domingo, 30 de maio de 2010

Into the wild

Já devo ter contado sobre aquela história da época de escolar, em que eu matava as aulas de educação artística, junto com um francês de Nancy e um futuro roqueiro capixaba, só pra subir o morro atrás da escola, na esperança de que lá do alto avistássemos uma mulher mais velha nua. Não? É porque nunca aconteceu. Assim como esta crônica meu leitor. Você está lendo, mas na verdade não está, haja vista que nada aconteceu. Na verdade aconteceu sim, e um montão de treco: um “belo” vazamento de petróleo nas terras do tio Sam, nosso presidente querendo assumir a braçadeira de capitão do globo (crise do Irã) e também teve aquele senhor negro, de chapéu e apito rosa na boca, bem bêbado é bem verdade, com um caderninho na mão fingindo que multava a todos que passavam num dos muitos sinaleiros, que este interior jamais imaginou que viria acontecer, aconteceu.

Mas tinha a obrigação ética de escrever. Afinal, tinha prometido para mim mesmo e para o São Fransisco sem nariz que fica lá na churrasqueira (que não falha), que não passaria um mês sem escrever no mínimo quatro textos, o que daria uma média de um por semana. Que é o mínimo que um escritor fajuto, cheio de chavões, falhas na pontuação e que leva cinco minutos para chegar ao trabalho, pode fazer pra continuar mantendo os grandes escritores grandes. Já tive uma boa fase. Foi-se a época, em que este blog (não gosto desta palavra, mas foi inevitável) vivia sua fase áurea. Bons tempos aquele em que era a página inicial deste computador. Agora fica perdido, acanhado, de cabeça baixa, no máximo figurando na barra dos mais procurados, bem ali, entre o site do banco e um esquisito e pitoresco “baixaki”. Não ter assunto, pode ser porque não moro no Acre, ou talvez não tenha casado sete vezes como Vinícius de Moraes, ou talvez por não ter nascido em Itaparica como o João Ubaldo, ou não ter a careca e a elegância do Veríssimo, ou quem sabe só porque por preguiça não tenha ido beber da mesma fonte que o Rubem Braga, que fica bem pertinho daqui. O bom de não ter nada pra escrever e de ter o compromisso de escrever, é que é tudo rápido, não passa do segundo parágrafo, se não já é sacanagem com o leitor. E faz com que alguém finalmente possa chegar até o fim, pois se texto grande fosse bom, no jornal teria a sessão de contos, ao invés de crônicas.

Então fica assim. Com este título em inglês, meio miami, meio copacabana, de um belo filme que vi neste fim de semana. Que é bem propício pra quem precisa sair da rotina e subir uma montanha por aí. Assim como aqueles meus amigos da escola, que mais tarde tiveram que ser resgatados pelo diretor e pelo corpo de bombeiros, devido a grande chuva que caiu.



Gilberto Granato, assistiu a into the wild (na natureza selvagem-2007) só porque o Eddie Vedder fazia a trilha sonora e porque o Sean Penn era o roteirista e diretor, e se deu bem.

domingo, 16 de maio de 2010

Tyrone

Fui. Eu, o pequeno Otto e meu joelho inchado. Fomos à banca de revistas, que atualmente é parada obrigatória; Do carro já se ouve o grito “backaia”, que traduzindo seria “backyardigans”. São cinco bichinhos coloridos cantantes e dançantes, que despertaram a empatia do meu filho. Uma parada no banco, outra para ver o au-au (que mais pra frente entenderá que é o cavalo) e champignon. Isto mesmo meu leitor, domingo com champignons para sair da rotina.

Cogumelo comestível, pertencente à família das agaricáceas, que no século passado tiveram uma richa muito grande com a família dos poaceae (milho em conserva) e com as do Arecaceae (palmitos) e dali pra frente nunca mais se falaram e ocuparam o mesmo lugar no prato. A crise se deu, pois o filho mais velho da família cogumelo, clã nobre, esnobe, meio metido a besta, que detinham muitas posses, andava se engraçando pra cima das filhas do Seu palmito e do Senhor milho verde, trabalhadores natos, humildes, que não tinham filhos homens e prezavam pela castidade de suas filhas, que passavam o dia inteiro a produzir conserva para encher latas e vidros vazios. Que resumindo, seguiu-se uma disputa infinda pelas terras do strogonnof alheio (região que fica entre a terça e a quinta-feira), que se perpetua de geração em geração. Mas bem, voltemos ao champignon. Que no fim da história perderam muitas terras pros concorrentes, fazendo com que o preço do alqueire chegasse as alturas! Depois de uma revista, outra dos “backaia’s” e o jornal, me sobraram poucos tostões, voltar em casa? Nem pensar o joelho sujeito muito ranzinza, poderia achar ruim. Entrar em uma mercearia contra a vontade do joelho, e sob o risco de meu filho atacar a sessão de uvas e não ter o suficiente para o pagamento, seria bem constrangedor. A solução foi procurar moedas embaixo dos tapetes, das poltronas e dentro de compartimentos nunca dantes explorados dentro do carro. Por fim, a muito custo, consegui juntar seis reais e trinta centavos, o que me encheu de coragem para uma investida. Pensei, que apesar de toda análise antropológica da família champignon e da super valorização de suas terras, se um vidrinho de seu produto custasse mais do que eu tinha conseguido nas escavações arqueológicas no automóvel, o mundo estaria acabando. Isto mesmo meu leitor, o mundo estaria perdido! Seria inadmissível um bando de metidinho a besta meio amarelado, custarem mais do que aqueles meus reais. Entrei na mercearia, firme, decidido, diligente, de longe avistei o Seu Zé extrato de tomate e sua família numerosa, opa! Deveriam estar por perto, quando já estava quase pedindo ajuda, avistei uns potinhos pequenutos, que abrigavam os dito cujos, não é possível que não levarei um negocinho daqueles pra casa? Olhei o preço e... e... O mundo esta salvo! Sim salvo. Pode acordar amanhã e curtir a vida a doidado, pois a não ser que falte água ou todo mundo resolva pular ao mesmo tempo lá na China, ainda compraremos jornal e comeremos cogumelos no domingo.

Nem que seja cortando bem fininho pra render mais.


Gilberto Granato

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Plantão (mais um anjo nasceu)

Fui. Eu a consorte e minha dor de joelho. Direto pro hospital. A idéia era o parto do meu segundo filho, o joelho ficaria pra uma próxima... Segunda vez meu leitor, é diferente da primeira. Além dos algarismos a sensação é toda diferente. Na primeira vez o frio na barriga vem porque você não sabe o que te espera, na segunda o frio na barriga vem porque você já sabe o que te espera, entendeu? É difícil mensurar qual é o frio mais próximo de zero, ainda mais neste outono com pitadas de inverno.

No segundo os nove meses passam mais rápido. Você já esta fagocitado pelas estripulias do primeiro. Um segundo vira dois. O que me leva a pensar que nossos avós viram a vida passar rapidamente. A vida é lenta para os pequenos. Um giz de cera vira dois. Pera aí, vamos ao parto. Dilata 3,4, 5, a consorte não sente dor não, impressionante, parto é coisa pra mulher, tenho certeza absoluta disto agora. Opa! A médica estorou a bolsa, doeu? Nada. Vai pra outra salinha. É pra esperar 20 minutos, me chamam em dez (não falei que os segundos ficam alterados). Aí vem aquele frio da barriga do primeiro parágrafo, ainda não sei qual é o pior, ou seria melhor? Bem depois a gente vê... Agora dilatou bem, a turma do parto já é conhecida, o papo vai as pampas... de acupuntura a filmes da faroeste, Opa! A médica grita, tá chegando a hora, vamos lá, respira, respira.... vai, vai...força! Ótimo, muito bom.... respira, respira.... vai, vai.... Tá quase! E mais uma... Não tem aquele negócio que aprendemos desde a infância: Um, dois, três e já! Pois é, tem sentido. É no três que as coisas funcionam, assim como no primeiro parto. E lá veio o meu Tom, com a carinha toda amassadinha, de parto normal, humanizado, às 12:33 desta sexta, pesando 4 quilos e cento e sessenta gramas, medindo 52 centímetros. Menos cabeludo, mais chorão. Veio se juntar a nós. Agora já tá tudo mais fácil meu filho. É só seguir mais ou menos o que seu irmão já anda fazendo, ir ecologicamente reaproveitando tudo, respeitá-lo, afinal ele já anda cavando uns buracos na areia antes de você. E trilhar o seu belo caminho nesta vida. Meninos donos do mundo, Homens de caráter, tenho certeza que serão. Papai já não teme mais os segundos do tempo e os primeiros parágrafos e daqui pra frente só sentirá frio na barriga nos jogos decisivos do Corinthians.

Tom, do futibolês: O “t” toca a bola pro “m” e o “m” devolve pro “t”, assim sem erro de passe, pois o mundo e a letra "o" que são uma bola estão em seu nome. vitória certa depois do apito final!

Papai e Mamãe te ama.



Gilberto Granato, é pós-graduado em paternidade.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Pé de curry

Já vistes meu leitor? Certamente não. A não ser que seja você um leitor asiático, meio Indiano-tailandês, que ao fazer uma pesquisa nada convencional na grande rede, tenha batido e se esborrachado todo neste desértico blog. E ao abrir a página inicial tenha ficado eufórico, e mais que depressa ido chamar os pais e as tias, para traduzir alguma coisa do português que começa aprender, pois no fim do ano tem carna e tá tudo programado para conhecer uma nega chamada Teresa. Mas deixa-me explicar pro leitor verde e amarelo. É uma erva singular, suas sementes são raras. Por serem extremamente leves e minúsculas são difíceis de ver e manusear, portanto o pé de curry, se não desenvolvido em laboratório ultra-moderno, pode esquecer, porisso o jeito mais popular da sua germinação é... auléu, isso mesmo, em qualquer lugar, de preferência nos menos prováveis, tipo entre um degrau e outro da escada, sob o abrigo das rochas, ou nas barbas de algum profeta. É coisa de Deus hindu. Também não adianta cuidar, se não morre, tem que esperar uns seis meses fazendo de conta que não é com ele, aí sim, brota algumas folhas lanceoladas, no máximo oito, que são removidas com cuidado, para que a bainha fique inteiramente presa ao limbo e mantenha todas as suas propriedades intactas. Depois é só deixar secar por um mês entre folhas de neem, para que todo cloroplasto desapareça. Pronto! Tá vendo, antes de reclamar de comer aquele arroz todo amarronzado, pense nisto.

(agora com o meu leitor oriental). Aqui no Brasil fique sabendo que somos muito brincalhões, brincamos com tudo: com o dinheiro, com a torcida adversária, com a mulher dos outros, de pique pega, com a desgraça alheia e como você mesmo sabe, foi só uma brincadeira, já que o curry é um condimento feito à base de várias especiarias. Na verdade, isto tudo foi só pra te informar, pois nós Brasileiros também somos muito prestativos, e prestamos prumonte de coisas, que não prestam pra gente. Que ao fim do carnaval, e todo carnaval tem o seu, e gringo que é gringo, pula ele descalço. Os pezinhos pouco acostumados vão ficar bem maltrados, achacados, estrupiados mesmo, portanto vou dando logo a dica que é pra você voltar pra casa como se nada tivesse acontecido: procure uma pédecurry, sacou? Pédicuri? E fica tudo uma beleza.

Vai treinando o português!

Namastê.