sábado, 15 de agosto de 2009

107

- Por favor, queira se identificar.
- Meu nome e Vinícius Amora. Vou ficar no apartamento de Cláudio Amora meu irmão por uns dias. (Cláudio não usava o apartamento há mais de dois anos, era jogador de futebol, hoje meia direita reserva do Galatasaray da Turquia)
- Jóia! O senhor Cláudio deixou avisado, a vaga de garagem é a 107.
(Vinícius entrou com o sua Pick up ford novinha, novinha)
- Putz! Não dá pra entrar é apertado demais!
(Vai até o porteiro, pede para interfonar para o 106 encostar melhor o carro)
- Ninguém atende não. Vou lá ajudar o senhor.
- Pode vir... mais pra cá... não, não pra cá!
- Pode ir mais?
- Mais um pouco... um pouco... tá bom!
- Dá pra passar aí do lado?
- Desfaz tudo, desfaz tudo!
- Tá bom?
- É...? Tá.
(vínícius antes de subir faz um bilhete cortês e deixa no para brisa do automóvel 106 e vai dormir)
(...)

È de manhã e ao chegar na vaga, encontra a dona do 106 em vestes de praia escrevendo no verso do bilhete deixado e colocando-o de volta ao para brisa de seu Ford.
- Bom dia!
- Opa! Que susto. Bom dia, eu só estava...
- Não, não tudo bem é que o carro é meio grande e fica difícil entrar nestas garagens de prédios.
- Você é novo morador?
- Não, só ficarei uns dias resolvendo assuntos familiares, por sinal sabe onde fica a corretora Henry?
- Sei sim, fica no final da praia, quer uma ajuda?
- Nossa, seria ótimo!
- Então vamos... no seu ou no meu?
- Você é quem sabe.
- Então vamos no seu.
(neste momento a senhora do 106 desamarra a canga, mostrando seu biquíni preto, bem moldado em sua pele morena acostumada ao sol e coloca um desses vestidos de praia elegantes mais apropriado para um passeio)
- Nossa tem até cheiro de novo seu ford?
- É, tá novinho.
- É 4 por 4?
- Acho que é.
- Nossa deve ser o máximo sair por aí neste carrão! Você quer jantar lá em casa hoje a noite?
- É que...
- Vou fazer uma comida especial, para um vizinho especial como você.
- Ó-ótimo, a que horas?
- As nove. Pode me deixar aqui. A corretora é logo ali em frente. Até mais tarde!
- até...
(...)

Vinícius chega às nove em ponto. Toca a campainha. A mulher do 106 abre a porta, ele olha direto para seu vestido, longo preto e transparente, onde era possível ver a marca de sol do biquíni por baixo, desencontrando com a marca da lingerie muito menor que o habitual.
- Vamos entrar?
- Va-vamos!
(o telefone de Vinícius toca)
- Ai meu Deus quem será a esta hora. Alô?
(A mulher observa atentamente a conversa)
- Tá ok, pode ser a número 32, é janela? É parador ou vai direto? Ótimo, obrigado.
- Você é tão engraçado, chamar avião de parador é uma...
- Não, não, é ônibus mesmo, tenho passagem marcada para daqui dois dias.
- Mas porque não vai no seu ford?
- Ele não é meu, aluguei na rodoviária tava com preços promocionais.
- Nossa que bom! Você tem o telefone desta empresa?
- Tenho claro, tá lá no carro.
- Será que não seria pedir muito você pegar pra mim, por favor, tenho uma amiga que iria adorar saber disto.
- Claro! Já volto.
(Vinicius voltou como uma flecha, tocou a campainha sete vezes e ninguém atendeu)



Gilberto Granato