segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Homem de oitenta LTDA.

Pois é. Já pensou em algo com oitenta anos trabalhando, falando, rindo, resmungando e dizem por aí, ainda xavecando? Eu presenciei neste fim de semana o octogésimo ano de vida do Avô de minha esposa, bisavô de meu filho, bilionésimo neto do big bang e segundo meus cálculos a vida trinta e quatro mil cento e cinqueta e três gerações após o nascimento Jesus.

Homem de oitenta é bem diferente dos de hoje. Teve só uma mulher, já passou as décadas achando que sabia das coisas, assim como nós e agora que chegou aos oitenta e sabe tudo, ninguém pergunta nada. È filosofia pura, não fica por aí destribulhando frases e mais frases em busca de respeito e impacto, ele fala uma e tá falado. É religiosíssimo! Com ele não se discute, no mínimo chegasse a um entendimento, por isso que a terceira idade vive em paz, são unidos, vão ao bingo e todos conversam, dançam (os que podem) e se há uma desavença não dura mais que um dia, não vale a pena. Possuem aqueles cabelos brancos honestos, aquelas unhas amareladas gastas, hiperqueratinizadas, a pele fina, cicatrizes de uma vida dura. Estão sempre bem vestidos. Plantou árvores ou derrubou muitas, comeu de tudo na vida e agora só quer comer o que gosta (exceto os remédios).

O homem de oitenta não para a não ser quando o corpo ou os médicos pedem, mas na verdade nunca obedece aos médicos, só nos primeiros dias. Já passou por inúmeros presidentes, crises, moedas, fenômenos da natureza, só se espanta mesmo agora é com os brinquedos e as tecnologias dos mais jovens. Dorme cedo, desconhece a menopausa, nunca lavou um prato na vida, mas ajudou a fabricar muitos, não sabe quem é o atacante do seu time, mas não esquece os do passado. Não acerta a água dentro da privada na hora do xixi, mas isto não faz mais diferença, sabe quando vai chover, ou melhor, sabia agora com aquecimento global erra as previsões. Gosta de novelas, não fica sem um café ou cachaça (dependendo dos remédios) e é claro usa dentadura.

Durante a festa o bom velinho de verdade, dançou, falou ao microfone, guardou os cascos de cerveja, serviu carne aos convidados, fez pose para fotos, foi gentil e elegante...

Agora aquele sanfoneiro que deve ter bem menos da metade da sua idade, que ficou nervoso só por causa de um cabo de microfone cortado por uma trupe de genros, filhos e netos enlouquecidos...

Este meu leitor, acho que não chega aos oitenta não!



Gilberto Granato.

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