segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Baile de debutante


Qualquer povo tem seu rito de passagem. Eles servem geralmente para marcar a transição da fase “infantil para a adulta”, a fim de mostrar para uma determinada sociedade que as responsabilidades e a relações sociais de alguns de seus indivíduos mudaram e cabe a eles agora passar as tradições para outras gerações, ou melhor, não cabe mais.

Peguei uma bela fase de baile de debutante. Não perdia uma. Primeiro tinha aquela expectativa, para ver se a “debu” iria te convidar para dançar a valsa, claro, tinha a valsa com o pai, depois com um tio ou avô e por último era com a “paquerinha”, sendo que os outros amigos também já tinham seus pares pré-selecionados e devidamente ensaiados para a dança no aguardado dia. Que beleza, música erudita, no máximo um piano, se podia ouvir o murmuro entusiasmado das pessoas conversando e dos copos brindando. Minha maior dificuldade era conseguir conciliar minhas camisas sociais com as festas, pois tinha (graças a Deus) umas três de cores diferentes. Certa vez, fui convidado para dançar uma, sempre fugia, gostava mais de me divertir sem compromisso, mas nesta a pressão foi grande. Uma menina, que se chamava Ana Paula, uma boa amiga, mas não favorecida pela beleza, de cabelos difíceis e um problema facial (comum nesta fase) e que pela insistência das amigas e pelos últimos "nada comuns"convites para visitar a sua casa "para estudar", acabei topando. Durante a festa estava passando pelo rito “dos primeiros goles” para me encorajar para ser o alvo da “debu”. Na hora do Tanâ nâ nâ nâ, nânâ, nânâ!!! E o apagar das luzes, lá fui eu, claro, depois dos familiares e lógicamente sem a aprovação e com olhar sério do pai, para o “dois pra lá e dois pra cá” sentia durante a dança com a atriz principal, seu coração bater aceleradamente e sua respiração ofegante, lembro que trocamos algumas palavras nos ouvidos, até que chega uma hora, que você não vê a hora da música terminar, para tomar um copo de água para aliviar a secura da boca e voltar tudo ao normal, me sai bem, acho que até demais, pois mais tarde os cochichos corporativos da turminha (comuns desta fase) me levaram até uma mesa distante em um cantinho escuro e tive que aplicar uns beijinhos na menina transformada pelo cabeleireiro, pois novamente a pressão foi grande!

Hoje, as meninas já não estão querendo mais fazer o Baile de gala: os pais estão separados ou apertados, preferem ir para salvador dançar micareta no final de ano, guardar o dinheiro para algum pertence desejado (celular, roupa, computador...) e aquele negócio de trazer ator da rede globo para dançar complicou o negócio. Recentemente fui a uma rara festa destas. As amigas da “debu” estavam todas lá, fiéis e confidentes, afinal são muitas experiências vividas juntas: primeira menstruação, primeiro beijo, primeiro namorado, primeiro ídolo... Hoje as festas estão bem diferentes: tem adereços coloridos de festa rave, tem menino de boné e adulto de bermuda, Dj Bill “tocando as melhores” que ele considera dentre estas o separatista “funk carioca”, teve o “Pai nosso” (comum em qualquer evento em Castelo), parabéns pra você (não pode faltar), bolo (também não), mas não teve a valsa, será que a valsa ficou careta ou nós que ficamos?

Não sei. Sorte ou azar desses meninos, que agora sem o olhar sonolento dos pais podem escolher a menina preferida para dar uns beijinhos, mas se são só beijinhos, isso eu já não sei!


Gilberto Granato

2 comentários:

Anônimo disse...

Putzzzzzzz... só faltam 9(nove) anos....

Digão.

Anônimo disse...

Gil, adorei a parte que vc cita o cabelo difícil.
Me fez rir de novo, numa tarde que não tinha muito o que fazer.
Te adoro.
Beijos.
Michele