sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Nota de falecimento


Amigo cristão. Nem só de alegrias vive um homem. As encruzilhadas da vida aparecem para que aprendamos a trilhar um novo caminho e a seguir em frente, claro, analisando bem as curvas e parando sempre que for preciso. Porisso respire fundo e procure desatar o nó da garganta (se ele vier) caso o caso (que casamento de palavras) que aconteceu hoje na minha casa, lhe cause perplexidade e sofrimento. E que a hipérbole desta introdução, assim como, as gangorras da vida: Em que uns vêem e outros vão. Tornem-lhe mais forte e sábio.

Aqui no morro da formiga, procuramos agir corretamente com a natureza, pois ultimamente ando achando que este mundo uma hora vai acabar. Não é possível! A nossa Mãe (Mãe natureza) resistir por muito tempo a tanta poluição que lhe é jogada em suas artérias (rios), a fumaça contaminada que chega aos seus pulmões (ar) e as mentiras e besteiras que os políticos vêem emitindo no horário eleitoral nos seus ouvidos (terra).

As cascas cortadas dos legumes e verduras do dia a dia em nossa casa. É separada em uma cumbuca pela nossa querida “maratimba” (termo usado para quem nasce no litoral sul do Espírito Santo) empregada Ciane, para posteriormente ser jogada nos vasos de plantas da casa e desta forma deixarmos um pouco do lixo longe dos ouvidos de nossa Mãe.

Este ato, sempre causa alguma benevolência em reciprocidade, vindo dela mesma, a nossa Mãe. Em um vaso marrom lá em cima, na curva da casa, onde já abrigou várias espécies de plantas e devido ao vento excessivo, sempre tiveram dificuldade em prosseguir sua vida vegetativa. Brotou um pé de tomate, sim um belo pé de tomate, semente levada dos restos de um outro tomate bem vivido, que quando é pequeno lembra a melancia, mas como não me recordo de ter jogado cascas de melancia pela casa, só poderiam ser tomate. Que foi crescendo, ou melhor, descendo pelo vaso até tocar o chão, recebendo água duas vezes por semana, adubo na concentração certa e uma vigilha destraida, para que a atenção excessiva não o envaidecesse. Suas flores abriram e os pequenos frutos começaram a nascer. Tudo isto, sob os pés e o olhar atento de um pé de araçá, que vem progredindo bem perante a brisa nervosa.

Em uma olhada matinal. Encontrei três belos tomatinhos vermelhos e maduros, que ficaram da metade do tamanho de um normal, destes de feira. Levei-os, lavei-os, louvei-os carinhosamente e os coloquei na geladeira, para que repousassem depois de uma vida árdua e extremamente competitiva.

Ao passar minutos depois pela cozinha. Lá estava nossa amiga maratimba, que os aguou por meses, com dois exemplares da moderna agricultura orgânica nas mãos para um assassinato em plena luz do dia:
- Você vai cortá-los Ciane?
- Vou.
- Não vai te dar tristeza?
- Nem uma quantidade.
- Vai cortar o com talo ou sem talo primeiro?
- O sem talo.
- Com faca lisa ou com serrinha?
- Com faca afiada, para não sentirem dor.
- Você já pensou na família deles que está no vaso?
- Pensei, agora me deu pena.
- E o outro tomate?
- Ficou na geladeira é para a Mítian comer mais tarde.
- (poderá aproveitar mais a vida)
- Você vai fazer molho?
- Não é salada, você vai ver ele ainda!
- Você vai comer ele?
- Acho que não.
- Porquê?
- Sei lá, Jesus Cristo.
- A que horas você vai cortar?
- Agora, lá vai heim!!!
- Espera, vou fotografá-lo.
- Quanta falta de serviço.
- Fac, fac, fac.....
- Agora, já vai o outro!
- Fac, fac, fac.....
- Pronto, morreu, acabou.

Na hora do almoço, em clima de velório. Comi seus avermelhados restos, saboreando o seu gosto cítrico da frescura de seus fluídos e da pureza de sua vida saudável sem agrotóxicos. Me senti um agricultor da Rua Marcelino Ambrosim, nº55, enquanto a fatiadora de tomates enchia seu prato de arroz e peixe.

Ai, se ela comesse os tomates. Aí sim, ela ia ver o que é bom pra tosse ou melhor má digestão pra tosse!



Gilberto Granato.

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