
Já morei na cidade, no mato e no deserto. Mas resolvi fazer meu ninho no interior. Pois aqui tenho o equilíbrio de tudo que já vivi. É tudo pertinho, se pega e paga depois (ou vice-versa), anda-se de bermuda e chinelo com elegância e a diversão é jogar bola. O único problema é quando a cidade pequena tem complexo de inferioridade: Inferioridade da cidade grande. A pacata cidade tinha apenas um antigo sinal de trânsito, bem no epicentro, só pra dizer que não era bagunça (e não era). Mesmo assim, muita gente ainda não sabia a função daqueles três círculos de luzes coloridas. Apesar disto, recentemente foram instalados dezenas deles por todos os cantos da cidade. E daqueles que você não sabe a hora que vai abrir, uma aflição só, um corre-corre, uma loucura dantesca, uma malvadeza ferrenha com o pobre cidadão do interior. Virou o assunto da cidade. Não se fala em outra coisa, tá difícil de entender o troço, foi como jogarem uma calculadora de última geração em plena idade média. Sento aqui nesta cadeira e não consigo pensar em mais nada. E Tenho certeza que é algo que vem do sinal, se é do funesto vermelho, do aceitável laranja ou da gostosona de verde, eu não sei. Alguma coisa tem ali, que me aflige profundamente e me desdenha por inteiro, não sobrando nada para o amigo leitor, nadinha. Tenho procurado caminhos alternativos, desabafar com os transeuntes atrás de complacência, me concentrar nos vazamentos de água da casa, mas não dá. Meu objetivo diário é furar o maldito vermelho, correr desesperadamente atrás do laranja e agradecer aos céus pela belezura do verde que me dá forças. Sou um anarquista solitário em pleno interior.
Saudades do deserto.
Arawãkanto’i tapirapé, também mija na piscina quando o atendimento do hotel é ruim.
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