quinta-feira, 2 de julho de 2009

Ecos

Já era noite e o peregrino Xavier lavava o rosto aos frangalhos, afinal de contas tinha acabado de chegar da Espanha, de onde havia feito o “caminho francês” do caminho de Santiago de Compostela. Foram dias árduos de trilhas e dificuldades, pois simplista como de habitual, possuía apenas uma mochila e “um par de dentes” para carregar, como gostava de dizer a todos que se aproximassem por mais de dez minutos.

Estava de volta ao Brasil depois de sete anos. Morava às margens do rio sava em Zagrebe, Croácia. Trabalhava em uma fábrica de processamento de metais, mas cansou do regime conservador e rotineiro e começou a dar aulas particulares de português e espanhol, para os excêntricos da cidade. Mas o que importava em sua vida, era que agora ele estava ali, de volta àquela cama de cabeceira de madeira cheia de detalhes da sua infância, ao café amargo feito na hora de fim de tarde e ao jardim de helicônias de sua Mãe. Tudo o que queria era dias de descanso e paz para suprimir as saudades que o tempo reservou.

Após um longo bate papo com seu tio Augusto sobre a vida pueril e a nova mania de esconder colheres de seu avô, pediu licença e resolveu se recolher, pois as pernas já tremiam só de ficar sentado ouvindo aquelas belas histórias. Agora sim, lavava o rosto em frente ao espelho e ria ao ver que sua expressão andrógina, lembrava o quadro “o grito” de Edvard Munch. Escovou os dentes, sentou-se ao lado da cama, orou e antes de terminar sua reza, já começava a cochilar, o que o levou para a cama tão aguardada rapidamente. Mas mal ele sabia que horas depois coisas estranhas começariam a atormentar sua desprovida alma cansada.

Um ruído, uivo, murmúrio deu o ar da graça e lentamente começou a zunir em seus ouvidos, Xavier acordou assustado, chegou a pensar que poderia ser algum problema com a longa viagem de avião, mas não. Tinha certeza que vinha de dentro da casa, sentou-se, e com a respiração ofegante, com medo de averiguar o rumor, que a cada minuto se tornava mais ensurdecedor, mais forte e mais forte, era como se fosse um “ô” longo, foi até a porta do quarto abriu uma pequena fresta e o ecos de ôô, ôô entraram, e agora eram mais nítidos, assombrosos, assustadores, um leve impulso de coragem emergiu de seu ímpeto e começou a engatinhar até o corredor, foi quando percebeu que o barulho infernal vinha da sala e agora não parava mais... ôôôô... ôô, ôô! Teve que parar por uma fração de segundos, para respirar fundo e tentar amenizar a tremedeira que vinha das pernas enfastiadas, para avançar até a sala e encarar seja lá o que fosse aquilo. Correu e entrou instintivamente aos gritos...

Foi quando se deparou com o televisor ligado aos pulos e o estádio beira rio vazio, com as suas luzes apagadas e um monte de corintianos espremidos nas arquibancadas vermelhas gritando: ô...! O coringão voltou ôô,ôô! o coringão voltou, o coringão voltou, ô...




Gilberto Granato, é corinthiano e é campeão da copa do Brasil 2009

3 comentários:

Rodrigo mau disse...

Pareceu Fiódor Dostoiévski...você tá pho.. heim. Feliz Xavier, parabéns rapaz, seu timão deu a volta por cima mesmo...

Anônimo disse...

Rapaz parabens, os chucknups da groelandia tambem o sauda, Paulo Coelho ta pu...pois esta parafraseando sua obra, mas o Lula ta contigo(que papelao dele ficar levantando taça em vez de acertar o Brasil)
bjs
jason

Unknown disse...

Timão??? Que time é este?? Será que é o Rio Branco daqui de Vitória??