sábado, 13 de dezembro de 2008

Cartório Antropofágico

Esta semana fui a esta instituição secular introduzida aqui pelos portugueses, colonizadores, para dar lucros vitalícios e sucessórios aos protegidos da coroa, que com o passar dos tempos, ampliaram seus tentáculos e hoje servem para várias coisas, como por exemplo, para registrar um filho.

E sem culpa no cartório foi o que fiz. Processo ainda meio patriarcal, livre de tributos e vamos assim dizer... distinto. O circo quando se é pequeno assusta: palhaços maquiados, fantasias, som alto, animais exóticos... E não é a toa que encontrei similaridades no tabelião. Ao chegar tava lá a mulher barbada, o anão “homem bala” e a mulher foca, todos com traços característicos dos antigos Tupinambás. Até ai tudo bem, dava para comer uma pipoca e rir um pouco, mas comecei a perceber que as coisas não estavam em perfeita harmonia no picadeiro.

Tinham duas meninas ainda moças, de aparências saudáveis, tônus musculares firmes e sangue quente nas veias, carne fresca mesmo melhor dizendo, fazendo sabe-se lá o que num cartório daqueles. Uma já estava visivelmente em estado de choque esperando o anão dar carimbadas e a colocar intermináveis selos em papéis e a outra ao tentar sentar na cadeira ainda da época dos portugueses, quase caiu, fazendo a mulher barbada se manifestar: “tem que ter jeitinho menina” “depois que se acostuma é uma beleza” disse lambendo os beiços. O anão logo em seguida falou alguma coisa em seus ouvidos e o tempo fechou, ela deu um grito: Quer sair daqui!!! (que se não me engano o ouvi sussurrar “as canelas estão magras!”) A menina dos selos não se movia ainda entorpecida (provavelmente algum paralisante usado antes da minha chegada) a outra da cadeira arregalou os olhos e olhou para mim como se dissesse “não saia daqui sem mim”, e eu confesso comecei a ficar receoso prestes a me enodoar, já que seria ela que me atenderia, torci para não levantar os braços e mostrar os sovacos temendo encontrar algum animal peçonhento e aguardei. Enquanto isto observava as pilhas de caixas de papelão cheias de registros, de prováveis fitas de VHS de filmes de terror, de baratas da península ibérica e se não me engano vi um dedo saindo de dentro de uma das caixas, rapidamente desviei meu olhar para o anão e os infindáveis selos (devia ser ele que certificava se a carne era boa).

A mulher foca subiu, deve ter ido esquentar a água para cozinhar a menina dos selos. A mulher barbada provavelmente vendo que eu iria atrapalhar a refeição (era hora do almoço) veio me atender. Não quis concordar muito com o nome, queria “Otton”, insistiu em argumentar se o nome da minha esposa terminava com “m” ou “n” (eterno problema) alterado emocionalmente e temeroso, nem lembrava mais, “bota do jeito que você quiser” disse. Ao ver que o nome da minha esposa não tinha o meu sobrenome, olhou para mim e deu um sorrisinho sarcástico do tipo: “Há esta hora ela está na casa do vizinho” foi neste ensejo que acho que vi um pedaço de orelha nos seus molares, desviei minha atenção agora para o capacete em minhas mãos, feliz por ter cabeça. A menina dos selos já fazia as últimas orações e a da cadeira ainda aguardava a inspeção sanitária.

Depois de minutos de aflição, pavor e agonia assinei a minha alforria e rapidamente sai daquele covil lusitano com três certezas. Era um homem vivo graças a união do cromossomo "x" com o "y". Agora o Brasil tem 189.985.137 habitantes e está explicado porque a proporção ente homens e mulheres está caindo ano a ano.

O cartório antropofágico gosta de carne feminina!

Tupi or not Tupi. This is the question.



Gilberto Granato

Um comentário:

Unknown disse...

Provavelmente devem ser descendentes de Tupinambás antropofágicos. Eu já fiz a minha parte para repor a população feminina brasileira, mas vc terá que tentar de novo. boa sorte! Divirta-se, seu antropógago!