terça-feira, 16 de setembro de 2008

O porta silicone

Caros amigos que ainda aturam o que escrevo. Vocês devem estar pensando que agora vou apelar para o silicone e pior, anos depois que virou moda (hoje é rotina). Que por sinal fez muito bem as mulheres e porque não dizer as “pessoas que vestem roupas próprias do sexo oposto”. Confesso que tenho a curiosidade, quase que acadêmica de tatear uma prótese de silicone “in vitro”, mas a minha geração, chegou um pouco tarde.

Eu, por exemplo, só tenho uma chance. Que minha esposa, um dia se interesse ou se influencie em colocar um (que na minha visão de homem moderno, sua região recôndita vem mantendo uma resistência física impressionante, ainda mais agora hormonalmente abastecido). No mais, as minhas chances se limitam a uma “esbarradinha” despretensiosa (respeitosa é claro!) em um carnaval desses por aí ou quem sabe na fila do... do....do... Isto vai ser mais difícil, pois não enfrento filas. Quem sabe eu ainda não desfile na Portela? Fica melhor assim...

Silicone no dicionário é: designação genérica de várias substâncias plásticas sintéticas derivadas do silício (formadas por átomos de silício e de oxigénio) e que tem larga aplicação como: lubrificantes, isoladores eléctricos, no fabrico de ceras, polidores, vernizes e próteses! Olha ele aí. Podemos exemplificar e acrescentar: os silicones de sutiã, tatuagens de silicone, formas de pudim de silicone, silicone em spray para esteiras ergométricas, capa de silicone protetora para ipod.... Os silicones da categoria “lubrificantes” são inesquecíveis. Os amantes de carros usavam ou usam ainda no volante e painel a fim de.... de.... de o quê? De dificultar a direção e causar náuseas em quem entre no carro fechado, principalmente no horário de pico de sol.

Mas o “porta silicone” em questão é daquele silicone de construção civil, de acabamento de interiores de casa, para evitar a infiltração de líquidos, sabe? Lá no seu banheiro, ou na sua pia deve ter em algum. Nas juntas do encanamento ou provavelmente no box ou na banheira, vai lá procurar eu espero. Ainda falando em silicone (é um assunto polêmico daqui um pouco eu falo do “porta” do título). Na infância, quando os “colocadores de silicone” foram na minha casa, para impermeabilizar as peças de mármore que ficavam nas janelas para evitar infiltrações da chuva. Quão espantado fiquei com aquela nova tecnologia! (pelo menos nova para mim). Quando os amigos vinham me visitar, era imperativo apresentar-lhes aquele composto de átomos de silício e oxigênio e ficávamos encantados a beliscá-lo. E ai, de quem ousasse arrancar um só pedaçinho! Era ouro!

Na sua casa, dependendo da ação da natureza e da sua preocupação, com certeza, em algum momento da sua vida: uma pia vazou, uma telha trincou a junção telha/parede separou (igual uma placa tectônica). O que nos leva, autodidatas nas tarefas da casa que somos a ir a uma casa de material de construção, para escolher a nossa substância plástica. Os maiores tubos (elastômeros) vão precisar do “porta silicone”. Que além de substantivo composto sem hífen e um objeto parecido com uma pequena metralhadora e que auxilia no uso muitas das vezes “remediativo” do material elástico.

Há uns tempos atrás, fui lá no porão procurar uns desses, para uma destas situações críticas. Tinha dois, da cor de um pé de moleque e ao microscópio, lotados de bactérias “clostruidium tetani”, o êmbolo mal mexia. Digno de um filme de Zé do caixão. Joguei-os fora e fui comprar outro, agora sim, amarelo, moderno, poderia muito bem enfeitar a recepção de um ateliê de um artista plástico. Usei e o guardei com todo carinho dentro de casa (comum com tudo que é novo). Estes dias, ao ajeitar umas prateleiras na garagem. Quem eu encontro? Meu velho amigo “porta silicone” ainda amarelo (alguém sem coração o tirou do quentinho do lar e o colocou embaixo da ponte). Seu êmbolo já mostrava sinais de artrose, emperrava um pouco, mas com força ele ia em frente. Dei uns tapinhas nas suas costas, para encorajá-lo e deixei-o no segundo degrau da escada.

A semana passou, todos passaram por ele e o máximo de atenção que teve, foi evoluir e chegar ao sétimo degrau. Passo por ele pelas manhãs e penso que deveria ter uma associação dos Portas Silicones em Desuso (APSD), para desenvolver atividades paralelas com eles como: preenchimento de bancos de praça, arrematar parafusos ou pregos em telhados de periferias ou quem sabe ajudar a isolar os grampos telefônicos dos gabinetes dos parlamentares do senado federal, que andam preocupados com suas privacidades.

Mais uma semana passou. E o máximo que ele chegou, foi ao nono degrau. Foi por pouco! Faltavam apenas três degraus, para quem sabe ele voltar para dentro do lar ou para um local mais nobre, quem sabe um outro lar? Nova família, novas funções? Mas seu destino foi trágico e digno de pena: voltou para a prateleira suja e cheia de teias de aranha da garagem, para continuar o seu “enferrujecimento” e fazer companhia novamente ao litro de óleo lubrificante de motores a diesel, a lata de graxa e a lata de cola de sapateiro (uma moçada barra pesada). Pelo menos quando vi. Ele estava conversando com os vasos de planta vazios e os jornais velhos (que são mais camaradas).

Definitivamente, quem inventou o “porta silicone” não é um gênio. Preocupou-se apenas com os seus bolsos e esqueceu de melhorar a qualidade de vida deste objeto tão simpático. Só de raiva, na próxima vez que o cano vazar, vou usar um “durepox” ou melhor vou deixar a água correr solta, leve e livre!



Gilberto Granato.

Nenhum comentário: