quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Gente fina

Você sabe o que é ser gente fina? Pode ser aquela pessoa, magra, delgada, tísica, de cambiches finos e músculos poucos desenvolvidos, que pode passar na basculante da casa na falta da chave, que não disputa com você o braço da poltrona do avião (avião, pois é mais rápido e a maioria dos meus unitários leitores já andaram), que se adapta facilmente a um fila, no enquadramento da fotografia, ou leva fama por estar com o bolso cheio.

Já foi nome de novela, pode ser nome de bar, ou até de SPA. SPA não! Pode assustar os seus freqüentadores é intimidador demais. Mais para mim ela é apenas uma expressão, que ao meu ver, foi criada em uma sexta-feira em alguma esquina carioca, por algum cidadão que ao pedir a saideira, recebeu duas, sendo uma por conta da casa e disse: Esse cara é gente fina! Os gente finas só dizem sim, concordam com tudo, não julgam, no máximo dão a sua opinião, dormem bem no chão ou na rede, tanto faz a comida um pouco fria, não trapaceiam, não furam sinal, gostam de pagode e de rock, sorriem o tempo todo. São assim pelo menos em público. Mas é uma categoria em extinção, pois não é fácil se manter gente fina o tempo todo neste mundo hidrogenado do jeito que está.

Mas tem um cara que eu sei que é gente fina. Talvez vocês até o conheçam. Sempre que tomo meu banho e em seguida coloco as calças para ir ao meu primeiro trabalho. O dono que fabrica uma das calças, coloca um botão a mais perto do fechecler, futrica um pouco a cintura quando estou sem camisa, é bem verdade, mas pelo meu entendimento, é para no caso do sumiço do principal, tem ali o reserva prontinho, igualzinho, bem condicionado só esperando para atuar. Olha que beleza! Não é preciso nem ir a rua procurar um mais ou menos parecido, ele já esta ali sem você ter pedido nada.

Este dono de calça é gente fina!

Ainda tomo a saideira com ele.

Faço questão de pagar.



Gilberto Granato

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Depois do strogonoff... Filantropia!

O telefone toca. Estou com a escova de dentes na boca, após um belo strogonoff de frango de terça.

- Alô?
- Alô! Poderia falar com o dono da casa?
- Alô? (a escova me atrapalhou)
- Alô!!! Meu nome é Adriana. Tenho um convite especial para o dono ou a dona da casa.
- Alô? (Saquei que era ser humano não identificado. Dei de bobo)
- Alô! Meu nome é Adriana. Tenho um convite especial para o dono ou a dona da casa.
- Desliguei o telefone.
(Nunca fiz isto. Algo está mudando em mim)


Gilberto Granato

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Dia D

Tomei uma decisão irrevogável, assim como aquele abstruso senador de bigode. Pois dizem por aí, que quem avisa amigo é! Então tomei uma dura irrevogação: vou abandoná-la de vez! Sim, de uma vez por todas, vou até colocar no “twitter” (assim que eu descobrir aonde fica) pra todo mundo saber. Mas não se preocupe meu irretocável leitor, não falo da consorte, falo da internet mesmo, tô achando que ela isola demais os seres humanos e compromete por demais os senadores de bigode. Veja só esta história que me veio, mas que deve acontecer em algum lar que tenha um eletrodoméstico destes e três filhos. O pai chega em casa do ganha-pão, com fome e cansado de dar duro pra fazer e criar a filharada, Cumprimenta o filho mais velho, que em resposta emite um som indecifrável sem tirar os olhos da tela. O outro mais novo faz o mesmo, só que muito mais abreviado, pois está de olho na hora em que o irmão vai sair pra tomar água e dar o bote na telona. E a filha? Tá na casa da amiga. Fazendo o que? No disgramado. Diz que é para estudar. Mas tem dois “amigos de turma” no meio (frase com amizade tem sempre duplo sentido). Trágico não?

A luz para a minha irrevogabilidade, veio hoje pela manhã ao ver um programa matinal. Meus olhos encheram de esperança ao assistir a turma dos “Amigos de aluguel”, ou se quiser sofisticar o troço apenas “personal friends”. Pelo que eu entendi é o seguinte: Você contrata um da turma e ele vai ao seu encontro, só vale local público (é irrevogável!), você decide quantas horas vai ficar com seu novo “amigo” e paga por hora, para ele ser o seu grande camarada. E não é barato não! Ter um amigo destes custa dinheiro. Vai que você vicia no amigo? Tira dinheiro da poupança, vende a cadeira da varanda, a vaga no senado pra bancar o amigo? Pega emprestado com outro amigo não muito amigo, ou chega ao fundo do poço e pede para o amigo ser seu amigo de verdade e não cobrar mais nada! Aí acaba a amizade.

Mesmo assim, continuo irrevogável. Quero um amigo só pra abandonar este microprocessador individual, que insiste em me afastar da convivência e a comprometer as Vossas excelências. Na hora que me vier alguma idéia frouxa para mais uma crônica, eu prontamente ligo pro amigo... mas pera aí? É melhor amiga. Aqui é interior, pode pegar mal esse negócio de sair com nego do mesmo sexo que ninguém conhece... Mas vem cá? Se for uma mulhé, vão achar que eu tô querendo pular a cerca elétrica (antiga cerca). Tá difícil ter um amigo de aluguel. Todo mundo acha que sempre tem algo por traz de uma amizade (Só confirmando que frase com amigo tem sempre duplo sentido).

Quer saber? Deixa pra lá. O senador de bigode mostrou que este negócio de irrevogável não vale nada, tá fora de moda, que quem manda é o presidente. Posso voltar atrás da minha decisão. Só não esqueçam de falar com o Aurélio que já pode mudar o seu significado no dicionário.

Bom eram os tempos em que...

O dito era feito.

E Amigos eram amigos e os negócios eram à parte!


Gilberto Granato, conhece a onça, mas não é amigo dela.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Bucólico 2

Continuando o meu tratado de pureza. Fiquei a pensar o que poderia ser mais bucólico, do que bucólico: Uma constelação, um campo florido ou o senado federal dia de sexta. Foi aí que venho complementar o real significado desta palavra.

Como vocês devem se lembram do caso do boi. Recentemente alguns imigrantes das ilhas Guernsey, na Grã-bretanha começaram a tomar conta do quintal, lá daquela esquina aonde pratico minha principal atividade, vieram em um grupo de quatro, isto mesmo, quatro garnizés, que ficam a ciscar e a piar o dia todo. Tem um bonito de penacho tricolor e que deve ser o chefe da trupe, pois sempre que me aproximo ele levanta a crista a minha afronta, tem a fêmea que já deve estar preparando um ovo, a filha mais nova que deve estar doida por um quintal mais agitado e o mais novo que ainda não sabe de nada, presa fácil, não sei o que eles comem ali, mas vou levar uma canjica para fortalecer os laços.

E o gato? É, todo peludo, cinza, da cara grande, ficava na calçada, agora está na porta do meu estabelecimento, embaixo do cróton ou em cima do tapete de entrada. E que ultimamente tem dado boas demonstrações que o seu próximo passo e fazer uma visita mais íntima, para amolar as unhas nos sofás.

E o Pit bull? Ele mesmo. À noite (muito educadamente) para evitar alardes, sai da casa do vizinho e pula um belo muro para brincar no meu quintal, sendo que o quintal deles é umas três vezes maior que o meu, o que me intriga bastante. Como eu sei disto? Já arrancou as telhas em cima do muro e sempre deixa o número dois lá ao relento.

A arca já está pronta!

Noé cadê você?



Gilberto Granato, não tem medo de dilúvio.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

La salvación

Minha vida em São Gabriel da Cachoeira. Rio Içana. Lembrei. Boa lembrança. Eu, um médico, uma gaita e uma cabeça de capivara em decomposição, subindo a mata ainda virgem de uma política de saúde séria no alto rio negro. Estava muito bem equipado: com uma cartela de paracetamol faltando um comprimido e alguns buticões de duas décadas atrás. Era movido pela empolgação típica da inexperiência e pela vontade de fazer o bem. Trinta dias de suor e pium massacrando. No regresso o óbvio. A demanda voraz foi centena de vezes maior que a medicina do branco, que a minha vontade, que o meu tirocínio. Quiseram me enforcar. Este médico matuto me salvou. Foi me dado alguns rounds a mais. Teve até homenagem no final. Agora estou aqui.

Já a cabeça de capivara não.
Não agüentou a soda cáustica!


Gilberto Granato
(citando “morfeu” de médico de selva)

sábado, 15 de agosto de 2009

107

- Por favor, queira se identificar.
- Meu nome e Vinícius Amora. Vou ficar no apartamento de Cláudio Amora meu irmão por uns dias. (Cláudio não usava o apartamento há mais de dois anos, era jogador de futebol, hoje meia direita reserva do Galatasaray da Turquia)
- Jóia! O senhor Cláudio deixou avisado, a vaga de garagem é a 107.
(Vinícius entrou com o sua Pick up ford novinha, novinha)
- Putz! Não dá pra entrar é apertado demais!
(Vai até o porteiro, pede para interfonar para o 106 encostar melhor o carro)
- Ninguém atende não. Vou lá ajudar o senhor.
- Pode vir... mais pra cá... não, não pra cá!
- Pode ir mais?
- Mais um pouco... um pouco... tá bom!
- Dá pra passar aí do lado?
- Desfaz tudo, desfaz tudo!
- Tá bom?
- É...? Tá.
(vínícius antes de subir faz um bilhete cortês e deixa no para brisa do automóvel 106 e vai dormir)
(...)

È de manhã e ao chegar na vaga, encontra a dona do 106 em vestes de praia escrevendo no verso do bilhete deixado e colocando-o de volta ao para brisa de seu Ford.
- Bom dia!
- Opa! Que susto. Bom dia, eu só estava...
- Não, não tudo bem é que o carro é meio grande e fica difícil entrar nestas garagens de prédios.
- Você é novo morador?
- Não, só ficarei uns dias resolvendo assuntos familiares, por sinal sabe onde fica a corretora Henry?
- Sei sim, fica no final da praia, quer uma ajuda?
- Nossa, seria ótimo!
- Então vamos... no seu ou no meu?
- Você é quem sabe.
- Então vamos no seu.
(neste momento a senhora do 106 desamarra a canga, mostrando seu biquíni preto, bem moldado em sua pele morena acostumada ao sol e coloca um desses vestidos de praia elegantes mais apropriado para um passeio)
- Nossa tem até cheiro de novo seu ford?
- É, tá novinho.
- É 4 por 4?
- Acho que é.
- Nossa deve ser o máximo sair por aí neste carrão! Você quer jantar lá em casa hoje a noite?
- É que...
- Vou fazer uma comida especial, para um vizinho especial como você.
- Ó-ótimo, a que horas?
- As nove. Pode me deixar aqui. A corretora é logo ali em frente. Até mais tarde!
- até...
(...)

Vinícius chega às nove em ponto. Toca a campainha. A mulher do 106 abre a porta, ele olha direto para seu vestido, longo preto e transparente, onde era possível ver a marca de sol do biquíni por baixo, desencontrando com a marca da lingerie muito menor que o habitual.
- Vamos entrar?
- Va-vamos!
(o telefone de Vinícius toca)
- Ai meu Deus quem será a esta hora. Alô?
(A mulher observa atentamente a conversa)
- Tá ok, pode ser a número 32, é janela? É parador ou vai direto? Ótimo, obrigado.
- Você é tão engraçado, chamar avião de parador é uma...
- Não, não, é ônibus mesmo, tenho passagem marcada para daqui dois dias.
- Mas porque não vai no seu ford?
- Ele não é meu, aluguei na rodoviária tava com preços promocionais.
- Nossa que bom! Você tem o telefone desta empresa?
- Tenho claro, tá lá no carro.
- Será que não seria pedir muito você pegar pra mim, por favor, tenho uma amiga que iria adorar saber disto.
- Claro! Já volto.
(Vinicius voltou como uma flecha, tocou a campainha sete vezes e ninguém atendeu)



Gilberto Granato

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Trouxa

Tô só observando este confronto celestial de Globo e Record durante a semana inteira. Fiquei a ver atentamente o embate dos dois jornais, chego ao sexto round, ou melhor, na sexta-feira e nenhuma das duas me convence, prefiro a TV senado que é mais honesta. Onde passei algumas tardes lá no primeiro trabalho só admirando, ali é tudo bem digno, o dízimo é obrigatório é bem verdade, mas só é enganado quem quer, a cada discurso inflamado, dá pra diferenciar certinho o joio do trigo, os que chegam na segunda dos da terça, os sem peruca dos com, pois é, tem um monte de vossa excelência de peruca, que acha que ninguém sabe que estão, trouxas, só eles é que não sabem, dá pra ver certinho é óbvio demais, diferentemente dos que compram terrenos no céu ou que arquivam representações no Érebo.

Ainda tenho dúvidas se Elvis morreu, se Armstrong pisou na lua, se a Brahma é a melhor cerveja, se o Corinthians remonta o time ainda este ano, se “se” é realmente um pronome indefinido, “estou com o pé atrás da porta” como diria os lusitanos, ninguém me pulha mais, não tem mais esse negócio de palhacinho de macdonalds, louro José e miss universo, meu detector de conversa fiada tá afinadíssimo. Cansei de telefonistas de telemarketing de banco que nem sei, ou de instituições filantrópicas que qual nem sei. Não me venham com churumelas já dizia seu madruga, chega de conversa fiada, de demagogo e 171, chega de saudade já diria João Gilberto, chega de caixas de morango com os morangos maiores em cima, de peroá do tamanho de lambari, de segunda-feira, de pão de sal tipo isopor, de estrada com buraco, abacaxi azedo, estas porras de “FW:” de internet e mais um bando de troço...

Vou dormir.


Arawãkanto’i Tapirapé.

sábado, 8 de agosto de 2009

O compositor, a cantora e o casal de cineastas

Sábado. Após a passagem do sol pela linha do equador, é hora de assumir o meu papel de homem nesta casa, ou seja, assumir o controle remoto da televisão. É meu e ninguém tasca. Vou ver a reprise (durante a semana fica difícil compete com o futebol etc...) de uma tríade de programas que gosto muito lá no 66.

No primeiro um compositor de samba pra lá de sexagenário, conta como é compor. Ele sabe tudo, todas as formas, com arranjo ou sem, com melodia ou não, de uma vez só, aos pouquinhos, encomendada, em parceria, de saco cheio, na fossa, cheio do trago ... Hoje faz apenas do jeito que acha melhor e pronto. Ele pode.

Depois vem o programa com a cantora, já gordona, pra lá de meia zero também, relembrando o seu disco clássico percussor do samba jazz de mil novecentos e sessenta e pouco, antológico ela diz, me convenceu, conta todas as histórias de maneira muito persuasiva, convence o entrevistador também, quem vê aquela gordura toda numa feira de domingo, não imagina o que a mulhé já fez, só figurão falando bem, deve ser um discão! Um dia ainda ouço. Hoje só faz disco se for com o arranjador fulano é o único que entende sua voz, é o melhor do Brasil segundo ela. Ela pode.

Mais uma propaganda e entra o terceiro com o casal. Ele diretor e ela produtora de cinema, os dois a um passo da metade de cento e vinte, contando as intimidades do casal, filhos, sexo e os afins do trabalho. Muito bom esse programa, quem é casado tem que ver, ali nada é belo, mas tudo funciona como tem que ser, terapia gratuita, vale a mensalidade da tv por assinatura. Ele conta todos os cacarecos de chegar até ali com a mulher que conheceu virgem aos vinte. Ela já se entendeu, sabe das diferenças nos cromossomos e tal e que o seu negócio mesmo é a literatura. Muita honestidade. Só agora é que estão pensando em fazer um filme juntos. Eles podem.

Já eu? Só há dois anos passei pelo cabo das tormentas meu navegante leitor, sobrevivi à infância de quedas e a adolescência de merdas. A vida só começa a ter sabor depois dos trinta, nem um dia, nem um segundo antes, você só começa a querer poder alguma coisa só depois da metade de sessenta. Estou apenas começando, tenham paciência seres humanos com a quarta parte de duzentos e quarenta, tenham paciência!

Sabe quando se sabe que um filme chegou ao final?
Quando o diretor grita:
- Fecha a janela!
E alguém responde
- Fecha você.
(do diretor a dois passos de trinta mais trinta)



Gilberto Granato.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Emprego dos sinais

Vou fazer uma crônica instantânea. A melhor de todas, vai parar em algum concurso, to pressentindo, no mínimo menção honrosa, olha só como vai ser o negócio.

Vou começar com um diálogo, sem me estender muito (ninguém lê texto grande, só amigo), no máximo uns oito travessões (se bem que diálogo prende o leitor), depois entro em um texto dissertativo, coloco umas vírgulas pra respirar e no final um ponto, não, não, melhor um ponto-e-vírgula, pra continuar a discrição logo em seguida. Aí no segundo parágrafo, deposito alguns exemplos de internet, depois dos dois pontos logicamente e talvez um ponto de interrogação para deixar um suspense. Suspense que nada! Quero mesmo é exaltar a minha idéia, vai ter três exclamações! Isto mesmo, quem manda na minha escrita sou eu carambolas!!! Descrevo mais algum ocorrido há anos, insiro meu comentário entre parênteses e coloco outro dentro (vai ficar ótimo), mas pera aí? Acho que vou precisar de um colchete? Sem problemas tem aqui de sobra no teclado do lado do enter. Mais um parágrafo pequeno (cuidado tá ficando grande) e coloco aquela palavra cheia de trocadilho, tipo as que o Agamenon faz no jornal aos domingos, e vai ficar entre aspas pra dar um tchan. E no gran finale, na cobertura da minha crônica campeã, reticências meu vocativo leitor, reticências... pra ficar infinito, ecoar nos pensamentos, sabe? tipo oito deitado.

Que beleza!

Agora só preciso de um assunto.


Gilberto Granato

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Chantagem

Há mais de vinte dias, aqui no cantinho inferior direito desta tela, o antivírus (que não é o Tamiflu) deste computador vem incessantemente mostrando um quadrinho multicolorido, que agora chegou ao nível vermelho, ou seja, “alerta máximo”. Diz que minha licença de uso expirou, que não irá mais me proteger, que meu PC pode ficar com vírus, ou seja, que a camisinha tá furada e tenta de qualquer forma me deixar preocupado. Confesso que cheguei a conversar com a consorte sobre o assunto, mas ela pelo que me pareceu, também não se deixou levar pelas manobras alarmantes deste tal de antivírus intrigador que nem sei quem é.

Tive a curiosidade de clicar e fazer o tal de “Upgrade de proteção melhorada”. E qual não foi minha surpresa ao ver que agora, eles querem me cobrar para me blindar deste mundo promíscuo de internet, logo eu, que não me incluo em grupo de risco algum, fico só aqui no blog e no máximo vou ali em outra homepage de boa reputação. Pelo jeito agora, quem vê site não vê coração,ou melhor, intenção meu prevenido leitor. Mas o que me deixa mais indignado é que no início esta tal de software de segurança, me deu de graça e não avisou nada que ia me cobrar no futuro. E agora estou aqui me sentindo ludibriado, quase preocupado, igual a imigrante nordestino no tempo do ciclo da borracha, ou como se uma cigana tivesse lido a minha mão e agora estivesse me rogando praga para eu liberar um cascalho, pra mais um dente de ouro em sua boca.

Afinal, fui procurar alguma destas "protetoras" que não cobram nada, tem um monte por aí, uma baixaria só, de quinta, é só escolher uma dentre as milhares e vai saber quem tá limpinha mesmo, uni dunite e... Optei por esta, achei o nome bonito, íntimo, atraente, aí aparecem aquelas janelas, para eu ter certeza se quero fazer isto mesmo, que pode danificar meu “compintador” e mais um monte de pergunta difícil... Meu Deus nunca peguei gonorréia, em quem confiar? Agora tô igual criança perdida em rodoviária. Vai nesta mesmo que tem nome de família e pronto. Agora é só ficar esperando aquela porcentagem chegar ao final e terminar com este suspense barato de uma vez, mas peraí... eu conheço esse nome. Num é que eu to baixando a mesma antivirulenta de uma figa da minha primeira vez.

Agora to me sentindo igual a mulhé de bandido.

Me engana que eu gosto!


Gilberto Granato é portador do vírus da Herpes.

sábado, 1 de agosto de 2009

Enolíngua

Mirla acabara de ser aceita pelo departamento de relações internacionais em Brasília, jovem, independente, sem filhos, com a vida toda pela frente, foi a Mendoza conhecer sobre vinhos e aproveitar os últimos dias de folga, no retorno, ligou para Sávio, que acabara de começar um novo negócio que não sabia qual ainda, tinha uma loja de calçados em um shoping da cidade, com sua ex-sócia e ex-mulher, que agora namorava um ex-advogado de pequenas causas, maduro, uma filha, com a vida quase toda pela frente, foi ao encontro de sua recém amada Mirla em um bistrô da cidade.

- Olá meu amor!
- Oi!
- Como vai o negócio?
- Tem alguns acertos ainda para fazer.
- Vamos tomar um vinho?
- Pode ser.
- Maitre! Aquele Malbec por favor!
- Mas não íamos tomar vinho?
- É um tipo deles amor!..
(o Maitre traz a primeira garrafa, serve os dois, Sávio toma tudo, Mirla manda voltar, pois segundo ela o sabor estava muito plano, sem corpo, chato.)
- Experimente este senhora, sugestão da casa.
- Hum! Ecorpado! Pode servir.
- Uma delícia este né amor, é longo, veja o sabor permanece na boca.
- Â-rrâ.
(...)
- Maitre! Agora vamos tentar um branco
- (o Maitre fica encucado, traz duas taças).
- Não sei... deixa eu ver... acidez agressiva... muito ácido málico! Vamos tentar algo francês, mais duas taças, por favor!
- Nossa amor que delícia este, harmônico, um pouco tânico é bem verdade, mas perfeito não acha?
- É.
(...)
- Amor! acho que já estou ficando de pilequinho, vamos tentar mais um e ir lá pra casa, vou te mostrar as fotos da viagem e fazer uma massagem relaxante oriental ótima que aprendi no hotel.
- Claro, chef a saídeira!.
- Meu amor não fala assim! È Maitre.
(as taças derradeiras chegam)
- Nossa! Despedida perfeita. Aveludado, com retrogosto veja só amor, o gosto se manifesta de trás para frente na boca, o que você acha?
- Herbáceo.
- O que meu amor?
- Herbáceo.
- Onde você aprendeu isto?
- Não sei, acho que vi na televisão, não é herbáceo que fala?
- Nossa amor como você aprende rápido?
- É, vou ao banheiro.
- Ao Toilet amor! Vou ficar com saudades hein!
- Sávio nunca mais voltou.
(O Maitre diz que o viu pedir uma cerveja e sair a pé)



Gilberto Granato