terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Na forca

E não era o jogo da forca não meu atribulado leitor. Era feriado. Estava eu, um cidadão de bem, cumpridor de suas obrigações, amante deste ar que respiro e das cervejas de fim de semana. Indo para a forca, não me lembro bem qual era o país. Era uma mistura de índia com Cingapura e uma coisa meio Irã com Iraque.

O crime que cometi não tinha entendido bem até então qual era, mas pelo olhares das centenas de urubus, que ficavam “urubuservando” afoitos a minha subida ao patíbulo, ou cadafalso como queira. Dava para perceber que era algo grave, que merecia esta “morte suja”, que iria promover sem minha autorização e a contragosto, o egresso de excrementos pela perda de controle dos meus sempre regulados e fiéis esfíncteres, ou talvez comprimir minhas jugulares e minha função respiratória, ou com sorte quebrar minhas vértebras cervicais de uma só vez.

Um velho de barbas brancas, todo de branco, meio redundante, com uma camisa escrita “Feliz 2009”. Veio com um capuz para cima da minha cachola, poxa! Logo agora que eu estava deixando a parte de trás do cabelo crescer. Logo em seguida, mais duas pessoas seguraram forte em meus braços ainda meio pálidos, descoloridos, pois ainda não havia dado tempo de pegar uma prainha neste verão. Prontamente o da minha esquerda, com voz de empresário desiludido decretou a minha sentença em voz alta e falou alguma coisa do tipo “Em meio a uma grande crise, quando teríamos que trabalhar, vamos ficar em casa” reclamou. Logo em seguida o da direita com voz de superintendente de algum instituto de pesquisa de perdas econômicas exclamou: “Com os feriados as indústrias ganham em custo e perdem em produção!”. Tive que ouvir ainda, antes de uma gusparada não identificada, alguém da platéia com uma voz meio de Presidente da Federação do comércio, indagando uma revisão do calendário e reclamando de pagar dobrado aos seus cheios de olheiras e cansados funcionários.

Foi quando um varão do fundo da platéia com voz de homem do povo, subiu ao tablado de madeira e forçado pelos meus inquisidores macroeconômicos perguntou-me se havia me arrependido do meu pecado. E feriado é pecado? Disse firme quase me mijando que não, foi quando graças ao choro de Otto acordei deste pesadelo, no canto da cama, suado, ofegante, incomodado com as vozes destes cortadores de punhos de rede de praia, entupidores de banheiras quentes, furadores de guarda-sol, esquentadores de cerveja, ativadores de alarmes matinais, desafinadores de pandeiro, fazedores de barulho de domingo de uma figa.

Tudo isto só porque dos 13 feriados deste ano, 12 cairão durante a semana.

Que falta de assunto!

Vai uma água de coco aí?



Gilberto Granato.

Um comentário:

Unknown disse...

Forca pra quem é patrão
Folga para o folgadão
meu amigo varão!