terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A era do bronze

Tenho um peculiar habito. De anotar tudo em papéis. Inclusive os filmes, discos e livros que me interessam. Vou colocando cada achado no seu devido papelzinho. À medida que o pedaço de A4 vai ficando pequeno e a grafia começa a virar um hierógrifo incompreensível, escrevo em outro e subtraio aquilo que já fiz, li, ouvi ou assisti. Desta forma não fico refém da memória e do esquecimento. Posso dormir tranqüilo, sabendo que tenho a possibilidade de imortalizar tudo que está grifado, assim como os que pensaram isto há 4000 anos antes de cristo.

Tinha uma carteira. E nela além dos documentos, ficavam meus papeizinhos. Nunca teve dinheiro. Carteira sem dinheiro se não for de couro legítimo, perde valor, começa a dar bolor. E foi isto que aconteceu: bolor. Agora sou um homem sem carteira, sem dinheiro, mas com meus papeizinhos, minha riqueza, meu espólio. Passei todos para uma gaveta ampla. Que começou a ter suas terras invadidas pela agenda da consorte, o santo expedito, os carnês do FGTS, as consultas do pediatra do meu filho e por último uma bandeja de fibra lotada de chaves (como existem portas na minha vida), que começou progressivamente a querer ficar em cima deles. Pestanejei! Já era demais. O perigo do sumiço era eminente. A única alternativa democraticamente imposta foi uma pasta transparente de elástico, tipo estas de escola, que foi colocada lá no fundinho, quase caindo naquele abismo que fica atrás das gavetas, onde dizem que há um monstrengo e os que ali caem, só são resgatados se tiverem muita sorte, ou melhor, limpeza. É difícil para um homem já depois dos trinta abrir uma pasta destas, o elástico e algo melhor manejado pelas mulheres, mas aceitei. O bom marido aceita tudo, tudinho, pois a próxima alternativa seria fatalmente os bolsos das bermudas, que perigosamente vivem sobre constante risco de inundação. Pra completar, esta semana uma calculadora chinesa e um pote de moedas resolveram ficar permanentemente de vigília em cima dela, evitando qualquer tipo de visita íntima.

È o século vinte e um meu leitor. Primeiro são os papeizinhos, depois te levam a carteira, o dinheiro, a moedinha de um centavo, o cartão, a toalha felpuda, o lugar na mesa, a outra metade da cama, as duas fatias do pão, o carro, a casa, o gato...

Inércia masculina!

Bem diferente de 4000 a.c.



Gilberto Granato, ainda é conjuminado.

2 comentários:

wpizzolb disse...

É velho, aconselho vc fazer uma puxadinha atras da casa cheio de gavetas tipo arquivo, espaço vc tem.
E mulher brava é assim mesmo, vc deu sorte ainda em ter uma pasta transparente com elastico, vc vai ver quando ela te impuser democraticamente, "dê um jeito nestes papeizinhos, não quero mas vê-los na minha casa!!!
sacou
jason

Unknown disse...

Guarde estes papéis lá na casa da bateria. Pegue uma gaveta pra vc e tranque com cadeado. Se imponha rapaz!!! Ao menos uma gaveta vc tem direito.... ao menos uma gaveta...rsrsrsrsrsr