quinta-feira, 21 de maio de 2009

Analogia da gafe sertanista com a gramática

Que uma das principais características culturais das tribos indígenas que habitavam as terras brasileiras na época do descobrimento era o cultivo de pimentas isto não tenho dúvida e foi lá com a indiarada durante alguns anos que fui aprender a mastigar a bichana E sem a malícia erotismo ou irritação cabida caracteristicas de seus outros sinônimos Em uma de minhas primeiras embrenhadas pelo território dos índios baniwas do rio içana afluente do rio negro estou lá sentado em uma velha mesa junto com mais uma meia dúzia de caboclos da região e seus traços nativos marcantes para um tradicional jantar a luz lunar aonde não pode faltar farinha peixe e a bichana é claro Aqui no sul no Brasil na república quando uma pessoa é atacada por ela (isto mesmo ela é tratada como marginal em muitos lares) todos ficam prontamente comovidos tocados com piedade mesmo do transgressor é aquela palpitada só depois da ardência igualzinho na hora de acender a churrasqueira onde todo mundo tem o seu piteco aí vem água quente gelada morna açucar café farinha passar os lábios no cabelo de alguém leite suco de laranja oração e mais um monte de crendices Mas na verdade que não adiantam de nada a ciência prova que tem é que aguentar o tranco mesmo ou evitá-la caso você seja do partido de oposição das poderosas primas do pimentão Mas voltando a mesa to lá animadão de participar daquela suruba gastronomica e tá uma delicia uma gostosura cada colherada é uma corisa (lá se come é de cúié) me deliciando com o caldinho que vai amolecendo a farinha ou o beiju tanto faz formando aquele pirão que vai cimentando as paredes do estômago oco do forasteiro até que Ai ai ai fodeu você morde a secular bichana bem no meio pela primeira vez inesquecível cultivada e aperfeiçoada há anos pelos tatatataravós daquela aldeia e agora ali bem em cima da sua língua o primeiro efeito é correr não sei porque depois gritar salivar babar ruminar perder o controle da bexiga e a partir daí entra-se em amnésia profunda não importa se tá frio ou quente se a calça caiu se a inflação subiu ou se estão assaltando a sua casa naquele instante foda-se e neste momento apenas a ignorância de um homem branco poderá te acudir com algum daqueles métodos falíveis já citados Depois de espernear enxugar as lágrimas insultar-se com palavras liberar endorfinas e dar aquele show gratuito jamais visto por aqueles brasileiros de pele acobreada você volta para aquela mesa antiga constragida por ver aquela barbárie e todos estão em silêncio mastigando tranquilamente as suas no fundo ultrajados pela indelicadeza do visitante que não teve modos a mesa um ato obsceno de um homem sem cor tolo etnocêntrico mal educado fútil então você se senta calado e inteligentemente vai tentando de novo de novo até algum dia poder sentar lá novamente e quem sabe ainda contar um caso No início é assim meu etiquetado leitor dá falta de ar nó nas tripas atrapalhamento das vistas igualzinho a ler esta crônica sem vírgulas parágrafos pontos finais exclamações reticências etc não é fácil não arde


Gilberto Granato é apreciador da murupi

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