lei não pegou não, os corpos aqui saem do repouso para o movimento em questão de segundos. Veja só o piripipi, pipi, piripi, habibi, farofa, zog zog, ou se preferir apenas Otto, que é o nome que está na sua certidão. De um dia pro outro começou a sair do repouso e a querer se virar sozinho, do tipo ficar autônomo sabe, os especialistas dizem que é a “bebescência”, uma fase alvorotada que antecede o “mamãe”. Nesta etapa ele fica anti-inértico, querendo segurar a mamadeira sozinho, falando um dialeto próprio, dando uns pinotes no berço antes de dormir e se arriscando na geometria espacial. Não entendeu? Eu explico.

Uma turma lá da babilônia, dividiu o círculo em 360 partes iguais, pois acreditavam que essa era a quantidade de dias referente ao período de um ano e inventaram o grau. Esse negócio sim, pegou aqui em casa, tem tudo a ver com o pra lá e pra cá, com o pinto também. E meu filho que já não é mais um bebê entrou nessa efetuando ângulos agudos com sucesso, logo em seguida uma fase muito rápida de retos e finalmente o raso de 180º. Foi o ápice de sua conquista, permaneceu tentando esta manobra por vários dias, mas não se conteve, afinal é a bebescência a flor da pele. Passou a fazer parte do seu dia chegar a um ângulo completo360º. E nesta semana conseguiu. Foi bem na hora em que eu dei uma saidinha sabe? Pra tirar o pinto da inércia entende e Bum! Tava lá meu pequeno no chão, de uma altura de mais de meio metro (o que deve corresponder ao primeiro andar de um prédio para um adulto como newton), com o seus 360º completos. Com o nariz sangrando um pouco é bem verdade, o queixo e os lábios arranhados também. Mas com êxito total. Agora tá com o nariz meio inchado, meio pra lá, meio pra cá, mas tenho certeza que no fundo, no fundo ele está preparando alguma coisa mais inovadora, de frontside, grind, flip, fakie pra qualquer hora dessas colocar em prática novamente, vai saber....

Tento conversar com ele já nos seus 5 meses de idade, dos prá lás e pra cás da vida. Mas ele? Não dá ouvidos meu paternal leitor. fica só rindo achando graça de tudo que falo.

Coisas da bebescência!



Gilberto Granatoº

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Vícios de linguagem

Caro leitor. O assunto é meio barra pesada, eu sei, mas deve ser apontado e encarado, pois é um problema evidente na cracolândia política, porém tratado como vidente pelos gestores do nosso dinheiro. O problema do vício. Que gera infrações ás normas lingüísticas há muitos anos e coloca em risco os jovens escritores deste país.

Vejam com seus olhos (opa! Já estou intoxicado pelo pleonasmo!) quais são os tipos de drogas mais utilizadas pelos políticos brasileiros atualmente:

O arcaísmo droga antiga, ainda esta presente no “terríbel” congresso brasileiro, que se utiliza de expressões e vantagens antiquadas para se darem bem, como por exemplo, o atual uso indiscriminado de passagens aéreas por parentes e “namoradas” de nossos representantes eleitos, para oásis do globo terrestre, com o dinheiro de nossos impostos. Que deixam pessoas caretas e sãs “mui” descontentes.

A ambigüidade, erva utilizada pela elite política brasileira também é bastante consumida principalmente nos discursos das pré-candidaturas e nas denúncias de corrupção em Brasília. É muito fácil identificar um usuário deste grupo, eles sempre falam “eu não sabia de nada”, gerando uma comunicação tridimensional, imprecisa e confusa com o povo brasileiro.

O barbarismo é a liamba usada aos montes por ser a mais comum e barata, portanto a mais utilizada pelos vereadores, que diariamente erram a forma das palavras, deslocam os acentos tônicos, erram a grafia por serem eleitos sem ao menos terem estudado o suficiente. E que acham o máximo empregarem expressões estrangeiras ainda não adaptadas ao idiotismo, ou melhor, idioma nacional, como forma de impressionar o bobo, ou melhor, o povo.

Os usuários do cacófato no momento de êxtase do uso destes comprimidos acabam proferindo certas palavras, que são interpretadas e redigidas por repórteres nos jornais, de maneira que as tornam, inconvenientes, descabidas, ridículas ou obscenas. Resultado da união de palavras vizinhas. Como Por exemplo, estes dias um senador da república quando perguntado se concorreria às próximas eleições presidenciais respondeu: Não tenho pretensões a cerca dela (“a ser cadela”, foi escrito no jornal e agora ele é chamado de senador cachorrão). Conseqüências desastrosas, eu sei. Culpa do vício.

O Eco é um “cheirinho” utilizado indiscriminadamente pelos acessores políticos. Que estão aos montes nos corredores de Brasília e sobrecarregam a folha salarial do congresso. E como não estão nem aí, ou melhor, lá. Só recebem seus salários no fim de mês para comprar a droga e escrevem rapidamente discursos, que são proferidos por seus patrões ao léu nas plenárias geralmente vazias, o que dá a sensação de eco, mas na verdade está na escrita deles. Veja só este fragmento retirado de um dos textos destes acessores: “o requerimento que enviamos naquele momento era o único instrumento de avaliação” percebeu? Ento... ento... ento... Os gatos pingados da plenária também sob o efeito da emanação acham que estão ouvindo ecos, mas na verdade estão ouvindo textos mal redigidos pelos consumidores deste poderoso gás.


Bem que já ouvi dizer que política é tudo uma droga!



Arawãkanto’i Tapirapé, é usuário de hiato e colisão.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Lady Laura

Na semana passada, queria andar de ônibus, veja só, andar de ônibus. Ficar ali no ponto esperando aquele retângulo de quatro rodas sem saber qual pegaria, observando o vendedor de amendoins, a estudante de shortinho bem apertado, o sono do trabalhador e talvez alguma história de rabo de ouvido de uma vida capixaba qualquer. Estava órfão meu amparado leitor. Órfão de sentimentos. Querendo remover aquela nata de cima do meu cálice e mexer um pouco com a colher, para ver se levantava alguma mistura mais colorida.

E levantou. Tanto que estou borrado. Tudo, por ficar horas sentado e admirando as novidades daquelas coisas milimétricas e maravilhosas que acontecem dentro da boca, de apreciar um pouco mais os amigos, de encontrar sujeitos e sujeitas se é que existe esta palavra, que andavam escondidos no quintal desta cabeçinha pouco condimentada, de ver que minutos e anos às vezes podem ter quase a mesma idade. De ver o meu Otto girar e rolar com o cabeçalho de sua doce vida, de tatear a pele curtida e cheia de marcas de minha mãe e de meus queridos tios. Até aí tudo bem, dava para pegar um canudinho e sugar todo o excesso deixado por estas sensações. Mas o que borrou tudo foi o Robertão.

Puta que pariu o Robertão! Já tinha falado com pouco afeiçoamento sobre ele (com eufemismo, por favor) em algumas de minhas crédulas crônicas. E derrepente estou lá. Cheio de anseios guardados dentro de mim dos dias anteriores, prestes a serem catalisadas em frente aquele palco, por aquela bela e competente orquestra e seus lindos arranjos, aquela voz concisa e honesta, em uma série de canções bem escolhidas para agradar os corações saudosos dos cachoeirenses bairristas. E eu estava lá, na fileira “i”, de insano, infermo, inócuo ouvindo e vendo, confesso que em alguns momentos, com a vista um pouco turva por um líquido que insistia em brotar dos cantos de meus olhos, imaginando o que sentiriam aqueles outros mais consumidos pelo tempo. Envolto pelas melodias e pelo um mar de lembranças. Sai dali, como saio quando conquisto grandes desafios, sem fala. Vi as estrelas caírem do céu, vi os meus pedaços espalhados pelo chão, estou juntando todos novamente é bem verdade e espero que amanhã a coisa já esteja bem colada novamente, para quem sabe voltar a se espatifar qualquer hora destas novamente. Incomoda um pouquinho, mas faz um bem danado!

Desculpe o clichê barato.

Mas se chorei ou se sorri. O importante é que emoções eu vivi...



Gilberto Granato
(Lady Laura – melhor música do show de 50 anos de carreira de Roberto Carlos. 19 de abril. No dia de seu aniversário, no dia do índio, no dia do batizado de Otto, no dia que o Corinthians foi para a final do paulista após uma dupla vitória sobre o São Paulo, no dia em que fizemos contato...)

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Uma estória de sexta-feira santa

O silêncio, o jejum e a oração são os traços marcantes da Sexta-feira Santa, dia em que os cristãos celebram a Paixão e Morte de Jesus o maior dos cronistas. Isto todos sabem, ou se lembram na véspera. Mas tenho um amigo cristão que é um seguidor nato dos bons costumes, da coerência e das boas ações nesta vida independente de raça, religião e creio-em-Deus-Padre. E lembro-me religioso leitor do dia em que salvei sua carne, opa! Desculpe-me a palavra pagã neste dia, então me lembro do dia que salvei seu bacalhau, fica ruim, mas melhor assim.

Era uma sexta santa que nem hoje. Nesta época ele era meu vizinho. Morávamos lá na cabeça do cachorro, nas margens do rio negro, pertinho da Colômbia, do ladinho de Hugo Chávez, a pequena distância das FARC, bem mofados mesmo. Eram duas casas a minha de cimento e bolor nas paredes e a dele de madeira e fungos nas tábuas, mas não tinha lobo mau para derrubá-las não, elas iam desmoronando naturalmente mesmo. Acordei cedo e fui fazer uma visita ao meu compadre para lhe convidar para comer um peixe naquele dia, pois apesar da distância manteríamos a tradição de não comer carne (não teve jeito tive que falar de novo). Entrei em sua maloca e o encontrei acordando para a vida, já estava cumprindo boa parte do recomendado para aquele dia, o silêncio da natureza, o jejum e a oração que disse que faria mais tarde. Mas passados alguns minutos, não se conteve e pegou um pão dormido, abriu a geladeira que tinha dezenas de garrafas d’água (talvez tivesse se purificando afinal de contas era um homem místico) e apanhou logo ali no cantinho umas duas fatias de queijo com bolor e mais ao fundo uma de presunto de mesmo aspecto esverdeado. É bom lembrar que este amigo é desligado, tem problemas de memória e esquecimento crônicos, que já o fizeram passar por situações inusitadas em sua trajetória, em breve andará com um colar com seu nome completo pendurado no pescoço só por precaução. E por um desses blecautes cerebrais (que não teem hora para acontecer) ameaçou colocar a fatia de presunto dentro do trigo, ou melhor, pão. Mas graças a deus eu estava lá, com minha boa memória, com minha saúde mental intacta. O quê que ia falar mesmo? Ah tá lembrei! Sobre impedir que aquele homem de bem se impurificasse. Então o alertei e imediatamente ele devolveu o maldito alimento obtido a partir das patas traseiras do porco ou suíno, para a geladeira, Ufa! Que bom, o contentamento por ainda estar seguindo as tradições era nato em seu rosto.

Depois de alguns papos furados, retornei a minha casa para ver como andava o peixe e as infiltrações, foi quando me lembrei de algo que não tinha dito, e para não ficar o dito pelo não dito, já que não tinha dito, retornei a sua casa para ficar tudo dito. Ao adentrar ele já estava lá, mastigando seu pão, meio de costas para mim é bem verdade, mas um homem de bem, precisa de energias para tal fim e com muita dificuldade consegui ver por entre as fatias de queijo e o branco marrom do substrato de trigo, uma fatia daquele material de cor avermelhada trago pelos fenícios e que agora estava ali contaminando a sua integridade de início de fim de semana. Resolvi não dizer nada, para não molestar aquele pobre homem enganado por sua consciência, pela megera falta de memória que insiste em atormentá-lo e que precisa de segundos para acometê-lo novamente.

Tenho certeza que foi sem querer, é o tal do desmemoriamento, este homem é um santo gente, só faltam as asas, o problema é a sua reminiscência. Neste dia, feriado, de sol e de provável barriga vazia, deve estar vasculhando sua geladeira atrás de algo como é de costume, acho que vou procurar seu telefone, vou alertá-lo, uma ligadinha santa não custa nada.

Afinal ele é um santo, é sim.

O seu único problema é o presunto.

não, não já ia me esquecendo..

È a memória poxa, já disse!



Gilberto Granato

terça-feira, 7 de abril de 2009

Mulher do Tempo

To lá vendo a previsão do tempo em um canal de TV aberta. E é claro que lá vem chuva. Isto eu já sabia, afinal o tal do tempo anda meio ensandecido conosco, ninguém mais prevê o tempo, agora chuta mesmo. Mas ainda assim gosto de ver a previsão, são sempre mulheres bonitas, loiras, morenas, meio loira que já foi morena, morena com mecha loira meio sei lá... Hoje acertar a cor de cabelo da mulher também é chute. Mas ficam lá se esforçando, divulgando seus sorrisos e dando o máximo para poderem sair dali e fazerem outro tipo de comunicação.

Esta do jornal da noite estava afável e eu também gostando da sua apresentação, do seu sorriso, no norte chuva, no nordeste seca, no centro-oeste sabe-se lá meio chuva meio sol o povo lá é que se vire, perguntem aos mais velhos oras bolas! Deu pra entender. Já no sul a previsão começa a mudar. Ela abre um sorriso meigo, a voz fica mais doce, a previsão agora é pessoal para Gaúchos, catarinenses e paranaenses, como ela mesmo diz, vão ter a sua primeira massa de ar frio do ano, óóóóóh!.. Fala como se almejasse um convite para uma taça de vinho no fim de semana ou um emprego novo oferecido por algum empresário telespectador descompromissado. (o diretor fala no ponto de ouvido que está demorando) E ela vai meio a contragosto para a região sudeste e o sorriso meigo vira um sorriso embusteiro, meio que voltado para a zona sul do Rio e a previsão é como ela mesma diz, para mineiros, paulistas, cariocas e vitória? Putz! Ela nem sabe que somos capixabas, nunca veio no nosso roçado, não trabalha e nem confia como nós, nem uma torta capixaba para reforçar o nome experimentou, não deu a mínima, este sorriso não foi para nós, foi para os nossos vizinhos mais abastados aqui da região.

Estou insatisfeito com a previsão do tempo da minha região. O certo mesmo é mudarmos para o norte e ficarmos no anonimato de uma vez, intricados no que resta de cerrado e floresta, meio caro eu sei, seria tentador acrescentar a tapioca todo dia de manhã, a farinha grossa no almoço e o açaí à tarde à nossa culinária, mas não dá é impossível, não somos mais nômades, somos untuosos-eremitas, já pensou na mudança? Um monte de gente não querendo ir, um monte ficando no meio do caminho, revolta geral e Minas Gerais só esperando para dar o bote e fincar seu guarda-sol a nossa beira-mar. Melhor! Vamos nos tornar uma grande ilha, fazer uma força conjunta, todos abocados e nos afastar do território, como uma grande placa tectônica a deriva, ficar pra lá da longitude de Noronha, rodeado de baleias, mais cheio ainda de água e sal, livre do continente. Mas pensando bem não vai ter sinal de televisão, nem previsão do tempo, vão esquecer da gente, vamos sair do mapa, ser colonizados, escravizados por uma outra potência Internacional, quem sabe os chineses, vamos ter que colocar escorpião na moqueca, não sei não?

Quer saber, vou é ficar quietinho, aqui no meu canto, bem escondidinho, debaixo do guarda-chuva, sem massa de ar frio em março, entre o oceano e os mais favorecidos pelo tempo, sem a atenção e os sorrisos das apresentadoras do tempo...

Lembrei do João Ubaldo Ribeiro dizer que quando a crônica está ruim, é de bom costume pedir desculpas ao ensolarado leitor no final.

Então fica assim...

desculpa pelo mau tempo!



Gilberto Granato

domingo, 5 de abril de 2009

100 CRÔNICAS

Pela primeira vez o cronista meia-boca Gilberto Granato de “O crotidiano” cede uma entrevista a um jornalista para celebrar suas cem primeiras crônicas, ou como ele mesmo gosta de chamar a sua “primeira meta”.

"São cinco da tarde. E bem na hora combinada chego com muita dificuldade a sua casa no morro da formiga, próxima ao centro da pequena cidade de Castelo interior do Espírito Santo. Cai um sereno, resquícios das águas de março e ele já esta a minha espera, camisa sem estampa, bermuda e chinelos havaianas, convida-me para entrar, sentamos na sua varanda rodeada de verde e que tem uma bela vista da cidade (agora prejudicada por uma casa de “pombos” em tijolos). Oferece-me água misturada com alguma coisa que não consigo identificar e começamos o falatório".

O que é a crônica para você?
É o que o Rubem Braga disse para diferenciar a crônica do conto. A crônica conta um caso o conto explica. Mas basicamente, a notícia é objetiva e impessoal já a crônica é subjetiva e muitas vezes pessoal como no meu caso que uso muito das vivências do dia a dia como inspiração.

Como a crônica surgiu na sua vida?
Na época de saúde na floresta, sempre que voltava das viagens tinha o hábito de escrever textos e mandar fotos das minhas aventuras no meio dos índios e acho que nasceu deste hábito, junto é claro com o de ler alguma coisa.

E esta história de Blog?
Na verdade eu e o Duda (Eduardo Ottoni escritor do “crônicas da floresta”) nos encontramos uma vez em vitória e tinha um vendedor ambulante de poesias indo de mesa e mesa, brincamos que um dia racharíamos um livro com crônicas (nesta época tinha escrito meu primeiro texto oficial “o conceito indígena”) mostrei para ele e um tempo depois em lá em Sergipe li um e-mail dele dizendo que tinha feito um Blog. Achei a palavra meio juvenil, baitola, achei que era coisa dessa linha de Orkut, Msn, sei lá...estas coisas fúteis de internet, mas não, vi que ali estava uma ferramenta importante de arquivo de material produzido além de estar acessível à todos deste mundo, hoje e amanhã.

E “hoje” como está?
Hoje estou muito satisfeito de ter chego até aqui, tinha isto como objetivo. Lia livros de cronistas e seus títulos: “cem melhores crônicas”, “cem crônicas escolhidas” e a partir disto o 100 virou meu objetivo, porisso o blog não tem nem a apresentação. Esta é a primeira conversa real do nascimento de “o crotidiano”. Lembro que no primeiro texto colocado no blog “o conceito indígena” achava o máximo! Mostrava para todo mundo, me achava já um escritor, hoje chego aos cem vendo que sou ruim, cada vez pior, com português pífio e com idéias chocas. Mas crônica é que nem filho, só agente que gosta mesmo.

E “amanhã” como será?
Mais calmo. Talvez demore bem mais tempo para completar mais uma centena. Esta idéia do número agora talvez fique menos importante. Mas tentar manter uma freqüência é importante para que a coisa não esfrie mesmo que ela fique ruim (é só pedir desculpas depois), afinal de contas, não sou remunerado para fazer isto, faço por prazer e para economizar com a cadeira do “divã”.

E Arawãkanto’i Tapirapé que às vezes escreve quem é? É você?
Não, não. Arawãkanto’i é um escritor também de meia tijela, que assina os textos mais ríspidos, pois o cronista não pode se levar a sério, perde a graça, fica chato, vira texto de jornal. De vez em quando ele aparece tipo cometa.

(Peço para fazer um pingue pongue rápido e depois de muita insistência ele concorda)

Um filme?
Cidade de Deus de Fernando Meirelles e a trilogia de Alejandro González Iñárritu e Guillermo Arriaga. (Amores Brutos, 21 gramas e Babel).

Uma música?
Duas. “Meu mundo é hoje” (Eu sou assim) Paulinho da Viola e “diamond sea” Sonic Youth

Um livro?
A vaca invisível de Edy lima. Me marcou.

Uma palavra?
persistência

Um lugar?
São Gabriel da Cachoeira não existe nada mais bonito, até agora.

Uma cor?
Vamos parar com esta porra! coisa de veado!

Tá bom! Uma palavra para seus leitores?
Se conseguiu ler até aqui, coloca um comentário aê embaixo porra!


Sthefanie Silva,
É repórter investigativa e já entrevistou grandes nomes do submundo planetário.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Morro da formiga

Moro no morro. No morro delas, mas moro. Mas acho que nem sempre foi delas (o que me traz esperança). Na era mesozóica devia pertencer aos dinossauros, não, não, antes era das amebas, depois é que vieram os dinossauros, depois um asteróide e blum! Não, não; Não é nada disso. O morro só apareceu mesmo depois do impacto deste asteróide com a terra no período cretáceo e as formigas se apossaram de tudo logo, já prevendo a corrida imobiliária do século XXI. E aqui formaram níveis avançados de sociedade, só não conseguiram mesmo avançar para o pólo norte graças a Deus, ou melhor, aos ursos polares, onde em breve será minha próxima moradia.

Aqui no morro não tem traficante, padaria, bala perdida, vizinhos, asfalto, mas tem formigas. E Muitas! chegam de mansinho, em bando, voando, de diferentes tamanhos, cores e sabores. Sim sabores! Agente come de tabela sem querer no meio da comida. Aquelas que gostam do meu pão com manteiga de manhã, que já deixo pronto na noite anterior são uma delícia, mas as que eu gosto mesmo são aquelas bundudas (preferência nacional) que caem no meu copo de cerveja no fim de semana e dão aquele toque sutil de feromônio. Carne, pra que carne? Proteína aqui em casa (ou será que é delas?) é o que não falta.

Estão em todos os cômodos da casa. Eu achava que era só trânsitação, afinal de contas em volta é tudo mato, mas não. Agora começaram a fazer suas residências onde bem entendem e bem embaixo do meu nariz, ou melhor, bunda. Isto mesmo, fizeram um belo ninho embaixo do colchão aonde sonho com um mundo sem formigas no meu caminho todas as noites. E tava grande meu antenado leitor, minha empregada descendente de tamanduás é que achou. E também descobriu embaixo da TV na sala, nas tomadas, na dispensa, no estúdio (mas lá quem manda mesmo são as baratas), nas escovas de dente...

Já tentamos várias formas de combatê-las. A casa de material agrícola que vende estes inseticidas para formiga tem uma variedade incrível! Granulados, pó, gel, spray, pastilhas. Já usei de todos e todos paliativos e que já levaram uma boa fatia do nosso PIB doméstico. Aquele granulado então! Elas acham uma delícia! Veem todo o mês aqui em casa buscar é o “bolsa formiga”, isto é claro antes de levarem centenas de folhas do meu jardim.

Na verdade esta crônica é apenas um registro para o mundo todo ler, que se alguma coisa acontecer a minha integridade física ou a de meu filho ou minha consorte. Saibam que me sinto extremamente ameaçado por elas.

Se não voltar a escrever novamente.

Saibam que foram elas, foram elas!

Que praga!



Gilberto Granato é mirmecólogo