segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Noite de suspense


Havíamos acabado de chegar lá das Gerais. Mês de agosto é o mês do vento em Castelo, como já disse em outra história. É a época preferida dos soltadores de pipa, que na minha infância, era coisa de criança, atualmente, os adultos, talvez sem infância tomam conta da linha e da rabiola. Aqui no morro da formiga, onde moro, é um dos pontos de prática preferidos desta tribo, que como conseqüência da brincadeira, sempre deixam as poucas casas sem luz, devido a curto circuitos ocasionados pelos “escudos de time voadores”.

Uma viagem de volta de qualquer lugar é sempre mais cansativa que a de ida, como o portão da garagem não abria, descarregamos caixas e sacolas arduamente do lado de fora da casa. O que me fez refletir nos esforços de chapas e estivadores nos seus trabalhos braçais. Terminei hora depois. A energia voltou e tomei aquele esfumaçado banho quente digno de um cavaleiro retornando da batalha, coloquei o pijama, deitei no sofá e já começava a cochilar como um bom velinho, quando derrepente a dona patroa me acordou:
- Gil. Ouvi um espirro?
- O quê?
- Sim, e vem lá de fora!
- (Meu Deus alucinações a esta hora não!)
- Olha só, a garagem está acesa?
- (a garagem possui estes dispositivos de luz que acendem na presença de movimentos)

A cadela latia e ouvíamos barulho de algo mexendo. O gato também estava agitado e a luz acendia a toda hora. Tentei acalmar a minha cônjuge e voltar aos meus sonhos, mas confesso que o perdi e sem prazo de retorno, comecei a me preocupar e a toda hora olhava pela varanda e atônito via que algo não estava normal. Até que minha esposa já em estado de choque e sabendo que não dormiria sem saber o que se passava, ameaçou descer. Eu pensei, sou o homem da casa ou não? Não tenho arma. Se for um ladrão ou um marginal se escondendo, já deve estar com algum tipo de artilharia. Logo hoje, vou entrar em luta com um bandido, talvez ser ferido em minha própria casa! Rapidamente lembrei da burduna que ganhei dos índios Tapirapés, isto mesmo, o popular porrete! Feito da mais maciça arvore do cerrado, para abater caititus e outros animais desnorteados na caça.

Desci as escadas com o coração acelerado, minha companheira atrás para um eventual 190. A luz se acendeu novamente, ele se mexeu? pensei. Firmei as mãos no taco, a cadela correu para a garagem, fiquei anestesiado pela a adrenalina do momento e parti em direção ao perigo, a cadela avançou novamente, agora para embaixo da escada e quando desci os degraus e me preparei para o enfrentamento: lá estava um lindo filhote de coruja com seus emblemáticos olhos arregalados e com certeza muito mais aterrorizado que todos nós. Ameacei pegá-lo com as mãos, mas minha esposa disse que poderia me bicar, então perguntei: mas coruja bica? E ela respondeu com toda segurança: bica! Hesitei em segurá-la e abri o portão da garagem. Toquei-a com cuidado com a burduna para ir embora, ameaçou ir para embaixo do carro, mas depois sentiu a brisa do ar chamando e voou como a mais bela e folclórica das aves noturnas pela noite adentro.

Vai corujinha, vai... Vai viver sua vida em paz e tenha cuidado com os gaviões...


Gilberto Granato.

6 comentários:

Unknown disse...

Um dia peguei uma coruja na mão, um filhote. Ela não me bicou mas quando abriu o bico quase em 180 graus, me assustei achando que fosse um alienígena e a soltei.
Foi hilário......

Anônimo disse...

hahahahahaha. A melhor de todas, que falta de coragem foi essa primo, assim vc queima a família. Abraços.

Anônimo disse...

Essa estória me inspirou um pensamento, que certamente ficará nos anais da literatura nacional: "Em casa que tem coruja, o patrão dorme igual ao Pantaleão: com um olho fechado e outro aberto."
Grande abraço,

João Guilherme.

Unknown disse...

Gil, não precisava me entregar... eu disse que bicava pq se não era capaz de vc querer trazer ela pra casa também, e talvez quem sabe dar o nome de Xipita!!!!!!!!
Bjis,
Xibé.

Unknown disse...

Parabéns Gil ! Seu gesto foi admirável em soltar a coruja, ela agradece e eu que pretendo ser veterinário posso contar com vc !

abraços ! Luca

Anônimo disse...

Pô, Gil, com medo da coruja?!Mais realmente foi engraçado.Já pensou se fosse um bicho maior?Qual seria sua arma?
Beijos e tenha bons sonhos!!!!
Michele