quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Aos 18 minutos

Era fim de tarde e soprava um leve vento fresco, talvez um aviso de chuva mais tarde. Os jogadores foram chegando, de moto, de carro, de bicicleta, à pé, tirando das bolsas as chuteiras já acostumadas com os pés de habilidade duvidosa, os meiões esgarçados pela ira das esposas e as caneleiras para os mais precavidos. Antes como de costume o tradicional futevôlei no centro do gramado e as conversas do cotidiano da vida castelense.

Opa, o juiz chegou, já completaram dezoito é ora de escolher democraticamente os atletas, um de cada vez, analisando o potencial de cada peça e o esquema de jogo cuidadosamente. A primeira pelada é o clássico, não adianta, as subseqüentes não tem o mesmo vigor, a mesma importância e a mesma rivalidade. Pelada dura, xingada e corrida e quem perde tem que ouvir as piadinhas do adversário ou até mesmo o desequilíbrio emocional do próprio time, então ninguém entra só pra brincar, tem que se possível ganhar!

O juiz apita o início do jogo. Os dois times estão bem equilibrados. É lá e cá. O time deles tem um meio de campo habilidoso, um atacante insistente e uma defesa experiente. O nosso tem um ataque idoso, uma defesa dividida, mas o nosso meio de campo teoricamente tem mais toque de bola. Durante o jogo a posse da bola foi o nosso objetivo, nosso goleiro contrariando, por várias vezes se desfez dela e defendeu bolas difíceis. O laterais avançavam muito o que deixava uma avenida "nas costas" para o time adversário. O de short branco é novato joga sem chuteiras (coisa de moleque) e todas bolas passam embaixo do seu pé, levanta a cabeça caramba! Falava insistentemente, ele apenas ouvia e continuava a nos preocupar.

O grande problema do nosso time era o toque de bola, que não dava seqüência, os poucos chutes a gol e o idoso no ataque, a cada bola errada ia minando com sua verbologia o nosso próprio time. Á, esqueci de mencionar, nesta pelada não é bom errar não, se for várias vezes então, você será lembrado nas casas dos jogadores a noite, nas esquinas e até na próxima pelada que acontecerá daqui a dois dias.

O nosso goleiro defendendo e nosso time contra-atacando, as vezes com perigo, mas com poucos chutes ao gol, muita jogada individual ineficaz. Mas a coisa mudou no finalzinho... A jogada foi ligada na lateral direita, gritei pro idoso... toca! Ele sem mais ninguém para tocar, fez o passe. O "atacante insistente" adversário veio em cima da bola, dei um toque de lado e falta, reclamei com o juiz, falta dura, batida com pressa pelo idoso que tocou para mim, adiantei um pouco e chutei para o gol, o atacante insistente e faltoso estava no meio do caminho e levou uma bela bolada, ficou mais nervoso ainda, deu gritos furiosos de incentivo ao seu time. A bola espirrou e voltou no pé do meio de campo nosso, sai por trás do lateral (que sempre ficava no meio de campo) e recebi a bola, levei para a esquerda no centro de campo, faltavam dois minutos para acabar a partida que até o momento se encontrava empatada em zero a zero, o zagueiro foi para o centro, foi aí que adiantei a bola pela direita e ele ficou batido. O gol estava a minha frente, olhei para a bola e pensei em uma fração de segundos “não posso errar este chute”, sem olhar para o gol, chutei cruzado e rasteiro no canto direito do goleiro, que vendido nem pulou na bola.... Éééééé Gooooooool!!!! Deste que aqui escreve perna de pau convicto, que às vezes tem seu dia sorte.

O juiz dois minutos depois apita o fim do jogo. Os dois times saem exaustos em busca de água. Saio satisfeito, com sentimento de missão comprida, de dia completo, de salvador da partida. O idoso rouco de tanto resmungar, chega perto de mim e faz questão de repetir incessantemente em voz alta que o melhor do time tinha sido o goleiro.......

Coisas do futebol!



Gilberto Granato

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