domingo, 10 de agosto de 2008

Desastre aéreo


Era fim do ano de 2001. Noroeste da Amazônia Brasileira, depois de um ano superando as picadas de piuns (insetos minúsculos que te ferram o dia inteiro quando o rio está cheio), transpondo igarapés e cachoeiras, driblando jararacas, suplantantando o calor tipo “sauna úmida” da linha do equador, dormindo em rede (nada contra), fazendo cocô no mato, bebendo água do rio, suportando a falta de luz da cidade e a distância do Brasil (Amazônia não é Brasil) e dos familiares queridos. Chegou a hora de fazer as malas mofadas e voltar para o sudeste de férias, como é de direito de todo trabalhador de carteira assinada, mas antes tiveram as celebrações...

Sim, existem outras pessoas que também enfrentaram tais situações e antes queriam extravasar nos verbos e nas comemorações. O epicentro do encontro era a palhocinha do já citado condomínio Jurucê. Como todo Brasileiro, uma semana de churrasco todos os dias, regado a bastante cerveja chocalhada, restos de geladeiras (para caber as cervejas) e champagne, claro, os vitoriosos não bebem champagne? Dias... Durante a manhã superando as ressacas e fazendo relatórios e a noite celebrando o ano de vitória contando os segundos para o embarque. É bom salientar que as carnes de churrasco que chegam até esta região, vêm de açougues clandestinos de Manaus e sofrem um aprimorado processo de congelamento e descongelamento até chegar a São Gabriel da Cachoeira. No município, ela sofre um segundo mesmo processo, devido a falta de energia que era constante, ou seja, você acaba comendo um churrasco tipo micobacterium amazonensis. Fora o seu desgaste físico, também tem os protozoários e helmintos mutantes que insistem em habitar permanentemente as paredes estomacais e intestinais das pessoas que moram nessas regiões. E como catalisador disto tudo ainda tem a emoção!

É chegado o dia. O sol como companhia. Eu, minha esposa e um médico nos direcionamos para o aeroporto Uaupés, para embarcar em um avião tipo Brasília, o único que faz esta linha para o Brasil. É bom salientar também, que este avião caiu por duas vezes enquanto lá morei, quebrou centenas de vezes e durante um vôo em que só minha esposa estava presente, a turbulência foi tanta, que as máscaras de oxigênio caíram e a aeromoça, que é a única que não pode descontrolar em uma hora dessas, descontrolou.

Mas viver é um risco e viver em uma praia no litoral do nordeste compensava a temerariedade. Entramos no avião, continuamos os papos de dias atrás e é claro: Aeromoça! Cervejas por favor. Papo vai papo vem, depois da quarta cerveja, levantei o meu esqueleto para me dirigir ao banheiro (em avião se chama lavatório), como todo bom tomador de cerveja, que só vai depois da terceira, a fim de dar folga a minha operária bexiga.

No lavatório ao urinar, cometi como muitos, uma leve flatulência, que para meu espanto deixava qualquer carcaça de urubu podre no chinelo! Pensei, vou dar um tempinho e retornarei como bom piloto em situação de risco ao local de origem: a poltrona. Só que os átomos de minha flatulência estavam extremamente carregados desta substância química fétida e que não tinham para onde ir. Depois de alguns minutos, a minha demora já estava ficando estranha, então em uma manobra rápida de atacante, sai rapidamente e fechei a porta e voltei ao meu local. Segundos depois ouvi palavras desesperadas em espanhol no fundo do avião: que passa!, puta madre!, santo Dios! Era um bando de chilenos desesperados, se abanando, gritando com os olhos em lágrimas e revoltados com o cheiro de esgoto que rapidamente se alastrava pelo pequeno avião, chegou até nós e teve um impacto assustador principalmente no médico, que chegou a agachar, mais a frente penetrou nas narinas da aeromoça, que como um bombeiro apagando o fogo, pegou um frasco de “odorizador de ambientes” e saiu desesperada ejetando todo seu conteúdo pelo avião, eu só pensava o que deve se pensar nessa ocasiões: “Eu não sou daqui mesmo”. A competição foi grande e prolongada, mas o cheiro doce venceu a batalha. A aeromoça de volta ao seu lugar ficou me olhando de cara feia a viajem inteira. Olhei para ela, pensei... e não tive dúvidas, com muita educação e respeito pedi outra cerveja!


Gilberto Granato.

Um comentário:

Anônimo disse...

Puta que o pariu, eu não consigo fazer um caralho de comentário.