sábado, 24 de janeiro de 2009

Os Super-Heróis (A enchente de 22 de janeiro de 2009)

A maior enchente da história do município de Castelo, que teve o leito do seu rio de mesmo nome subindo cinco metros acima do seu nível normal, que desalojou quatro mil e quinhentas pessoas, que foi rápida, sorrateira, não dando chances para as formiguinhas do planeta terra retirarem os seus pertences de casa. Destruindo comércios, casas, carros, ruas, sonhos e o acúmulo de material histórico de muitas famílias, aconteceu. E foi antes de ontem meu atento leitor. E eu? Eu estava prestes a entrar no olho do furacão deste episódio que agora conto para vocês.

Por volta de onze da noite e o telefone toca:
- Alô?
- Alô! (vizinha ligando, minha esposa atende) o rio encheu e a água tá chegando na calçada da clínica agora!

Calça, blusa e tênis e lá vai eu. Chego ao meu primeiro trabalho e já abro a porta com a água querendo entrar. Rapidamente tento colocar borrachas, destas de vidro de carro nas frestas da porta (tolice e perda de tempo inútil). É quando como um flash, chega um primeiro ser: Uma heroína já com os pés molhados, chegou do céu, tinha acabado de recolher as suas asas aladas, na hora certa, na hora em que o mocinho está prestes a se dar mal com o bandido. Entra e começamos a remover tudo e a colocarmos para o alto. Só que a cada minuto o alto ia ficando baixo e o rio ia subindo velozmente. Os vizinhos até então, achando se tratar de um evento apenas “um pouco diferente do rotineiro”, exibiam seus celulares novos e iam tirando fotos do fenômeno (horas depois teriam seus carros e casas encobertas pela água).

E sobe coisa, ensacola ali, ergue daqui até que a coisa começa a ficar difícil, porque tínhamos que colocar os equipamentos cada vez mais altos e eles iam ficando cada vez mais pesados e o pior! A água chegando já estava na cintura (do lado de fora estava maior). É quando chega outro herói, nadando, do além, ou melhor, era um herói aquático, veio das profundezas do rio tirou as sanguessugas dos braços, fechou as brânquias como mágica e entrou pela janela, pronto para a ação final: colocar todo material vital (equipamentos, prontuários, dentaduras e o que mais desce) em dois compartimentos próximos ao teto, nossa última chance! A super-heroína aplicando sua destreza e o super-herói praticando sua força insólita.

Observa dali, repensa daqui, respira fundo acolá. Até que é chegado à hora de sair. A água na barriga chegando aos interruptores (tivemos a delicadeza de desligá-los antes de sair) sob ameaça de choques. A pressão da água externa sob ameaça de desmoronamento e a saída por uma única janela sem grade, sob o risco do rio subir muito rápido e virarmos óbitos dos jornais. Mergulhamos no rio infatigável e começamos a nadar até encontrar os almejados paralelepípedos (antes tivemos a delicadeza de fechar a janela com trinco o que evitou perda de insumos e a não invasão de troncos e animais aquáticos).

Em terra firme. O super-herói anfíbio voltou para a água e nadou para ajudar outras vítimas, mais tarde voltaria junto com a liga da justiça acudir a tirar o barro e o entulho ( hoje antes do nascer do sol já estava lá para usar seus poderes novamente). A heroína voadora acolheu um desabrigado (fiquei sem poder atravessar de volta para minha casa do outro lado da cidade e me juntar a família) ficamos em pé com outros desalojados bucólicos como eu, vendo o dia nascer debaixo de um guarda-chuva, torcendo para a água não chegar nos esconderijos vitais e ouvindo notícias tenebrosas pelo telefone dos acontecimentos em outras regiões da cidade.

O rio só desceu de maneira a entrarmos novamente na clínica, ontem por volta de 17:00 horas. Onde prontamente já estavam lá estes super-heróis e mais a liga da justiça, para livrar-me de todo o mal deixado pelo rio (nada contra ele), de um pacífico ambiente do bem.

E o material nos compartimentos vitais?
Foram todos salvos. Faltaram dois centímetros de água para invadi-los.

Quem foi que disse que não existem super-heróis?
Você quer o telefone deles?
Não carece meu amigo!

Os Heróis sempre aparecem quando você mais precisa!



Gilberto Granato
(homenagem a Evinho, Priscilla, Vera, Selmo, Brás, Tita e Quinha e ao sorriso de meu filho que me sustentou).

2 comentários:

Unknown disse...

Agora fico mais tranquilo!
Vê se compra agora um bote de borracha e deixa de reserva para na hora que precisar ajudar os super heróis em seu salvamento.

Anônimo disse...

E bem que vc e o evim gostaram do momento de supereroi!!