terça-feira, 15 de junho de 2010

A navegadora

Os astronautas dizem que lá de cima, o que se vê é mar. Tenho profunda admiração pelos que desafiam esta longa extensão de água salgada, que sabiamente resolvemos dividir em oceanos pra não virar bagunça. Quando digo desafio, não falo de pegar jacaré na beira do mar em época de ressaca, ou andar de banana depois de muitas cervejas no verão, mas de cruzá-lo em grandes distâncias e de preferência sozinho, alone, refletindo. Amyr Klink fez isto. De várias maneiras, começou de Santos a Paraty, depois veio da África em um “caiaque melhorado”, deu volta na Antártida, no mundo, só lhe restando ser astronauta para procurar águas nunca dantes navegadas.

Mas o que me trouxe até aqui foi a californiana Abby Sunderland de dezesseis anos. Que tava ali sem foto, no final do caderno de economia. Onde a notícia dizia que havia sumido em meio ao oceano índico, em uma região muito perigosa, sujeita a todos os tipos de fenômenos naturais. Tudo porque ela queria dar uma volta ao mundo, feito já realizado pelo seu irmão mais velho. Logo pensei, que o pior devia ter acontecido. Fiquei triste pela menina, é difícil uma notícia do final do caderno de economia sensibilizar-me, apesar da intenção dos que escrevem ser propriamente esta. Mas me abati, pensei no Amyr Klink e até nas minhas emblemáticas travessias a nado pelas águas traiçoeiras do rio negro. A jovem heroína que não tinha foto no jornal, acabara de encerrar sua doce vida precocemente. No dia seguinte veio a surpresa. Na penúltima página do fim do caderno de economia. Tinham a encontrado através dos seus instrumentos de navegação, lá pelas ilhas reunião, me surpreendi com a notícia, mas o que mais me deixou atônito, foi a foto que o jornalista do final do caderno de economia colocou, a de Abby, com seus cabelos loiros queimados de sol, suas bochechas rosadas e um olhar de menina que transparecia tudo, menos uma garota que tivesse coragem de dar uma volta ao mundo. Que agora irá comemorar a “meio-saga” com os pais e amigos e quem sabe um “meio-livro” ou manuscrito, para quem sabe, depois de convencer muito os pais, fazer uma outra investida ao horizonte.

Agora sei, que continuarei tendo profunda admiração pelos que atravessam oceanos sozinhos, por aqueles que tentam e não conseguem, e é claro, pelos jornalistas que colocam as fotos coloridas para uma crônica no final do caderno de economia.


Gilberto Granato.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Os inventores mais uma vez

Vira e mexe tenho que me render a eles: Os inventores. Esta classe não humana de humanos, que queira ou não queira interfere nos rumos do planeta, ou de preferência nos rumos das tarefas domésticas. Fico intrigado de onde vem tanta sabedoria. Se vem do ômega três, das palavras cruzadas ou do mais provável: da genética mesmo. Tudo bem, que não está incluso no DNA dos gênios a herança genética física de Adão, assim como na classe dos locutores de rádio, mas é um problema que em breve vão inventar algo para solucioná-lo. Mas o que me trouxe até aqui, foram as três invenções que me tiraram o fôlego esta semana.

Veja bem o leite. Lembra que ele era colocado nos potes na porta de casa, depois passou para saquinhos, depois saquinhos com alça e finalmente chegaram as caixinhas? Pois é. Até pouco tempo tinha que pegar a tesoura, ou o primeiro instrumento cortante da cozinha e serrar um dos lados para obter o seu líquido não é? O que pela manhã é incômodo e se perde um tempo precioso dizem os mais stressados. Não é que estes dias apareceu um aqui em casa com abridor! Maior revolução. Só que era de inventor não-gênio. Esta classe que bebe demais aos domingos e que é pouco acostumada ao brilhantismo. Pois na hora da primeira jorrada no copo, o leite pulava fora, ia direto pra outro lugar que não o copo, a maior confusão. Deve ter arruinado casamentos, complicado a vida dos fazedores de milk shake, causado a demissão de empregas e o escambau. Pensei em voltar pra tesoura ou o primeiro instrumento cortante borrado de manteiga de dentro da pia, mas foi ai que apareceu o gênio. Que com certeza, tava só esperando a hora pra dar o bote, ou melhor, o dote. Este ser de intelecto de primeira grandeza e de talento criativo fora do comum, que usa meias de cores diferentes, mas não falha na hora da grande invenção. E lá veio o leite de caixinha com o abridor de rosca, que é só dar umas voltinhas (e as vezes dar um empurrãozinho com o dedo é bem verdade) e que nos garantirá um futuro cheio de leite.

Agora mais fenomenal que isto, foi a invenção dos mascotes de futebol. Meu filho ganhou da titia, um do nosso time. Na primeira partida na TV, quando tudo parecia difícil, com o scratch adversário jogando melhor, resolvi colocar o ser prosopopéico em cima do aparelho. E o que deu meu leitor? Gol oras bolas. E dois, que era pra não deixar sombra de dúvidas que a invenção era boa. Fui testar em mais um jogo, afinal de contas, poderia ser coisa da sorte. Mais um jogo e fora de casa. O time adversário querendo a vitória a todo custo, tava difícil, fui lá busquei o brinquedo prodígio e ? Gol claro. Não quis constrager um amigo que torcia para o time adversário e evitei usá-lo novamente, só que o amigo sedento por vitória impulsionou o seu time a virar o jogo para dois a um. A é! Era o último minuto, torcida cantando, o amigo já contava vitória, já pensava nas entrevistas nos vestiários, no programa esportivo da segunda, na tirada de sarro, até que me enchi de razão e acionei o pequeno mosqueteiro novamente. E o que deu? Uma bola perigosa na pequena área, e logo após o gol de cabeça do zagueiro, que nunca tinha feito no último minuto. Só alegria. Só tô preocupado pois o gênio inventor não disse na embalagem, por quanto tempo dura a genialidade de nosso amuleto alvi-negro. Via das dúvidas vou guardar prum jogo mais importante.

Já a terceira invenção tem uma semana que to tentando lembrar. Mas não lembro nadinha.

Sabe como é.

Qi baixo!


Giberto Granato, toma leite puro.

domingo, 6 de junho de 2010

Kibe

Stanislaw chegava de sua hora de almoço. Porém muito tarde. O que lhe rendia o incomodo de seus companheiros de trabalho:

- Cacete stanislaw! Onde você estava?
- Fui almoçar ué!
- Mais almoçar como? Já passam das três!
- Almoçar ué! Não pode não?
- Mas companheiro, o nosso horário de almoço é até as uma.
- Mais hoje fui até as três.
- Mas como assim?
- Até as três porra! Não se pode mais comer um quibe em paz?
- Comer o quê?
- Um quibe.
- Pera aí. Se levou mais de três horas pra comer um quibe?
- Mais qual é o problema nisto?
- Quibe se come rápido Stanislaw!
- A é? Então porque no Oriente Médio ele é um bolo de carne moída, temperada com ervas, que pode ser cru, cozido ou frito. E é um prato muito popular e considerado o prato nacional no Líbano, Síria e Iraque, e também comum no norte da África, na Turquia, na península arábica e em parte do Cáucaso, como na Armênia, e o escambau!
- Sei lá poxa!
- é porque é importante meu amigo. Se não, não estava ali na esquina, e na outra, e lá no fim da rua de mantenópolis.
- Aonde?
- Deixa pra lá. Quibe é universal meu amigo. Todo mundo come. Eu, você, o cara lá de mantenópolis.
- De onde?
- Não importa caçarolas! O que importa é que todo mundo entende, quando não se vai ao trabalho porque se comeu um quibe.
- Stanilislaw! Não quero te chatear não, mas nesta fábrica todo mundo é demito por qualquer coisa: consorte doente, reunião de escola, enchente...
- Não importa. Quibe todo mundo entende. O formato, o tamanho, e os ingredientes é claro, que variam muito nos diferentes tipos de quibes. Mas no Iraque existe um tipo de quibe onde a massa (crosta) é feita de arroz, chamado de Kubbat Halab. Também no Iraque, outro tipo de quibe é feito com a massa de carne e trigo, no formato arrendodado e chato, chamado de Kubbat Mosul. Finalmente existe um tipo de quibe assírio/iraquiano, onde o quibe é misturado e depois cozido com tomates e temperos, e que...
- Stanislaw!
- O quê?
- O chefe tá te chamando.
- È pra já!
(stanislaw abre a porta decido, convecido e calmo de que tudo estava sobre controle. O chefe diz: Você está demitido! Stanislaw fica sem reação, os segundos passam, a porta bate, stanislaw está no olho da rua.)
- Stanislaw estava enganado e não come mais quibe.
- Fim



Gilberto Granato, gosta de coxinha.