terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Dia destes



Ou “dia desses” se preferir. Cê tinha que ver. Bateu-me uma inspiração daquelas... que só veio na verdade, porque o barril de chope da festinha do meu filho acabou e todo mundo já tinha ido embora, então resolvi correr, claro tropeçando até o meu empoeirado computador para uma escrita. Eu iria falar segundo minhas próprias palavras do maldito ou bendito porta-chuva, assim mesmo com hífen. É aquele negócio que fica no carro, como se fosse a sobrancelha da janela. O do meu carro tá quebrado, segundo minha avaliação tentaram roubar, iria escrever algo prosopopéico: “a visão da minha vida segundo a visão do porta-chuva quebrado-roubado”, tinha tudo pra ficar bom, só que no meio do texto a cabeça abancou a ir pra Bolívia, a falar do presidente, guanacos... começou a ficar muito estranho e sonolento, que terminou no primeiro parágrafo e o título virou “La paz”. Sai a procura de alguns textos pela metade, coisa muito comum nesta fase que passo, é a chamada “começancismo”, que começa no século vinte e um e ainda perdura. Onde começo os textos e não consigo terminar devido ao mundo ao meu redor, ou porque acho que tá ruim e termina ali igual música póstuma. Cheguei ao ponto de escrever títulos e não ter nenhuma mísera linha escrita sequer, deve ser pois segundo a mim mesmo (coisas do começancismo), qualquer hora destas eu só de olhar o título iria lembra da infalível e divertida história, pois é, lembrei de nadicas. O que um título escrito “Comuna” te lembraria? A mulher do comum? Ainda não estou no fundo do poço, calma aê! O comunismo? Já não tem mais graça depois que virou camiseta, Uma comunista gostosona? Ficaria melhor para os pornô-crônistas, uma nova forma de escrever, onde o escritor apenas faz o título e o leitor imagina uma história? Cômodo demais para os escritores semanais, que já são vistos como tunantes volúveis, que acordam tarde e vivem de chinelos fumando cigarros.

 
Mais hoje foi diferente. Tive uma bela idéia lá no trabalho, tive uma folguinha e comecei a escrever, foi uma linha apenas, mas a essência do que viria estava guardada a seis chaves, afinal porque sete? Na minha cabeça, terminei o expediente (palavra de trabalhador) e fui com muita calma, devargarzinho com a moto pra não chocalhar muito até aqui, para colocá-la dentro deste computador. A consorte ligou e falou que um dos meus filhos está na casa da dindinha e o outro foi no pediatra ver umas daquelas perebinhas de criança, e pediatra sabe como é, não tem hora pra atender. Terei minutos preciosos para sair de uma vez por todas desta ociosidade lingüística e poder dormir em paz e não em “La paz” como já falei... Só tem um problema. Um carro com o porta-chuva quebrado chegou na garagem. È a minha turma, tô salvando tudo no computador, liga não, o título vai ser “Dia destes”, ou “Dia desses” se preferir.






Gilberto Granato


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