quinta-feira, 4 de março de 2010

Agora vai!

Caro leitor. Ando sem inspiração para o negócio de escrever. Essa tal de inspiração, que vem de não sei de onde. Que os amigos chamam de “falta de tempo”, que Itamar Assumpção diria vir da transpiração, que os pulmões insistiriam em chamar de seu. Anda em falta. Poderia colocar toda a culpa neste ávido e insalubre calor de verão que nos flagelou, na falta de graça dos cidadãos, ou na família que anda aumentando de tamanho, mas não. Acabei de crer que o culpado de tal comiseração é o semáforo.

Já morei na cidade, no mato e no deserto. Mas resolvi fazer meu ninho no interior. Pois aqui tenho o equilíbrio de tudo que já vivi. É tudo pertinho, se pega e paga depois (ou vice-versa), anda-se de bermuda e chinelo com elegância e a diversão é jogar bola. O único problema é quando a cidade pequena tem complexo de inferioridade: Inferioridade da cidade grande. A pacata cidade tinha apenas um antigo sinal de trânsito, bem no epicentro, só pra dizer que não era bagunça (e não era). Mesmo assim, muita gente ainda não sabia a função daqueles três círculos de luzes coloridas. Apesar disto, recentemente foram instalados dezenas deles por todos os cantos da cidade. E daqueles que você não sabe a hora que vai abrir, uma aflição só, um corre-corre, uma loucura dantesca, uma malvadeza ferrenha com o pobre cidadão do interior. Virou o assunto da cidade. Não se fala em outra coisa, tá difícil de entender o troço, foi como jogarem uma calculadora de última geração em plena idade média. Sento aqui nesta cadeira e não consigo pensar em mais nada. E Tenho certeza que é algo que vem do sinal, se é do funesto vermelho, do aceitável laranja ou da gostosona de verde, eu não sei. Alguma coisa tem ali, que me aflige profundamente e me desdenha por inteiro, não sobrando nada para o amigo leitor, nadinha. Tenho procurado caminhos alternativos, desabafar com os transeuntes atrás de complacência, me concentrar nos vazamentos de água da casa, mas não dá. Meu objetivo diário é furar o maldito vermelho, correr desesperadamente atrás do laranja e agradecer aos céus pela belezura do verde que me dá forças. Sou um anarquista solitário em pleno interior.


Saudades do deserto.


Arawãkanto’i tapirapé, também mija na piscina quando o atendimento do hotel é ruim.

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