segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Caganeira de criança

De longe se sente o cheiro
Cítrico, meio azedo, fruto do seu herdeiro.
O berço coitado, vira uma fábrica de chocolate
E o coração de pai, bate, bate...

De lá se tira com cuidado
Para que o balançar não derrame mais o caldo
Corre-se até a pia, lava, ensaboa e enxuga.
Que a sinfonia de um doído choro aprofundará a ruga.
Você agora é o operário da máquina de montagem
Do setor que coloca fraldas sem contagem
Devagarzinho o quarto vai ficando vazio
Foram todos tomar banho de tanque e pegar sol na varanda.
Só porque meu filho um esfíncter não comanda

O dia passa e é hora do neném dormir.
Os pais estão enfadados, a de convir.
Até que novamente chegue a hora de abrir
A porta, lembranças de um souvenir.
E de longe sentir o cheiro
Igualzinho ao primeiro, do seu herdeiro.
O berço mais uma vez em chocolate
E o coração de pai que só, bate, bate...



Gilberto Granato

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Enficentro

Não sei se já existia, ou se só comecei a notar de uns tempos pra cá. Primeiro observei na fala dos formadores de opinião dos telejornais na TV, mais tarde vi que as celebridades começaram a aderir ao termo e dia destes me surpreendi com a minha cunhada proferindo a dita-cuja. E se chegou à boca da minha cunhada, pode crer meu leitor, virou epidemia, moda, é falado em todos os quadrantes, pode observar, tem cunhada não? Então assista aos debates de futebol, preste atenção no mestre de obra tentando explicar um acabamento complicado, nas tentativas de explicação dos fenômenos da natureza. Enfim, a palavra “enfim” é a bola da vez da língua portuguesa.

Pelo meu entendimento, ela é usada, toda vez que alguém está explicando alguma coisa e quando por insuficiência de adjetivos, blecaute cerebral, preguiça ou já se dar por satisfeita com a falança, solta este cartucho pra ficar entendido que não precisa falar mais nada, que já tá tudo bem explicadinho, que logo depois do “enfim”, vai só retificar o que está dizendo e pronto! Já é hora de fazer outra pergunta, de mudar de conversa ou de ir embora. Até aí tudo bem. Nada contra o termo que é muito bem empregado, substitui o finalmente, por último, em suma, muito bem. O problema é que quando a palavra se populariza muito ela pode tomar outros rumos...

O aluno chega em casa com o boletim todo vermelho, a Mãe ao perguntar o porque de tanta decepção, ouve apenas a seguinte resposta: Mãe! Não deu mãe, não deu, enfim, não deu! A mãe atônica, não diz mais nada, pois aprendeu que depois que o “enfim” aparece na frase, não vem mais nada, é o fim, o silêncio, a recuperação, é o desfecho da conversa e só resta a ela procurar uma professora particular, ou um psicólogo urgentemente. O maridão chegando do trabalho. Todo mundo chega do trabalho, até aí tudo bem, mas já são duas da manhã, e de uma terça-feira e o time dele não joga na segunda divisão o que dizer? Veja bem o que acontece: Meu amor, sai tarde do trabalho, no caminho tive um probleminha (os diminutivos ficam para uma outro análise) no carro, depois no celular... enfim meu amor, deu tudo errado! Neste momento faz cara de fatigado e corre pro banheiro para apagar as pistas, ou melhor, tomar banho sem chances pra consorte. Tá vendo? É o “enfim” encerrando qualquer hipótese de discussão, argumentação, ou explicação. Veja este outro caso. A bonita moça analisa o pedido de casamento, o pretendente está ansioso por uma resposta, é quando ela educadamente tenta falar de todas suas qualidades, e já com as bochechas rosadas pelo desconforto da situação profere um “enfim”, e o que vem depois do enfim? enfim, um pé na bunda.

Se esta moda não passar. Será necessário colocar um centro de informação em cada escola, em cada cidade, em cada esquina, só para orientar as pessoas sobre o emprego do enfim. Chamar-se-á “Enficentro”. E é através dele que as pessoas aprenderão a analisar se o “enfim” é verdadeiro, ou falso, se o enfim é um advérbio justo ou apenas uma engabelação, se ele é proposital, ou espontâneo, enfim, não vai dar certo. Terá mesmo é que inventarem um GPS com um decifrador de “enfim” aí sim, com ou sem enfim, poderemos viver despreocupados destas ameaças, que tomam conta de vez em quando de nossas línguas malcriadas.



Gilberto Granato

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Avatar

Abri os olhos e derrepente Pandora. Não me pergunte como, só sei que estava lá. Eu, um homem do povo do céu, agora com o corpinho todo azul, nariz brilhando a noite e aquele rabo desengonçado (não sabia que ter rabo dava tanto trabalho). Andei um pouco pela terra de Eywa e prontamente um Na’vi me recepcionou. E foi uma recepção calorosa meu leitor. Depois que Jakebully deixou de ser humano e arrumou aquela pirotecnia toda, agora reina soberano no local, tá tudo uma beleza, de primeiro mundo. Neytiri sua esposa, insistiu em me treinar pra ser um guerreiro. De tanta contumácia me rendi ao negócio, eu queria férias, mas fazer o que. Aprendi a usar o rabicho de cabelo corretamente, a montar aquele dragão brabo, a caçar com respeito, a andar por aquelas raízes e a sentir a natureza no meu coração. Por fim, me levou para uma mata isolada e disse que eu era um azulão bonito, que me amava e tal... que jake não sei o que, que a relação tinha caído muito... pulei fora meu leitor, não queria confusão, apesar daquele seios quase a mostra e aquela bundinha azul esbelta. Disse que tinha uma consorte. Depois dessa o clima ficou pesadão, me emputeci de vez, quis ir embora de qualquer jeito, caçamba! Lembrei que era carnaval oras bolas. Quiseram me dar regalias, vantagens, me ofereceram o valioso Unobtainium para que discretamente guardasse na tanguinha, mas recusei. Chega! Pandora não tem cerveja, assim não dá! Tô fora, tchau pra vocês, vide cruz! Uxelelê...

Bom Carnaval!

Ufa!


Arawãkanto’i Tapirapé
(Avatar, maior bilheteria da história do cinema)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A interjeição no futebol

O torcedor sem saber fala todas as interjeições gramaticais, veja só:

- Qual? (não reconhecendo o nome do zagueiro do seu time na escalação)
- Oba! (início de jogo)
- Silêncio! (a mulher chega interrompendo no primeiro minuto)
- Ai! (derrama cerveja no tapete)
- Diabos! (32 minutos de jogo e o time dele não chutou uma bola ao gol)
- Que pena! (a linda jogada termina nas mãos do goleiro)
- Uh! (o chute passa “tirando tinta da trave”)
- Eia! (Dá umas porradas na televisão, pra empurrar o time)
- Putz! (gol do adversário)
- Ai! (mais um gol 5 minutos depois)
- Oxalá! (Olha pro céus e pede ajuda)
- Fora! (mais um passe errado do lateral esquerdo)
- Hã-hã! (é o que responde toda vez que a esposa fala alguma coisa*)
- Xi! (o atacante do time é expulso)
- Alô! (Diz aos berros, quando o telefone toca no meio de um dos raros ataques do seu time)
- Boa! (enfiada de bola do craque)
- Ufa! (finalmente termina o primeiro tempo com o seu time perdendo e levando uma pressão absurda)
- Aleluia! (sai o primeiro gol do seu time de pênalti que não foi)
- Avante! (seu time começa a reagir)
- Epa! (é falta é o juiz não marca)
- Olha lá! (o cabeça de área tá avançando muito)
- Vixe! (mais um gol do adversário)
- Hum! (está pensando)
- Basta! (desliga a televisão)
- Caramba! (Poe a culpa da derrota na esposa)

*> Vai querer jantar? Você já ligou pra marcar o exame de coração? Que mancha preta é essa na camisa? Você já viu o cupim que tá dando no armário da Letícia? Tá sabendo da Clotilde do 305? Amor, queria conversar sobre ontem! Tô indo na padaria qué bolo de fubá?......



Gilberto Granato, ué!
(interjeição: é a palavra que expressa estados emotivos)

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Segura um pouco

A corajosa prefeitura do rio tomou a dianteira. E foi no combate aos pequenos empresários fabricantes de uréia. Diz que no próximo carnaval, o folião que for pego com a boca na botija, ou melhor, a mão na válvula de escape na rua, será preso. A prefeitura alega que é falta de educação do cidadão, mas não disse nada a respeito de melhorar o ensino nas escolas. Já o bloco da continência urinária e o do “mamãe eu quero” que fica de fraudas e de chupeta durante o carnaval, estão aliviados com a notícia. A pena será de 6 meses a 2 anos, talvez, penso eu, dependendo do grau de odor do amoníaco liberado. E lá, atrás das grades, o infrator porcalhão aprenderá na marra a encontrar o alvo apropriado, com a ajuda de seus amigos de cela, sob o risco de ficar sem o “folião” para outros carnavais.

Além disto. Tal medida causará um grande impacto social que não foi pensado pelos nossos gestores: Com a nova lei terá que ter um “juizado de maiores”, para receber os homens e mulheres de bem, que terão suas esposas e maridos encarcerados, e é claro uma equipe multidisciplinar de recreadores, para distrair os filhos chorosos, que perderem seus pais para a necessidade fisiológica incontida. A faixa de areia da praia ficará menor. Afinal lá na água do mar, não tem como ter o flagrante, a não ser que o cidadão entre de óculos escuros no mar, pois quem entra de óculos escuros no mar é porque foi fazer xixi logicamente. Com isto o nível da água tende a subir e com menos areia da praia é mais gente na rua, e mais chance de um frondoso caule de árvore receber uma adubação desproporcional. A lei não fala nada sobre fazer nas calças. O que já é uma alternativa para ser pensada pelo carnavalesco que enfia o pé na jaca, o problema de tal ação será logicamente as assaduras e a incompatibilidade afetiva.

Não sei não, mas desde que o homem é homem, ele adquiriu este instinto de alternar os seus locais para aliviar a bexiga, a mensagem está dentro das nossas células. Ele pode variar pouco, como por exemplo, optar entre urinar na água da privada ou nas suas paredes laterais, dependendo da ocasião acústica. Veja os cães como se comportam, é através da urina que se comunicam, outros para não virarem presa usam a mesma para se defenderem, já outros jogam na torcida adversária para despertarem a ira alheia. Na verdade meu leitor, o fato é que o homem ainda não sabe o que fazer com sua urina, tem medo dela, não se aprofundou na sua utilidade, não aprendeu como reutilizá-la, ainda não é capaz de fornecer um destino adequado para os cidadãos, que leigos, fazem por aí, assim como eu. E ficamos assim...

Na esperança de que a ciência encontre um banheiro adequado.

Mesmo que seja vendo o sol quadrado.


Gilberto Granato, há muito tempo não faz um exame de urina.