quinta-feira, 25 de setembro de 2008

As profissões

Estava a pensar nesta classe: a dos profissionais trabalhadores. Que ao contrário de outras, dão duro no dia a dia, lutam para viver a fim de conseguirem melhores condições de vida e não desistem nunca, ou melhor, não podem desistir.

O objetivo de qualquer cidadão é buscar uma profissão. Alguns conseguem desfrutar do que realmente gostam, outros amargam uma rotina massacrante o resto da vida, alguns experimentam várias áreas até nunca encontrarem o que realmente tinham aptidão, tem aqueles que sem querer a acham e viram “pop stars” na sua ciência, tem os que vivem a vagar, serão estes os vagabundos? Tem os que produzem uma vida inteira e merecidamente se aposentam, sem falar nos que desempenham várias funções às vezes nem todas remuneradas, mas contribuem com o planeta e para o bem estar das pessoas de alguma forma, afinal de contas quem trabalha gera bem estar, seja ele econômico (ex: O PIB), político (ex: Associação de moradores), social (ex: músico saxofonista).

Tenho observado e pensado em algumas como, por exemplo, o Padeiro, que acorda 3,4 da manhã todo dia inclusive domingo. Enfrenta temperaturas altíssimas, que principalmente no verão devem chegar próximas à desnaturação protéica. É fácil reconhecê-lo nunca é visto á noite em lugar nenhum, pode ter sotaque português, está sempre de olheiras bem definidas e com a revisão do médico e do dentista atrasadas.

E a Desfiadeira. Que trabalho árduo. Fica horas quebrando o siri ou o caranguejo. E não pode deixar pedaços de carapaças, sob o risco de o comprador procurar uma mais habilidosa. É impressionante a rapidez e destreza na remoção da carne nas pequenas puans. Trabalho duro e talvez mal remunerado. É fácil reconhecê-la está sempre a sorrir. Adora uma câmera fotográfica, tem as mãos calejadas do trabalho, sempre está com um lenço na cabeça e seu marido é pescador e toma cachaça todo fim de tarde.

E o radialista. Tem que estar de olho nas frentes frias. Nunca atrasar um segundo, não exagerar na vida noturna, estar bem informado, água muito fria nem pensar, ter empatia e ter cuidado para não falar besteira sob o risco de tirar umas férias forçadas. É difícil reconhecê-lo geralmente atrás daquelas vozes lindas e melódicas, estão pessoas raquíticas, esquisitas, de anatomia difícil e bafo, isto mesmo, eles têm bafo e de onça! É assim também com os escritores, produzem belos livros, roteiros, peças e quando vamos vê-los, são personagens de filmes de ficção científica, olha o Mario prata, Paulo Coelho, Ziraldo, Jorge Amado, Fernando Morais pelo amor de Deus! Ambos profissionais não usam desodorantes (questão de princípios) e estão solteiros, podem já terem sido casados, mas estão solteiros. As mulheres não agüentam, acham que são vagabundos, pois só ficam na frente do computador (ou máquina de escrever) e acordam a hora que querem, geralmente trocam o dia pela noite, nenhuma mulher suporta ver a cama desarrumada.

O professor de auto-escola, que categoria instigante. Acham-se poderosos, pois a carteira de motorista é um rito de passagem para o ser humano. E eles muitas das vezes são os interlocutores deste elo de independência . É como aquele professor que dá provas difíceis, para atrair o puxa saquismo das alunas de saias, óculos e caras de santas da primeira fila. Estão sempre cansados, geralmente não terminam suas carreiras advertindo seus alunos das linhas amarelas, seu objetivo é ficar na sede da auto-escola ou do DETRAN atrás do computador no ar condicionado. Têm que ter paciência, geralmente não tem. É fácil reconhecê-lo está sempre dentro do carro da auto-escola, de óculos, no lado do carona com a mão na cabeça e o cotovelo na janela do carro, não demonstra entusiasmo e olha no relógio o tempo todo para tentar acelerar os segundos e o dia acabar logo. Fim de tarde toma sua cerveja no boteco preferido. Ou não casou ou já tem netos.

E o biomédico plantonista de urgência. Profissão estressante! (dá licença para eu citar o colocador de gesso, pois tem um agora aqui em casa, que vive na branca neve da poeira, odeia quem vai para Bariloche, tapioca, farinha de trigo e tudo o que é branco. Disse ser a pior profissão do mundo. Faz questão de dizer com orgulho que também é pintor.) voltando ao biomédico que pode ser o de ambulância também, já dorme pensando no outro dia, pois vai atender a tantas urgências (sempre tem a média diária) vai ver facada, tiro, traficante ameaçando, mulher depressiva, pois já é velha e não casou, nego que caiu do pé de goiaba, marido da categoria dos que não encontram sua profissão queimando a casa com os filhos dentro, aqueles que vão achar que ele é o culpado por toda a tragédia que aconteceu, sem falar nos trotes ou pitis. É difícil vê-los por aí. Fim de semana, quando raramente não estão de plantão, vão para um lugar isolado no meio do verde, não levam os celulares, buscam o conforto da família ou da televisão por assinatura e perdem a paciência com muita facilidade e estão indo ou irão ao psicanalista.

Deixarei os caçadores de cascavéis, limpadores de peixe, exterminadores de abelhas, recolhedores de animais mortos pelas ruas, degustadores de vinho os limpadores de esgoto, as figurantes de enterro e de lojas de shoping, os políticos e os jogadores de futebol para um outro dia, pois Fred 04 já dizia: A alma de um trabalhador é como um carro velho, só dá trabalho!



Gilberto Granato.

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