sábado, 24 de janeiro de 2009

Visita à casa de Maria Farinha

Semana auspiciosa! Já tinha tempo que não me encontrava com “Dona Maria” chamada assim carinhosamente por aqueles que conhecem o seu nome. A maioria a vê, mas não faz questão de perguntar, fica assim... sem saber mesmo.

Sai de casa cedo para poder colocar o papo em dia o quanto antes. No caminho pela verde e obstinada restinga, uma parada estratégica para o almoço e matar saudades de outro grande amigo o “Sr Peroá”, que diga-se de passagem, anda meio sumido, dizem seus admiradores das peixarias, que atualmente passa a maior parte do seu tempo na Bahia, pois lá tem rede e água de coco e o pessoal não lhe dá muita bola, preferem o Senador camarão do acarajé.

Ao chegar. Bati na porta, aguardei com paciência e só depois de colocar o pé na areia, foi que percebi que a porta estava aberta como de costume e entrei. Afinal de contas já a conhecia de “muitos carnavais” e tinha certeza de que não ficaria aporrinhada com meu ato transgressor. Deixei a bolsa de lado e fui direto para o seu quintal, para embaixo das castanheiras (chapéu de sol), por sinal, um senhor que prontamente me serviu uma cerveja disse que estão querendo cortá-las, dizem que é exótica, veio da índia, Nova Guiné, ninguém sabe o certo, mas sua sombra é imbatível, ventilada, fresca, é invenção divina. Corre-se o risco de um de seus frutos caírem na cabeça é bem verdade, mas e daí?

Logo os pardais, bem-te-vis foram chegando em busca de migalhas dos emporcalhados e aproveitavam para se banharem de areia. Em pouco segundos o vento nordeste fez o copo de vidro suar. No quintal de Dona maria é assim, tem que ser rápido! Se não os seus convidados tomam conta de tudo, portanto acelerei os goles e sob a anuência da maré baixa me chega o “Sr dourado” meio que de surpresa , meio calvo, soltando cabelos, que de tanto contar estórias deixou-me gastroentérico.

Uma dormidinha à tarde para repor as energias, um buraco falado com direito a muitos coringas no pré-noite e uma caminhada sem camisa pela calçada, cheguei a levar uma bolada de sorvete no trajeto, mas foi desproposital e até que não foi tão mal assim, refrescou a garganta com gosto de cabo de guarda-chuva. A noite a família dos baderneiros pernilongos (da casa em frente), fizeram uma festa de arromba e uma espécie de ressaca epitelial tomou conta de todos no outro dia pela manhã.

Resisti o máximo que pude, fiquei dois dias a mais do que o programado. Uma vez na casa de Dona Maria, cria-se um cordão umbilical grosso, cheio de idéias mesenquimais e de sossego nutritivo. Agora aqui estou eu ainda resistindo para tirar a areia dos bolsos das bermudas (pedirei a empregada para não lavar) e com a pele ainda curtida pela maresia (tomarei banho sem sabonete) e ficarei a lembrar daquela casa cheia de lembranças, que tantas alegrias já me trouxe.

E a senhora Maria Farinha? Não a vi. Nem o seu rastro característico, dizem que foi embora por causa do entulho deixado por freqüentadores pouco agradecidos, outros falam que agora mora em um Apart hotel perto da serra.

Èh! As coisas mudam....

Ou é o povo que escreve demais?



Gilberto Granato
( Maria-farinha (Ocypode spp.) é um caranguejo da família dos ocipodídeos)

Um comentário:

Unknown disse...

De volta a seu castelo em castelo.
Fiquei preocupado com vcs pois sabia que enquanto vcs visitavam a Dona Maria Farinha Castelo recebia a visita de um São Pedro meio que de ressaca logo após uma noite na qual a esposa do mesmo dormira de calça jeans molhada. Ele estava nervoso neste dia!
Espero que não tenham tido nenhum prejuízo.
Um abraço e retorno;.