quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Extinção

Elas estão em franco processo de amortização. Não “elas” sujeito da oração, mas seus nomes próprios dados e talvez herdados de seus pais. Afinal meu leitor de fim de semana, você conhece alguma criança que tenha nascido recentemente e que se chame, por exemplo, Deusnira? Provavelmente não. A esta hora quem se chama Deusnira está em algum lugar do Brazilzão fazendo chup-chup de jaca pra criançada.

Nome hoje, depende de três fatores, por ordem de relevância: sanidade paterna, novelas da Globo e filmes de Hollywood, isto sem mencionar os tradicionais e vitalícios nomes bíblicos, que tirando a tentadora Eva, acabo de lembrar das peles enrrugadas das Donas Efigênias, Clotildes e Florentinas, que não passam uma noite sem ler um versículo se quer. E o bordado? Corre o risco de perder sua história, o detalhe, a originalidade, pois as donas Rosalitas, Furtunatas e Enerstinas que sabiam dos segredos do ponto e cruz e dos fios de algodão, hoje já têm dificuldade em passar o fio pela agulha, devido ao problema nas vistas ou as tremedeiras da idade. E aquele tradicional doce caseiro depois do almoço? Está com os dias contados. Não será mais o mesmo depois que as Santinas, Giocondas e Iolandas se forem. Nos contentaremos mesmo é com os seus dublês artificiais de supermercado. E o remedinho do mato tira e queda pra acabar com a piriri? a reza pro mau olhado? A previsão exata do tempo? Quem assistirá o Silvio Santos no domingo? Quem matará as galinhas caipiras do quintal? Só se as Matildes, Lourdes e Margaridas deixarem tudo bem explicadinho em algum papel de embrulho de pão qualquer.

Todas devem estar a esta hora solitárias em alguma varanda. Sentadas nas cadeiras que levam a suas marcas, lembrando (as que tem memória) saudosas de seus dotes, do tempo em que se entregava o leite em charretes de porta em porta, se andava de calças e de cabelo penteado, se dava o bom dia de bom grado, do sincretismo do angu com feijão. Coitadas das Fransiscas, Ofélias e Dolores que agora são obrigadas a tomar coquetéis intermináveis de remédios e a terem que esperar ansiosas o genro terminar de tomar a ultima cerveja, para empurrar a cadeira de rodas de volta para casa.

Partirei de trem. Mas não, sem antes desejar um boa noite para as Jovelinas, Zilas e Coralinas que logo após o anoitecer, já dormem em alguma casa de filha mais velha, asilo ou... Não, não. Sem final melancólico. Devem estar sorridentes, dançando de batom vermelho selvagem, cabelos pintados e com as bochechas cheias de ruge em algum clube da terceira idade de alguma cidade com ordem e progresso.

Já os sobrenomes?

Ficam pra uma outra história.



Gilberto Granato.

Um comentário:

Unknown disse...

Isto no mundo dos brancos não é!!interrogação
Lá tinha Joaninha, cimirlene, cidirlene, cirlene e muitos outros nomes da velha guarda, mas confesso que a sua porcentagem está diminuindo.
Já está procurando o nome da filhota que virá!!INTerrogação
Que tal procurar no seu prontuário odontológico da aldeia!!! lá terá muitas idéias inspiradoras