quinta-feira, 5 de março de 2009

Picolé de abacaxi

Como muitas descobertas que mudaram o rumo da ciência o picolé não fica atrás. Chegou ao Brasil em 1834 vindo de uma carga de Boston – Estados Unidos em um navio de carregamento de gelo natural e agora anos depois na hora do almoço, veja só, estava sendo oferecido pela minha consorte bem aqui pertinho de mim, oriundo do freezer da minha geladeira, que acho não ter sido fabricada em Boston. Ela indagou-me como uma boa vendedora de picolé:

- Que sabor você quer?
- Qualquer um tanto faz.
( me trouxe um de abacaxi)
(pensei: podia ser todos menos de abacaxi)

Lembrei daqueles picolés de abacaxi aguados sem graça, que já chupei por aí. Você conhece alguém que vai a uma sorveteria só para chupar um de abacaxi? Pois é, ele não figura entre os mais cotados. Não iria retirar o que disse, então comecei a abrir o envelope. Qual foi minha surpresa ao me deparar com um picolé de aspecto leitoso, cremoso, lácteo, de um amarelo natural sem profusão na escala dos amarelos. E na primeira mordida aquela consistência nem dura nem mole, sabe? meio assim meio nem dura e nem mole mesmo. E o sabor? Um gosto cítrico adocicado marcante, lembrando aqueles abacaxis doces que nem mel lá da Amazônia brasileira. Saboroso, deleitoso, soberbo, esplêndido, suntuoso. Creio nunca ter me esbaldado com um picolé insuperavelmente inesquecível de ananás como aquele. Tive a petulância de ler os componentes para saber quais eram os ingredientes mágicos.

E eis o que li. Açúcar cristal, xarope de glucose, água filtrada (até aí tudo bem). Contém; aroma artificial de abacaxi, estabilizante mono e diglicerídeos de ácidos, espessantes carboximetilcelulose sódica, estabilizante goma guar. (aí eles colocam um ponto final para você parar de ler e voltar a chupá-lo mas a minha arrogância não deixou). Colorido artificialmente (minha nossa!). NÃO CONTÉM GLÚTEN (É! assim mesmo em maiúsculas e em negrito tipo querendo colocar o pobre coitado do glúten como vilão desta alquimia toda). O bonito envelope ainda advertiu-me para consumi-lo por no máximo 180 dias após a fabricação e não tinha data de fabricação. O que me deu uma leve sensação de já poder estar comendo algo ainda bem diferente do especificado na embalagem.

(...)

Tô uma meia hora pensando em um final para este “picolé de abacaxi”. Mas não sei por que meu raciocínio ficou meio estabilizado, espessado, colorido artificialmente pelos os ingredientes. Além de estar com uma sensação vaga de não ter comido nada do abacaxi.

Então fica assim mesmo meu leitor sem final, sem abacaxi.

Pois nem só de abacaxi vive um picolé!


Gilberto Granato

2 comentários:

Unknown disse...

Boa! Vou te levar um abacaxi orgânico para colocar neste seu picolé!!! Com coroa e tudo.

Unknown disse...

O negócio do Jabuti realmente eu ri. Jabuti copulando e fazendo barulho igual a onça? Esta eu quero ver e ouvir..ahahahhahah!