quinta-feira, 28 de maio de 2009

O casório

A família levantou com o canto do galo. Mas ainda deu tempo de tirar o leite da vaca, arrumar a cerca derrubada e colher cinco sacos de café enquanto a consorte se produzia para o casório, que estava logo ali... A duas horas e meia de distância e faltavam coincidentemente duas horas e meia para o matrimônio, o plano era ter meia hora de folga, mas as dúvidas em escolher entre o colar de bolinha verde e o outro, mudou a estratégia da equipe de uma parada no box, para nenhuma, (o que resultou em uma mijada pagã no pé da árvore em frente à igreja). Mas pelo que entendo de árvore acredito absorverá bem aquela uréia deseducada, diferentemente do olhar reprovador daquela senhora de cabelos pintados que passeava com o seu cachorrinho muito mais urbanizado que eu, um pobre homem da roça.

Chegamos junto com a belezura da noiva. Ótimo, pois assim ninguém viu a minha braguilha descusturada aberta. Fechei-a discretamente e entramos na Igreja “Rai-treco”, nome bonito que aprendi com o vendedor de parabólica lá na roça (que depois me disseram que a forma correta de escrever é high-tech), pois nunca vi na minha vida preto e branca de interior tanta tercnologia, vixi maria! Ar geladinho, sistema sórraund de som, banheiro difícil de dar descarga... Fiquei de olho esbugalhado no homem que tocava aquele violãozinho com o limpador de pára brisas (que depois me disseram que se chamava violino), que formosura aquela música iguarzinha a do rouxinol, só que tinha uns homi fazendo medição de terreno bem no meio da igreja (que depois me disseram que eram os fotógrafos) que insistiam em ficar na frente e que escondia os bonitos noivos que divião ser da televisão (que lá em casa pega meio esfumaçado e não dá pra ver os rostos), de tanto repórter em volta.

Tinha um senhor de pé lá na frente que tenho certeza que o conhecia lá da roça, já tomei umas branquinhas com ele, depois vou lá cumprimentá-lo. Até que chegou uma hora que fiquei meio cabreiro, precisou de umas tar de testemunhas pra assinar os paper daquilo tudo, fiquei esperando a chegada do delegado já meio preocupado de ter uma revista e acharem a minha garruncha e meu canivete na cintura, mas aí as testemunhas e os outros com aquele lenço no pescoço escondendo os botões da carmisa começaram a abraçar os recém casados, então eu me assosseguei, vi que era tudo amigo, aí os moço da medição, o tocador de pára brisa se alvoroçaram, igual os cachorro lá de casa quando sente cheiro de preá e achei que já ia começa o forrozão, só que a muié mais sabida que eu me puxou na hora, antes que eu convidasse as muitas cumadres vestidas de cor de capim (que só depois me falaram que era vestido verde kentucky, verde-mar, primavera...) para um forrobodó arrochado.

Só no fim fui lá cumprimenta o tal cumpadre em pé na frente.

- O cumpadre de que família é mesmo?
- O quê?
- Seu segundo nome faz favor?
- Eu toco piano.

Ah tá! Realmente não tem nenhuma família piano lá na roça não.

desculpa.



Gilberto Granato

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