sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Bloco de carnaval

Jarbas, Milton, Pessoa e Clovis eram amigos de longa data. Trabalhavam juntos em uma empresa de planos de saúde há 16 anos. Clovis era padrinho de casamento de Pessoa, que por sua vez era Padrinho do filho de Jarbas, que por sua vez era padrinho da filha de Milton, que por sua vez... E assim as afinidades, os encontros de finais de semana, os natais, as viagens de fim de ano tinham sempre seus familiares envolvidos. Era uma grande família unida sem laços sanguineos ratificados e heranças para dividir. Mas um tipo de encontro era restrito apenas aos quatro; As rodadas de chope no boteco do Seu careca toda sexta na esquina da rua onde trabalhavam.

Era lá que acontecia a alforria das gravatas, a emancipação dos abdomens e a libertinagem do intelecto futpolitico acumulado da semana. Sentavam sempre na mesma mesa e tomavam rodadas e mais rodadas de um chope de fundo de quintal sem hora para terminar. Bem, tinha hora sim e nestes dezesseis anos nunca tinham chego ao limite, a embriaguez não deixava. A cada encontro saia uma nova pescaria, um novo churrasco de uma maneira diferente de assar a picanha e uma nova história já contada mais de cem vezes. Em uma sexta de pré-carnaval, talvez movidos pelo calor excessivo a coisa saiu do habitual. E depois de muitos anos enfastiosos de chopes com colarinho, se deixaram levar por um bloco de carnaval que passava pela rua só para sair da rotina. E lá se balbuciaram com o repilique das mulatas (Milton dançou com elas), com a graça da menina loira que ficava à frente da bateria (inclusive Clovis tocou tamborim), com a doçura das jovens da comissão de frente (Jarbas ajudou na evolução), com a diretora do bloco (com quem Pessoa trocou e-mails). Tomaram todas e se esqueceram da hora, do fuso horário, de que dia da semana estavam, na verdade não queriam nem saber, já era tarde. Foi quando um telefone tocou.

Era o de Jarbas. Com muita dificuldade para achá-lo, apenas olhou no visor e viu que o dia já tinha virado há muito tempo e o a luz do dia começava a dar o ar da graça. Era sua mulher, como bom homem depois da meia noite, não atendeu. Minutos depois o de Milton também tocou era sua esposa, ameaçou atender, mas o olhar intimidador de seus companheiros o fez mudar de idéia e a virar mais um copo. Logo em seguida de maneira impressionante o de Pessoa tocou, também era a mulher com que tinha casado e como grande camarada de anos de amizade levantou a caneca às margens da carraspana e pediu aos berros mais um brinde. Na meia hora seguinte, foram mais de vinte chamadas perdidas no celular de cada um. Clovis voltava do banheiro (insistiram para que ele mijasse na rua, mas ele não quis) uns quarenta e cinco minutos depois com o celular na mão (depois disse que tinha encontrado com uma amiga de infância). Todos foram unânimes na pergunta:

- Quem te ligou?
(E ele calmamente respondeu)
- Minha mulher.
- E o que ela queria?
- Saber onde nós estávamos.
- E o que você respondeu?
- Que estávamos no meio de um bloco de carnaval, pois suas esposas estão lá em casa de pijamas chorando preocupadas querendo saber de vocês.

Depois deste episódio eles nunca mais beberam juntos.

Clovis parou de beber.

Pense nisso!

Bom carnaval!


Gilberto Granato

Um comentário:

Unknown disse...

Por um acaso este Clóvis é pseudônimo para Gilberto????