sexta-feira, 1 de agosto de 2008

O eletricista


A história da eletricidade começa há dois mil e quinhentos anos atrás, perto da costa ocidental da Terra que hoje conhecemos como Turquia. É um fenômeno natural. Resulta da existência de cargas elétricas nos átomos que constituem a matéria. Mas e daí? Nunca gostei muito de física ou qualquer ciência que envolva números. Só sei que um eletricista, que segundo o dicionário é a pessoa que trabalha com instalações elétricas, me fez ranger os dentes durante esta tarde e ter dor de cabeça do lado direito da fronte.

Estava tudo indo bem. A empregada já havia deixado a casa limpinha. O crepúsculo se aproximava e eu como grande esportista que sou já começava a procurar o meião e a chuteira, para mais um clássico de fim de tarde na charmosa cidade Castelo. Quando me toca o interfone da casa, por sinal, cuidado com as palavras terminadas em “one”, são poucas, porém de alto impacto... Era o eletricista! Ele enrolou por vários dias, várias horas, mas foi pontual ao chegar na hora em que eu sairia. Falar para vir outra hora? Nem pensar, poderia demorar muito e deixar a dona da casa furiosa! Restou-me respirar fundo e trabalhar a cabeça para as próximas horas...

O motivo desta visita são alguns incrementos no quarto de Otto, que continua revolucionado nossas vidas e está com seus quinhentos e quarenta e oito gramas e agora mudou sua posição para pélvica, para chutar em outro canto inexplorado a barriga da Mãe.

O eletricista em Castelo pertence a mais alta classe social da cidade, junto com os políticos, juízes e padres. É difícil conseguir um, não lhe falta serviço e você ainda tem que tratá-lo bem, sob o risco de não ser atendido em uma futura pane! Ele já chega como um bom detetive interrogador:
-E aí vamos lá?
-Vamos...
-Você tem o interruptor duas sessões three way?
-What?
-Vou colocar os spot ligados separados do interruptor ou juntos?
-Faça o que achar melhor doutor!

Logo, logo, como é comum das celebridades, seu telefone (olha o sufixo) começa a tocar direto (o que retarda em muitos minutos o fim da arruaça), são outros clientes, combinações para o fim de semana (creio que era seu aniversário), mulher, só faltou os filhos, que não ligaram por que não tem (acho que a eletricidade faz mal aos bagos). Junto com o “senhor da luz” estava seu ajudante, um jovem (em castelo todos ajudantes são pegos para criar), que fazia o serviço braçal e entoava: O retorno é o preto? E o cacique respondia: não é a fase! E esse diálogo técnico permaneceu... Quando achei que a coisa iria acabar. O eletricista teve que levar seu assistente à escola! Putz... já era o futebol.... Voltou mais tarde, terminou a duas mãos o serviço, disse que comprou um terreno para descansar (realmente uma vida sob tensão e gerando tensão aos outros merece descanso) e foi embora, deixando um rastro de pegadas, pedaços de fios, parafusos, impressões digitais e poeira... muita poeira.

Restou-me de uma tarde sem futebol pegar fransiscanamente a vassoura e retirar os cacos elétricos deixados, fazer o jantar e marcar um golaço! Pelo menos com a dona da casa.

Gilberto Granato.

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