domingo, 9 de novembro de 2008

Laelia

O nome dela é Laelia. E ela é minha garota, já faz parte do meu ser, me alimenta as retinas, me embriaga os sentimentos. E antes que você (e minha esposa) pensem que ando me apaixonando por outras, explico. Laelia é minha orquídea favorita, seu sobrenome é Lobata e ela é alba...

Supõe-se que a história das orquídeas tenha começado no oriente (Japão e China) há 4000 anos atrás. No ocidente a referência mais antiga era de um aluno de Aristóteles chamado Theophrastos há 300 anos antes de cristo, daí pra frente se difundiu igual a aquecimento global, ou melhor, crise econômica mundial e algumas espécies egoistamente vieram parar aqui em casa.

Aqui no morro da formiga, ela passa a maior parte do ano despercebida, assim como suas primas: tímidas, acuadas, inexpressivas, quase um monte de mato. Tem os preconceituosos que chegam e chamam-na de parasita, vê se pode? Parasita é ele que suga o oxigênio que ela emite todo dia sem ao mínimo agradecer. Têm outros que tiram as remelas dos olhos grudados e perguntam: Ah! Isto que é uma orquídea? E tem os transeuntes que conhecem tudo, ou quase tudo de suas funções na terra, mas não entendem que ela está ali, bem ao seu lado, esperando por atenção, por elogios, por uma cantada barata. Até mesmo as Lobatas gostam de um gracejo...

Esta em especial fica pendurada, ou como dizem alguns dependurada (o que não é apropriado). Mora em cima de um xaxim antigo, com musgos, que quase já não dá conta de apoiá-la. Tem uma suculenta intrusa que cresce no cantinho do vaso sem incomodar. Tem orquidófilo que diz que tem florescimento difícil, complicado. Li em outro lugar que só floresce em determinados lugares, balela de teóricos mãos de tesoura. Ela floresce aqui em casa, todo ano, pega um vento desgraçado, constantemente dou umas cabeçadas nela, minha empregada umas vassouradas e tem uma aranha que adora fazê-la de suporte para sua teia predadora. Sacode o ano inteiro, feito máquina de lavar e no mês de novembro, meu mês, que será de meu filho também, ela vem com suas hastes (opa vai dar flor!), que saem de dentro das folhas, um fenômeno. E para ver se os pendões já está quase saindo é só colocá-la contra a claridade da lâmpada a noite e verá sua imagem lá dentro, ainda um embrião de flor.

Com os pêndulos fora da haste, leva alguns dias para abrirem e aí vem aquelas linda flores de pétalas e sépalas brancas e labelo branco levemente amarelado, o seu cheiro é deleitoso, prazeroso, difícil descrever, que além dos insetos também atrai a minha esposa. Ela fica alguns dias nos dando o privilegio de contemplá-la e depois murcha, cai no chão. As que vejo recolho-as e as coloco no solo de alguma outra planta, para servir da adubo, de inspiração, de incentivo, para não desistirem, pois um dia também em flores estarão.

Estou tão sensibilizado, que agora coloquei um arame apoiando o seu vaso na pilastra, afinal de contas, ela merece mais repouso, mais sossego. Veio de algum lugar do mundo, talvez seja uma chinesinha, uma japonesinha e agora está aqui com a gente. Só dou água e alguns nutrientes e ela me dá satisfação em dobro.

A vida deveria ser assim, deveria ser lei, projeto de lei, emenda constitucional, tudo o que déssemos a alguém receberíamos em dobro, já pensou, que beleza? Dar seria o verbo mais requisitado e conjugado do nosso planeta, sem duplo sentido é lógico. E assim todos seriam milionários, era dar um, para receber dois e assim por diante. Uma grande corrente e todos ficariam ricos. Pelo menos de espírito.

O boa-praça Barack Obama que me desculpe, mas o principal fato histórico da semana foi a minha Laelia.



Gilberto Granato
(Barack obama foi eleito o primeiro presidente negro da história dos EUA)

Um comentário:

Unknown disse...

O problema do Barack é ser americano mas é salvo por ser obama; será que é salvo mesmo?!
Já a sua Laelia é brasileiríssima sem defeitos.... Parabéns Papai !!