sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O risco

Escrevo sobre o risco. Não estes que meu filho vem fazendo nas paredes e nos sofás, que os fazem sentir-se um herói, ou aquele município espanhol da província de Badajoz, que provavelmente nunca conhecerei e não conheceria se não fosse o google.; Muito menos do famoso risco país, que mensura com a régua dos outros, se o Brasil é bom ou ruim, para uma economia externa (sem duplo sentido, por favor). Talvez seja o de uma nova presidente ou denta, que me lembra alguma tia que não vejo a muito tempo, menos um presidente do Brasil, poderia ser o risco de enchente, que fim de ano enche de lama as casas dos que moram nas várzeas deste Brazilzão, e o máximo que o gestor faz é entregar panfletos pedindo para salvarem suas vidas e que deixem suas fotos de infância e suas geladeiras (com prestações a pagar) abandonadas (sem mencionarem para jogarem o papel no lixo depois), tem aquele de colar alguma coisa com super-bonder e não dar certo, o da gema pocar na clara, de decepção do esquizofrênico ao beliscar o azulejo, de acreditar no horóscopo, de andar de voadeira pelo rio negro em tempos de rio seco, de chegar tarde a banca e só restar o último jornal esmigalhado, que nem seria vendido e que só foi, pois você conhecia o jornaleiro, de o Corinthians tropeçar na reta final deste campeonato e perder o caneco (logo agora que eu já vinha abandonando o futebol para ver o humor negro do Doctor House), o risco de mais uma reforma da língua portuguesa e risco virar “riscô”, pra poder diferenciar dos outros riscos e não confundir os Chineses, que estudam português pra melhorarem as traduções das instruções dos produtos que aqui chegam a toda hora, deste blog expirar por falta de uso, de meu único seguidor abandonar-me, daquela moça que faz comentários em inglês e que provoca ciúmes na consorte desaparecer totalmente. Daquele casal, que todo dia depois do trabalho ficam juntinhos em frente ao computador, antes do adormecer, para lerem estas crônicas. E que só depois de lê-las por mais de uma vez, aí sim, repousam em suas camas, cingidos, ordeiros e felizes esperando o próximo dia, e é claro aos riscos que todo o novo dia lhes oferece.




Gilberto Granato, anda com as pernas e sem tempo.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Um estranho no ninho

Não é sobre Jack Nicholson. Mais sobre a mania que tenho de me arriscar em eventos culturais, que encontro nos rodapés do carderno 2. Desta vez fui ver a uma amostra de curtas-metragens feitos por adolescentes do interior, do interior do Estado. Eles e eu. Provavelmente o único sem boné e espinhas no rosto naquele recinto. A meninada gritando pelo título de seus filmes e o restante vaiando, quem estava de pé é porque já tinha sentado por um minuto e vice-versa. É impressionante a vitalidade do jovem, diferente da minha que já não se acomoda bem em cadeiras de plástico. Não vai dar pra mim não, vou embora. Mas como? Enxotar-me dos gritos estéricos dos jovens clamando por vitória, por prudência, para que sejam atendidos, vistos e ouvidos. Permanecerei firme sentado do lado desta menina de “Maria Chiquinha” no cabelo, visivelmente desconfortada por estar ao lado de alguém menos jovial. Esperarei pela revolução, assim como na década de sessenta, onde os jovens em Paris, Nova York, Praga, no Brasil clamavam por liberdade, preocupados com a política, com os ditadores, com os cacetetes, indignados com as imposições, vaiando e gritando nos festivais, fazendo a revolução sexual, igualzinho ao que eu estava presenciando ali, a mesma euforia, os primeiros acordes dos Beatles, o cheiro de tinta fresca. O tempo passa. A sala vai ficando vazia, me encho de coragem, já posso abrir as pernas, o banco do meu lado já está vazio, vejo até o último. A juventude já se foi. Ficaram todos na década de sessenta. Restaram os chicletes embaixo das cadeiras.






Gilberto Granato

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Céus

Estive de folga por uns dias. Isto mesmo meu leitor, descanso. Interrupção do trabalho, recreio, desafogo da alma. A medida provisória dos que querem sossego, ou agito, dependendo da intenção do folgado. Escolhi como destino o nordeste do Brasil, pois definitivamente não há lugar mais propício para um folgado e para as obras do PAC do governo Federal do que o nordeste. E é lá que se encontra uma das maiores invenções dos seres humanos: a tapioca. Esta iguaria típica Brasileira, de origem tupi-guarani feita da fécula da mandioca, que só não será o tema desta crônica, pois me convenci de que o avião foi uma invenção muito mais intrigante e de extrema importância para os folgados e para a humanidade em geral.


O que seria do mundo sem o avião? Tragédias teriam sido evitadas como os atentados do 11 de setembro nos Estados Unidos, teríamos nossos deputados e senadores residindo permanentemente em Brasília e pedindo salários mais altos pelo infortúnio, um desaquecimento considerável das finanças das empresas produtoras de barras de cereais e cia. Não se saberia também que o céu almejado por todos, não é nas nuvens e que continua uma incógnita, que dia sem sol é apenas uma mera questão de posicionamento na atmosfera. Sem o avião ficaria difícil para os grandes eventos do planeta acontecerem, ou melhor, todos aconteceriam em Greenwich no Reino Unido, no meridiano zero, pra não ter confusão. A não ser os EUA que alegariam através de cálculos, que o meridiano zero na verdade passaria em Miami, Não teríamos notícias do Acre (se é que temos) e o Amapá ainda não teria sido descoberto. As divas da música e de Hollywood dificilmente desembarcariam por aqui no porto de Santos para o carnaval. Não existiria o aeroporto Santos Dumont no Rio de janeiro e não teriam criançinhas deslumbradas dando tchau para os aviões. A tapioca ainda seria coisa apenas dos índios, que nus ainda poderiam se refugiar no meio das florestas. Sem o perigo de serem descobertos mesmo que sem querer pelos céus.

Sem o avião não teria a tapioca.




Gilberto Granato

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Horário reservado ao programa eleitoral gratuito 10

Olá (E)leitor!

Ouça-me primeiro não me delete. Dê um control-a e procure na seção “meus documentos” que você verá todo a minha história. O partido escolheu meu nome por unanimidade devido a minha popularidade e é claro, aos meus 300 giga de memória RAM, ao meu disco rígido íntegro e a minha entrada USB, que vem facilitando e muito a vida dos cidadãos das grandes cidades. Mas meu objetivo é chegar até você (e)leitor do interior, porisso conto com o apoio do meu vice: Internet Explorer, que vai trabalhar junto comigo, para melhorar o sistema operacional Brasileiro.

Meu nome é computador, isto mesmo só computador, meu número é 1465@ (não esqueça do arroba). Na hora de votar é só aperta ctrl-c depois ctrl-v e depois a opção “aceito”, sem medo de travar tudo, ou melhor, de ser feliz querido (e)leitor! – PBG (Partido do Bill Gates)

Horário reservado ao programa eleitoral gratuito 9

Olá (E)leitor!

Você já me conhece. Já tá sabendo que fui eu que quebrei o sigilo da receita federal, de um monte de político de outro partido, já sabe também nobre (e)leitor, que fui eu que aloprei tentando comprar documentos falsos pra incriminar a oposição, também sabes que sou ficha-suja (mas sou limpinho), sabes também que pratico o “rachid” no meu gabinete e fico com a metade dos salários de todos meus funcionários, sabes também que sou o maior Lobista do congresso e porisso sou convidado vip das festinhas dos empreiteiros privados em Brasília e sabes, ou melhor, tá sabendo agora que tenho um gato de energia há mais de vinte anos lá na minha casa.

Então já sabe meu (e)leitor, meu nome é João Porfora. Se você não me conhece vote em mim, meu número é 1799% (não esqueça do porcento!) - PC (Partido corruptível)


João Porfora, quem conhece não vota!

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Horário reservado ao programa eleitoral gratuito 8

Olá (E)leitor!

Não acreditem nessas pesquisas manipuladas e forjadas para enganar você (e)leitor! Que dizem que só tenho 1,3% da intenção de voto. Como é que pode um negócio desses? Onde já se viu? Se o seu Zé da mercearia já prometeu seu voto, a Antônia da farmácia, o Crispino, a Zélia, o Tinoco, o Zoim, o Jão borracheiro, o Arlindo que trabalha na prefeitura, a Claudinéia minha filha e até minha esposa que andava brigada comigo! Só aí já são dez oras bolas! Como é que inventam esse negócio de um vírgula não sei o quê por cento? É mentira! Não acreditem não meu povo!

Meu nome é Professor Gervásio, o número é 1234, facinho, facinho dá pra contar nos dedos! – PPPP (Partido Populista Popular do Povo)


Horário reservado ao programa eleitoral gratuito 7

Olá (E)leitor!

Você já me conhece sou o pastor, cantor Tobbias. E agora estou nesta nova jornada, invólucro (palavra de impacto) neste novo projeto que Deus me deu. O de buscar com a Graça de Jesus, melhores condições se Deus assim permitir, para você irmão, que vive com dificuldade, que tem problema na família (quem não tem). E que não ligará com a força do senhor é bom ressaltar, de me dar o seu voto, ou os vinte por cento do seu salário para esta jornada divina, com fé em Deus, ou melhor, se Deus quiser irmão.

Pastor e cantor Tobbias, meu número é 1666 – PCC (Partido capitalista cristão)

Horário reservado ao programa eleitoral gratuito 6

Olá (E)leitor

Vamos dar um basta! Aos corruptos, a desigualdade social e a imensa quantia de dinheiro dos nossos impostos que enchem os bolsos dos banqueiros capitalistas. Vamos nos unir. Veja bem o meu projeto que apresentarei à câmara, assim que eleito for. Primeiramente vamos montar um pólo-base em Caracas (Hugo já liberou) de onde partirão milícias lotadas de baionetas, em uma calorosa marcha pela América central rumo a Tijuana. Lá contaremos com a ajuda Zapatista para uma imersão em massa a San Diego. Já do porto de Vitória sairão botes com militantes e seus mosquetões rumo a Miami Beach, onde Diego Maradona camuflado de Beckham já nos espera. Vai dar tudo certo. Só não contem para o Tio Sam, por favor. O fim do capitalismo está próximo companheiros. Preciso do seu voto!

Meu nome é, ou melhor, não posso revelá-lo, mas meu número é 1313 – PSSEE (Partido social socialista de extrema esquerda).

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Horário reservado ao programa eleitoral gratuito 5

Olá (E)leitor!

Você já sabe minha história. Desde muito cedo comecei a trabalhar debaixo de muito sol cortando cana, depois fui empacotador de supermercado, ajudante de pedreiro, garimpeiro. Depois conheci a Lurdinha com quem tive um filho, depois foi a Cremilda com quem tive dois, depois uma passagem rápida pela Lucinete com quem surpreendentemente tive trigêmeos. E agora você já sabe querido (e)leitor estou casado com a Jucicléia há três anos, que já me presenteou com três lindos filhos. Portanto preciso da sua ajuda para pagar as pensões atrasadas, as mensalidades das escolas que foram adiadas e mais algumas coisinhas que o meu advogado é quem sabe.

Meu nome você já sabe, principalmente você que me conhece desde a infância. É Carlão Machado. Carlão Machado número 1257. Carlão Machado é dureza na certa!

Horário reservado ao programa eleitoral gratuito 4

Olá (E)leitor e (e)leitora

Se eleita for serei a primeira mulher (depois daquelas outras duas) a chegar à assembléia legislativa. E você sabe eleitora consciente, a assembléia legislativa aqui na nossa querida capital, fica em frente ao shoping vitória, portanto se eleita for, se não estiver atuando implacavelmente na redução dos tributos das mercadorias das lojas de grife, ou na redução do valor do estacionamento do shoping, podem me procurar na praça de alimentação.

Você sabe meu nome é Teresa. Teresa 1333. Pra combinar é claro!

Horário reservado ao programa eleitoral gratuito 3

Olá (E)leitor!

Não podemos mais aceitar impunemente as caras feias e os xingamentos, sempre que furamos a fila, no bom sentido é claro meu (e)leitor, sendo que é de nosso direito e está na constituição federal. Portanto se eleitor for vou procurar saber qual é este nosso direito exatamente, com os numerozinhos e tal e aviso pra todos vocês, mandarei por e-mail (minha jovem secretária ajudará) e por carta pra você meu jovem, ou melhor, velho (e)leitor.

Você sabe meu nome é Natalino dos idosos, o número e o partido eu esqueci, mas no próximo programa eu aviso. Fiquem com Deus!

Horário reservado ao programa eleitoral gratuito 2

Olá (E)lei...

pera aí só um minutinho...

Agora sim (e)leitor cheio de saúde! (desculpa a demora é a vontade de espirrar). Venho mais uma vez depois da minha sétima internação por pneumonia só neste ano, tentar mais uma vez se meu nariz deixar, ou melhor, se você (e)leitor saudável permitir. Chegar se possível sem ambulância ao governo do estado, já que tenho perdido muito tempo nos terríveis pronto-socorros da cidade e com as filas do bolsa-farmácia. Portanto meu lema será a Saúde. Saúde em primeiro lugar. Com profundo incentivo para o avanço das pesquisas de novas vacinas, remédios e o que mais existir neste mundo pra acabar com esta maldita e eterna gripe.

Ricardo Atchin, número 1342 – P-Chuva

Horário reservado ao programa eleitoral gratuito 1


Olá (E)leitor!

Disponho de muito pouco tempo, ou melhor de no máximo trinta palavras, para colocar todas as minhas propostas a você querido (E)leitor, mas saiba desde já que se eleito for...

(acabaram as 30 palavras)

Rufino da praça oito – PSNE (Partido sem nenhuma expressão)

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Há tempo

Pra tudo nesta vida. Pensei isto, depois que uma amiga daqui do interior, fez suas malas e partiu pra floresta chuvosa. Foi trabalhar com os índios. Assim como fiz há uns anos atrás. A vida como ela é. Cheia de orifícios por onde vazam os que são mais delgados. Há tempo pra tudo: pra andar de cuecas no calor, pingar soro nos narizes dos guris por causa da secura, pra achar que agente é esmerado quando neva em alguma cidade do sul, ou pra levantar tudo por causa da enchente. E sempre assim. Pauta de matéria pronta pra qualquer jornal iniciando. Tá na Bíblia: “há tempo de nascer e morrer, há tempo de chorar e tempo de rir, há tempo de buscar e tempo de perder, tempo de guerra e tempo de paz...”. Já houve até tempo de reforma agrária neste país, hoje vivemos o tempo do bolsa família. Há quem acredite que o destino manda no tempo, e há os outros. Rebeldes sem causa, logicamente. Há tempo pra descer no escorrega, tomar o primeiro porre, casar e ter filhos, e depois aí sim, fazer tudo novamente, não necessariamente na mesma ordem. O tempo melhora ou piora as coisas, mastiga os segundos e rima com o esquecimento. O problema do negócio do tempo é não acertar o tempo. Igual a jogada de vôlei saca? Cê pula e quando vai ver a bola já foi. Diz que vai dar sol com pouca nuvem e na hora de estender a toalha começa a relampear no horizonte. Ceticismo puro. Quem anda fora do tempo é sujeito passional, a toda hora procura a máquina do tempo pra se lançar fora desta série interrupta e eterna de instantes, que é o tempo. Tem que estocar munição pras batalhas, pros embargos, pra bater boca com os imperialistas. Vai virar gênio (depois de morto) e vai estar sempre refletindo se seguiu a rota certa, olhando os mapas, consultando a bússola do tempo.

Não perca tempo.



Gilberto Granato, é filósofo fora de tempo.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O Humano ser

O ser humano. Que tal? A única espécie conhecida capaz de criar o fogo, cozinhar seus alimentos, vestir-se, além de utilizar várias outras tecnologias. Só se esqueceram do pão com ovo. Pois o ser humano é o único que come pão com ovo.

- E aí gosta de pão com ovo?
- Assim, só o pão com o ovo?
- Isto mesmo. O pão é o ovo apenas.
- Como não. Com a geminha mole...
- Com a geminha mole é bão! Mas ela dura também tem seu valor.
- De qualquer jeito é bom. pão e ovo é casamento perfeito.
- Se é.
(...)
- Mas pera aí! Um pão com ovo e uma rodela de tomate com alface no meio fica divino!
- Nossa nem me fala, um pepininho...
- milho verde.
- Palmito bem fininho.
- E o queijo? Uma fatia de mussarela.
- Uma não, duas e derretida.
- Com cebola fininha!
- Batata palha torradinha!
- E aquela carninha que sobra do almoço?
- tem seu lugar no pão com ovo.
- Bacon?
- em rodelas.
- Um presuntinho defumado...
- De peru é mais gostoso
- É. Pão com ovo é uma delicia!
- Nem me fala.

(Também é a única espécie que não se contenta com pouco)


Arawakanto’i tapirapé, já comeu ovo de tartaruga.

domingo, 8 de agosto de 2010

Bem que podia

Estava de chinelos. Dedos sujos à mostra, sujo mesmo! Daquele jeito em que ao redor das unhas fica tudo preto. Não deve sair mais não, só com especialista no negócio. Era visível que o chinelo não dava conta de manter a extremidade dos membros daquele animal terrestre limpa. Digo animal com eufemismo, por favor, pois o homem de chinelos e dedo sujo foi o que bateu no meu carro. Logo eu, que ando na linha, ou melhor, entre elas, sempre com o farol aceso, cinto, olho nos retrovisores e nos cruzamentos e prestes a chegar ao meu objetivo intacto: a capital. Pois foi em uma inofensiva reta, sem ninguém na minha frente, ouvindo um rock dos bons, que veio da minha direita este assombrado mamífero, forçando tarso, metatarso e aqueles dedos do pé sórdidos contra o acelerador de seu carro, vindo a colidir com a lateral do meu, susto meu leitor, dá um susto. A sorte, se é que podemos dizer assim. É que pegou principalmente no pneu, o que ajudou a repelir o bagaceiro chinelão e a não ferir por demais a lataria. Fomos a Polícia rodoviária federal fazer o BO (boletim de ocorrência) e o cidadão depois foi embora, sem pedir desculpas e sem a polícia federal o multar por dirigir sem calçado e ainda por cima com aquele tipo de pé.

Depois da demora. Esperando um sinal abrir exatamente em frente á sede da prefeitura municipal. Notei que entre os fios de eletricidade da rua encontrava-se um par de tênis amarrado pelos cardaços, um no outro, em uma altura inatingível nem pelo ser humano mais alto deste planeta. Fiquei a pensar o motivo que levou aquele par de tênis, em bom estado, diga-se de passagem, a visitar a fiação: O seu dono andava pela rua e... uma gangue violenta passa por ele e o derruba, dá uns cascudos na sua cabeça, chama ele de um monte de palavrão cabeludo, deixa-o de cuecas (furada por sinal) e no final tira o seu par de tênis que ele gostava tanto e joga na fiação só de sacanagem, pro cidadão ficar ali, descalço, de cueca furada, pensando no que fazer da vida...

Bem que podia meu leitor,

Bem que podia ser o tênis daquele barbeiro de pés sujos que bateu em mim

Bem que podia.



Gilberto Granato

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Joelho

Ah joelho arteiro
Que em mais uma jogada
Fez-me refém por inteiro
Eu sei amistoso joelho é falta de zelo
É arranca rabo antigo
Do seu fêmur e a dona tíbia
Um estalido certeiro.
E vão se embora os sentimentos,
Os ligamentos, os cruzamentos...
Ficam os ressentimentos

O joelho arteiro, quando arteiro.
Tira-nos das quatro linhas
Nas mãos dos companheiros
Leva-nos ao parquinho com os filhos
Estreita a relação entre o homem e os patos
Flexiona-nos ao boteco aos domingos
Faz-nos ler com calma o caderno de economia
E a procurar aulas de inglês
E assim diminuir o risco
De importunar mais uma vez o menisco

Até que chega a hora, a melhora.
Volta a flexão, a extensão,
Só lembranças remotas da contusão
Pobre desilusão.
Que agora sim vai chorar as mágoas
Nos receituários dos médicos
Nas mãos frias das fisioterapeutas
E nas lembranças daquele tempo
Em que dor de joelho era coisa de gente mais velha
Que nem sabia o que era patela.


Gilberto Granato, torceu o joelho pela terceira vez.

sábado, 24 de julho de 2010

Solidariedade

Tem petróleo vazando no mar! Lá em terra Yankee, mais precisamente no Golfo do México meu leitor. E já faz tempo, meses se não me engano, já nem lembro mais quando. E Vaza sem parar, já tentaram um bocado de coisa, exceto pedir ajuda é claro. Os homens de lá não sabem o que fazer. Mas não são só eles não. Na terra de Rubem Braga, a bairrista Cachoeiro de Itapemirim, nesta semana também passou por um aperto danado. Os moradores de um bairro da cidade reclamaram pela segunda vez no telejornal local, sobre a visita inoportuna de macacos, que insistem em visitar o telhado de uma moradora. A mesma ligou para a polícia ambiental, que disse não ser de sua responsabilidade, encaminhando-a para o centro de zoonoses, que sabiamente disse ser de responsabilidade do IBAMA, que prosaicamente mandou a moradora proteger sua casa com lençóis e a não manter contato com a ameaça peluda, sob o risco de um ataque. Pois os bichanos poderiam estar famintos fora de seu habitat, que provavelmente já deve andar sem comida já um bom tempo. O órgão responsável só disse isto, não disse se iriam capturá-los ou quem sabe afugentá-los de volta para a mata, os moradores estão preocupados, dizem que perdem o sono e se preocupam com as crianças. Os homens dali não sabem o que fazer. Duas histórias e o mesmo fim, ou melhor, histórias que não se acabam, que são perenes, que têm começo, meio e não têm final. È a “América para os Americanos” como dizia o Monroe, ele só se esqueceu do petróleo e dos macacos, que não sabem de quem são. E o petróleo? Continua lá vazando, vai lá ver; Os macacos brincando e esta crônica persiste solidária, continuará sem final, até que a macaquice do petróleo se resolva, ou quem saiba contenham o vazamento de macacos.


Gilberto Granato

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Que boa!

Já ouvistes esta expressão minha leitora? Pois é. O feminino de bom. Expressão designativa de aprovação, admiração ou ironia. Dissertada pelo gênero masculino. Que se dita baixinho na roda amigos é sinal de aprovação, se proferida em voz alta em público com intuito de atingir o outro gênero, é admiração, que se falada para as damas que fisicamente são o antônimo desta interjeição, aí é ironia, e das muito sem graças, por sinal. Frase esta, que não tem sentido sem a preposição que a antecede, que pode ser relativo, interrogativo, indefinido, mas que não vem ao caso, sob o risco de perder a vossa rica leitura antes do fim.

Lembrei da citação devido a um caso que aconteceu. Na minha cabeça obviamente. O maridão lá de férias, no sofá, controle remoto na mão, barba por fazer, cheio de idéias na cabeça, já a um bom tempo sem marcar presença com a sua escolhida, que tá lá na cozinha, também de férias, que já a um bom tempo pensa no que o maridão tá pensando, sinergismo filosófico. Ela de shortinho de lycra limão, bustiê, toda ensopada limpando a cozinha, molhadinha literalmente. O maridão se levanta, é chegada a hora. O maestro da o sinal e a trilha sonora entra de uma vez, uma orquestra em êxtase! Ele tira os chinelos, a bermuda, fica só de camisa, ela está de costas, não vê o que te espera, mas espera por isto a um bom tempo. Ele entra na cozinha, a música aumenta, tocam-se os pratos, os tambores no máximo, bem alto! Ele da uma leve desequilibrada (o que sempre acontece devido ao problema no joelho do futebol), avança e esbarra sem querer na beira da pia de mármore branco. A música para subitamente. A mulher olha, inspira e grita como uma soprano: Vai manchar a camisa! Não tá vendo que tá cheio de “que boa”?

Fim


Gilberto Granato

domingo, 11 de julho de 2010

Ah! A copa

Da vuvuzela e do Nelson Mandela. Da sogra conversando na hora do jogo e do churrasco queimando, das cunhadas que esquecem o dinheiro do bolão, da folga no trabalho e dos patrões que não gostam de futebol, dos foguetes e das preces ao céu, das unhas carcomidas e das compridas pintadas de verde e amarelo, dos que se fantasiam e ficam nas primeiras filas dos telões que transmitem os jogos na rua só pra aparecer na TV, da camisa cara e barata, dos cabeças de área e de bagre, das falhas na arbitragem e da pirraça da FIFA em evoluir as regras, da colômbia fora e da shakira dentro, ou vice-versa, dos efeitos não compreendidos da Jabulani (bola), da pomba gira inexplicável do Mick Jagger, das previsões certeiras e derradeiras do germânico polvo “pool” (polvo vive 3 anos ele tem 2 anos e meio) que deixaram nossos papagaios enciumados, daquela gostosona paraguaia que achou um lugar adequado para o celular (deu sorte), do grito de gol dos filhos, da teimosia e do mal humor do técnico Dunga, da experiência genética mal sucedida de Felipe Melo, do “craque” Cristiano Ronaldo que não parava de se olhar no telão e esqueceu de jogar bola, dos que juntaram uma boa grana e deram um tempo das consortes para se embebedarem nas vielas de Johannesburgo, da promoção do jornal de ir a copa que obviamente não ganhei, que terá um campeão inédito (escrevo antes da final), dos cartões de crédito e de débito, da ressurreição celeste, do show à parte na beirola do campo da Madona, ou melhor, do Maradona, das crônicas do Veríssimo no encarte da copa, da falta que vez um jogador da nossa seleção que pegasse a bola dentro do gol, quando a Holanda virou o jogo e corresse prontamente pro meio de campo e gritasse em voz alta pra todos: Vamos virar porra!


Arawãkanto’i Tapirapé
(Brasil derrotado pelos países baixos por 2x1 nas quartas de final da copa da África de 2010)

domingo, 4 de julho de 2010

Fábula

Acordei. Com sede! Ressaca talvez. Fui até a geladeira uma vez tindolelê, outra vez tindolalá, tudo vazio, olhei na dispensa e nada. O jeito foi ir ao tororó beber água. No caminho quem encontro bem no meio da rua? O bicho do mato. Ele mesmo, que minha mãe dizia ser terrível, horrendo e horripilante. Agora anda de cabelo arrepiado “tipo neimar do time do Santos”, camisa gola pólo da soldadinho de chumbo, bermuda da “BN modas” (Branca de neve modas), cinto preso no terceiro buraco, meias “peixe vivo e cia” , barba aparada, perfumado, separou-se da bela adormecida (não quis dizer porque) e anda na companhia de três porquinhos. Perguntou-me: Vistes sambalelê? Sim, claro, Tá com a cabeça quebrada. Acho que ficou surpreso com a notícia, atirou um pau no gato e saiu correndo. Fiquei espantado com aquela pressa toda, mas ao olhar pra trás, notei que tinha um quartel pegando fogo e a polícia deu sinal pra eu seguir o mesmo rumo. Parei num bar de esquina que se chamava Aladim, onde escravos de jó jogavam caxangá, um tal de zé pereira tinha bebido demais e atrapalhava a jogatina, de tanto tira e bota, acabou que deixaram o zé pereira ficar. Sentei-me e fiquei a conversar com um excêntrico casal, que diziam ter uma fábrica de calçados no mundo de Oz, chamavam-se gato de botas e gata borralheira. Vendo que o assunto ia longe e pra num dar uma de patinho feio, sai de mansinho, pois o caminho era longe e a estrada deserta, e o lobo mau sabe como é né? Tinha que me apressar, já havia perdido muito tempo, entrei em uma rua cheia de buracos, que se fosse minha eu mandava ladrilhar, até que cheguei na mercearia do seu tororó, mas antes no segundo andar, bem na janela, sua filha Rapunzel (um pedaço de mal caminho) jogava-me as tranças, ao ver minha aliança recolheu-as prontamente ressabiada, dei a meia volta, volta e meia e fui até o balcão, onde uma galinha dos ovos de ouro repousava, perguntei:

- Seu tororó uma água, por favor!
- Acabou meu filho.
- Mas como seu Tororó? Eu vim de longe.
- Este aí chegou primeiro e tomou a última.

Olhei e vi que era uma tartaruga. Ela olhou-me com um sorriso irônico e disse:

- Você que é a tal da Lebre, não é?



Gilberto Granato, tem dois filhos e anda sem tempo para a não ficção.

terça-feira, 15 de junho de 2010

A navegadora

Os astronautas dizem que lá de cima, o que se vê é mar. Tenho profunda admiração pelos que desafiam esta longa extensão de água salgada, que sabiamente resolvemos dividir em oceanos pra não virar bagunça. Quando digo desafio, não falo de pegar jacaré na beira do mar em época de ressaca, ou andar de banana depois de muitas cervejas no verão, mas de cruzá-lo em grandes distâncias e de preferência sozinho, alone, refletindo. Amyr Klink fez isto. De várias maneiras, começou de Santos a Paraty, depois veio da África em um “caiaque melhorado”, deu volta na Antártida, no mundo, só lhe restando ser astronauta para procurar águas nunca dantes navegadas.

Mas o que me trouxe até aqui foi a californiana Abby Sunderland de dezesseis anos. Que tava ali sem foto, no final do caderno de economia. Onde a notícia dizia que havia sumido em meio ao oceano índico, em uma região muito perigosa, sujeita a todos os tipos de fenômenos naturais. Tudo porque ela queria dar uma volta ao mundo, feito já realizado pelo seu irmão mais velho. Logo pensei, que o pior devia ter acontecido. Fiquei triste pela menina, é difícil uma notícia do final do caderno de economia sensibilizar-me, apesar da intenção dos que escrevem ser propriamente esta. Mas me abati, pensei no Amyr Klink e até nas minhas emblemáticas travessias a nado pelas águas traiçoeiras do rio negro. A jovem heroína que não tinha foto no jornal, acabara de encerrar sua doce vida precocemente. No dia seguinte veio a surpresa. Na penúltima página do fim do caderno de economia. Tinham a encontrado através dos seus instrumentos de navegação, lá pelas ilhas reunião, me surpreendi com a notícia, mas o que mais me deixou atônito, foi a foto que o jornalista do final do caderno de economia colocou, a de Abby, com seus cabelos loiros queimados de sol, suas bochechas rosadas e um olhar de menina que transparecia tudo, menos uma garota que tivesse coragem de dar uma volta ao mundo. Que agora irá comemorar a “meio-saga” com os pais e amigos e quem sabe um “meio-livro” ou manuscrito, para quem sabe, depois de convencer muito os pais, fazer uma outra investida ao horizonte.

Agora sei, que continuarei tendo profunda admiração pelos que atravessam oceanos sozinhos, por aqueles que tentam e não conseguem, e é claro, pelos jornalistas que colocam as fotos coloridas para uma crônica no final do caderno de economia.


Gilberto Granato.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Os inventores mais uma vez

Vira e mexe tenho que me render a eles: Os inventores. Esta classe não humana de humanos, que queira ou não queira interfere nos rumos do planeta, ou de preferência nos rumos das tarefas domésticas. Fico intrigado de onde vem tanta sabedoria. Se vem do ômega três, das palavras cruzadas ou do mais provável: da genética mesmo. Tudo bem, que não está incluso no DNA dos gênios a herança genética física de Adão, assim como na classe dos locutores de rádio, mas é um problema que em breve vão inventar algo para solucioná-lo. Mas o que me trouxe até aqui, foram as três invenções que me tiraram o fôlego esta semana.

Veja bem o leite. Lembra que ele era colocado nos potes na porta de casa, depois passou para saquinhos, depois saquinhos com alça e finalmente chegaram as caixinhas? Pois é. Até pouco tempo tinha que pegar a tesoura, ou o primeiro instrumento cortante da cozinha e serrar um dos lados para obter o seu líquido não é? O que pela manhã é incômodo e se perde um tempo precioso dizem os mais stressados. Não é que estes dias apareceu um aqui em casa com abridor! Maior revolução. Só que era de inventor não-gênio. Esta classe que bebe demais aos domingos e que é pouco acostumada ao brilhantismo. Pois na hora da primeira jorrada no copo, o leite pulava fora, ia direto pra outro lugar que não o copo, a maior confusão. Deve ter arruinado casamentos, complicado a vida dos fazedores de milk shake, causado a demissão de empregas e o escambau. Pensei em voltar pra tesoura ou o primeiro instrumento cortante borrado de manteiga de dentro da pia, mas foi ai que apareceu o gênio. Que com certeza, tava só esperando a hora pra dar o bote, ou melhor, o dote. Este ser de intelecto de primeira grandeza e de talento criativo fora do comum, que usa meias de cores diferentes, mas não falha na hora da grande invenção. E lá veio o leite de caixinha com o abridor de rosca, que é só dar umas voltinhas (e as vezes dar um empurrãozinho com o dedo é bem verdade) e que nos garantirá um futuro cheio de leite.

Agora mais fenomenal que isto, foi a invenção dos mascotes de futebol. Meu filho ganhou da titia, um do nosso time. Na primeira partida na TV, quando tudo parecia difícil, com o scratch adversário jogando melhor, resolvi colocar o ser prosopopéico em cima do aparelho. E o que deu meu leitor? Gol oras bolas. E dois, que era pra não deixar sombra de dúvidas que a invenção era boa. Fui testar em mais um jogo, afinal de contas, poderia ser coisa da sorte. Mais um jogo e fora de casa. O time adversário querendo a vitória a todo custo, tava difícil, fui lá busquei o brinquedo prodígio e ? Gol claro. Não quis constrager um amigo que torcia para o time adversário e evitei usá-lo novamente, só que o amigo sedento por vitória impulsionou o seu time a virar o jogo para dois a um. A é! Era o último minuto, torcida cantando, o amigo já contava vitória, já pensava nas entrevistas nos vestiários, no programa esportivo da segunda, na tirada de sarro, até que me enchi de razão e acionei o pequeno mosqueteiro novamente. E o que deu? Uma bola perigosa na pequena área, e logo após o gol de cabeça do zagueiro, que nunca tinha feito no último minuto. Só alegria. Só tô preocupado pois o gênio inventor não disse na embalagem, por quanto tempo dura a genialidade de nosso amuleto alvi-negro. Via das dúvidas vou guardar prum jogo mais importante.

Já a terceira invenção tem uma semana que to tentando lembrar. Mas não lembro nadinha.

Sabe como é.

Qi baixo!


Giberto Granato, toma leite puro.

domingo, 6 de junho de 2010

Kibe

Stanislaw chegava de sua hora de almoço. Porém muito tarde. O que lhe rendia o incomodo de seus companheiros de trabalho:

- Cacete stanislaw! Onde você estava?
- Fui almoçar ué!
- Mais almoçar como? Já passam das três!
- Almoçar ué! Não pode não?
- Mas companheiro, o nosso horário de almoço é até as uma.
- Mais hoje fui até as três.
- Mas como assim?
- Até as três porra! Não se pode mais comer um quibe em paz?
- Comer o quê?
- Um quibe.
- Pera aí. Se levou mais de três horas pra comer um quibe?
- Mais qual é o problema nisto?
- Quibe se come rápido Stanislaw!
- A é? Então porque no Oriente Médio ele é um bolo de carne moída, temperada com ervas, que pode ser cru, cozido ou frito. E é um prato muito popular e considerado o prato nacional no Líbano, Síria e Iraque, e também comum no norte da África, na Turquia, na península arábica e em parte do Cáucaso, como na Armênia, e o escambau!
- Sei lá poxa!
- é porque é importante meu amigo. Se não, não estava ali na esquina, e na outra, e lá no fim da rua de mantenópolis.
- Aonde?
- Deixa pra lá. Quibe é universal meu amigo. Todo mundo come. Eu, você, o cara lá de mantenópolis.
- De onde?
- Não importa caçarolas! O que importa é que todo mundo entende, quando não se vai ao trabalho porque se comeu um quibe.
- Stanilislaw! Não quero te chatear não, mas nesta fábrica todo mundo é demito por qualquer coisa: consorte doente, reunião de escola, enchente...
- Não importa. Quibe todo mundo entende. O formato, o tamanho, e os ingredientes é claro, que variam muito nos diferentes tipos de quibes. Mas no Iraque existe um tipo de quibe onde a massa (crosta) é feita de arroz, chamado de Kubbat Halab. Também no Iraque, outro tipo de quibe é feito com a massa de carne e trigo, no formato arrendodado e chato, chamado de Kubbat Mosul. Finalmente existe um tipo de quibe assírio/iraquiano, onde o quibe é misturado e depois cozido com tomates e temperos, e que...
- Stanislaw!
- O quê?
- O chefe tá te chamando.
- È pra já!
(stanislaw abre a porta decido, convecido e calmo de que tudo estava sobre controle. O chefe diz: Você está demitido! Stanislaw fica sem reação, os segundos passam, a porta bate, stanislaw está no olho da rua.)
- Stanislaw estava enganado e não come mais quibe.
- Fim



Gilberto Granato, gosta de coxinha.

domingo, 30 de maio de 2010

Into the wild

Já devo ter contado sobre aquela história da época de escolar, em que eu matava as aulas de educação artística, junto com um francês de Nancy e um futuro roqueiro capixaba, só pra subir o morro atrás da escola, na esperança de que lá do alto avistássemos uma mulher mais velha nua. Não? É porque nunca aconteceu. Assim como esta crônica meu leitor. Você está lendo, mas na verdade não está, haja vista que nada aconteceu. Na verdade aconteceu sim, e um montão de treco: um “belo” vazamento de petróleo nas terras do tio Sam, nosso presidente querendo assumir a braçadeira de capitão do globo (crise do Irã) e também teve aquele senhor negro, de chapéu e apito rosa na boca, bem bêbado é bem verdade, com um caderninho na mão fingindo que multava a todos que passavam num dos muitos sinaleiros, que este interior jamais imaginou que viria acontecer, aconteceu.

Mas tinha a obrigação ética de escrever. Afinal, tinha prometido para mim mesmo e para o São Fransisco sem nariz que fica lá na churrasqueira (que não falha), que não passaria um mês sem escrever no mínimo quatro textos, o que daria uma média de um por semana. Que é o mínimo que um escritor fajuto, cheio de chavões, falhas na pontuação e que leva cinco minutos para chegar ao trabalho, pode fazer pra continuar mantendo os grandes escritores grandes. Já tive uma boa fase. Foi-se a época, em que este blog (não gosto desta palavra, mas foi inevitável) vivia sua fase áurea. Bons tempos aquele em que era a página inicial deste computador. Agora fica perdido, acanhado, de cabeça baixa, no máximo figurando na barra dos mais procurados, bem ali, entre o site do banco e um esquisito e pitoresco “baixaki”. Não ter assunto, pode ser porque não moro no Acre, ou talvez não tenha casado sete vezes como Vinícius de Moraes, ou talvez por não ter nascido em Itaparica como o João Ubaldo, ou não ter a careca e a elegância do Veríssimo, ou quem sabe só porque por preguiça não tenha ido beber da mesma fonte que o Rubem Braga, que fica bem pertinho daqui. O bom de não ter nada pra escrever e de ter o compromisso de escrever, é que é tudo rápido, não passa do segundo parágrafo, se não já é sacanagem com o leitor. E faz com que alguém finalmente possa chegar até o fim, pois se texto grande fosse bom, no jornal teria a sessão de contos, ao invés de crônicas.

Então fica assim. Com este título em inglês, meio miami, meio copacabana, de um belo filme que vi neste fim de semana. Que é bem propício pra quem precisa sair da rotina e subir uma montanha por aí. Assim como aqueles meus amigos da escola, que mais tarde tiveram que ser resgatados pelo diretor e pelo corpo de bombeiros, devido a grande chuva que caiu.



Gilberto Granato, assistiu a into the wild (na natureza selvagem-2007) só porque o Eddie Vedder fazia a trilha sonora e porque o Sean Penn era o roteirista e diretor, e se deu bem.

domingo, 16 de maio de 2010

Tyrone

Fui. Eu, o pequeno Otto e meu joelho inchado. Fomos à banca de revistas, que atualmente é parada obrigatória; Do carro já se ouve o grito “backaia”, que traduzindo seria “backyardigans”. São cinco bichinhos coloridos cantantes e dançantes, que despertaram a empatia do meu filho. Uma parada no banco, outra para ver o au-au (que mais pra frente entenderá que é o cavalo) e champignon. Isto mesmo meu leitor, domingo com champignons para sair da rotina.

Cogumelo comestível, pertencente à família das agaricáceas, que no século passado tiveram uma richa muito grande com a família dos poaceae (milho em conserva) e com as do Arecaceae (palmitos) e dali pra frente nunca mais se falaram e ocuparam o mesmo lugar no prato. A crise se deu, pois o filho mais velho da família cogumelo, clã nobre, esnobe, meio metido a besta, que detinham muitas posses, andava se engraçando pra cima das filhas do Seu palmito e do Senhor milho verde, trabalhadores natos, humildes, que não tinham filhos homens e prezavam pela castidade de suas filhas, que passavam o dia inteiro a produzir conserva para encher latas e vidros vazios. Que resumindo, seguiu-se uma disputa infinda pelas terras do strogonnof alheio (região que fica entre a terça e a quinta-feira), que se perpetua de geração em geração. Mas bem, voltemos ao champignon. Que no fim da história perderam muitas terras pros concorrentes, fazendo com que o preço do alqueire chegasse as alturas! Depois de uma revista, outra dos “backaia’s” e o jornal, me sobraram poucos tostões, voltar em casa? Nem pensar o joelho sujeito muito ranzinza, poderia achar ruim. Entrar em uma mercearia contra a vontade do joelho, e sob o risco de meu filho atacar a sessão de uvas e não ter o suficiente para o pagamento, seria bem constrangedor. A solução foi procurar moedas embaixo dos tapetes, das poltronas e dentro de compartimentos nunca dantes explorados dentro do carro. Por fim, a muito custo, consegui juntar seis reais e trinta centavos, o que me encheu de coragem para uma investida. Pensei, que apesar de toda análise antropológica da família champignon e da super valorização de suas terras, se um vidrinho de seu produto custasse mais do que eu tinha conseguido nas escavações arqueológicas no automóvel, o mundo estaria acabando. Isto mesmo meu leitor, o mundo estaria perdido! Seria inadmissível um bando de metidinho a besta meio amarelado, custarem mais do que aqueles meus reais. Entrei na mercearia, firme, decidido, diligente, de longe avistei o Seu Zé extrato de tomate e sua família numerosa, opa! Deveriam estar por perto, quando já estava quase pedindo ajuda, avistei uns potinhos pequenutos, que abrigavam os dito cujos, não é possível que não levarei um negocinho daqueles pra casa? Olhei o preço e... e... O mundo esta salvo! Sim salvo. Pode acordar amanhã e curtir a vida a doidado, pois a não ser que falte água ou todo mundo resolva pular ao mesmo tempo lá na China, ainda compraremos jornal e comeremos cogumelos no domingo.

Nem que seja cortando bem fininho pra render mais.


Gilberto Granato

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Plantão (mais um anjo nasceu)

Fui. Eu a consorte e minha dor de joelho. Direto pro hospital. A idéia era o parto do meu segundo filho, o joelho ficaria pra uma próxima... Segunda vez meu leitor, é diferente da primeira. Além dos algarismos a sensação é toda diferente. Na primeira vez o frio na barriga vem porque você não sabe o que te espera, na segunda o frio na barriga vem porque você já sabe o que te espera, entendeu? É difícil mensurar qual é o frio mais próximo de zero, ainda mais neste outono com pitadas de inverno.

No segundo os nove meses passam mais rápido. Você já esta fagocitado pelas estripulias do primeiro. Um segundo vira dois. O que me leva a pensar que nossos avós viram a vida passar rapidamente. A vida é lenta para os pequenos. Um giz de cera vira dois. Pera aí, vamos ao parto. Dilata 3,4, 5, a consorte não sente dor não, impressionante, parto é coisa pra mulher, tenho certeza absoluta disto agora. Opa! A médica estorou a bolsa, doeu? Nada. Vai pra outra salinha. É pra esperar 20 minutos, me chamam em dez (não falei que os segundos ficam alterados). Aí vem aquele frio da barriga do primeiro parágrafo, ainda não sei qual é o pior, ou seria melhor? Bem depois a gente vê... Agora dilatou bem, a turma do parto já é conhecida, o papo vai as pampas... de acupuntura a filmes da faroeste, Opa! A médica grita, tá chegando a hora, vamos lá, respira, respira.... vai, vai...força! Ótimo, muito bom.... respira, respira.... vai, vai.... Tá quase! E mais uma... Não tem aquele negócio que aprendemos desde a infância: Um, dois, três e já! Pois é, tem sentido. É no três que as coisas funcionam, assim como no primeiro parto. E lá veio o meu Tom, com a carinha toda amassadinha, de parto normal, humanizado, às 12:33 desta sexta, pesando 4 quilos e cento e sessenta gramas, medindo 52 centímetros. Menos cabeludo, mais chorão. Veio se juntar a nós. Agora já tá tudo mais fácil meu filho. É só seguir mais ou menos o que seu irmão já anda fazendo, ir ecologicamente reaproveitando tudo, respeitá-lo, afinal ele já anda cavando uns buracos na areia antes de você. E trilhar o seu belo caminho nesta vida. Meninos donos do mundo, Homens de caráter, tenho certeza que serão. Papai já não teme mais os segundos do tempo e os primeiros parágrafos e daqui pra frente só sentirá frio na barriga nos jogos decisivos do Corinthians.

Tom, do futibolês: O “t” toca a bola pro “m” e o “m” devolve pro “t”, assim sem erro de passe, pois o mundo e a letra "o" que são uma bola estão em seu nome. vitória certa depois do apito final!

Papai e Mamãe te ama.



Gilberto Granato, é pós-graduado em paternidade.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Pé de curry

Já vistes meu leitor? Certamente não. A não ser que seja você um leitor asiático, meio Indiano-tailandês, que ao fazer uma pesquisa nada convencional na grande rede, tenha batido e se esborrachado todo neste desértico blog. E ao abrir a página inicial tenha ficado eufórico, e mais que depressa ido chamar os pais e as tias, para traduzir alguma coisa do português que começa aprender, pois no fim do ano tem carna e tá tudo programado para conhecer uma nega chamada Teresa. Mas deixa-me explicar pro leitor verde e amarelo. É uma erva singular, suas sementes são raras. Por serem extremamente leves e minúsculas são difíceis de ver e manusear, portanto o pé de curry, se não desenvolvido em laboratório ultra-moderno, pode esquecer, porisso o jeito mais popular da sua germinação é... auléu, isso mesmo, em qualquer lugar, de preferência nos menos prováveis, tipo entre um degrau e outro da escada, sob o abrigo das rochas, ou nas barbas de algum profeta. É coisa de Deus hindu. Também não adianta cuidar, se não morre, tem que esperar uns seis meses fazendo de conta que não é com ele, aí sim, brota algumas folhas lanceoladas, no máximo oito, que são removidas com cuidado, para que a bainha fique inteiramente presa ao limbo e mantenha todas as suas propriedades intactas. Depois é só deixar secar por um mês entre folhas de neem, para que todo cloroplasto desapareça. Pronto! Tá vendo, antes de reclamar de comer aquele arroz todo amarronzado, pense nisto.

(agora com o meu leitor oriental). Aqui no Brasil fique sabendo que somos muito brincalhões, brincamos com tudo: com o dinheiro, com a torcida adversária, com a mulher dos outros, de pique pega, com a desgraça alheia e como você mesmo sabe, foi só uma brincadeira, já que o curry é um condimento feito à base de várias especiarias. Na verdade, isto tudo foi só pra te informar, pois nós Brasileiros também somos muito prestativos, e prestamos prumonte de coisas, que não prestam pra gente. Que ao fim do carnaval, e todo carnaval tem o seu, e gringo que é gringo, pula ele descalço. Os pezinhos pouco acostumados vão ficar bem maltrados, achacados, estrupiados mesmo, portanto vou dando logo a dica que é pra você voltar pra casa como se nada tivesse acontecido: procure uma pédecurry, sacou? Pédicuri? E fica tudo uma beleza.

Vai treinando o português!

Namastê.

terça-feira, 27 de abril de 2010

O misterioso homem que entendia de pênaltis

- Se viu aquele pênalti?
- A paradinha do Neymar dos santos?
- Não. a cavadinha do loco Abreu do botafogo na final do carioca?
- Que sangue frio! Bateu sem peso nas costas. É o pênalti mais longo que existe dura 3 segundos.
- O Zidane da França fez um desse na copa de 2006 contra a Itália não fez?
- Fez. Aquele demorou 4. Raspou mais ainda no travessão e mandou um monte de Francês pro Pére-Lachaise.
- O que é isto?
- É o maior cemitério de Paris.
- Mas você prefere a paradinha?
- Claro! É muito mais técnico, é made in Brazil, foi Pelé que inventou.
- Sei não. Eu fico com pena dos goleiros.
- Ué! O goleiro pula porque quer. Alguém o empurra oras bolas?
- Também tem aquele negócio que a FIFA não permite em jogos internacionais e não sei o que...
- É porque não sabem improvisar, tão estudando ainda pra fazer bem feito, daqui um pouco liberam se vai ver.
- Nada como um pênalti bem batido não é meu amigo?
- É verdade.
- Opa! Do que os companheiros estão conversando?
- Sobre penalidades máximas.
- Eu também acho o máximo.
- É? Que tipo de pênalti o cidadão gosta?
- Eu gosto daquele batido forte no canto.
- Daqueles tipo que o zagueiro pode bater?
- É. Esse mesmo, sem chance para o goleiro.
- Gerson! Me vê a conta!
- È! Anota a minha também!
- Pera aí... Deixa eu me explicar melhor. Pera aí...

(Era o Dunga)



Gilberto Granato
(Dunga "técnico" da seleção Brasileira na copa de 2010 na África)

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O esquecimento

Saiu de manhã cedinho para o trabalho. Alcides era motoboy. Despediu-se da mãe que já cortava batatas e foi encarar as vielas e viadutos da cidade grande. Hoje diferentemente dos outros dias iria almoçar em casa. Isto porque, tinha uma moto veloz, a pujança de um garoto e a fome do seu prato favorito: Carne ensopada com batatas. Gostava mais das batatas do que a carne propriamente dita, mas não sabia explicar por que. Era o dia mais aguardado do mês, mais que o salário e a sexta-feira: O dia da Carne com batatas!

Alcides assim como todo Alcides tinha defeitos e qualidades. Deixemos os defeitos de lado, pois ninguém a não ser o psicanalista gosta de ouvir os defeitos dos outros. Mas exaltemos sua qualidade: A memória. E que memória. Conseguia lembrar desde os ínfimos brinquedos da infância, aos nomes de todas as ruas e praças da cidade. Não precisava de agenda, não fazia anotações, guardava tudo certinho em algum lugar da cabeça e era infalível. Nem um só lapso, esquecimento, um descuido sequer. Os seus amigos e familiares o chamavam de Mozine, não sabiam o por que, mas tinha herdado este apelido de uma tia distante, que o chamava assim devido a Mnemosine, Deusa da memória da mitologia grega. Todos eram unânimes em dizer que Alcides, ou melhor, Mozine era um cara Inesquecível, nos dois sentidos da palavra.

Voltava do trabalho para o almoço. Concentrado no trânsito e nas tarefas vespertinas, mas em sua mente já podia prever a quantidade de batatas que iriam compor o seu nada modesto prato de daqui um pouco. Ao parar em um maldito semáforo, distraiu-se com uma bela moça que conversava com uma mais velha na calçada. Era alta, tinha cabelos pretos longos, sua tia certamente a apelidaria de Afrodite, deusa da beleza. Mas ele não estava nem aí para os detalhes e para a Grécia, pois o que ficaria eternamente gravado na sua memória eram aqueles seios alegóricos. Um par perfeito! Um igualzinho ao outro, nem Michelangelo seria capaz de reproduzir tanta simetria. E estavam bem ali, a poucos metros, acalorados por debaixo de um colã cinza, que não disfarçava em nada tanta sinuosidade. Até que... Bumm! Sua moto acabara de colidir com o meio fio. Levantou-se rápido, não havia se machucado, era só religar a moto esquecer as batatas, ou melhor, se concentrar nas batatas, pois a moça assustada já se esvaia pela esquina. Plá, plá, plá!... Plá, plá, plá e nada. A moto não ligava mais. Uma equipe do trabalho iria buscá-lo, teria que se contentar com um fast food.

Pois pela primeira vez na vida Alcides havia se esquecido.

Esquecido da preferência nacional!



Gilberto Granato.

domingo, 11 de abril de 2010

Conversando com o sol 2

- Olá sol?
- Opa! Quem é?
- Sou eu lembra? nos falamos uns anos atrás.
- Perdoi-me meu filho, é da terra não é?
- É, ainda é meu amigo. Este ano chegaste mais cedo a minha face?
- Pois é, estou perdendo o controle das coisas, tá uma bagunça aqui em cima, mas já não é a primavera?
- Não. Estamos no outono.
- É, filho da terra, às vezes sinto a cabeça quente demais...
- É, tenho percebido.
- Opa! Tens um filho?
- Sim. Como sabes?
- Estes dias vocês não estavam lhe mostrando a lua?
- É mesmo. Mas é que...
- Eu sei, é que a lua é mais bonita, brilha, não faz calor, tem um monte de figura que só vocês observam dentro dela. Ninguém reclama de lua, é lua pra cá, lua pra lá... E quanto a mim? É só reclamação, me tiram o equilíbrio hidrostático.
- É que ultimamente tá ficando muito quente e...
- Tá sim! E vai ficar muito mais!
- Calma senhor sol.
- Senhor uma ova! Eu sou um astro e não vem com essa conversa fiada não. Pois você só se lembra de conversar comigo, quando bato na sua cara antes das seis da manhã, aí você vem com esta conversinha descabelada, vai limpar este olho remelento menino!
- Pera aí grande astro! Eu o respeito.
- Pera aí nada. Vou chegar quando quiser: no inverno, verão, no meio da noite, no meio do seu banho, no meio do seu chopp, quando achar que devo e pronto! Pois agora, vocês vão ver quem manda. Vocês ainda não conhecem a ditadura celestial. Lembra do Big Bang?
- Sim, mas...
- Pois é. Fui eu. Vou acelerar minhas partículas de hidrogênio, condensar as de hélio, mexer em uns cantos aqui que estão meio enguiçados, vai ser gás e plasma pra tudo quanto é lado e vocês v...
- Vou fechar a cortina.
- O quê? O que é isto?
- É um pano na janela que não permite a passagem de luz.
- A é?
- É! Esfrie a cabeça, ou melhor o núcleo meu amigo. Tchau!
- Pera aí! Era só brincadeira... Explica melhor esse negócio de cortina. Ei! Volta aqui....

( o sol anda mudado)



Gilberto Granato

segunda-feira, 5 de abril de 2010

O homem e a máquina

Relação ainda discutível esta aí do título. Afinal de contas, foi um divisor de águas entre o capitalismo e socialismo. Hoje somos um sincretismo disto. Socialistas algumas vezes, capitalistas em outras, depende da ocasião e da bebida. Da revolução industrial adiante o negócio não parou. E hoje, apenas os jogadores de xadrez têm capacidade intelectual para entendê-las completamente. Nós seres humanos normais, somos reféns das suas vontades e de seus temperamentos bizarros. A única semelhança conosco é a durabilidade. Não foram feitas para durar e têm assistência técnica duvidável assim como nós. Mas no fim das contas, são boas, nos ajudam no dia a dia no desempenho de tarefas, dependendo apenas do presidente da república e da sua política energética para um bom funcionamento.

Conheci a máquina das máquinas. O top de linha do liberalismo econômico. Uma beleza só! Não sei bem como funciona, não sei jogar xadrez, mas deixe-me tentar te explicar meu leitor. Pelo que vi, é um conjunto de peças que quando se encaixam fornecem um produto, e que produto! Automática e prática. Depende um pouco das instruções dadas pelo operador, assim como toda máquina não programável, é bem verdade. Mas tem uma alavanca que faz a engrenagem com o tonel que é um sucesso! Tem uns tradicionais parafusos pra apertar, uns rebites na lataria e uma corrente talhada que faz o treco funcionar através do eixo. Aciona-se a chaveta para a polia transformar força em movimento, desinclina a cunha, aperta o pino que fica pra fora, gira o mancal que aciona o motor (o treme-treme nesta hora é amenizado pelas molas), puxa a repimboca, roda a rodeta de gás carbônico; E aí é só acionar a alavanca mestre, que vai fazer com que saia um líquido amarelo cheio de espuma, gelado, bem gelado! Que faz a gente pensar em um monte de besteira, inclusive neste tipo de crônica sem engrenagem alguma.



Gilberto Granato, andou estudando uma máquina de chopp, mas não se lembra muito bem do final.

domingo, 28 de março de 2010

Coragem

Poderia estar escrevendo sobre alguma notícia da semana. E se escrevesse, seria sobre a coragem do ser humano. Que às vezes transcende a razão da vida; Vide a eleição para primeiro ministro do Iraque. Fico pensando se eles não têm filhos, netos, coleção de selos, amantes ou algo ainda de bom e prazeroso a fazer nesta biografia terrena. Pode ser até uma nova receita de esfirra, quem sabe. O que me dá prazer atualmente é me comunicar com o meu filho. Sei que não deve existir nada menos interessante, do que proeza de filho contada por pai, principalmente para quem nunca foi, mas como diz o Veríssimo: A momentos em que o desinteressante e o sem nenhuma importância servem como refúgio.

Meu filho, no alto dos seus um ano e algumas cabeçadas, começa a se comunicar. Fala um dialeto próprio. Que educadamente concordamos ou discordamos dependendo da intenção quando diagnosticada. Quando não se faz entender usa dos métodos mais óbvios e eficazes da falta de comunicação: A gesticulação. Que usa de forma simples e eficaz, nos carrega pelas mãos até o lugar desejado e lá só pra reforçar o seu desejo, empurra a nossa mão como se dissesse: “E faça agora!” Resolvemos estimulá-lo a pedir pelas suas necessidades conforme manda os programas do gênero, mas estímulo tem limite. E limite de criança todos sabem o que vem depois: o choro. E choro de criança não é fácil não, principalmente quando se é difícil de reverter, a gente apela pra tudo, até pra pirulito. A primeira coisa que aprendeu a falar foi pedir água, que carinhosamente à chama de “á”. Que para simplificar mais ainda, a utilizou para os outros líquidos. Acabou, virou “abo”, abre, virou “ab” e cair no chão virou “bá”, tudo assim, bem abreviado, mas o que mais me espantou foi o “Papai!”, que é dito assim mesmo, com exclamação, ao contrário de “mamã” que surpreendentemente ainda gera dúvidas. Papai! Virou sua palavra favorita, é dita aos gritos, e proferida até mesmo sem a minha presença. Creio que ele gostou da palavra, se sentiu confortável, seguro, percebe que é bem atendido. E dá uma coragem danada na gente, excita, eletriza, mas nada que faça querer virar primeiro ministro do Iraque.

Pensando bem se fosse escrever sobre alguma notícia da semana. Não me valeria da coragem humana não meu leitor. Dissertaria sobre a razão. Razão da vida! Mas como não sei falar sobre o assunto e ninguém iria ler, por se tratar de algo inexplicável e bem chato para os objetivos atuais. Nada melhor do que abreviação de criança, ou melhor, exclamação!


Gilberto Granato.

domingo, 21 de março de 2010

Novela

Brás e Gilda iam comer churrasquinho. Na verdade quem queria comer era Brás. Tinha visto em uma matéria na TV um local que fazia de todos os tipos possíveis. Era algo ainda inédito no relacionamento do casal, mesmo depois de vinte e seis anos juntos. Gilda não queria ir. Coincidia com o antepenúltimo capítulo da novela, não podia perder. Mas Brás foi convincente, durante a semana que antecedeu o evento, fez questão de acompanhar pontualmente os capítulos da novela ao lado da esposa no sofá. Deixava de ler primeiramente o caderno de esportes do jornal, só para saber no segundo caderno dos acontecimentos que iriam ao ar mais tarde na trama das oito. Onde meticulosamente ia palpitando o que já sabia, e desta forma, ia conquistando a confiança da consorte, para uma bela noite de churrasquinho no sábado. Até que o dia chegou:

- Então amor, você vai querer de quê?
- Nada não, pode comer eu já comi em casa.
- Gilda! Viemos até aqui para comermos juntos, por favor!
(Gilda pega o cardápio e olha em silêncio)
(...)
- Querida enquanto você escolhe, vou pedir um de camarão com provolone tá?
(silêncio)
(...)
- Acho que não vou querer nada não, garçom me vê um picolé desses de maracujá!
- Que é isto Gilda! Nem pensar. Garçom pode deixar, me faz um de coelho que ela já vai pedir.
- Não vou Brás, eu te disse que não queria vir.
- Mas meu amor, deixamos tudo certo em casa para poder vir, coma um só, não custa nada.
- Custa sim! E não me chame de meu amor, coma o seu e me deixe em paz.
(neste momento Gilda sai bruscamente em direção ao banheiro)
(...)
- Gilda você demorou?
- É, o banheiro estava cheio.
(Brás notou que estranhamente Gilda parecia mais conformada e levantara a mão chamando o garçom)
- Ué? Você não queria nada e agora vai comer?
- Sim. Garçom me vê um vegetariano sem farofa, por favor, que eu já volto.
- Pera aí, Aonde você vai novamente?
- Vou ver como se faz o churrasquinho.
(...)
- Gilda! Faz meia hora que estou aqui te esperando!
- É, eu me entreti com a briga do Antônio com a lar..., ou melhor... com a dona do estabelecimento.
- Gilda! Você estava vendo a novela?
- Não, quer dizer eu...
- Estava vendo a novela sim! E eu aqui com cara de bobo, traído, enganado, sem ter mais o que escolher no cardápio, com todos me olhando com cara de pena Gilda, e você vendo a carambola da novela?
- É que eu...
- É que nada Gilda! A partir de hoje não programo mais nada para os fins de semana, você pode ver esta maldita novela o quanto quiser. Eu vou é beber no bar do Geraldão. E garçom! Me vê a conta o mais rápido possível, por favor!

(os dois entraram no carro e permaneceram em um silêncio desconfortável até chegarem em casa, lá tomaram banho e foram deitar. Brás inconformado, disse que dormiria na sala, mas antes fez questão de tirar uma única dúvida que o consumia por dentro.)
- Gilda! Só me explique uma coisa:
- Porque o Antônio brigou com a Lara?


Gilberto Granato

quarta-feira, 10 de março de 2010

Science

A ciência cada dia mais me surpreende. Lá em Atlanta, na “Yankee land”, saiu mais um novo estudo de uma nova Universidade procurando achar os verdadeiros culpados pelos males do mundo e desta forma nos manter vivos por mais tempo. Desta vez, a culpada é uma bactéria encontrada no estômago, que pode ser a principal causa de aumento de peso em humanos. Eu, apesar de ter um corpo subdesenvolvido, mas aparentemente em bom estado, achei a notícia bombástica, pois apesar de conhecer bactéria só pelo nome, conheço pessoalmente um monte de humano volumoso por aí.

Quem sou eu pra contestar uma universidade da terra dos Sioux, Navajos e Apaches. Mas alguma coisa em mim diz que eles estão errados, pois segundo os meus estudos, baseados em observações “in vitro” e sem nenhuma verba federal, detectou que o aumento abdominal da raça humana, está diretamente relacionado a escolha do seu alimento e a preguiça. Pois é, você meu leitor com abdômen não definido, deve ter se preocupado e chegado a mesma conclusão, mas sabe como é, não vamos duvidar dos ameríndios comedores de hot-dog não, pois eles podem ficar bravos e jogarem um monte desta bactéria lá em Copacabana, em frente ao Copacabana Palace e dizerem que ela é um ser tupi, e com isto, montarem uma invasão abarrotada de mísseis pacificadores em mais uma luta contra o terror. Aí já viu, não saem daqui nunca mais. Acaba os problemas técnicos nas alegorias do carnaval, os montinhos artilheiros dos campos de futebol e a broca do feijão, vira uma chatice só.

Segundo os cientistas cheyenes, o desenvolvimento desses micróbios unicelulares pode estar associado ao consumo de água imprópria. O que me leva com todo respeito a pensar que eles também estão errados. Pois segundo um estudo que fiz comigo mesmo de Cobaia, em cantões do terceiro mundo verde amarelo, tomando água de rio por alguns anos, não obteve resultado roliço nenhum, a não ser o positivo para helmintos tupiniquins. E logo eles que tomam água bem tratada e mesmo assim exibem aqueles corpinhos de boneco de neve em qualquer ‘talk show’. I don’t no, mas se eles metessem mais a cara nos books e menos nos estudos “in frito” descobririam sem muito alarde, que o problema da obesidade mora ao lado, e não é no Canadá não, é nas prateleiras do supermercado, Oh shit!

Pois como diria um sábio tio, que não é cientista, nem índio, mas que tem um barrigão. E que estudou bastante a vida: “O que mata não é cachaça, comida gordurosa, nem ficar á toa. O que mata é raiva!”

I agree completely!



Gilberto Granato, don’t speak English, but try.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Fulano, ciclano e beltrano

Há muito tempo não ia ao banco. Fui umas veizinhas a muito contragosto, e não passava da roleta e do olhar desconfiado do segurança, ficava ali cara a cara com a máquina de dinheiro, tentando superá-la bravamente, para poder dispensar os atendentes que estranhamente não duram uma semana no serviço. Banco está bem vivo na minha cabeça: dos caixas fumando, dos vários tamanhos de clips, das borrachinhas de dinheiro, das tomadas no chão, do tira grampo (que evoluiu e virou afastador bucal), das máquinas de datilografar, do cofre, do gerente gente boa, do cafézinho a rolê, da minha Mãe chegando tarde da noite e cansada em casa, todas as vezes que faltava uns centavos no bolso do banqueiro no final do dia. Minha infância também se passou dentro do banco.

Nesta semana não teve jeito, tive que ir. Precisavam da minha assinatura. Não podia assinar antes, nem mandar por ninguém, fotografar e filmar o ato também não valia, tinha que ser eu. O descontento foi inevitável. Um dia antes, dor de cabeça, irritabilidade, estômago embrulhado por pouca coisa e reclamação aos quatro ventos. Facilitaram tudo para mim, disseram que não pegaria fila, que era só procurar o fulano, sem senha, bem rapidinho, não acreditei, mas tive que ir. Normalmente nestas situações quando tá tudo certo é quando tem mais chance de dar errado: O fulano vai almoçar, quem resolve agora é o ciclano, que é o mais antigo, que só aceita senha e adora atender idosos e conversar fiado, tá tudo lotado, não tem aonde sentar e tem sempre alguém reclamando e querendo que você concorde com a sua revolta. Era óbvio que ia dar nisto. Fui, subi diretamente ao local combinado, o segurança logo me advertiu: “tem que pegar a senha”, respondi que ia falar com o fulano e ele se conformou prontamente, opa! O negócio é quente, perguntei pelo fulano e de modo óbvio tinha dado uma saída, me encaminharam para o ciclano, comecei a ficar tonto, pensei em voltar, ciclano me recepcionou mal, tipo: “o que este jovem quer comigo?” sorte minha, que o beltrano do lado dele, era conhecido, melhorou as coisas e para surpresa minha, fiz duas assinaturas e fui embora rapidinho, fiz questão de cumprimentar os dois como velhos amigos. Fiquei bem-disposto, tinha acabado o trauma, estava livre para tentar de novo, afinal de contas as coisas mudam meu leitor. Tanto que me animei. Resolvi que hoje a tarde retornaria para fazer uma simulação da previdência, alterar os beneficiários, ver como andam as coisas pro futuro. Quando se vai fazer este tipo de coisa é evidente o resultado: mandam-te fazer pela internet, preencher uns formulários no site, dizem que on-line é tudo mais fácil etc... Mas notei que as coisas tinham mudado, já era hora de recomeçar, a confiança tinha voltado. Tomei um banho, coloquei os sapatos, ajeitei o cabelo, enchi o peito de coragem, peguei a chave da moto e inteligentemente deixei tudo pra lá e fui jogar na zaga da minha pelada!


Gilberto Granato, não é bobo não.

Agora vai!

Caro leitor. Ando sem inspiração para o negócio de escrever. Essa tal de inspiração, que vem de não sei de onde. Que os amigos chamam de “falta de tempo”, que Itamar Assumpção diria vir da transpiração, que os pulmões insistiriam em chamar de seu. Anda em falta. Poderia colocar toda a culpa neste ávido e insalubre calor de verão que nos flagelou, na falta de graça dos cidadãos, ou na família que anda aumentando de tamanho, mas não. Acabei de crer que o culpado de tal comiseração é o semáforo.

Já morei na cidade, no mato e no deserto. Mas resolvi fazer meu ninho no interior. Pois aqui tenho o equilíbrio de tudo que já vivi. É tudo pertinho, se pega e paga depois (ou vice-versa), anda-se de bermuda e chinelo com elegância e a diversão é jogar bola. O único problema é quando a cidade pequena tem complexo de inferioridade: Inferioridade da cidade grande. A pacata cidade tinha apenas um antigo sinal de trânsito, bem no epicentro, só pra dizer que não era bagunça (e não era). Mesmo assim, muita gente ainda não sabia a função daqueles três círculos de luzes coloridas. Apesar disto, recentemente foram instalados dezenas deles por todos os cantos da cidade. E daqueles que você não sabe a hora que vai abrir, uma aflição só, um corre-corre, uma loucura dantesca, uma malvadeza ferrenha com o pobre cidadão do interior. Virou o assunto da cidade. Não se fala em outra coisa, tá difícil de entender o troço, foi como jogarem uma calculadora de última geração em plena idade média. Sento aqui nesta cadeira e não consigo pensar em mais nada. E Tenho certeza que é algo que vem do sinal, se é do funesto vermelho, do aceitável laranja ou da gostosona de verde, eu não sei. Alguma coisa tem ali, que me aflige profundamente e me desdenha por inteiro, não sobrando nada para o amigo leitor, nadinha. Tenho procurado caminhos alternativos, desabafar com os transeuntes atrás de complacência, me concentrar nos vazamentos de água da casa, mas não dá. Meu objetivo diário é furar o maldito vermelho, correr desesperadamente atrás do laranja e agradecer aos céus pela belezura do verde que me dá forças. Sou um anarquista solitário em pleno interior.


Saudades do deserto.


Arawãkanto’i tapirapé, também mija na piscina quando o atendimento do hotel é ruim.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Caganeira de criança

De longe se sente o cheiro
Cítrico, meio azedo, fruto do seu herdeiro.
O berço coitado, vira uma fábrica de chocolate
E o coração de pai, bate, bate...

De lá se tira com cuidado
Para que o balançar não derrame mais o caldo
Corre-se até a pia, lava, ensaboa e enxuga.
Que a sinfonia de um doído choro aprofundará a ruga.
Você agora é o operário da máquina de montagem
Do setor que coloca fraldas sem contagem
Devagarzinho o quarto vai ficando vazio
Foram todos tomar banho de tanque e pegar sol na varanda.
Só porque meu filho um esfíncter não comanda

O dia passa e é hora do neném dormir.
Os pais estão enfadados, a de convir.
Até que novamente chegue a hora de abrir
A porta, lembranças de um souvenir.
E de longe sentir o cheiro
Igualzinho ao primeiro, do seu herdeiro.
O berço mais uma vez em chocolate
E o coração de pai que só, bate, bate...



Gilberto Granato