sábado, 25 de julho de 2009

Aqui

O relógio da igreja é generoso
Lembra as horas e faz o tempo passar sem pressa.
Podem passar cem anos sem andar pos estas ruas
Mesmo assim, alguém ira te reconhecer,
Mostrar uma foto, uma história, um sorriso.
Felicidade nata do mineiro.

A Professor Penido,
Que insistem tolamente em chamar de outro nome,
(Que me recuso a dizer qual)
È a avenida principal, mas o desavisado não se preocupe,
Ainda é possível sentar a sua fronte por muitos minutos
Sem que nada arranhe o seu piso.
Marcado de saudosos carnavais.

Com o tempo tudo vai ficando pequeno
A praça, as casas, as calçadas...
Você cresceu.
Ela também, pra lá do asfalto,
Bem devagarzinho
Com a ajuda das charretes que perambulam imponentes.

É Roça, mas é urbe.
É viola, mas é rock and roll.
È anônima, mas tem reputação.
Nos corações daqueles que foram alimentados por seu leite infindo.

Como é bom estar em Tocantins!


Gilberto Granato é tocantinense ausente.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Hobby

Dias atrás. Fim de um grande churrasco (pelo menos para mim). To eu, meu plexo anoretal dilatadíssimo e um grande amigo tentando conversar da vida, fim de churrasco é uma cena épica, cada conversa! A maioria agente esquece, outras caem igual relâmpago no dia posterior causando arrependimentos profundos e algumas ficam gravadas, apesar de toda a alquimia que o corpo passa.

O assunto era hobby, isto mesmo, palavrinha inglesa, pode ser passatempo, mania, como quiser, no dicionário é: passatempo favorito que serve de derivativo às ocupações habituais. Perfeito! Só faltou um complemento senhor dicionário, as ocupações habituais do homem! Pois, neste check-up da vida sobre o hobby a conclusão final, decretada por este amigo foi a óbvia: Mulhé não tem hobby. Até tem se você considerar, rezingar dos chinelos no canto da sala, de querer ir embora antes da saidera e de reclamar do hobby do marido obviamente.

Lembro-me de alguns dos meus hobbys, uns passageiros, outros eternos: playmobil, chaveiro, botões (jogo de botão), selos (ainda tenho uma bela coleção), revistas, adesivos, ouvir, comprar e fazer música, plantas, cachaça (os litros, por favor), futebol, escrever estas bobeiras e mais uma bando de mania que vem e passa, mas vem, já na mulher não, nem um surtozinho, um resfriado, um esboço de uma atividade que a faça curtir suas horas em sua companhia. O que acontece depois? Não tem área de escape, o avião começa a pousar fora da pista e aí junta com TPM, DPM, RPM e elas entram em ebulição, né não meu leitor do gênero masculino? E aí cabe a você usar o hobby da paciência (jogo ou estado de espírito).

Sem falar nos dias que... opa! Peraí só um minuto que a consorte tá chegando... To sentindo o perfurme, Nossa! E ela tá chegando perto! Mais perto. Que beleza! E tá usando um hobby vermelho, felpudo que maravilha! E tá meio desamarrado na cintura, Jesus!

Quer saber?

Esta crônica termina aqui.



Gilberto Granato

sábado, 18 de julho de 2009

AIL

Peraí!...

Peraí.... UhUUuuuuu......aaaaAArra!!! consegui! Aleluia! Ou seria diabos? Bem deixa pra lá. Finalmente consegui entrar neste blog anêmico, depois de muitas tentativas frustradas, pois nem aqui do céu, ou será inferno? Bem deixa pra lá, as coisas ficaram mais fáceis. Sem mais delongas, publico na íntegra, sem a autorização do proprietário deste canal de comunicação, este ofício que me foi enviado por Santo Onofre, ou foi aquele de rabo pontiagudo? Bem deixa pra lá. Ai vai uma cópia...

O Gerente Geral da república literária, no uso das atribuições que lhe foram delegadas através da Portaria nº 13, de 15/06/2009, publicada no DO de alguém, que não no meu, seção 2, fl. 24, pelo Diretor de Fiscalização da Agência Nacional de normatização das injúrias ao português - ANNIP, e tendo em vista o disposto no art. 65, III, §5º da Resolução Normativa - RN nº 81/2004, e no parágrafo único do art. 22, no art.15, inc. V c/c art. 25, vem dar ciência com pesar e lástima da fundação da AIL “Academia Insana de letras”.

Academia esta, composta por membros efetivos e perpétuos, eleitos através de voto secreto pela AMB (associação dos manicômios do Brasil). E que a partir de agora, estarão de bermudas e chinelos em frente a tela do computador sem pudor algum, cronificando e publicando suas obras semi-analfabetas para os mais excêntricos. Completamente alienados, sem juízo, com pontuação pífia, sem idéias, com tendências anarquistas inertes, improbilistas, de escritas crônico-degenerativas, com dificuldades de interpretação de textos e de procurarem um, ou melhor, uma analista púbere para resolver o problema (se é que há solução). Praticantes do cultivo hidropônico da língua portuguesa e da literatura concreta dos tira gostos de ontem de boteco. E que a partir desta fatídica data se libertarão das camisas de força, com a ajuda onipresente de Napoleão Bonaparte e do pica-pau (fase insana) e “coloquiarão” sobre múltiplos temas, sem tremas logicamente, pois a AIL, esta em concordata com maníacos de países de língua portuguesa e agüentará esta lingüiça toda de desacordos ortográficos.

O ministério da cultura, junto com a sua secretaria de sanidade mental, ainda adverte aos prováveis leitores desavisados deste mundo afora, sobre as conseqüências de serem lidas suas crônicas, os sintomas clássicos serão: perda de tempo e apetite, irritação sem motivo aparente, dor de cabeça de três dias, câimbras nas pálpebras, sonolência, astenia rara, cólicas reflexivas, crise de identidade, dificuldade em continuar o dia, tendências intelectualistas, vontade de beber durante a semana, azia poética, amnésia vitalícia, rugas profundas e acentuadas, dor na coluna e na parte posterior das coxas, amolecimento de dentes, isolamento, perda de peso, queda de cabelo... Bem, não é possível publicar o restante antes das vinte e duas horas aí da terra. O link dos membros fica no lado superior direito desta tela, você vai ler e constatar que eles parecem ser bonzinhos, trabalhadores, pais de família, praticantes de atividades esportivas, religiosos, amigos da natureza, contadores de estórinhas, aventureiros do bem, mas tenham muito cuidado senhores leitores. Eu, se fosse eu (ainda estou em dúvida) não confiaria neles não. É a advertência que faço, nada mais. Deste aqui que os conheceu bem de perto.


Citusa cabrunco silva.
(Andarilho Junkie que vagava pela Alberto Torres – Campos 1997)

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Bucólico

Bucólico é aquela palavra da nossa gramática, que quando agente é guri e não sabe o que é, acha elegante, madura, impressionista, aí sem querer você aprende mais ou menos o significado, ou toma vergonha e vai até o pai dos burros aprender. Depois é só ficar esperando aquele encontro com os amigos e arriscar ela no meio de uma frase de impacto, pronto, todo mundo vai ver que você cresceu, evoluiu, aviltou, não é mais um menino, pois já sabe o que é bucólico, é um homem formado! Mas eu tenho uma versão mais fresquinha do que é bucólico.

Cheguei de manhã no meu primeiro trabalho, para tentar melhorar a saúde das pessoas e continuar entortando a minha. Meu estabelecimento fica numa esquina, eu escolhi, me apaixonei por ela desde a primeira vez qua a vi, e por seus problemas também, onde posso ir além das quatro paredes, conversar com a vizinha que me dá uma maionese deliciosa na frente, discutir os problemas do bueiro com o do lado e definir de quem é o IPTU com a de trás. Dali ouço o carro de som que diz quem morreu, recebo um tchauzinho dos que caminham, sinto o chão tremer com os caminhões e seus excessos de peso... mas deixando os meus deslumbramentos de lado. O que me impressionou hoje foi o rosto preocupado de minha auxiliar, que ofegante e agitada contou-me a seguinte história.

Ao chegar mais cedo, enquanto ajeitava a “bagunça” (com eufemismo, por favor), que faço todo dia, ouviu uma batida forte na porta de vidro da frente, pensou ser o primeiro paciente chegando e continuou o processo de restauração, do consultório logicamente. Mais uma batida, mais uma, mais outra e cada vez mais forte! Foi até lá para identificar o propietário daquele estrondo. Algum transeunte enfurecido? Uma dor de dente aguda? Um louco? Em uma esquina tudo pode acontecer. Ela foi em direção a recepção e qual não foi sua surpresa ao ver um boi, segundo ela preto e branco, dando cabeçadas na porta tentando entrar. Isto mesmo, repito, um mamífero, artiodáctilo e ruminante bem na minha porta, sabe-se lá como. Diz que tinha até um muntuado de gente lá na outra esquina só de olho na cena, éh, virou atração a minha esquina. Mas um copinho de água afugentou o bichano, que voltou para sei lá aonde e as coisas voltaram mais ou menos ao normal, entende?

Não?

São coisas de eqüinas meu caro leitor!
Coisas de esquinas.
Bucólico não?



Gilberto Granato, adora uma picanha bem gordurosa.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O exterminador de livros

Eu já sabia que ia dar nisto. To lendo meu jornal, o que é de costume nos finais de semana e começo a ler uma matéria, que diz que a partir de agosto, no começo do ano letivo nos Estados Unidos, os alunos da Califórnia vão substituir os livros nas mochilas por equipamentos eletrônicos. E de onde saiu a fagulha desta combustão toda? Mister Arnold Schwarzenegger é a resposta (que se você tirar um “w” um “e” ou um “g” do nome não faz falta não, pelo menos para nós brasileiros). Foi aí que caiu a ficha. Naquele filme “o exterminador do futuro” tenho certeza de que vi em uma cena daquelas, colocarem um “microchip” (que hoje já deve ter outro nome) na sua carcaça e porisso já a um tempo, o “miss universo” age sob o comando do partido republicano americano, afinal como é que pode um brutamontes de sunguinha virar governador de um estado, se fosse no Brasil eu até entenderia, pois tem muita gente só de sunga por aí, com muito mais vontade política que senhores de gravata, mas esse negócio de “microchip” também deve ter contaminado muita gente por lá, tipo esta gripe suína, que anda proliferando pelo mundo. E fizeram a turma do tio Sam esquecerem as diferenças entre Brasil e Bolívia, vide o senhor Arnold.

Mas olha só, logo aqui em baixo. Tem a foto de um adolescente cheio de espinhas, dizendo que carrega mais de 30 livros no seu i-phone (que juro não sei aonde fica) e ainda diz que tem a vantagem de poder lêr no ônibus indo para a escola. A tá! Quer dizer que a partir de hoje os nossos jovens vão chegar em casa pedindo: smartphones, e-readers, e-books, e-meudeusdocéu o que que é isto! Para a partir de agora começarem a ler na frente de um computadorzinho, dentro de um ônibus lotado e chocalhando? Esta história meu sábio leitor não está colando comigo não. E estou preocupado com esta evolução toda e a nossa relação com as próximas gerações, pois o máximo que creio que vou atingir nesta cadeia evolutiva neste século, será este meu blog (e um gravadorzinho de mão que ainda quero). Agora deixar de comprar aquele livro, com capa, arte, prefácio, dedicatória, posfácio, marcador etc... E abandonar a leitura na cama ao lado da consorte, na rede olhando para a caranã, no sofá nas segundas em meio aos comentários de futebol, de tê-los ali na estante a uma garra dos que estão e virão, para ficar na frente do computador, não acho que seja um bom exemplo, o computador é muito atraente e útil, mas isola e tem muita besteira pra desviar a atenção.

Já estou até imaginando meu filho saindo de casa e o pai preocupado perguntando:

- Aonde vai meu filho?
- To indo ler um livro de Machado de Assis até chegar na casa de minha namorada!



Gilberto Granato
(gostou mesmo foi de "Conan o bárbaro", na televisão logicamente).

sexta-feira, 10 de julho de 2009

De madrugada

O telefone toca:

- Alô... alô!
- Luís?
- Sim, Luís.
- Luís Fernando?
- Isto, quem é?
- Você pode falar comigo?
- Quem é?
- Tem alguém aí com você?
- Quem é? Vou desligar!
- È Patrícia, lembra?
- Que Patrícia?
- Patrícia sua namorada, me desculpe, sua ex-namorada de faculdade, lembra?
- Lembro, algum problema?
- Não, não, eu só queria falar com você.
- Mas precisa ser agora, são três e meia da manhã?
- Eu sei me desculpe novamente, mas hoje cheguei cansada desta vida, abri uma garrafa de vinho e comecei a rever as fotos da época em que estudávamos juntos e não me contive, desde as onze horas estou pensando em ligar para você e agora tomei coragem, converse comigo, por favor!
- Tá, só um minuto que vou para a outra linha.
- Você está acompanhado?
- Claro! Sou casado há quinze anos e tenho três filhos, não é uma boa companhia?
- É... é sim.
(...)
- Pronto pode falar.
- Luís, não vou ficar enrolando, vou direto ao assunto.
- Tá bom, é melhor assim.
- Pois bem, estou chegando aos quarenta, tenho minha independência financeira, já rodei o mundo inteiro, coloquei silicone nos peitos, faço academia todo o dia, ioga, dança do ventre... e cheguei a conclusão que você Luís é o homem da minha vida, e não importa com quem você esteja, o que você faça, onde você more, eu quero ser sua e viver o resto da minha vida ao seu lado agora!
- Mas, mas que história é essa, isto é trote não é?
- Não é, e eu estou louca para te ver, achei o seu blog na intenet e vi que moramos no mesmo estado ainda, amanhã pegarei o carro e irei para aí, passar cada segundo ao lado de você, sentindo seu cheiro, tocando sua pele...
- Tá doida?
- Estou, por você, quero ser sua Luís e de mais ninguém, finalmente descobri o amor da minha vida, e é você meu amor.
- Mas eu sou casado, amanhã trabalho e ...
- Não importa me encontre, por favor, por alguns minutos apenas e se depois você achar melhor ir, tudo bem vou entender, mas me de uma chance de ouvir o que tenho a dizer.
- Bem, não sei... é... aí meu deus!
- Por favor, Luís!
- Tá tudo bem, mas tem que ser na hora do almoço, Ai!
- O que foi?
- Meu bigode prendeu no teclado do telefone.
- Mas você ainda tem bigode?
- tenho.
- Desde a época da faculdade?
- Sim, por quê?
- Quer saber Luís, mudei de idéia, pode ir dormir que vou tomar mais uma taça de vinho e olhar mais algumas fotos, sabe como é né, uma decisão dessas para a vida toda, tem que ser bem pensada, boa noite!
- Epa! Pera aí...
- pi, pi, pi, pi, pi, pi, piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii...



Gilberto Granato

terça-feira, 7 de julho de 2009

Ela

Agora sim, já me sinto mais a vontade em poder sentar e escrever sobre este assunto tão evitado por calvinistas e puritanos, mas que atormentou os meus pensamentos, ou seriam aposentos? Durante os últimos dias. Tudo isto, pois “ela”, assim carinhosamente chamada por mim, também chamada de plexo venoso anoretal pelos mais experimentados. E que me são de grande valia nesta vida, resolveram armar uma verdadeira revolução (que antes era apenas uns pedidos de greve) e me fizeram desabafar até com a empregada que ao ouvir a minha ladainha foreviana, achou melhor ficar em silêncio e cuidar do seu feijão.

Sempre achei que após os primeiros sinais controlaria bem a situação, com um pouquinho de sombra e água quente após os dias de estripulias, mas comecei a ver que o negócio era sério quando cheguei ao ponto de pedir a consorte, para ir a farmácia comprar algum calmante para a danada. (Hoje me arrependo deste ato). Se eu chegar até o final do tubo (coisa que acho que vai acontecer) vou até a drugstore mais próxima e encherei o peito para pedir tal insumo. Éh! Perdi a vergonha, que é uma condição psicológica que os fabricantes de medicamentos para tal finalidade, também não tem. Com certeza quem fabrica, é porque um dia já se trombicou também, conhece o troço a fundo, e bota fundo nisso, e porisso faz questão de colocar em letras gigantes e garrafais na embalagem, qual a finalidade do tratamento, de maneira que possa ser lida por idosos míopes a 100 metros de distância ou pelo seu sobrinho que está começando a ler no jardim, pois começo a achar, que quem tem este treco também tem problema nas vistas.

E aquela ponta extra que vem junto? Éh! Aquele bico tipo "tubo de maionese" que encaixa na rosca para ser inserido lá no.... no... no... lá mesmo onde você está pensando, ao ver aquilo me senti extremamente ultrajado, desmoralizado, afrontado, vê se pode usar um negócio daqueles? Por precaução, ele fica bem guardadinho, no fundinho da caixa, atrás da bula, lá embaixo da pia, que é para o caso de uma crise aguda eu não ter uma recaída, sabe cúmo é né, na hora do aperto, ou melhor, desleixo, a cabeça fica meio voada.

Por isto, a primeira coisa que se tem que fazer meu preocupado leitor, para assumir tal relação, ou melhor, dilatação, se um dia você sofrer deste infortúnio. É saber que você está diante de um amor pragmático: Pragma (do grego, "prática", "negócio") seria uma forma de amor que prioriza o lado prático das coisas. O indivíduo avalia todas as possíveis implicações antes de embarcar num romance. Se o namoro aparente tiver futuro, ele investe. Foi isto que fiz investi. Tanto que venho procurando opiniões em todas as esferas sociais, para aumentar meu conhecimento. Na última em pleno um churrasco de fim de semana, um amigo da onça, ou melhor, do proctologista, sugeriu que eu aproveitasse tal situação para fazer o “dois em um”, Dois em um? Indaguei sem saber. Sim, disse ele. Aproveite o ensejo para fazer a cirurgia e automaticamente faça o exame da próstata! Éh! Seria bem prático e até econômico, o que agradou a consorte, mas estou mesmo, é esperando chegar aos quarenta , assim como um bom homem de Neandertal, ou seria anoretal?

Desabafar faz um bem danado.

Mas continuo achando que o problema são as estripolias!

Preciso de mais cabelos brancos

Urgente.



Gilberto Granato

sábado, 4 de julho de 2009

Na praça

Estou procurando a barraca de pastéis. Tà uma trânsito de castelenses desordenado neste epicentro, onde já funcionou uma estação ferroviária, provavelmente muito mais calma que isto. Onde é que é a porção de tilápia? Me vê uma cerveja? Aqui é a barraca de doces meu filho bebidas é a do lado. Onde é que tem aquela porção de quibe, queijo e polenta? Quanto custa? Ta aí no papel não tá vendo não!...

Finalmente encontro a barraquinha de pastéis e lá estão duas senhoras* se esforçando ao máximo para atender a fúria gastronômica do povo nesta premiere de fim de semana.

- Me vê um pastel de queijo, por favor?
- Pastel de queijo?
- isto mesmo
(...)
- Você quer pastel de que mesmo?
- de queijo.
- A tá, este é de carne. Faz um de queijo aí!
(...)
- Você quer pastel de que mesmo?
- de queijo.
- A tá, este é de carne. Faz um de queijo aí pro moço!
(...)
- Você quer pastel de que mesmo?
- de queijo. (cheguei a pensar em ficar com o de carne)
- A tá, este é de carne (acho que a maioria deste povo comeu de carne). O de queijo anda!
(...)
- Tá aqui o de queijo!
- Obrigado senhora.
- Desculpa a demora tá meu filho! (sorriso)

* Bem velinhas, com a pele bem enrugadinha, o corpo franzino, já curvando para os pés, sorrisos acolhedores, movimentos lentos, cabelos brancos, crucifixos no peito, Suas gerações anteriores provavelmente atravessaram o atlântico na marra, quem sabe os bantos da África centro-ocidental, que talvez chegaram em salvador e depois vieram descendo após várias insurreições, aí veio a assinatura da filha do barbas brancas Dom Pedro II, então tudo ficou mais ou menos fácil, muito chão até chegar aqui no sul do estado para trabalhar nos cafezais dos imigrantes, foram ficando e agora estão ali fazendo trabalho voluntário para arrecadar fundos para instituições sociais da cidade, como se nada tivesse acontecido há 509 anos atrás.

Fatos intrínsecos da história meu jovem leitor:

Todo mundo envelhece nesta vida, fica mais sábio em algum grau e depois vai perdendo a memória.
Ás vezes uma outra opção acelera a sua vida nem que ela não seja do seu gosto.
Esperar é foda, mas é saber viver.



Gilberto Granato, é branco, mas tem origens negras.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Ecos

Já era noite e o peregrino Xavier lavava o rosto aos frangalhos, afinal de contas tinha acabado de chegar da Espanha, de onde havia feito o “caminho francês” do caminho de Santiago de Compostela. Foram dias árduos de trilhas e dificuldades, pois simplista como de habitual, possuía apenas uma mochila e “um par de dentes” para carregar, como gostava de dizer a todos que se aproximassem por mais de dez minutos.

Estava de volta ao Brasil depois de sete anos. Morava às margens do rio sava em Zagrebe, Croácia. Trabalhava em uma fábrica de processamento de metais, mas cansou do regime conservador e rotineiro e começou a dar aulas particulares de português e espanhol, para os excêntricos da cidade. Mas o que importava em sua vida, era que agora ele estava ali, de volta àquela cama de cabeceira de madeira cheia de detalhes da sua infância, ao café amargo feito na hora de fim de tarde e ao jardim de helicônias de sua Mãe. Tudo o que queria era dias de descanso e paz para suprimir as saudades que o tempo reservou.

Após um longo bate papo com seu tio Augusto sobre a vida pueril e a nova mania de esconder colheres de seu avô, pediu licença e resolveu se recolher, pois as pernas já tremiam só de ficar sentado ouvindo aquelas belas histórias. Agora sim, lavava o rosto em frente ao espelho e ria ao ver que sua expressão andrógina, lembrava o quadro “o grito” de Edvard Munch. Escovou os dentes, sentou-se ao lado da cama, orou e antes de terminar sua reza, já começava a cochilar, o que o levou para a cama tão aguardada rapidamente. Mas mal ele sabia que horas depois coisas estranhas começariam a atormentar sua desprovida alma cansada.

Um ruído, uivo, murmúrio deu o ar da graça e lentamente começou a zunir em seus ouvidos, Xavier acordou assustado, chegou a pensar que poderia ser algum problema com a longa viagem de avião, mas não. Tinha certeza que vinha de dentro da casa, sentou-se, e com a respiração ofegante, com medo de averiguar o rumor, que a cada minuto se tornava mais ensurdecedor, mais forte e mais forte, era como se fosse um “ô” longo, foi até a porta do quarto abriu uma pequena fresta e o ecos de ôô, ôô entraram, e agora eram mais nítidos, assombrosos, assustadores, um leve impulso de coragem emergiu de seu ímpeto e começou a engatinhar até o corredor, foi quando percebeu que o barulho infernal vinha da sala e agora não parava mais... ôôôô... ôô, ôô! Teve que parar por uma fração de segundos, para respirar fundo e tentar amenizar a tremedeira que vinha das pernas enfastiadas, para avançar até a sala e encarar seja lá o que fosse aquilo. Correu e entrou instintivamente aos gritos...

Foi quando se deparou com o televisor ligado aos pulos e o estádio beira rio vazio, com as suas luzes apagadas e um monte de corintianos espremidos nas arquibancadas vermelhas gritando: ô...! O coringão voltou ôô,ôô! o coringão voltou, o coringão voltou, ô...




Gilberto Granato, é corinthiano e é campeão da copa do Brasil 2009