terça-feira, 7 de abril de 2009

Mulher do Tempo

To lá vendo a previsão do tempo em um canal de TV aberta. E é claro que lá vem chuva. Isto eu já sabia, afinal o tal do tempo anda meio ensandecido conosco, ninguém mais prevê o tempo, agora chuta mesmo. Mas ainda assim gosto de ver a previsão, são sempre mulheres bonitas, loiras, morenas, meio loira que já foi morena, morena com mecha loira meio sei lá... Hoje acertar a cor de cabelo da mulher também é chute. Mas ficam lá se esforçando, divulgando seus sorrisos e dando o máximo para poderem sair dali e fazerem outro tipo de comunicação.

Esta do jornal da noite estava afável e eu também gostando da sua apresentação, do seu sorriso, no norte chuva, no nordeste seca, no centro-oeste sabe-se lá meio chuva meio sol o povo lá é que se vire, perguntem aos mais velhos oras bolas! Deu pra entender. Já no sul a previsão começa a mudar. Ela abre um sorriso meigo, a voz fica mais doce, a previsão agora é pessoal para Gaúchos, catarinenses e paranaenses, como ela mesmo diz, vão ter a sua primeira massa de ar frio do ano, óóóóóh!.. Fala como se almejasse um convite para uma taça de vinho no fim de semana ou um emprego novo oferecido por algum empresário telespectador descompromissado. (o diretor fala no ponto de ouvido que está demorando) E ela vai meio a contragosto para a região sudeste e o sorriso meigo vira um sorriso embusteiro, meio que voltado para a zona sul do Rio e a previsão é como ela mesma diz, para mineiros, paulistas, cariocas e vitória? Putz! Ela nem sabe que somos capixabas, nunca veio no nosso roçado, não trabalha e nem confia como nós, nem uma torta capixaba para reforçar o nome experimentou, não deu a mínima, este sorriso não foi para nós, foi para os nossos vizinhos mais abastados aqui da região.

Estou insatisfeito com a previsão do tempo da minha região. O certo mesmo é mudarmos para o norte e ficarmos no anonimato de uma vez, intricados no que resta de cerrado e floresta, meio caro eu sei, seria tentador acrescentar a tapioca todo dia de manhã, a farinha grossa no almoço e o açaí à tarde à nossa culinária, mas não dá é impossível, não somos mais nômades, somos untuosos-eremitas, já pensou na mudança? Um monte de gente não querendo ir, um monte ficando no meio do caminho, revolta geral e Minas Gerais só esperando para dar o bote e fincar seu guarda-sol a nossa beira-mar. Melhor! Vamos nos tornar uma grande ilha, fazer uma força conjunta, todos abocados e nos afastar do território, como uma grande placa tectônica a deriva, ficar pra lá da longitude de Noronha, rodeado de baleias, mais cheio ainda de água e sal, livre do continente. Mas pensando bem não vai ter sinal de televisão, nem previsão do tempo, vão esquecer da gente, vamos sair do mapa, ser colonizados, escravizados por uma outra potência Internacional, quem sabe os chineses, vamos ter que colocar escorpião na moqueca, não sei não?

Quer saber, vou é ficar quietinho, aqui no meu canto, bem escondidinho, debaixo do guarda-chuva, sem massa de ar frio em março, entre o oceano e os mais favorecidos pelo tempo, sem a atenção e os sorrisos das apresentadoras do tempo...

Lembrei do João Ubaldo Ribeiro dizer que quando a crônica está ruim, é de bom costume pedir desculpas ao ensolarado leitor no final.

Então fica assim...

desculpa pelo mau tempo!



Gilberto Granato

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