quinta-feira, 4 de março de 2010

Fulano, ciclano e beltrano

Há muito tempo não ia ao banco. Fui umas veizinhas a muito contragosto, e não passava da roleta e do olhar desconfiado do segurança, ficava ali cara a cara com a máquina de dinheiro, tentando superá-la bravamente, para poder dispensar os atendentes que estranhamente não duram uma semana no serviço. Banco está bem vivo na minha cabeça: dos caixas fumando, dos vários tamanhos de clips, das borrachinhas de dinheiro, das tomadas no chão, do tira grampo (que evoluiu e virou afastador bucal), das máquinas de datilografar, do cofre, do gerente gente boa, do cafézinho a rolê, da minha Mãe chegando tarde da noite e cansada em casa, todas as vezes que faltava uns centavos no bolso do banqueiro no final do dia. Minha infância também se passou dentro do banco.

Nesta semana não teve jeito, tive que ir. Precisavam da minha assinatura. Não podia assinar antes, nem mandar por ninguém, fotografar e filmar o ato também não valia, tinha que ser eu. O descontento foi inevitável. Um dia antes, dor de cabeça, irritabilidade, estômago embrulhado por pouca coisa e reclamação aos quatro ventos. Facilitaram tudo para mim, disseram que não pegaria fila, que era só procurar o fulano, sem senha, bem rapidinho, não acreditei, mas tive que ir. Normalmente nestas situações quando tá tudo certo é quando tem mais chance de dar errado: O fulano vai almoçar, quem resolve agora é o ciclano, que é o mais antigo, que só aceita senha e adora atender idosos e conversar fiado, tá tudo lotado, não tem aonde sentar e tem sempre alguém reclamando e querendo que você concorde com a sua revolta. Era óbvio que ia dar nisto. Fui, subi diretamente ao local combinado, o segurança logo me advertiu: “tem que pegar a senha”, respondi que ia falar com o fulano e ele se conformou prontamente, opa! O negócio é quente, perguntei pelo fulano e de modo óbvio tinha dado uma saída, me encaminharam para o ciclano, comecei a ficar tonto, pensei em voltar, ciclano me recepcionou mal, tipo: “o que este jovem quer comigo?” sorte minha, que o beltrano do lado dele, era conhecido, melhorou as coisas e para surpresa minha, fiz duas assinaturas e fui embora rapidinho, fiz questão de cumprimentar os dois como velhos amigos. Fiquei bem-disposto, tinha acabado o trauma, estava livre para tentar de novo, afinal de contas as coisas mudam meu leitor. Tanto que me animei. Resolvi que hoje a tarde retornaria para fazer uma simulação da previdência, alterar os beneficiários, ver como andam as coisas pro futuro. Quando se vai fazer este tipo de coisa é evidente o resultado: mandam-te fazer pela internet, preencher uns formulários no site, dizem que on-line é tudo mais fácil etc... Mas notei que as coisas tinham mudado, já era hora de recomeçar, a confiança tinha voltado. Tomei um banho, coloquei os sapatos, ajeitei o cabelo, enchi o peito de coragem, peguei a chave da moto e inteligentemente deixei tudo pra lá e fui jogar na zaga da minha pelada!


Gilberto Granato, não é bobo não.

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