
Que de hora em hora, passava próximo a praça. Olhava de longe para Arnaldo, coçava a cabeça, ás vezes a orelha e saia novamente em disparada com fumaça pelos cabelos. Passado alguns minutos com a repetição da cena, Arnaldo abandonou definitivamente a página 12, pois a concentração já tinha se esvaído pelas raízes dos pés e lixiviado o solo, com aquela importuna e angustiante presença misteriosa. Pôs-se então, apenas a contemplar a árvore, sua sombra, seus arbustos, as volumosas e imponentes raízes, divertia-se com o chocalhar das vagens cheias de sementes que depois de muito tempo caiam no chão e como uma criança, contava a queda das majestosas flores vermelho-alaranjadas daquele ermo descendente africano. Voluptuosidade pura.
O enigmático homem da cabeça enfumaçada, mais uma vez surgiu. E desta vez não se contentou em apenas observar aquela cena lúdica e partiu a grandes passos em direção ao Flamboyant, ou melhor, Arnaldo. Que de olhos esbugalhados, apenas encurvou-se levemente e sentou-se esperando pelo pior. Poderia ser um louco, um assaltante, uma dívida esquecida, um marido traído confuso? Colocou o livro como escudo e começou a lançar pedidos de ajuda divinos. O invasor ao chegar, estranhamente ficou a dar voltas na árvore sem tirar os olhos de sua presa, ou melhor, Arnaldo. Depois de alguns minutos de estudo e de observações mútuas, um silêncio angustiante pairou e o estranho ofegantemente proferiu as seguintes palavras em voz alta, muita alta, um berro pra dizer a verdade...
Seu aproveitador da natureza!
E correu, correu muito pra dizer a verdade.
(Arnaldo vendeu as férias)
Gilberto Granato
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