sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Pensando na velhice

Hoje, ou melhor, há umas semanas atrás. Tive tempo de matutar a velhice, sim aquela fase, que vem depois da envelhescência que além do sufixo é muito parecida com a adolescência, pois segundo o Mario Prata, é a idade entre os 55 e 70 anos, que é uma preparação para a velhice. Nesta fase os futuros avelhantados se comportam igual aos jovens: Os dois gostam de meninas de vinte anos, ambos são irritadiços, se enervam com pouco. Acham que já sabem de tudo e não querem palpites nas suas vidas. Os dois acabam sentando na poltrona do dentista e no divã do analista, ambos bebem escondidos, adoram usar tênis e por aí vai...

Fui encarar a previdência social e ver como andam as coisas. Cheguei cedo e já peguei uma mini-fila na entrada, até aí tudo bem, tinha uma gestante e uma mãe de um bebê de quatro meses, aproveitei e aumentei os dados da minha rica enquete: o parto da senhora foi normal ou cesária? Ao entrar, não tem mais fila, tem gente que agenda o atendimento, mas tem que esperar igual a consulta de médico de SUS e final de campeonato. Entrei e todos estavam mudos, as cadeiras cheias, com apenas uma vaga, educadamente me apoiei na parede branca e comecei a revezar o número quatro, não entendeu? Não pedem para fazer o quatro quando se está bêbado? Para esperar também, até que a parte anterior da coxa começa a doer, depois a posterior e depois vem aquele sopro profundo de descontentamento lá das paredes semi-virgens do pulmão. Sentar na vaga? Tinha dois velinhos que estavam de pé? (e olha que todos ali querem é mesmo é se encostar!), mas não queriam sentar, são mais educados do que eu então pensei, não, deve ser as hemorróidas da idade, repensei. Ali dentro só tinha em sua maioria seres idosos, deficientes de muleta, doentes crônicos, mães com crianças de colo, eu e uma jovem perdida, se eu fosse dar a vez aos mais velhos, como diz a lei da vida, nunca iria sentar, me sentei.

Comecei a questionar a futura comedora de minhocas, encostante jovem do governo ao meu lado. Tinha chego uma hora na minha frente e sua senha estava muito longe, pensei, o bicho vai pegar! Tinha senhora que a todo o momento tirava o santo do bolso, para avançar na fila? Doença? Tinha senhoril de chapéu panamá, chapéu de palha, de bigode, de bigodão, nos cartazes nas paredes só desenhos de personagens senis, achei-me um estranho no ninho, mas com a boca bem aberta a espera das minhas minhocas da velhice. Alguns senhores olhavam para mim e eu lia os seus pensamentos: Devia ter vindo aqui na época deste jovem? Tinha um senhor que ficou por muito tempo em pé, impressionante sua resistência, mas não quero ser assim, quando a idade me pesar, quero sentar, quero que me dêem o lugar, do ônibus, do cinema, da fila da vacina, do tira gosto grátis do supermercado, quando chegar lá quero boa vida, não vem com essa de “quando a pessoa envelhece não consegue mais ficar sem trabalhar” tem muita coisa melhor para se fazer na vida, que não é o primeiro trabalho, porisso estou aguardando calmamente chamarem o meu número, para eu ver quanto tempo tenho que ralar neste trabalho ainda, para me dar mais alento, mais um escopo, mais minhocas para meu encosto.

Não me contive claro. E puxei um papo com o companheiro de mau hálito do meu lado, a da frente nitidamente de fora na mesma hora, se adentrou no assunto e a falação se deu início, quando percebi, todos ao redor já estavam a trocar conversinhas. A mesma moça de cabelo esquisito começou a falar de nome de carro, da vida alheia e a falar de mais, resolvi desviar a minha atenção e continuar no meu silêncio, apenas olhando o visor das senhas e pensando nas minhocas.

Fui atendido. Sai com minha fome de adulto jovem ainda, sem braço enfaixado ou dor nas costas, apenas nos glúteos (ainda sem espinhas) de ficar sentado, hígido. Ao chegar em casa tomo aquela dura da minha amada passara mãe: esqueceu aquela minhoca, não perguntou aquilo?... e blá, blá, blá...

Porisso, hoje bem cedinho tive que voltar lá de novo. Um pouco mais velho é lógico, mas ainda sem muletas. Fui com tudo bem escritinho, para não correr o risco de um ensaio sobre a cegueira acontecer, foi rápido, os funcionários já nos conhecem, “a grávida e seu marido esquecido”. Só deu tempo mesmo, de ouvir a queixa de mais um senhor enfermo: Éh, o negócio está feio pro meu lado! Alegando um problema ainda não bem identificado, segundo eu bem entendi.

Agora! Meu caro leitor em processo de envelhecimento!... Ih! Pera aí? Olha minha esposa agora me gritando: Gil, quando você subir traz o remedinho que tá do lado do filtro por favor! Coisa de velho não é?

Acho que vou me olhar no espelho...

Até...



Gilberto Granato

Um comentário:

Unknown disse...

Boa Gil!! Essa foi filósofogeriatra ou geriatrofilosófica!! Ainda não ando de muletas mas agora as articulações começaram a rager e a memória?! Isto deve ser da idade mesmo, desde os 10 anos tenho este problema. Vc começou mais tarde...