sexta-feira, 13 de março de 2009

Dança da solidão

Eu fico pensando em quem tem que escrever todo dia como obrigação, vive disso, tem que pagar a pensão dos filhos, prestações atrasadas, empregada, quadra da pelada de meio de semana, chuveiro queimado. Não deve ser fácil (sem falar que todo mundo acha escritor vagabundo, pois só fica em casa). Tem dia que não tem assunto, você está cansado, sem inspiração, ocupado com o mundo, nenhum animal exótico cruzou seu caminho, caso nenhum aconteceu, é só tragédia no jornal...

Pois bem, aqui estou eu só e sem idéias, sem nada para escrever, sem cama arrumada, sem comidinha quentinha, sem obrigações familiares. Veja bem meu acompanhado leitor: “só” entre aspas mesmo, de absolutamente só, de abandonado, de único morador desta casa provido de polegar opositor e cérebro melhor desenvolvido (ganho da minha cadela), um mamífero sem leite gozando de minutos de silêncio. A família foi a capitar em busca do que não temos aqui no interior e eu fiquei tipo shampoo esquecido de última hora. Mas graças a Deus o companheiro microondas está aqui me dando uma força, o gentil abridor de garrafas também, sem falar do amigo de todas as horas controle remoto.

Na minha atual condição de solitário. Acho que agora sim teria chances meio que remotas é bem verdade de ser o zelador daquela ilha australiana paradisíaca, que segundo a autoridade do estado de Queensland, está oferecendo um bom salário para alimentar os peixes no mar? Coletar correspondências que chegam de avião? Limpar piscinas? E mais um bando de interrogações???... Para se fazer no meio do nada. Mas estou avisando desde já que só, isto mesmo, só estarei disponível até amanhã, que é quando a família volta trazendo novidades da capitar, isto mesmo, até amanhã, pois amanhã eu viro abóbora.

A minha hodierna condição, talvez também seja um bom motivo para eu entrar definitivamente para o grupo seleto do “nadismo” éh! Aquele grupo criado por pessoas criativas (com redundância por favor) para fazer uma revolução sem fazer nada. Me dedicar novamente ao ócio, para segundo eles sair da mesmice. Acho que vou até comprar o livro cheio de páginas brancas vendido por este simpático grupo e ficar por 45 minutos sem fazer nada, mas isto só até amanhã, pois amanhã eu viro jerimum.

Não, não, não! Vou é procurar a minha rede, cordas, lanterna e repelente e vou me refugiar em uma, isto mesmo, qualquer uma das mais de trezentas aldeias indígenas lá da cabeça do cachorro na floresta amazônica. E vou tomar bastante água, ou melhor, xibé (água com farinha) antes de dormir, só para acordar de noite (olha o “só’ minha gente!) e ficar vendo aquele céu lotado de estrelas cadentes. Mas é só até amanhã, pois amanhã eu viro uma cucurbita.

Pobre desilusão!

Danço eu, dança você na dança da solidão.


Gilberto Granato.

Um comentário:

Unknown disse...

Boa amigo, um escritor e a solidão são companheiros. Esta é necessária para classificar e concatenar idéias e experiências.
Danço eu dança vc!!!