sábado, 8 de agosto de 2009

O compositor, a cantora e o casal de cineastas

Sábado. Após a passagem do sol pela linha do equador, é hora de assumir o meu papel de homem nesta casa, ou seja, assumir o controle remoto da televisão. É meu e ninguém tasca. Vou ver a reprise (durante a semana fica difícil compete com o futebol etc...) de uma tríade de programas que gosto muito lá no 66.

No primeiro um compositor de samba pra lá de sexagenário, conta como é compor. Ele sabe tudo, todas as formas, com arranjo ou sem, com melodia ou não, de uma vez só, aos pouquinhos, encomendada, em parceria, de saco cheio, na fossa, cheio do trago ... Hoje faz apenas do jeito que acha melhor e pronto. Ele pode.

Depois vem o programa com a cantora, já gordona, pra lá de meia zero também, relembrando o seu disco clássico percussor do samba jazz de mil novecentos e sessenta e pouco, antológico ela diz, me convenceu, conta todas as histórias de maneira muito persuasiva, convence o entrevistador também, quem vê aquela gordura toda numa feira de domingo, não imagina o que a mulhé já fez, só figurão falando bem, deve ser um discão! Um dia ainda ouço. Hoje só faz disco se for com o arranjador fulano é o único que entende sua voz, é o melhor do Brasil segundo ela. Ela pode.

Mais uma propaganda e entra o terceiro com o casal. Ele diretor e ela produtora de cinema, os dois a um passo da metade de cento e vinte, contando as intimidades do casal, filhos, sexo e os afins do trabalho. Muito bom esse programa, quem é casado tem que ver, ali nada é belo, mas tudo funciona como tem que ser, terapia gratuita, vale a mensalidade da tv por assinatura. Ele conta todos os cacarecos de chegar até ali com a mulher que conheceu virgem aos vinte. Ela já se entendeu, sabe das diferenças nos cromossomos e tal e que o seu negócio mesmo é a literatura. Muita honestidade. Só agora é que estão pensando em fazer um filme juntos. Eles podem.

Já eu? Só há dois anos passei pelo cabo das tormentas meu navegante leitor, sobrevivi à infância de quedas e a adolescência de merdas. A vida só começa a ter sabor depois dos trinta, nem um dia, nem um segundo antes, você só começa a querer poder alguma coisa só depois da metade de sessenta. Estou apenas começando, tenham paciência seres humanos com a quarta parte de duzentos e quarenta, tenham paciência!

Sabe quando se sabe que um filme chegou ao final?
Quando o diretor grita:
- Fecha a janela!
E alguém responde
- Fecha você.
(do diretor a dois passos de trinta mais trinta)



Gilberto Granato.

2 comentários:

Unknown disse...

A inocência infância,
A rebeldia da adolescência,
A loucura da Juventude,
A maturidade dos 30 aos 60,
e A plenitude da velhice.
Todas as fases são válidas, mas acredito que após os 30 se dá o início da compreensão do que é realmente o viver, isto tudo depois da confusão da adolescência e da loucura da Juventude; e tudo começa a se encaixar. E aí chega a velhice para confirmar aquilo que chegamos à conclusão durante a vida e depois perde-la novamente para a morte ou para a demência. Final triste para os que não olham para trás, mas grandioso para os que aprenderam com os seus feitos.

rodrigomau disse...

"Viva rápido, morra jovem e tenha um cadáver com uma boa a aparência"
hehehehe

abração.