domingo, 8 de agosto de 2010

Bem que podia

Estava de chinelos. Dedos sujos à mostra, sujo mesmo! Daquele jeito em que ao redor das unhas fica tudo preto. Não deve sair mais não, só com especialista no negócio. Era visível que o chinelo não dava conta de manter a extremidade dos membros daquele animal terrestre limpa. Digo animal com eufemismo, por favor, pois o homem de chinelos e dedo sujo foi o que bateu no meu carro. Logo eu, que ando na linha, ou melhor, entre elas, sempre com o farol aceso, cinto, olho nos retrovisores e nos cruzamentos e prestes a chegar ao meu objetivo intacto: a capital. Pois foi em uma inofensiva reta, sem ninguém na minha frente, ouvindo um rock dos bons, que veio da minha direita este assombrado mamífero, forçando tarso, metatarso e aqueles dedos do pé sórdidos contra o acelerador de seu carro, vindo a colidir com a lateral do meu, susto meu leitor, dá um susto. A sorte, se é que podemos dizer assim. É que pegou principalmente no pneu, o que ajudou a repelir o bagaceiro chinelão e a não ferir por demais a lataria. Fomos a Polícia rodoviária federal fazer o BO (boletim de ocorrência) e o cidadão depois foi embora, sem pedir desculpas e sem a polícia federal o multar por dirigir sem calçado e ainda por cima com aquele tipo de pé.

Depois da demora. Esperando um sinal abrir exatamente em frente á sede da prefeitura municipal. Notei que entre os fios de eletricidade da rua encontrava-se um par de tênis amarrado pelos cardaços, um no outro, em uma altura inatingível nem pelo ser humano mais alto deste planeta. Fiquei a pensar o motivo que levou aquele par de tênis, em bom estado, diga-se de passagem, a visitar a fiação: O seu dono andava pela rua e... uma gangue violenta passa por ele e o derruba, dá uns cascudos na sua cabeça, chama ele de um monte de palavrão cabeludo, deixa-o de cuecas (furada por sinal) e no final tira o seu par de tênis que ele gostava tanto e joga na fiação só de sacanagem, pro cidadão ficar ali, descalço, de cueca furada, pensando no que fazer da vida...

Bem que podia meu leitor,

Bem que podia ser o tênis daquele barbeiro de pés sujos que bateu em mim

Bem que podia.



Gilberto Granato

Um comentário:

Unknown disse...

ficou no preju?????